por: Rute Jaenger Buntain
Uma tarde de sábado, ao perlustrar as folhas de meu hinário, de repente dei-me conta de que os hinos que cantaremos no céu serão diferentes dos que possuímos aqui. Alguns de nossos mais queridos hinos não serão apropriados para ser cantados ali. Pelo menos, terão de sofrer uma revisão.
Na verdade, nós iremos cantar o hino “Rude Cruz”. “A cruz de Cristo será a ciência e cântico dos remidos por toda a eternidade”. Cantaremos, e de coração, palavras como: “Mas eu amo essa cruz, porque nela Jesus, deu a vida por mim, pecador.”
“Rocha Eterna”, porém, precisará de revisão. Não iremos cantar: “Nem trabalho, nem pensar”; etc., porque não haverá ali nenhum labor exaustivo, tampouco qualquer motivo para pesar. Não cantaremos “Eis que vem a morte atrás”, porque não acontecerá isto ali; ninguém fechará os olhos na morte. Este último inimigo será destruído. A morte terá sido tragada na vitória”.
Outro hino que terá de ser revisado é: “Amigo Precioso.” Será próprio cantarmos linhas como “amigo mui precioso, eu tenho em meu Jesus”. Mas palavras como “por vezes sou tentado nas lutas e na dor”, e “eu conto-lhe tristezas”, etc., estarão fora de lugar no céu. Não seremos tentados ali, nem teremos lutas e tristezas, pois os dias de tristezas e de lágrimas terão ficado para sempre no esquecimento. Nada causará dor ou tristeza no Paraíso.
O hino “Fé dos Nossos Pais” também pedirá alguma revisão; terá de sofrer mudanças. Não teremos mais de “o sangue dar” na imitação da fé de nossos pais, nem teremos de fazer a opção “antes morrer do que pecar”. Os fogos da perseguição terão sido extintos para sempre. Não mais archotes humanos ardendo para iluminar a noite e consumindo aqueles que “mesmo em face da morte, não amaram a própria vida” (Apocalipse 12:11). As espadas terão sido embainhadas para sempre. Nunca mais alguém levantará o cutelo para decapitar um João ou um apóstolo Paulo encanecido. Nunca mais se levantarão vozes para clamar: “Às feras! Aos leões!” ou para exigir; “Queime um pouquinho de incenso, ou senão morrerá!” Há muito os destruídos, afligidos, atormentados, terão alcançado “uma pátria superior, isto é, celestial” (Hebreus 11:16).
O hino “Onde os Ceifeiros” não será cantado no céu. Os dias de busca dos perdidos estarão terminados. Os que permanecem “Nos campos tão vastos” estão perdidos para sempre, porque pereceram. E o hino “Quem Semeia em Prantos” terá perdido o seu sentido lá no céu; “manda mais ceifeiros para trabalhar” será uma frase só para ser lembrada, porque a ceifa estará terminada. Quando a voz tiver pronunciado as palavras “está feito”, o último sermão terá sido pregado, a última oração enviada ao alto, terá sido dado o último estudo bíblico, a última mensagem num folheto terá sido entregue. Os ceifeiros estarão partilhando a glória da colheita já no lar eterno.
Os hinos que cantarmos no céu serão cantados por outras razões. Muitos de nossos hinos terrestres são armas contra o desencorajamento. Eles procuram banir a tristeza, alegrar o coração, aumentar a fé, levantar os pensamentos. Não é de admirar que nos tenha sido dito: “Como parte do culto, o canto é um ato de adoração tanto como a oração.”- Ellen G. White. Educação, pág. 167.
Na terra, o solitário encontra ânimo com hinos como “O Melhor Amigo”. O desencorajamento encontra refrigério em “Peregrino, Teus Cuidados Põe aos Pés da Cruz”. O desassossego encontra tranqüilidade cantando “Tudo é Paz”, e o culpado se reconforta com o cântico de “Tal Qual Estou Eu Venho a Ti”.
No céu não haverá cânticos sobre pessoas em conflitos, clamando o socorro de Deus. Se Davi, o suave cantor de Israel, for um dos autores de hinos no céu, certamente não escreverá alguns tipos de hinos escritos das profundezas de uma consciência culpada e acusadora. Não haverá salmo que suplique: “Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo” (Salmo 51:7).
A lavagem e purificação terão ocorrido na Terra, enquanto a graça existiu. Todos os que tiverem chegado ao céu estarão embranquecidos e purificados como a neve, porque “lavaram as suas vestiduras no sangue do Cordeiro”.
Se Miriã, que regeu o cântico junto ao Mar vermelho, for uma das cantoras-líderes no céu, ela nos conduzirá em cânticos de louvor e gratidão. Mas não porque foram lançados no mar “O cavalo e o seu cavaleiro” (Êxodo 15:1). Os cânticos de agradecimento serão cantados porque tudo que se havia perdido por causa do pecado foi resgatado. O paraíso perdido se tornará paraíso restaurado. Uma vez mais a Terra será o “Vale do Éden Formoso”.
Na terra, nossos corais e apresentadores musicais são pessoas especialmente dotadas para isto. Nem todos têm o privilégio de tomar parte. Mas no céu, todos tocarão as suas harpas (Apocalipse 14:2). Todos participarão dos coros celestes. Haverá tal profundeza de gozo e gratidão que as cortes do céu reboarão com cânticos da grande multidão.
Todavia, haverá ali um coral todo único do qual participarão pessoas escolhidas. Nem mesmo os querubins e serafins participarão deste grupo. Noé não estará nele, em Abraão, ou Paulo, ou João, o vidente de Patmos, nem qualquer dos outros bem conhecidos heróis da fé. O coral composto pelos 144.000 será formado pelos que tiverem tido na terra uma experiência toda especial. E o número que particularmente cantarão se dominará “Cântico de Moisés e do Cordeiro”. Este será o cântico de sua experiência, uma experiência tal que nenhum outro grupo jamais teve. Os membros deste coral vieram “da grande tribulação” (Apocalipse 7:14). Foram vitoriosos sobre a besta, sobre a sua imagem, o seu sinal, e sobre o número do seu nome. Estes foram ‘Transladados da Terra, dentre os vivos”. (Ver Apocalipse 7:14; 14:1-5; 15:2 e 3; Ellen G. White. O Grande Conflito, pág. 646).
Mas não haverá inveja no coração daqueles que não foram incluídos neste grande coral. Corações celestiais, eles não terão ressentimentos. As hostes do céu se rejubilarão ao ouvirem uma música tal como jamais tinham ouvido.
Pode ser que ao cantar o grande coral de 144.000 vozes os que tiveram vindo da Terra cantarão a antífona final. Então, em número de “milhões e milhares de milhares” (Apocalipse 5:11), vozes se unirão numa gloriosa antífona. Talvez o clímax serão as palavras de um dos hinos que cantaram na Terra, um hino que não precisará se revisto para poder ser cantado no céu, como “O Deus Eterno Reina no Monte de Sião”, e muitos outros mais que cantamos hoje em nosso peregrinar, mas poderão ser cantados também no reino estabelecido para sempre.
Fonte: Revista Adventista. Novembro de 1981. Págs. 41, 42.