por: Pr. Douglas Reis
Exercer fé não equivale a deixar o cérebro na poltrona ao lado. Discordar ainda faz parte do exercício civilizado do diálogo. Assim, ser um adventista não significa assumir que, por sermos o remanescente da profecia, estejamos no caminho certo em todos os quesitos.
Basta olhar o povo de Israel para perceber que o povo de Deus nem sempre é fiel. A paciência divina não os rejeitou, mesmo quando pediram um rei ou sacrificaram crianças a Moloque. Deus lhes enviava profetas e os orientava. Líderes espirituais eram suscitados. As repreensões traduziam o coração de um Deus que desejava a prosperidade de Seu povo. Não era ao menor erro cometido que decaíam de sua condição especialmente favorável.
É saudável a prática da autocrítica, aquela que nasce da consciência de não estarmos cumprindo o que Deus pediu com as todas as vírgulas. Repensar os rumos da igreja de Deus é um passo anterior ao pedido por Sua misericórdia e o desejo de experimentarmos o reavivamento. A crítica pela crítica pode se tornar uma motivação doentia e perigosa, fruto de um desejo carnal de ser superior aos demais. Mas a avaliação sensata é um reconhecimento de fraquezas individuais e desvios coletivos, que, longe de nos tornar juízes do próximo, faz enxergar que nós e eles precisamos da Graça porque somos pecadores.
E que tempo vivemos! Como não temer, quando as pessoas adotam acriticamente um estilo de adoração que copia, ipsis literis, jargões e fórmulas musicais de grupos pentecostais? Até o rótulo de um trabalho que serve de referência para o fenômeno é similar ao de uma recente produção realizada por gente do quilate de Aline Barros…
Como não temer, quando um conhecido músico de nosso meio admite, sem pudores, que estranhou ao ver o sucesso de uma de suas composições, incorporada à mesma coletânea de sucesso (citada no último parágrafo) – sendo que a composição em questão foi, segundo admite o músico, feita com intenções meramente comerciais! Veja: a questão não é ser errado o músico ganhar pelos direitos autorais de sua obra, nada mais justo. Todavia, quando se faz algo apenas visando lucro, como reles atividade, que se pode esperar dessa obra no quesito conteúdo espiritual? Há muito o que temer!…
Ninguém com alguma lucidez pode evitar o temor quando composições contemporâneas, em clara demonstração de pouca criatividade, têm uma única estrofe seguida do coro, os quais se repetem à exaustão, over again, com uma estrutura melódica pobre e excesso de acompanhamento percussivo. Pior é saber que a cada sábado esse estilo ganha espaço entre os adoradores, substituindo os hinos clássicos. Aqui, outra clarificação: não se mede a qualidade da música sacra por sua idade. Há excelentes canções contemporâneas que jamais, por sua estrutura, andamento, temática ou arranjos, teriam sido compostas no passado. O novo é bem-vindo quando se apoia em princípios, não em modismos.
Como não sentir verdadeira angústia quando outra nova coletânea dessa natureza é anunciada, um segundo volume, ora vejam, novamente lançada em DVD e reunindo os melhores grupos e talentos individuais do meio adventista, garantindo o apoio midiático suficiente para seduzir congregações, sem muito espaço para reflexões (ou autocríticas, se quisermos retomar o tema de abertura)?
De fato, não precisamos temer. O assunto da adoração está nas mãos divinas. E Deus é zeloso por Seu nome. Seu Espírito, por meio daquilo que foi revelado, esclarecerá poderosamente a todos os que lhe derem abertura. Se a igreja necessita de uma reforma musical (em tempo em que cantores cristãos apresentam indie rock na mídia secular e isso é chamado de testemunho!), o assunto está nas mãos de Deus. Não é por essas coisas que a igreja de Deus deixará de ser a menina de Seus olhos.
Obviamente, como ao longo da história bíblica se percebe, aqueles que se envolvem com práticas erradas correm alto risco espiritual. Porém, creio que o Senhor alcançará aqueles que estão equivocados e removerá o erro de seus corações. Afinal, todos precisamos da cura que Ele oferece livremente. Apenas confiando em Deus, desejosos de experimentar as reformas necessárias, podemos afirmar: não há o que temer!
Fonte: Questão de Confiança