por: Alysson Siqueira
Essa é uma pergunta recorrente no ensino de instrumentos musicais. Alunos, movidos pelo anseio de obter resultados o quanto antes, acabam deixando, muitas vezes, os professores em maus lençóis.
Mas trago aqui um alento. Mais do que uma tentativa vã de elaborar uma resposta padrão, quero mostrar que a pergunta pode ser uma excelente oportunidade de se abrir um diálogo a respeito de diversos aspectos do aprendizado de um instrumento musical.
Minha resposta inicial à pergunta seria “depende”. A partir daí, passaria a discutir sobre algumas das variáveis envolvidas no ato de aprender um instrumento musical.
O primeiro ponto que eu abordaria seria sobre o que significa “tocar um instrumento”. Eu poderia, numa primeira aula de piano, ensinar a localização das notas no teclado, o que é relativamente simples e, em seguida, apresentar uma melodia com poucos sons, que ele facilmente conseguisse reproduzir. Então, no primeiro encontro já teríamos um pianista? Ou somente aquele músico de técnica irrepreensível, que toca piano em casas de concerto, pode ser chamado de pianista? Naturalmente, entre o aluno da primeira aula e o pianista consagrado há uma infinidade de níveis que o estudante do instrumento pode atingir. Assim, o objetivo desse primeiro ponto da discussão seria compreender com clareza qual é o nível que o aluno pretende atingir, o que e para que ele quer tocar.
O aspecto seguinte seria a respeito do desenvolvimento motor necessário para se tocar um instrumento. Ora, se bem me lembro das minhas aulas de Educação Física, cada um dos meus colegas possuía níveis de coordenação motora diferentes. Mas vi muitos corpos desajeitados que, com uma boa dose de dedicação, conseguiram desenvolver seu aspecto motor e entrar para o time da escola. O mesmo observei em minha trajetória como professor de instrumentos: alunos que conseguiam tirar som do violão na primeira aula, enquanto outros demoravam semanas para isso. Testemunhei alunos que tiveram muita dificuldade no início, mas depois avançaram muito mais do que outros que se apresentaram com uma boa dose de coordenação motora inicial. Esse é um aspecto que depende do corpo, de características fisiológicas individuais e também da motivação para repetir exercícios criados com a finalidade de desenvolver as habilidades motoras.
Esse seria o gancho para trazermos à pauta o aspecto da motivação para o estudo. O motivo da procura por aprender o instrumento está relacionado a isso, mas a motivação vai além. Ela diz respeito a quanto o aluno quer aprender. Tive muitos alunos que procuraram as aulas para realizar um sonho. Mas também recebi outros que queriam aprender o instrumento para relaxar. Desses, alguns se dedicavam bastante, cumprindo as tarefas em aula e em casa, e outros relaxavam em sala, explorando o instrumento de forma a relaxar de outras maneiras. Motivação, no ensino de um instrumento musical, gera comprometimento e quanto mais comprometido o aluno está, mais rápido ele alcança os resultados desejados.
E por falar em tempo, no meio da conversa surge outra pergunta embaraçosa: “professor, quanto tempo eu tenho que estudar por dia?”. Confesso que já calculei e tive um número como resposta. Mas logo entendi o quanto é pessoal essa questão do tempo, tanto daquele necessário para aprender o quanto se deseja, quanto daquele diário necessário para aprender na velocidade que se quer. No final das contas, cada um tem seu tempo e muitos irão acabar utilizando apenas o tempo que sobra das outras atividades diárias.
E lá se foi uma discussão de alguns minutos que serviu para o seu candidato a aluno entender os aspectos motivacionais, motores e de organização de estudos. A pergunta inicial não teve resposta imediata, nem deveria ter, pois, depois de um certo tempo, você irá ouvir seu aluno dizer “eu toco violão” e, enfim, a resposta estará pronta.
Alysson Siqueira é Bacharel em Música Popular, Mestre em Música e professor da Área de Linguagens Corporal e Cultural do Centro Universitário Internacional UNINTER