por: João Wilson Faustini
João Calvino, pouco depois da Reforma Protestante, século XVI, nos deixou uma série de recomendações a respeito da importância da música no culto, ao escrever o prefácio do primeiro Saltério Genebrino, publicado em 1565.
O saltério era um hinário contendo todos os salmos em forma de poesia. Esses salmos haviam sido metrificados e colocados em rima por Clément Marot e Théodore de Béze, e haviam sido musicados por Claude Goudimel a pedido de Calvino, porque ele queria que os salmos voltassem a ser usados nos cultos, como hinos, tal como o livro dos Salmos, os quais haviam sido compostos em poesia hebraica e eram cantados no segundo templo de Jerusalém. A influência dos diversos saltérios que surgiram na hinologia a partir desta época foi tremenda.
Talvez o que deu maior popularidade ao Salmo 100, um dos muitos musicados por Louis Bourgeois, de melodia que conhecemos, foi a sua música, denominada Old Hundredth. O seu ritmo original era alegre e saltitante, bem no espírito do texto que nos convida a celebrar ao Senhor com alegria. Esta melodia ainda é usada hoje em muitas igrejas, com o texto da Doxologia “A Deus Supremo Benfeitor”.
A linguagem de exaltação a Deus contida nestes salmos metrificados, com o tempo, se tornou parte do pensamento cristão, e as ideias messiânicas neles incorporadas, fortaleceram a crença de que Jesus é o Cristo, escolhido para ser o salvador sa humanidade. A grande gama de emoções coberta pelos salmos, tocava os corações e os despertava à fé e à coragem. Devido a esta visão de Calvino o uso dos salmos metrificados cantados passou de Genebra para a Inglaterra e Escócia, e tornou-se generalizado em muitos países.
No Brasil, o primeiro hinário evangélico compilado foi os Salmos e Hinos, publicado em 1861; esta compilação foi uma das tarefas realizadas pelo primeiro casal de cristãos protestantes chegado no Brasil, Robert e Sarah Kalley. Este hinário ainda é o mesmo utilizado pela nossa Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.
Calvino deixou muito bem claro, no prefácio já mencionado, que quando nos reunimos no nome de Cristo para adora-Lo, não estamos ali para nos entretermos ou divertir os espectadores, mas para que haja proveito espiritual. Para Calvino, quando não há doutrina, também não há edificação e que, se quisermos de fato honrarmos os ensinos de Cristo, devemos conhecer o conteúdo de tudo o que é usado na liturgia, saber o que significa e qual a sua finalidade, para que o seu uso seja justificado e salutar.
Calvino sempre fundamentou a liturgia do culto baseada em três elementos principais: A Pregação da Palavra, as Orações e a Administração dos Sacramentos. Calvino também citou o teólogo Agostinho, dizendo que devemos ter grande cuidado para não usar, no culto, músicas que sejam levianas ou frívolas. Em vez de usar cânticos vãos e prejudiciais, ele sugere que os cristãos se acostumem a usar os Salmos, de músicas mais sóbrias, e a serem moderados, usando músicas que tenham peso e majestade, próprios para a igreja do Senhor Jesus Cristo.
Portanto, devemos tomar todo cuidado para não fazer da música um elemento simples; ao contrário, a música é para adoração do Criador e edificação da igreja.