por João Wilson Faustini
Definição de Hino
Hino é uma poesia métrica de estrofes sucessivas com a mesma estrutura e esquema de rima, para serem cantadas com a mesma música. O autor e compositor tem que escrever de modo simples e claro, para que o hino possa ser geralmente cantado por uma congregação de analfabetos musicais. O hino precisa ser considerado como uma só entidade – palavra e música. Talvez não seja tão boa poesia, mas terá o seu próprio valor. O impacto da música é geralmente instantâneo, por apelar imediatamente ao nosso sentido irracional, mais na superfície. [1]
W. Scott Westerman, assim classifica os elementos essenciais de um bom hino: [2]
1. A música deve ser de um caráter tal, que por si própria, sem palavras de sentimento religioso algum, possua valor duradouro e contribua para a realidade do culto de adoração:
- O ritmo deve ser servo e não mestre.
- A emoção deve ser genuína e sob firme controle.
- A linha melódica não deve ser muito extensa.
- As vozes da harmonia devem ser interessantes e bem escritas.
- A associação de ideias não deve ser de natureza secular, pois seria um empecilho para culto.
- O efeito geral deveria ser o de reverência, dignidade, simplicidade e beleza.
2. O texto deve ser um que tenha valor por si só, sem a ajuda de música, como uma expressão sincera e reverente de amplas verdades religiosas, e que tenha mérito literário genuíno:
- Tendo um conteúdo que mostre aspirações e conceitos espirituais fundamentais.
- Tendo uma linguagem que não seja corriqueira ou chã.
3. A música e o texto devem possuir uma semelhança de atmosferas, definidas e consistentes, a mesma acentuação rítmica e a mesma intensidade de expressão, de tal forma que não cause nenhuma aparente distorção do pensamento do texto, em lugar algum:
- Devem possuir semelhança de atmosfera geral. Se as estrofes do hino variam de atmosfera, a música deve ser adaptável, sem esforço, a essa mudança.
- Devem possuir semelhança de atmosfera no aumento ou declínio da dinâmica e da intensidade de expressão.
- Devem possuir semelhança no fraseado natural da expressão verbal, que deve condizer e combinar com o fraseado inerente da música (Ex.: “O Semeador”, de O. Motta). S.L. 269.
- A acentuação da música deve ser idêntica a das palavras.
4. O teor total do hino – palavra e música – deve apontar para Deus:
- A terminologia descritiva do texto deve ser observada fielmente na concepção cristã de Deus.
- O texto deve evitar termos fantasiosos e irreais, e termos antropomórficos grosseiros.
- O texto deve se submeter à música, em todos os aspectos, para se obter uma atmosfera de culto. A música deve ser uma oferta digna e adequada a Deus.
5. Um bom hino deve ser fácil de cantar, e de uso prático:
- A sua música, mesmo que seja um pouco difícil, deve compensar os esforços de aprendizado da congregação, dando um bom e gratificante resultado.
- Suas palavras devem expressar ideias que são relacionadas com a vida, mas que elevam a mente e o coração acima dos níveis comuns dos pensamentos corriqueiros.
- O hino deve preencher uma ou mais das seguintes necessidades:
- Ser uma expressão coletiva de culto. Ser uma expressão da congregação, que pela sua natureza, una os crentes
- Dar uma ideia da realidade de Deus na história e na vida quotidiana.
- Afirmar a onipresença e o poder transcendental de Deus, ressaltando o cuidado imanente e pessoal de Deus.
- Elevar espiritualmente, através do louvor ou oração a Deus.
- Dar maior compreensão de Deus através de Cristo Jesus – seu amor, seu perdão, sua santidade, etc.
- Reconhecer o Reino de Deus, a união da humanidade. O valor eterno da alma, a paternidade de Deus, a justiça entre os homens, etc.
Convém, também, observar alguns princípios para se poder julgar e selecionar músicas para hinos, escritos por Ray Francis Brown: [3]
A música deverá:
- Expressar uma atmosfera correspondente as palavras a que está associada. A música deverá ressaltar aquilo que as palavras dizem.
- Ter a mesma acentuação rítmica de seu texto.
- Ser popular no sentido de ser acessível e bem aceita.
- Ser simples e fácil para o povo cantar.
- Ter uma boa estrutura ou forma, que demonstre equilíbrio.
- Ter uma melodia que não dependa da harmonia para soar bem.
- Ter uma melodia diatônica (tons e semitons) e uma harmonização basicamente diatônica.
- Ter uma harmonia que tenha interesse melódico em cada uma das quatro vozes, e que não use progressões de acordes primariamente para causar meros efeitos, sensacionalismo ou sentimentalismo.
- Ter uma tessitura para canto congregacional, isto é, do Dó3 ao Ré4, ou quando muito do Lá2 ao Mi4.
- Ter um ritmo fluente que expresse dignidade e força.
- Não ter nem dar associações seculares.
- Ser usada, se possível, com um só texto.
Que é Poesia
“Poesia é pensamento colorido por forte emoção e expressa em métrica.” (J. S. Mié)
Poesia pode ser pensamento, filosofia e argumentação, mas sempre é emoção.
A emoção pode muitas vezes ser enfraquecida pela sua associação ao pensamento, mas o pensamento sempre é fortalecido pela emoção. Na realidade o pensamento sem emoção é morto. A emoção, entretanto, tem vida própria e não depende do pensamento.
“O poeta descreve o que sente. Sua experiência é emocional, por isso a poesia expressa melhor aquilo que sentimos profundamente, por exemplo, o amor, o heroísmo, a tristeza, etc. Cristianismo é experiência religiosa, portanto tem de ser poético.” (Dr. Theodore G. Soares).
O poeta está constantemente deixando aquilo que é supérfluo, passageiro e aparente, pela busca do que é significativo, permanente e real. O maior dom do poeta é o da compreensão
“Poesia é a revelação do desconhecido através do comum, do eterno, através do transitório. É o grito apaixonado do coração na presença maravilhosa da vida. O poeta é um habitante de dois mundos – o visível e o invisível” (Edwin Markham).
“Poesia é um arranjo apaixonado das palavras, quer em verso, quer em prosa, contendo a exaltação, o esplendor, o ritmo e a beleza da vida.” (Richard Le Gaéienne).
“A busca para encontrar pensamentos definidos na poesia pode, muitas vezes, ser totalmente infrutífera.” (R. H. Hutton).
“A antítese da poesia não é a prosa. É a ciência.” (Wordsworth).
“Grande poesia obtém sua força da vida.” (Jung).
“Os poetas do nosso século falam mais de si próprios do que aos outros e acham que tem o direito de ser profundos.”
Verso e poesia são de valor não porque sejam poesia, mas porque ajudam as pessoas a se lembrarem. Um bom poeta é como um bom jornalista, isto é, tem as mesmas tarefas: apresentar seu tema claramente, de maneira que as pessoas se lembrem do que foi dito, no mais limitado espaço possível. [4]
Diferença Entre Poesia e Hino
Não se deve exigir que hinos sejam poesia, mas temos o direito de ter num hino, bons versos, com bom conteúdo de expressão cristã sincera.
O hino deve ser diferenciado da poesia no sentido de que evite aquilo que é sutil. Não deve ser dúbio ou de difícil compreensão. A base do hino deve ser a da temática histórica, e não a de mitos.
Nancy White Thomas mostra como os hinos elaboram ideias e realçam significados: [5]
Os comentários humanos sobre a verdade de Deus podem ser orações, sermões e hinos.
Os hinos prolongam as expressões humanas de súplicas, de louvor, as afirmações de fé, as aspirações e reflexões (Prof. A .J. B. Hutchings).
“O Senhor é meu Pastor” – é a afirmação do salmo. O restante do salmo é elaboração dessa ideia. É o desenvolvimento da imagem usada. A Bíblia, portanto, reconhece o valor da elaboração da ideia. Não é suficiente conhecer a verdade. Somos estimulados pela Palavra de Deus a “meditar” na lei de Deus de dia e de noite (Salmo 1:2. Josué 1:8). O sentido completo só virá através da reflexão. Os hinos fornecem esses meios para a contemplação da nossa fé.
A. Quais algumas das maneiras pelas quais os hinos elaboram as ideias?
- Pela repetição da ideia, de maneiras diferentes.
- Pela comparação da ideia com outras semelhantes.
- Contrastando a ideia com outras ideias opostas – desde a diferença simples até a oposição dramática.
- Ilustrando-a ou fazendo uma aplicação dela.
- Explorando a ideia através de perguntas e respostas.
- Entrelaçando-a numa história ou drama.
- Usando-a em linguagem simbólica – imagens ou metáforas adequadas para explicá-la.
- Examinando-a de um determinado ponto de vista ou ângulo, etc.
Exemplos:
1. Repetição com variações
“Não sei por que de Deus o amor a mim se revelou”. A revelação do amor de Deus é um mistério e uma realidade.
“Não sei porque” … “mas eu sei”
Este paradoxo é repetido entre cada estrofe e o coro, tocando em pontos doutrinários importantes, como a eleição, justificação, segunda vinda e vida futura.
2. Comparação
“Belo és, ó Cristo” ó formoso Cristo
A beleza de Cristo é enaltecida, quando comparada com as coisas mais belas da natureza e os anjos do céu, sendo que Cristo é mais belo que tudo.
3. Contraste
“Ó Deus, eterno ajudador” (O God our Help in Ages Past)
Este hino mostra-nos a realidade da fragilidade e transitoriedade humanas – contrastadas com a eternidade e poder ilimitado de Deus.
4. Ilustração – aplicação
“Minha vida consagrada seja a ti, Senhor”
Nesse hino Frances Havergal elabora a ideia da mordomia da nossa vida, enumerando cada item, como as mãos, pés, voz, dinheiro, capacidade, vontade, amor, desejo, etc., os quais consagramos ao Senhor.
5. Pergunta e resposta
“Triste estás, cansado, aflito?”
A alma cansada e em desespero só encontra o descanso e a salvação eterna em Cristo Jesus.
“Sentinela vai-se a noite, que sinais me tens a dar?” (S.L. 73).
Chega o tempo do cumprimento das promessas da vinda de Cristo, e a sentinela as anuncia ao caminheiro esperançoso.
6. Drama
“Jesus, está à porta” (S.L. 161).
As personagens são: o narrador, Cristo, e nós os pecadores. O narrador descreve Cristo, com suas mãos transpassadas, batendo à porta e pedindo entrada: “Morri por vós, meus filhos, não me deixais entrar?” Ao que respondemos: “Senhor, agora abrimos o nosso coração: ó entra; e faze nele eterna habitação!”
7. Figuras simbólicas
“Nas tormentas desta vida”
Descreve o pecador soçobrando no mar agitado da vida, enquanto nós, os cristãos, podemos guiá-los à salvação.
8. Ponto de vista
“Quando eu contemplo aquela cruz” (S.L. 119)
O autor vê, do seu ponto de vista, os valores da cruz, obtendo assim uma perspectiva verdadeira na relação com Cristo.
B. Os hinos realçam o significado. De que maneira?
O poeta é obrigado a economizar suas palavras. Ele também precisa usar descrição, narração, exposição e argumentação, como escritor de prosa, mas não pode usar muitas palavras – (apesar de estar elaborando e desenvolvendo ideias). Ele é forçado, então, a coordenar suas palavras com grande habilidade. Precisa escolher as palavras bem exatas, as mais pitorescas e de grande poder de associação e colocá-las no lugar próprio em relação às outras. O resultado deverá ser uma poesia compacta, que de maneira concreta focalize e intensifique o significado do assunto – de maneira breve, simples e direta.
Na própria Bíblia estão os melhores exemplos de narração de acontecimentos históricos e das respostas poéticas a respeito dos mesmos. Vejamos, por exemplo, os capítulos 14 e 15 de Êxodo, com isto em mente. Ambos os capítulos são grande literatura; ambos são inspirados; ambos são a respeito do cruzamento do Mar Vermelho, mas o capítulo 14 é uma narração histórica e o 15, uma reação poética do fato. Examine cuidadosamente como o “Cântico de Moisés” realça o significado do evento histórico.
Conclusão
Quando um significado é assim realçado e é mais enfatizado ainda, ao ser cantado com uma melodia adequada, obtemos um instrumento de expressão e impressão de singular e inigualável valor – que se chama HINO.
A construção do hino é mais rígida do que a poesia comum, embora o seu autor use as mesmas formas métricas que o poeta, o hino é enquadrado numa certa disposição de acentos fracos e fortes, e esse padrão deve ser observado rigidamente para todas as estrofes, porque geralmente todo o hino é estrófico. Se usássemos a forma “durchkomponiert”, tão comum nos “lieder” alemães, talvez o poeta pudesse ter mais liberdade.
Para o compositor não faria tanta diferença, porque ele partiria do texto existente, e poderia sem duvida se tornar até mais expressivo, mudando sua linha melódica e ritmos quando necessário, para que as acentuações fossem corretas e o canto se tornasse expressivo. Entretanto o estilo “durchkomponiert” em nada facilitaria o canto congregacional, e embora mais artístico, é menos pratico que o hino estrófico. Fruto do auge do romantismo, levado também pela emoção do texto, mesmo disposto estroficamente pelo poeta, o compositor se liberta da repetição rígida das estrofes, faz mudanças da melodia, do ritmo, usa modulações, e elabora no acompanhamento para criar as atmosferas especificas para as palavras de cada estrofe.
É interessante de se notar que muitos hinos, geralmente “compostos”, mas “não escritos” pelos jovens de hoje, seguem o estilo “durchkomponiert”, libertando-se mais ou menos do rigor das estrofes, das acentuações e também das rimas.
Não há dúvida que é uma árdua tarefa, a de se cantar duas ou mais estrofes, que dizem coisas que não são idênticas, com uma mesma música. Um exemplo típico deste contraste existente em um mesmo hino, que é preciso ser cantado com a MESMA música, é o hino “Cristo Já Ressuscitou”. A mesma frase musical e usada para cantar dois versos opostos:
“Cristo já ressuscitou. Aleluia” e “Sobre a cruz Jesus sofreu, Aleluia”
ou
“Mas agora VIVO esta, Aleluia” e “Ele a morte quis baixar, Aleluia”
Se o organista inteligente faz uso de uma dinâmica preparatória nos acordes que precedem estas frases, aumentando ou diminuindo o volume, de acordo com a lógica do texto, ele sem duvida fará com que o texto se tome vivo e expressivo. Se ele não prestar atenção na letra, e tocar tudo fortemente e triunfantemente, manterá apenas o teor geral do hino, sem delinear seus ricos contrastes, que dão vida e um significado mais profundo às palavras.
O hino é um canto, mas como poesia, ele pode às vezes ser inexpressivo, até que seja vitalizado pela música. A música e a poesia de um hino não precisam necessariamente ser compostas por duas pessoas distintas. Roger Quilter, por exemplo, Lutero e outros, foram tanto poetas como músicos.
Um hino deve fornecer prazer vocal intelectual, musical, etc., mas não deve ser tão abusivamente atraente, ao ponto de se tornar um empecilho para a devoção e o enlevo espiritual. Se Platão ensinava que os jovens precisam aprender textos para serem cantados para que se tornem “mais gentis, harmoniosos e rítmicos em suas vidas”, assim também nossos hinos devem ensinar a fé crista e ter um conteúdo ético que possa ser lembrado durante a vida, através dessa associação com a música.
A música não acrescenta algum elemento essencial que esteja faltando às palavras, nem aumenta o significado das palavras. Pelo contrário, são as palavras que acrescentam significado à música. [6] Quando palavras e músicas são combinadas, ambas perdem algo. O resultado é um comprometimento, uma nova entidade, que não pode ser entendida unicamente em termos de texto ou de música. É impossível de se concordar, por exemplo, de como uma poesia deva ser lida, quanto ao seu exato fraseado e inflexão de voz. Há muitas opções. Mas quando o texto é colocado em música, as acentuações, fraseados, inflexões, etc., são obrigadas àquelas da música. Não há opção. O texto é então proferido da maneira que a música o faz. Bom texto não justifica música pobre, nem boa música um texto fraco. Entretanto, palavras ou músicas “toleráveis” podem ser o que existe para uma determinada situação. De nada adianta ser “boa” – letra ou música – se são irrelevantes. [7]
“Um poeta escreve para agradar-se a si mesmo e satisfazer o seu impulso criativo. O autor de um hino preocupa-se em transmitir uma mensagem. O excesso de adjetivos jamais enriquece os versos de um hino. Linguagem clara, direta e objetiva, sim. Ele precisa escrever com clareza suficiente, para que uma congregação possa fazer duas coisas de uma só vez: compreender o significado das palavras e cantar a melodia. Os maiores hinos são obras primas de profunda simplicidade. Entretanto, muitas vezes em busca de simplicidade, o autor pode se tornar facilmente barato, vulgar, ou cheio de chavões corriqueiros.
O autor de hinos é limitado a um assunto cristão e, além disso, precisa estar submisso a formas métricas rijas. Com a melhor boa vontade do mundo, é quase impossível de se obter sempre, cesuras de frases musicais e de textos que coincidam, e todos os acentos certos, nas pulsações rítmicas em todos os versos de cada estrofe! O ideal é que o texto sempre se encaixasse na música como uma luva, tanto no fraseado, nas acentuações, como no espírito ou atmosfera. Muitas poesias boas, quando postas em música mostram esta fraqueza e irregularidade de acentos. Por isso muitos autores de hinos preferem escrever um texto para uma melodia já conhecida, para depois de escrito, providenciarem uma música própria para o novo hino.” [8]
A música de um hino não é primariamente uma produção musical.
“Ela deve ser uma serva de um texto, que por sua vez, deve ser o veículo de adoração e culto. Como um hino é culto e é experiência musical ao mesmo tempo, é óbvio que somente um compositor que está interessado em ambos pode fazê-lo bem.” [9]
“Enquanto cantarmos hinos, seus textos e músicas precisam ser parceiros felizes – não importa quais formas, novas e criativas possam aparecer para eles no futuro.” [10]
Adam Fox disse que “hinos são poesia por coincidência, e que dizer se a poesia é boa ou ruim não responde a pergunta se um hino é bom ou ruim.” [11]
Rodgers e Hammerstein, famosos parceiros de shows musicais – libretista e músico, mostraram em peças como “The Sound of Music” (A noviça rebelde) e “South Pacific”, principalmente na canção “Bali Hai”, como a música influencia o caráter do texto, e vice-versa. É um processo duplo, cada elemento mudando e afetando o outro. Somente aí haverá um verdadeiro casamento de letra e música. [12]
O editor da revista “The Hymn” calculou em 1958, que se escreve em média, seis a oito textos, para cada música de hinos! É mais fácil de escrever um texto bom do que uma boa música. Mediocridade revela-se mais prontamente na música. Quase sempre a música é escrita para o ‘texto, raramente o oposto, como no caso de FINLANDIA. [13]
Muitas vezes uma música tocante exalta e eleva uma poesia medíocre. Muitas vezes um bom texto não comunica porque sua música é imprópria. Uma música pode apelar a uma pessoa e não apelar a outra. [14] Mas Schoen descobriu que a música provoca um estado de ânimo acentuadamente uniforme na grande maioria dos ouvintes. [15]
A música tem um valor inconfundível no hino. Ela volta à mente com frequência, quando o texto já foi esquecido, e ajuda a memorizá-lo. Ela associa-se também com outras coisas que podem afetar nossos sentimentos e nos faz lembrar experiências e memórias antigas. [14]
O hino como poesia excita a emoção e o pensamento. Quando o hino é cantado, ele também une a mente ao coração. [16]
Provavelmente, o mais importante progresso na investigação científica da música, foi a descoberta de que a música é percebida através daquela parte do cérebro que recebe o estímulo das emoções, sensações e sentimentos, sem ser primeiro submetida aos centros do cérebro que envolvem a razão e a inteligência, responsáveis pela compreensão do texto. [17]
Entre os muitos problemas que o compilador de um hinário tem de resolver, está o de escolher a música certa para a letra de cada hino. Há diversos textos que não têm música definida e que em cada hinário estão ligados a diferentes músicas. Alguns hinários incluem diversas opções, com duas ou até mais músicas, naturalmente levando-se em conta que serão usados por congregações bastante diferentes, desde as pequenas da roça, até as catedrais da grande cidade.
Há hinos, entretanto, que são só usados com a mesma música, sendo que texto e melodia são inseparáveis. Um desses hinos é o “Santo, Santo, Santo”, outro e “Ao Deus de Abraão Louvai”! Por que não se pensa em separar estes textos das melodias NICAEA e LEONI, respectivamente? Naturalmente são boas combinações de texto e música, e num bom “casamento”, não se justificaria uma troca. [18] Mas experimentemos cantar “Ó Fronte Ensanguentada” com a melodia AURELIA, e “Da Igreja o Fundamento” com a melodia PASSION CHORALE. Não é evidente que isto e um mau casamento?
Ó fronte ensanguentada
Em tanto opróbrio e dor
De espinhos coroada
Com ódio e com furor!
Tão gloriosa outrora,
Tão bela, tão viril,
Tão abatida agora,
Da afronta e escárnio vil.
Da Igreja, o fundamento
É Cristo, o Salvador;
Em seu poder descansa
E é forte em seu amor,
Em Cristo bem firmada
Segura sempre está
E sobre a rocha eterna.
Jamais se abalará.
Cada música, mesmo sem texto algum, tem a sua atmosfera adequada, que pode expressar bem o espírito da letra ou não. Ouçamos, por exemplo, o espírito que estas músicas pode transmitir, sem letra alguma:
CWM RHONDDA – Vigor, poder, desafio
STILLE NACHT – Tranquilidade, doçura, paz
EIN’ FEST BURG – Audácia, coragem de ferro, confiança
Quando o “casamento” entre texto e música é perfeito, o hino torna-se, elemento para produzir um responso emocional diante das verdades religiosas. Agostinho foi sensibilizado pelo cantochão composto por Ambrósio em Milão, “Eu chorei”, disse ele, “diante da beleza dos hinos e cânticos, e fui fortemente tocado pelo mavioso som da sua igreja cantando.” [19]
Um jovem sacerdote anglicano, num culto da catedral São Paulo, de Londres, ouviu um salmo cantado pelo coro de meninos falar ao seu coração: “Das profundezas clamo a ti, Senhor.” E este foi, na realidade, o inicio do grande reavivamento inglês liderado por João Wesley. [20]
Bibliografia
[1] William Osborne, Hymns for Today, The Hymn. Out. 1969, vol. 20. nº 4. pg. 115),
[2] W. Scott Westerman, The Essential Elements of a Good Hymn, The Hymn Jan. 1953, vol. 4 nº 1. pg. 25 e 26.
[3] Appraising 20th Century Hymn Tunes. The Hymn. Abril 1972. vol. 3. nº 2. pg. 37
[4] Michael Hewlett, Thoughts About Words. The Hymn. jul. 1969. vol. 20. pg. 90
[5] Nancy White Thomas. The Hymn. vol. 13. nº 1. Jan 1962. pg. 24,
[6] Frank B, Merryweather, Poetry and Hymns, The Hymn, out, 1954, vol.5, nº 4. Pg. 109 a 115),
[7] Greg Ampersand Mark, Words and Music In Public Worship, The Hymn. out. 1976. vol. 27, nº 4. pg. 110-111.
[8] Frederick Pratt Green, Hymn Writing Today, The Hymn. out. 1971. vol. 22. nº 4. pg. 118,
[9] Austin C. Lovelace. Tunes Alive, in 85, The Hymn. jan. 1972. vol. 23. nº 1. pg. 10,
[10] Frank B. Merrywesther. Poetry and Hymns. The Hymn. out. 1954. vol. 15. nº 4. pg. 115,
[11] George. Litch Knight. The Language of Hymnody, The Hymn. abr. 1957. vol. 8. nº 2. j:Jg38.
[12] Michael Hewtett. Thoughts About Words, The Hymn. jul. 1969. vol. 20. nº 3. pg. 90,
[13] George Litch Knight. Texts or Tunes, The Hymn. out. 1958. vol. 9. nº 4. pg. 100.
[14] Alfred B. Hass. Hymn Tunes and Emotions, The Hymn. jan. 1960. vol. II. nº 1. pg. 8.
[15] Max Schoen. Psychology of Music, New York: Rohald. 1940. pg. 69
[16] Ruth Ellis Messenger. Emotion Blending with Thought, The Hymn. abr. 1960. vol.II. nº 2.p~. 34.
[17] Dorothy Schullian e Max Schoen – Music and Medicine, New York: Henry Schumann. Inc..1948. pgs 270-271.
[18] George L. Knight. Setting on the Proper Tune, TheHymn. abr. 1956. vol.7. nº 2.
[19] Confissões de Agostinho. 3 Livro IX
[20] Alfred B. Hass. Hymn Tunes and Emotion, The Hymn. jan. 1960. vol. II. nº 1. pg. 8,
Fonte: Soemus – Sociedade Evangélica de Música Sacra