O Adorador

O Culto como Sacrifício

por: Levi de Paula Tavares

Introdução

Gosto de estudar e escrever sobre o assunto Adoração. Para mim, este é o tema principal da vida cristã, que serve de norte para balizar nossa comunhão com Deus, que é o cerne a vida cristã.

O tema da verdadeira adoração tem sido esquecido e menosprezado, de maneira totalmente injusta para com a sua importância. Isso tem levado a distorções importantes, pois onde não há conhecimento, ou estudo da Palavra, há corrupção de distorções, que levam à destruição espiritual (Provérbios 10:21; 29:18; Isaías 5:13; Oséias 4:6).

Costumo definir a adoração como sendo “tudo aquilo que ocorre quando um ser humano entende quem Deus é, quem ele é diante de Deus, e tudo o que esse Deus majestoso e santo fez, faz, e ainda fará por ele, um indigno pecador”.

“A ideia bíblica de soberania coloca a Deus e ao homem em sua perspectiva adequada, e estabelece os argumentos e os modos da adoração verdadeira. O homem que reconhece a legitimidade do senhorio divino não pode senão render a Deus um culto digno e reverente. ” (Daniel O. Plenc, El Culto que Agrada a Dios, p. 62)

As pessoas normalmente pensam no culto como um momento para “buscar bênçãos”; ou seja, dificilmente pensam no culto como um ato de sacrifício. Mas é exatamente assim que Paulo o descreve. Vamos estudar este assunto tendo como base um trecho da carta de Paulo aos Romanos. Este é, no meu entendimento, o livro mais profundamente teológico de Paulo, onde a lógica da argumentação paulina alcança seu clímax.

Examinaremos detidamente o texto de Romanos 12:1-2. Citando especificamente este texto, Ellen White escreve:

“Esse capítulo inteiro é uma lição que, imploro, deve ser estudada por todos os que pretendem ser membros do corpo de Cristo. ” (White – Testemunhos para a Igreja v. 6, p. 239)

Note que, assim como toda a Bíblia, o livro de Romanos não foi escrito dividido em capítulos. Romanos foi uma carta, inteira, escrita do começo ao fim. Estudos posteriores criaram, para facilitar o estudo e a citação de trechos, a divisão em capítulos e versículos.

Um esboço do livro de Romanos pode ser traçado da seguinte forma:

  • Introdução (1:1-17)
  • A pecaminosidade humana (1:18-3:20)
  • A justiça imputada – Justificação (3:21-5:21)
  • A justiça outorgada – Santificação (caps. 6-8)
  • A vindicação da justiça de Deus (caps. 9-11)
  • A prática da justiça – Vida cristã (12:1-15:13)
  • Conclusão (15:14-33)
  • Recomendações e saudações (cap. 16)

Portanto, os versículos que estudaremos são os primeiros de uma seção inteira do livro dedicada especificamente à vida cristã. Ou seja, Paulo está falando aqui para cristãos maduros, salvos pela graça, justificados mediante a fé e mantidos firmes no caminho da santificação pelo poder do Espírito Santo. Paulo agora vai lidar com o assunto de como esses santos podem viver em um mundo dominado por todos os lados pelo pecado.

Em Romanos 12:1-2 lemos assim:

Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus. (versão João Ferreira de Almeida, Corrigida e Revisada, Fiel)

Rogo-vos, pois, irmãos

O uso da palavra “pois” (ou, portanto, então, consequentemente, desta forma, etc.), mostra que o apelo de Paulo se baseia nas coisas ditas anteriormente. Tudo aquilo que foi dito até este ponto é o motivo, a razão pela qual devemos viver da maneira como ela agora passa a descrever.

Rogo-vos” – eu lhes imploro, eu solicito a vocês, eu insisto com vocês. A palavra grega é parakalo, uma palavra composta: “Eu apelo a vocês”. Esta palavra é usada como apelo para uma tomada de decisão, um chamado a que o ouvinte se decida pelo lado do apelante. Um forte apelo, quase uma ordem.

Irmãos” – Paulo não fala aqui para estranhos, mas como já destacamos, para crentes maduros e firmes na fé.

Pelas misericórdias de Deus

Há dois aspectos nessa expressão:

  1. ênfase do apelo que está sendo feito
  2. Um destaque especial para as misericórdias de Deus.

A ênfase é semelhante àquela que damos ao exclamarmos “pelo amor de Deus! “, ao fazermos um apelo muito importante, ao qual você realmente quer que o seu interlocutor atenda.

As misericórdias de Deus que devem ser destacadas são aquelas grandes realidades espirituais sobre as quais Paulo esteve escrevendo nos 11 capítulos anteriores desta grande epístola.

Ao estudar detidamente a carta aos Romanos, podemos notar que continuamente Paulo está destacando alguns aspectos dessas maravilhas. Não temos aqui espaço para uma análise mais aprofundada dessas expressões, mas encontramos citados no livro de Romanos muitos dons e favores imerecidos de Deus ao homem:

  • Amor
  • Graça
  • Paz
  • Alegria
  • Consolação
  • Força
  • Sabedoria
  • Esperança
  • Paciência
  • Bondade
  • Honra
  • Glória
  • Justiça
  • Segurança
  • Vida eterna
  • Perdão
  • Reconciliação
  • Justificação
  • Santificação
  • Liberdade
  • Ressurreição
  • Filiação
  • Intercessão
  • …. e muito mais!

Esses dons, dados gratuitamente pelas misericórdias de Deus ao homem, já estão garantidas a cada um de nós pelo plano da salvação descrito por Paulo entre os capítulos 1 a 11. Como diz o salmista em Salmos 16:12 – “Que darei eu ao Senhor, por todos os benefícios que me tem feito?”

Como resultado desta poderosa obra do ministério de Cristo, da salvação que veio a nós através da cruz e da ressurreição, deveríamos ser movidos, motivados, impulsionados, guiados – pelas admiráveis misericórdias de Deus dadas a nós – a adorá-Lo.

Que apresenteis os vossos corpos

Apresenteis” (ou oferecer, ofertar, trazer). A palavra grega parastesai, no sentido apresentado pelo contexto, é um termo usado no templo, um termo sacerdotal. A mesma palavra é usada em Lucas 2:22, quando o menino Jesus foi levado a Jerusalém, “para o apresentarem ao Senhor“.

O livro de Levíticos utiliza amplamente o equivalente hebraico amad, que ocorre na expressão “apresentará ao sacerdote” (o animal, a pessoa, a oferta).

Como Paulo se refere aqui a “vossos corpos“, ele quer dizer todas as nossas faculdades humanas. é importante notar que não existe, na mentalidade hebraica, a separação dicotômica entre corpo e mente, a qual é fruto da cultura grega.

Em I Coríntios 9:27, Paulo disse “… subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão… “. Ele quer dizer com isso, tudo o que há de humano, carnal, terreno.

Com essa frase, Paulo quer dizer: Coloque-se sobre o altar, morra para seus próprios objetivos, para tudo ao seu redor e entregue toda a sua humanidade, tudo o que você é diante de Deus. Ou seja, ofereça toda a sua vida em adoração. Adoração, para Paulo aqui, é uma maneira de viver, é a própria vida.

Em sacrifício vivo

Como já vimos, a linguagem aqui é a linguagem serviço levítico do templo. Um ofertante, no templo, trazia o seu sacrifício para Deus fora do Lugar Santo, no pátio, e a entregava para o Sumo Sacerdote. O Sacerdote tomava o sacrifício e o apresentava a Deus sobre o altar.

Para que o sacrifício fosse eficaz no perdão dos pecados, o pecador devia confessar seus pecados sobre a cabeça do animal. Isso simbolizava um coração adorador, porque isto é o que Deus realmente queria, mesmo no Antigo Testamento. Deus nunca se agradou com uma oferta meramente externa. Ele queria o coração. Ele sempre quis o coração.

Vejamos os seguintes textos do Antigo Testamento, quando ainda o sistema sacrifical estava em plena vigência:

I Samuel 15:22 – Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros.

Salmos 51:17 – O sacrifício aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.

Isaías 1:11-15 – De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; nem me agrado de sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecer perante mim, quem requereu isto de vossas mãos, que viésseis a pisar os meus átrios? Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e as luas novas, e os sábados, e a convocação das assembleias; não posso suportar iniquidade, nem mesmo a reunião solene. As vossas luas novas, e as vossas solenidades, a minha alma as odeia; já me são pesadas; já estou cansado de as sofrer. Por isso, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão cheias de sangue.

Oséias 6:6 – Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos.

Amós 5:21-24 – Odeio, desprezo as vossas festas, e as vossas assembleias solenes não me exalarão bom cheiro. E ainda que me ofereçais holocaustos, ofertas de alimentos, não me agradarei delas; nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais gordos. Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias das tuas violas. Corra, porém, o juízo como as águas, e a justiça como o ribeiro impetuoso.

O verdadeiro sacrifício é o “espírito quebrantado” diante de Deus. Mas, cumprindo o ritual estabelecido, no cerimonial do sistema levítico os sacrifícios eram apresentados na forma de animais mortos. Porém, o Cordeiro de Deus já morreu, para que tenhamos vida, e agora não há mais sacrifícios mortos, apenas vivos. Embora o verdadeiro sacrifício ainda seja requerido, o ritual do sistema sacrifical antigo, que exigia a morte, foi abolido, e Deus quer sacrifícios vivos.

Romanos 6:13 – Nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça.

O sacrifício cristão, em oposição a um sacrifício de sangue, é o ser humano vivo, atuante e pronto para gastar-se para Deus. O adorador cristão se apresenta com todas as suas energias e faculdades totalmente dedicadas a Deus.

Santo e agradável a Deus

Os judeus eram proibidos de oferecer em sacrifício um animal que fosse coxo, cego ou vítima de qualquer deformidade (Levítico 1:3, 10; 3:1; 22:20; Deuteronômio 15:21; 17:1; Malaquias 1:8). Toda oferta era examinada e, se descoberta qualquer mancha, o animal era rejeitado.

Da mesma forma, os cristãos devem apresentar a Deus o corpo e a mente na melhor condição possível.

Devemos entregar-nos ao serviço de Deus e procurar que a oferta se aproxime o máximo possível da perfeição. Deus não Se agradará de coisa alguma inferior ao melhor que podemos oferecer. Aqueles que O amam de todo o coração, desejarão dar-Lhe o melhor serviço de sua vida, e estarão constantemente procurando pôr toda a faculdade de seu ser em harmonia com as leis que promoverão sua habilidade para fazerem a Sua vontade. (White – Patriarcas e Profetas, p. 352-353)

Todas as faculdades e virtudes devem ser preservadas puras e santas; caso contrário, a dedicação de si mesmo a Deus não pode ser aceitável.

As condescendências pecaminosas profanam o corpo e incapacitam os homens para o culto espiritual. O que se apega à luz que Deus lhe deu sobre a reforma de saúde, tem um importante auxílio na obra de santificar-se pela verdade e estar habilitado para a imortalidade. Mas, se eles menosprezam essa luz, e vivem em violação da lei natural, devem sofrer a penalidade; suas energias espirituais são amortecidas e, como poderão eles aperfeiçoar a santificação no temor do Senhor? (White – Conselhos sobre Saúde, p. 22)

Esse requisito não é arbitrário. O propósito de Deus para os crentes é a completa restauração. Isso inclui, necessariamente, a purificação e o fortalecimento da integridade física, bem como dos poderes mentais e espirituais.

Que é o vosso culto racional.

Culto é uma forma de homenagem prestada apenas a uma divindade. é adoração. Mas Deus exige que tenhamos a visão correta da verdadeira adoração. Apenas este tipo de adoração, consciente e submissa, é aceitável. Todo o resto é falso, é vão, é lixo, inaceitável de ser apresentado diante de um Deus santo e perfeito.

João 4:23-24 – Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.

A menos que aos crentes sejam inculcadas ideias precisas acerca do culto verdadeiro e da verdadeira reverência para com Deus, prevalecerá entre eles a tendência para nivelar o sagrado ao comum. Tais pessoas, professando a verdade, serão uma ofensa a Deus e uma lástima para a religião. (White – Testemunhos Seletos, v. 2, p. 202)

A palavra traduzida aqui por “racional” é a palavra grega logikos, “racional”, “espiritual”, “lógico”. Ou seja, dominado pela mente e subjugado a ela. Este é o tipo de culto que Paulo está dizendo que devemos ofertar e que é aceito por Deus.

Infelizmente, o que temos buscado é o contrário disso. O oposto de “racional”, dentro do contexto apresentado – que focaliza no ser humano – não seria “irracional”, pois esta palavra seria a negação do conceito. O antônimo de “racional”, neste caso, seria “emocional”.

A discussão sobre o papel da razão e da emoção na adoração não é nova, mas gostaria de voltar a este tema, pois é extremamente importante para compreendermos alguns aspectos fundamentais da verdadeira adoração.

Como foi abordado na introdução, há distorções na igreja atual acerca do conceito de adoração. Existe muita atividade e eventos na igreja, com foco na ideia de adoração, mas não temos visto os frutos dessa “adoração”, e a razão para isso é que os conceitos atuais não estão alicerçados num claro “assim diz o Senhor”. São, portanto, adoração falsa e vã.

O que temos notado é que muitas pessoas veem adoração e música como sendo sinônimos. Em algumas de nossas congregações, se alguém disser “Quero que vocês adorem ao Senhor comigo” muitos irão presumir – e, na maioria das vezes, acertadamente – que alguma música irá começar imediatamente a tocar.

Isso acontece porque muitas pessoas sinceramente acreditam que a música produz adoração, ou a música induz a adoração. A razão pela qual muitos cristãos hoje acreditam piamente nisso é porque temos buscado, almejado, incentivado e cultivado uma forma de culto emocional. E, é um fato conhecido e provado que a música induz a certos estados emocionais. Desta forma, ao atingir um estado emocional alterado, as pessoas acreditam que passaram por uma experiência de adoração. Nada poderia ser mais enganoso e, portanto, mais perigoso.

Mas a música, como tal, não pode produzir adoração. Ela não pode induzir adoração. Música não é a origem da adoração. Vou dizer de outra forma: música não é o princípio da adoração é o seu final.

Nossa adoração perante Deus, o culto que prestamos a Deus na adoração é espiritual. Isso quer dizer que a verdadeira adoração é, inicialmente, interna, e não externa.

Adoração é uma reação ativa a Deus, pela qual declaramos a sua dignidade. A adoração não é passiva, mas sim participativa. Adoração não é simplesmente um clima; é uma reação. Adoração não é apenas uma sensação; é uma declaração. (Allen/Borror, Teologia da Adoração – pág. 16 – ênfase no original)

A verdadeira adoração não é um “clima”, ao qual nos entregamos. Não é uma sensação, à qual somos induzidos pela beleza do que ouvimos.

Sejamos claros aqui: não estamos dizendo que não deve haver música nos nossos cultos. Pelo contrário! A música é um instrumento fantástico de expressão da adoração e de instrução para a edificação espiritual.

Numa reunião religiosa, o ato de cantar é tanto uma adoração a Deus como o ato de pregar (…). (White – Mensagens Escolhidas, v. 3. p. 333)

Fazia-se com que a música servisse a um santo propósito, a fim de erguer os pensamentos àquilo que é puro, nobre e edificante, e despertar na alma devoção e gratidão para com Deus. Que contraste entre o antigo costume, e os usos a que muitas vezes é a música hoje dedicada! Quantos empregam este dom para exaltar o eu, em vez de usá-lo para glorificar a Deus! O amor pela música leva os incautos a unir-se com os amantes do mundo nas reuniões de diversões aonde Deus proibiu a Seus filhos irem. Assim aquilo que é uma grande bênção quando devidamente usado, torna-se um dos mais bem-sucedidos fatores pelos quais Satanás distrai a mente, do dever e da contemplação das coisas eternas. (White – Patriarcas e Profetas, p. 438)

O erro aqui, reforçamos, está em achar que a música pode levar à adoração, ou que a adoração seja fruto da música. Na verdade, segundo o plano divino, o que ocorre é exatamente o contrário: a verdadeira música para Deus brota de um coração pleno da verdadeira adoração!

Com música ou sem música, a verdadeira adoração se origina na mente, através de nossas decisões. Nós decidimos nos submeter, nos prostrar diante de um Deus soberano. Este é o conceito da palavra grega normalmente traduzida como adoração, proskuneo. Esta é a adoração da qual Paulo fala que é aceitável a Deus. é o tipo de adoração que Deus deseja.

Vejamos alguns exemplos deste processo, que para muitos é um fenômeno, nos escritos inspirados:

Quando Moisés pediu ao Senhor que lhe mostrasse Sua glória, o Senhor disse: “Farei passar toda a Minha bondade diante de ti.” “Passando o Senhor por diante dele, clamou: Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo, e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado. … E imediatamente, curvando-se Moisés para a terra, O adorou.” [Êxodo 34:6-8] Quando formos capazes de compreender o caráter de Deus como Moisés, também nós nos daremos pressa em curvar-nos em adoração e louvor. (White – Fundamentos da Educação Cristã, p. 177)

Revelações diárias do caráter e majestade de seu Criador enchiam o coração do jovem poeta, de adoração e regozijo. Na contemplação de Deus e Suas obras, as faculdades do espírito e coração de Davi estavam a desenvolver-se e a fortalecer para a obra de sua vida posterior. (White – Patriarcas e Profetas, p. 472)

Quando o inspirado apóstolo João contemplou a altura, a profundidade e a amplidão do amor do Pai para com a raça perdida, foi possuído de um espírito de adoração e reverência; e, não podendo encontrar linguagem apropriada para exprimir a grandeza e ternura desse amor, chamou para ele a atenção do mundo. (White – A Maravilhosa Graça de Deus, p. 186)

O mesmo processo ocorre com Paulo no livro de Romanos. Terminando a sua profunda dissertação teológica acerca do plano da salvação, ao compreender toda a riquezas daquilo que Deus havia feito por ele, imerecidamente, por Sua infinita misericórdia, Paulo exclama aquele maravilhoso louvor e ação de graças que podemos ler em Romanos 11:33-36:

Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Porque, quem compreendeu a mente do Senhor? Ou quem foi Seu conselheiro? Ou quem Lhe deu primeiro a Ele, para que lhe seja recompensado? Porque dEle e por Ele, e para Ele, são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente. Amém.

Ninguém tocou música ou dedilhou algum instrumento, para que Paulo chegasse a esse clímax de louvor. Mas este louvor a Deus poderia perfeitamente ser expresso através de boa música, em adoração a Deus. Assim, a origem não é a música, mas ela pode ser o resultado final da experiência de adoração.

Este processo ocorreu com os autores e personagens bíblicos. Mas será que ele pode acontecer comigo e com você? Vejamos o que a revelação nos diz a respeito:

Contemplando o estudante da Bíblia ao Redentor, desperta-se-lhe na alma o misterioso poder da fé, adoração e amor. O olhar fixa-se na visão de Cristo, e o que assim contempla cresce na semelhança dAquele a quem adora. (White – Educação, p. 192)

A música é uma ótima ferramenta para expressar a nossa adoração e louvor a Deus. E devemos admitir que hinos com sólido conteúdo teológico são espiritualmente instrutivos. Mas música somente será parte de uma adoração verdadeira na medida em que ela for permeada pela adoração da nossa mente a Deus. E quanto mais conhecemos de Deus, mais Ele permeia a nossa adoração.

O Senhor revelou-me que, se o coração está limpo e santificado, e os membros da igreja são participantes da natureza divina, sairá da igreja que crê a verdade um poder que produzirá melodia no coração. Os homens e as mulheres não confiarão então em sua música instrumental, mas no poder e graça de Deus, que proporcionará plenitude de gozo. Há uma obra a fazer: remover o cisco que se tem trazido para dentro da igreja. (White – Evangelismo, p. 512)

E não sede conformados com este mundo

A palavra grega traduzida como “conformado” (schematyzo, de onde temos a palavra esquema, ou padrão) aqui significa moldado, formado. Tem o sentido relativo à maneira como é dado forma a um material derretido, ou uma argila mole, através da utilização de um molde. Ou então, a maneira como uma moeda é cunhada, ou uma peça de ferro é forjada.

O que Paulo está nos dizendo aqui é: não tenha o mesmo contorno, a mesma forma, a mesma conformidade, o mesmo padrão, com este mundo degradado, amante do pecado e destinado à destruição.

O cristão não deve seguir os costumes de sua época, como era seu hábito anterior, quando vivia segundo a carne (Romanos 8:12). Ao contrário, deve passar por completa transformação mediante a renovação da mente.

Mas sede transformados

Em vez de se conformar com o mundo devemos ser transformados. A palavra grega aqui é “metamorpho“, de onde temos a palavra “metamorfose”. Esta é a palavra que descreve o processo pelo qual passa a lagarta, para transformar-se borboleta. Ou seja, não é uma mudança exterior, cosmética, superficial.

“Metamorfose” indica uma mudança total, completa. Quem conhecia a pessoa como era, agora não conhece mais. Quem conhece agora não imagina que este resultado veio daquela origem que a pessoa diz ter.

A mesma palavra grega é usada por Paulo em II Coríntios 3:18 – Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor. Este é o ideal de Deus para Seus filhos!

Pela renovação do vosso entendimento

É assim que a transformação interna, do caráter, ocorre: adotando um novo padrão de pensamentos e julgamentos.

Na conversão, a mente é posta sob a influência do Espírito de Deus. O resultado é que “temos a mente de Cristo” (I Coríntios 2:13-16). E, ao ser o interior transformado pelo poder do Espírito Santo, a vida exterior é progressivamente alterada (à Note que essa é mais uma inversão de valores comum entre os cristãos professos).

Alguns textos da escritura reforçam esta necessidade:

Mateus 22: 37 E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.

Colossenses 3:2 – Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra.

Filipenses 4:8 – Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai (ou, “seja isso que ocupe o vosso pensamento”).

Efésios 4: 23 – E vos renoveis no espírito da vossa mente.

Entendemos, então que a transformação é feita pela renovação da mente. Mas é fácil transformar a maneira de pensar? Alterar hábitos? Alterar gostos e preferências? Não é fácil. Talvez essa seja a obra mais difícil e mais mal compreendida de todo o processo da conversão. Paulo lida com essa questão em Romanos 7:14-25, onde descreve a luta do espírito para dominar a carne, que ele próprio enfrentava. Porém:

Filipenses 2: 13 – Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade.

Filipenses 4: 13 – Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece.

Mas de quem a é a decisão? Deus opera, fortalece, ajuda, capacita. Mas quem é o agente decisório da transformação? Cabe a nós, e unicamente a nós, definirmos onde vamos focar nossa mente daqui em diante, com apenas duas opções: as coisas terrenas e as coisas de cima.

Achamo-nos em um mundo contrário à retidão ou à pureza de caráter, e especialmente ao crescimento na graça. Em tudo o que olhamos, observamos poluição e corrupção, deformidade e pecado. Quão oposto é tudo isso à obra que deve ser executada em nós justamente antes de recebermos o dom da imortalidade! Os eleitos de Deus devem permanecer incontaminados em meio da corrupção prevalecente ao seu redor nestes últimos dias. Seu corpo deve tornar-se santo, puro seu espírito. … O Espírito de Deus terá que exercer perfeito controle, influenciando cada ação. (White – Maranata, p. 117)

A verdadeira religião é formada por decisões. Só existe mudança de vida quando tomamos decisões corretas, dirigidos por Deus e fortalecidos por Ele. E decisões corretas, mesmo quando impulsionadas por Deus, são frutos de processos mentais. Por isso, o centro da religião, e a única via de comunicação entre Deus é o homem é a mente.

Para que experimenteis

A palavra “experimentar” aqui, não tem o sentido de “sentir o gosto”, “ter o prazer de”. Mesmo agora, Paulo não está falando em sentidos, ou emoções.

A palavra grega é “dokimazo” e tem o sentido de provar, comprovar, discernir, aprovar, testar. Portanto, a ideia aqui não é “aproveitar”, mas interpretar corretamente, conhecer em profundidade e compreender completamente.

Que privilégio nos é assim concedido: provar por nós mesmos, experimentalmente, a mente do Senhor e Sua vontade a nosso respeito! Louvado seja Seu querido nome por esse precioso dom! (White – Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 693)

Qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

Somente a mente transformada e purificada pelo habitar do Espírito Santo pode interpretar corretamente a palavra de Deus e extrair dela a Sua vontade.

Mateus 12: 50 – Porque, qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, e irmã e mãe.

João 7: 16-17 – Jesus lhes respondeu, e disse: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo.

Efésios 5: 17 – Por isso não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor.

I João 2: 17 – E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.

Pela renovação da mente, o crente é habilitado a saber o que Deus deseja que ele faça. é iluminado para rejeitar e afastar-se as formas de conduta desta época má. Quando o Espírito Santo habita nele, já não tem mente carnal, mas a mente de Cristo, ele está disposto a fazer a vontade de Deus e, assim, é capaz de reconhecer e compreender a verdade.

Tiago disse: “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra, e não somente ouvintes” (Tiago 1:22). Este é o nosso culto racional!

Em outras palavras, quando você entrega a sua vida, está dizendo: Não seja feita a minha vontade, mas a Tua. De agora em diante, qualquer que seja a Tua vontade, o que quer que, de acordo contigo, for bom, e aceitável, e perfeito, é isso que eu desejo fazer.

Seja vossa oração: “Toma-me, Senhor, para ser Teu inteiramente. Aos Teus pés deponho todos os meus projetos. Usa-me hoje em Teu serviço. Permanece comigo, e permite que toda a minha obra se faça em Ti.” Esta é uma questão diária. (White – Caminho a Cristo, 70).


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