por: João Wilson Faustini
Não será preciso ir muito a fundo no assunto para descobrir que a “situação”, ou seja, o “problema” atual das igrejas em geral, não é só a música. E um problema bastante complexo, porque envolve conceitos teológicos, conceitos do que seja adoração, culto, e varia conforme os costumes, a cultura, etc. Uma das razões que também temos de considerar, é que o conhecimento humano evolui, e há estilos de vida e de arte para cada época e cultura.
Muitos pastares têm reclamado que não conseguem mais controlar ou disciplinar a ordem do culto. Se por um lado há entusiasmo por parte de muitos, principalmente os jovens, os mais idosos se sentem ignorados e impossibilitados de participar da “sessão” de louvor, que geralmente usa uma grande parte do culto. Eu diria até que a situação que vivemos atualmente está decadente como está por causa da música que temos usado nos cultos nas últimas décadas. O nosso canto congregacional ficou estagnado por muitos anos, sem inovação, sem entusiasmo e sem criatividade. Até os anos 60 muitas igrejas ainda só usavam o seu próprio hinário, todos baseados nos “Salmos e Hinos”, cuja edição mais duradoura foi a 4a. Edição, publicada em 1918! Muitos hinos eram mal contados, por falta de liderança especializada. O repertório e os assuntos dos hinos eram muito limitados e restritos. Realmente havia uma grande necessidade de algo novo e vibrante. Os corinhos começaram a aparecer nos acampamentos, na Escola Dominical, e logo estavam sendo usados no culto. Grupos de louvor itinerantes propagaram um tipo de música menos formal, de fácil apreciação que apelava principalmente aos jovens. No inicio eram alegres e continham algum conteúdo útil para o aprendizado e o ensino da Bíblia. Mas o povo brasileiro, seguindo o exemplo de outros povos, e com sua grande criatividade, foi compondo outros coros em outros estilos populares, que, com o passar dos anos se deterioraram muito na qualidade, tanto do texto como da música. Como a música popular tem uma vida curta, era preciso estar sempre buscando material novo e um verdadeiro dilúvio de novas músicas desse tipo apareceu.
A música tem um poder incrível de criar ambiente, o que pode variar entre uma atmosfera austera e solene até verdadeira confusão, gritaria e deboche. De modo geral, com raríssimas exceções, a música começou a afetar a reverência e a ordem do culto, a liturgia e a teologia, de uma maneira radical e visível.
A música tem também o grande poder de ensinar, e ela tem sido usada por séculos para ensinar a doutrina bíblica. Os hinos congregacionais encontrados nos hinários, geralmente incluem toda a doutrina cristã, que vai desde a proclamação do evangelho, salvação pela fé, confissão, arrependimento, perdão, vida cristã, reino de Deus na terra, vida futuro, etc., além de ser elemento essencial no louvor. Os hinários, tão valiosos para doutrinar o povo, foram se tornando cada vez mais relegados e menos usados nos cultos. O mais triste foi que durante todas estas décadas, muito pouco ou praticamente nada novo, refrescante e atualizado tenha sido produzido conforme a tradição hinológica da igreja.
Não vamos considerar em detalhes as razões por que aconteceu esta tamanha mudança nos cultos e na adoração. Basta dizer que a igreja simplesmente acompanhou o que aconteceu em toda a sociedade nos últimos 50 ou 60 anos. Maior indisciplina, desrespeito a autoridades, negligência dos valores dos pais e dos avós, desconhecimento e desprezo da história e do passado, etc., totalmente diferente e ao contrário do que acontecia nos últimos séculos anteriores. A igreja foi aos poucos se ajustando a esta situação e tem se mantido tolerante quanto a introdução de valores, costumes e ideias seculares em seus atos de adoração. Enquanto Lutero tomava melodias populares e mudava os seus ritmos para fazê-las mais reverentes, nós agora tomamos os hinos tradicionais e acrescentamos ritmo e orquestração seculares neles, para os tornarem mais atraentes para o mundo. Aqui ferimos um grande principio bíblico: Não devemos tomar a forma do mundo, mas devemos transformar o mundo e ser “luzes” para aqueles que estão nas trevas, sem o conhecimento daquele que disse: “Eu sou a Luz do mundo” e “vós sois a luz do mundo”! Antigamente usava-se melodias folclóricas ou seculares, como “Old Folks at Home”, “Home, Sweet Home”, “Old Black Joe”, “Juanita” e tantos outros, com ritmos que não eram irreverentes, e revestidos de um texto teologicamente carreto, o que mantinha nossa dignidade e reverência no culto. Há já diversas décadas que temos visto cantores, músicos e músicas, supostamente “religiosas” serem transportadas para as platéias seculares, uma vez que o estilo atual é comum e é apreciado tanto dentro como fora da igreja O mercado de CDs dentro da igreja segue o padrão que vem de fora As músicas são músicas de consumo. A principio agradam, mas têm curtíssima duração. Por esta razão, os jovens estão sempre buscando músicas novas, e coisas que sejam novidade nas “apresentações e shows”, para que sejam vendidas e comercializadas. A igreja tem se tornado o grande palco onde tudo isto acontece. Como as letras das músicas atuais usadas no culto são geralmente muito repetitivas e muitas não contêm mensagens realmente cristãs ou evangelísticas, nem doutrinam corretamente a Palavra de Deus, vemos que há apenas uma grande empolgação, principalmente por parte da juventude, sem que haja, muitas vezes, um conhecimento verdadeiro do evangelho. O resultado, de modo geral é que este conhecimento de Cristo e sua doutrina acaba sendo superficial e raramente é acompanhado de uma mudança no estilo de vida daqueles que tanto “curtem” este tipo de música.
Devemos cantar músicas alegres, sim! Mas precisamos ser criteriosos! O lugar de entretenimento, exibição e shows não é a igreja. Há teatros e clubes, rádio e televisão para isso. A igreja é o lugar de oração, dignidade e reverência. Há muitas jóias preciosas que precisamos conhecer, não só nos hinários atuais das diversas denominações, que nos ajudarão muito a criar um ambiente reverente. A Bíblia nos diz que Deus é digno. Ele é digno de tudo que é melhor, inclusive nas músicas e textos de hinos novos que estão sendo escritos atualmente!
Há muitos autores e compositores atuais, muitos dos quais participam da “Hymn Society of America and Canada”. (http://www.thehymnsociety.org)! Esta Sociedade Hinológica se especializa em incentivar e dinamizar o canto congregacional. Ela se reúne anualmente para suas conferências e realiza seminários e cursos para desenvolver autores e compositores atuais, que sejam conhecedores de teologia, capazes de dominar as técnicas de poesia, métrica, harmonia e composição, e os estimula a produzirem hinos novos para os nossos dias. SOEMUS [*] tem um grupo de pessoas idealistas e que quer fazer o mesmo aqui no Brasil, visto que somos tão carentes nesta área. Procure conhecer as oficinas para poetas e compositores que pretendemos realizar. Nunca se sabe, pode haver autores e compositores em potencial que podem se tornar exímios entre nós, e que precisam ser despertados! Talvez você seja um deles!
Fonte: Soemus – Sociedade Evangélica de Música Sacra