por: Ricardo Oliveira Luz
Quando eu era criança, lembro-me de que levar o hinário à igreja era parte da cultura adventista.
Geralmente, quem não tinha o hinário era novo na fé ou visitante, caso em que nos sentíamos estimulados a compartilhar nosso exemplar, de modo que ele se sentisse plenamente acolhido e participasse conosco da experiência de adoração.
Posteriormente, muitas igrejas passaram a disponibilizar exemplares extras do hinário destinados exclusivamente aos visitantes.
De praxe, esses exemplares ficavam sobre uma mesinha na recepção e sempre havia uma pessoa atenta que levava um hinário àqueles que, eventualmente, não o haviam recebido à entrada.
Com o tempo, a projeção dos hinos e o playback substituíram o hinário e o piano e, assim, perdeu-se um costume que inspirou gerações de adoradores.
O recurso audiovisual, embora um meio facilitador, logo se tornou fonte de frequentes constrangimentos devido à problemas técnicos ou operacionais, os quais comprometem a adoração.
Além disso, nos cultos e programações especiais da igreja, os hinos do hinário foram substituídos pela chamada música cristã contemporânea, com poesia muito pobre, letras simples e banais e um estilo que certamente exige maior resistência dos tímpanos.
Agora, a massificação, que já havia tornado muitas igrejas cristãs caricaturas de si mesmas, conquistou sua última fronteira: a igreja remanescente.
Diante desse retrocesso, sinto-me justificado a compartilhar com os leitores pelo menos três razões pelas quais convém resgatar a boa prática de ter à mão o hinário e cantar com fervor e entusiasmo seus hinos, seja na igreja, em nossas escolas ou em casa.
1. A maioria dos membros e visitantes da igreja é de origem humilde. Para muitas dessas pessoas, o hinário representa o único contato que elas terão com a música erudita.
No geral, todos somos assaltados pela cultura de massa, que nivela por baixo, desinforma e excita as paixões inferiores.
O hinário influencia no sentido oposto e seu uso pode nos proteger dos males da massificação ao estimular nossa espiritualidade, sensibilidade e bom gosto.
2. A música não é só uma forma de arte. Ela é também, e sobretudo, um veículo condutor de ideias e valores. E não me refiro somente à letra.
Gêneros musicais têm identidade própria e refletem um conceito ou valor específico.
Uma vez que a letra não tem poder de santificar a música, não importa quão cristã uma letra possa ser, se é música popular, transmitirá aos adoradores os valores desse gênero musical aos quais está intimamente associada. O meio é a mensagem! (Escrevi algo sobre isso relacionado ao evangelho. Clique aqui para conferir).
Música popular provoca excitação dos sentidos, ao passo que hinos transmitem poder; um poder que tem acompanhado os adventistas desde sua origem e do qual não podem abrir mão.
3. Conquanto fonte de deleite espiritual, os hinos são como a oração; não são dirigidos ao homem, mas a Deus. Por isso são chamados hinos de louvor ao nosso Deus.
Podemos aplicar à música de adoração o que o apóstolo Paulo escreveu sobre a pregação do evangelho:
Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo. (Gálatas 1:10).
É precisamente esta pergunta que necessitamos fazer a nós mesmos no que se refere às nossas escolhas musicais: “Meu louvor agrada a homens ou a Deus?”. Se agrada a homens, tal música não pode servir a Cristo.
O hinário não é perfeito, mas é o melhor que temos. Agrademos a Deus ao oferecer-Lhe com zelo e discernimento o melhor que temos!
Para concluir, certamente há muitas músicas cristãs com alto valor estético e conteúdo espiritual que não estão no hinário e que merecem ser igualmente estimadas. O leitor pode conferir várias delas em minha playlist.
Não obstante, nos momentos de louvor na igreja, nas capelas de nossas escolas e no culto familiar, o hinário é o mais valioso recurso à nossa disposição.
Os preconceitos quanto ao seu uso, principalmente entre os mais jovens, resultam da ignorância a seu respeito.
Como a ignorância não pode ser fonte de autoridade intelectual, recomendo fortemente o site Música Sacra e Adoração, em especial a seção Histórias de Hinos do Hinário Adventista. Depois de conhecê-las, você nunca mais verá o hinário da mesma maneira!
Fonte: As Três Mensagens Angélicas