O Adorador

Adoradores… de Verdade

por: Annik Catunda

Adoração tem se tornado um tema muito polêmico.

Aliás, polêmico, controverso e, muitas vezes, evitado talvez sejam adjetivos mais abrangentes para caracterizar esse assunto. Mas isso não deveria ser uma grande surpresa para os adventistas, pois sabe-se que a adoração encontra-se no centro do grande conflito pelo qual passamos. O que torna-se surpreendente, pelo menos para mim, é que tal conceito tenha sido tão relativizado entre nosso povo, e até banalizado por alguns.

Para uns, adoração é bater palmas, levantar as mãos (em oração, para alcançar o trono, e lá lá lá, #QuemLêEntenda), expressar fisionomias de choro ou de dor, repetir várias e várias vezes a mesma frase, pular (transe!?), etc. Para outros, adorar é apenas ir à igreja no Sábado pela manhã, entregar os dízimos (ofertas pra quê né!?), participar de todo o ritual litúrgico, e pronto! Não precisa fazer mais nada. No entanto, o que faz haver essa grande diferença de ideias é que, para a grande maioria, o que importa mesmo são o coração e a sinceridade do adorador, logo, formas e formalidade são dispensáveis e relativas.

Mas, será que deveria ser mesmo assim? Será que apenas a sinceridade do coração humano basta como senso de certo e errado no quesito adoração?

Para responder à tais perguntas é necessário primeiramente sabermos sobre qual tipo de adoração estamos falando.

Basicamente, segundo a Bíblia, existem três tipos de adoração: 1) Aquela destinada ao Deus verdadeiro (João 4:23), 2) A falsa adoração, aquela destinada à falsos deuses, de forma consciente (Êxodo 20:3-6) e 3) Adoração vã, supostamente destinada a Deus, mas de uma forma que Ele não aceita e contrária aos Seus claros ensinos (Mateus 7:21-23). (Leandro Dalla, Música, Reverência e Adoração, p. 172-174).

Penso não ser necessário discutirmos nesse momento sobre a falsa adoração. Contudo, caso haja necessidade, trataremos deste assunto em outro post.

Para discutirmos a adoração verdadeira e a adoração vã, será analisada uma história bastante conhecida da Bíblia.

Não. Não é sobre Caim e Abel. Apesar desta ser um exemplo clássico sobre o assunto.

Vamos para I Samuel 15:1-31. Nos versículos de 1 a 3, Saul recebe a ordem de eliminar por completo os amalequitas (homens, mulheres, crianças e animais), poupando apenas os queneus (v. 6). Essa batalha nada mais seria do que um teste para provar a fidelidade e confiança de Saul em Deus, pois esse havia falhado anteriormente em seguir as ordens do Senhor (I Samuel 13:8-12). Porém, novamente o rei falha em obedecer às exigências divinas e poupa “a Agague, e ao melhor das ovelhas e das vacas, e as da segunda ordem, e aos cordeiros e ao melhor que havia, e não os quiseram destruir totalmente; porém a toda a coisa vil e desprezível destruíram totalmente” (I Samuel 15:9).

Note que, na visão de Saul o povo havia obedecido completamente à ordem divina ao destruir “toda a coisa vil” (v. 13). No entanto, a ordem havia sido bastante clara: “Vai pois agora e fere a Amaleque; e DESTRÓI TOTALMENTE A TUDO O QUE TIVER, e não lhe perdoes”. I Samuel 15:3. Saul e seu exército pouparam o melhor dos animais como despojo, e qual desculpa deu o rei para tal desobediência?

“[…] porque o povo perdoou ao melhor das ovelhas e das vacas, para AS OFERECER AO SENHOR SEU DEUS; o resto porém, temos destruído totalmente”. I Samuel 15:13-15

“Antes dei ouvidos à voz do Senhor, e caminhei no caminho pelo qual o Senhor me enviou; e trouxe a Agague, rei de Amaleque, e os amalequitas destruí totalmente. Mas o povo tomou do despojo ovelhas e vacas, o melhor do interdito, para OFERECER AO SENHOR teu Deus em Gilgal.” I Samuel 15:20.

Saul, não estava mentindo quando disse “cumpri a palavra do Senhor” (v. 13). Ele realmente havia-o feito, estava sendo sincero no que disse. Mas não obedeceu completamente e, com isso, contou apenas meia verdade. E meias verdades, para Deus, são como mentiras.

“[…] Saul estava pronto para crer que havia efetuado a ordem que lhe fora dada ao realizar apenas a parte agradável a ele. Assim como Saulo de Tarso, Saul, filho de Quis, não tinha dúvida de que suas escolhas estavam em harmonia com a vontade divina de Deus. Todavia, nesse ponto termina a semelhança entre as duas histórias, pois um sabia qual era a vontade do Senhor, enquanto o outro não, e agia em ignorância (I Timóteo 1:13)”. Comentário Bíblico Adventista, vol. 2, p. 560.

“Somente um coração emperdenido tentaria fazer a desobediência passar por obediência. Quando a pessoa se convence de que algo claramente marcado por Deus como veneno moral é desejável para uma vida mais plena, ela renega a lealdade ao Senhor e se alia ao Diabo. Quando aquilo que Deus rotula como errado parece certo, o indivíduo pode saber que colocou os pés em terreno proibido…”. Comentário Bíblico Adventista, vol. 2, p. 561.

Muita coisa estava em jogo nesse episódio. Saul estava perdendo a confiança de seu exército, e o povo já não confiava em sua liderança. Por esse motivo, ele supôs que se obtivesse o favor de Deus, por iniciativa própria, reconquistaria o respeito e adoração que lhe eram devidas. Em seu caminho de perdição estavam o orgulho e exaltação própria.

Era errado oferecer sacrifícios a Deus? Não, pois Ele próprio havia instituído esse sistema. O erro estava em que esta não foi uma atitude ordenada por Deus para aquele momento. O verdadeiro sacrifício seria obedecer à total ordem divina e ter consagrado a Deus – através da completa eliminação – o que Ele havia requerido. Ao mesmo tempo em que o rei Saul e o povo queriam oferecer os despojos a Deus como holocaustos e sacrifícios, em seus corações não ofereceriam sacrifício algum, pois com os animais amalequitas eles substituiriam os seus próprios que seriam necessários para oferecer sacrifícios (ver Patriarcas e Profetas, p. 464.1).

E aqui vemos claramente um tipo de vão adorador representado. Aquele que diz fazer a vontade do Senhor, e crê sinceramente em seu coração que está agindo corretamente, mas que conhece os reclamos de Deus e age, conscientemente, contrário a estes. Presume, assim como Saul, que tem o direito de interpretar a ordem de Deus da maneira que achar melhor. Este foi exatamente o erro de Caim. Ofereceu uma oferta – o melhor que havia na terra – ao Deus verdadeiro, mas não da maneira como Este havia mandado.

Ao ser confrontado e reprovado por Samuel, ao invés de humilhar-se e confessar seu pecado, novamente Saul buscou a própria justificação e jogou a culpa no povo. Da mesma forma, hoje muitos líderes, bem como a igreja como um todo, têm jogado a culpa de seus atos sobre a congregação. “Ah, nós fazemos assim porque é um jeito de agradar e chamar a atenção de nossos adoradores”, ou “Tem que ser assim porque é assim que o povo gosta”. E, em vez de ensinar-se a forma correta de adoração, tem-se preferido adotar a vã adoração camuflada por uma capa de verdadeira. Não há sacrifício algum em adorar a Deus sem deixar de lado nosso gosto pervertido e em não submeter nossa vontade a Ele.

A questão central nessa história é que Saul não havia obedecido. E adoração requer, por princípio, total obediência por parte do adorador. Todo e qualquer ato de adoração, por melhor e mais caro que seja aos olhos humanos, se torna ofensivo Àquele que sonda os propósitos de um coração desobediente. Após tudo isso, lemos uns dos textos que mais definem o tipo de adoração verdadeira proferidos pelo profeta Samuel.

“Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniqüidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do Senhor, Ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei.” I Samuel 15:22-23.

As ofertas sacrificais não tinham em si mesmas nenhum valor à vista de Deus. Destinavam-se a exprimir da parte do ofertante o arrependimento do pecado e a fé em Cristo, e o compromisso de futura obediência à lei de Deus. Mas sem arrependimento, fé e um coração obediente, as ofertas eram inúteis. Quando, em violação direta ao mando de Deus, Saul se propôs a oferecer sacrifício daquilo que Deus votara à destruição, mostrou franco desdém pela autoridade divina. Tal adoração teria sido um insulto ao Céu. No entanto, com o pecado de Saul e seu resultado diante de nós, quantos não estão adotando uma conduta semelhante! Enquanto se recusam a crer e obedecer a alguma ordem do Senhor, perseveram em apresentar a Deus sua formal adoração. Não há nenhuma simpatia da parte do Espírito de Deus a semelhante culto. Não importa quão zelosos os homens possam ser em sua observância de cerimônias religiosas, o Senhor não pode aceitá-los se persistirem em deliberada violação de um de Seus mandamentos.” (Patriarcas e Profetas, p. 468.1)

Quando se fala em "formal adoração” muitos supõem tratar-se sobre aquele culto mais tradicional, reverente e sem emoção. Contudo, a “formal adoração” acontece quando o adorador não está interessado no que está se passando, não obedece a Deus e está ali apenas para cumprir com sua obrigação.

Outro ponto a ser lembrado na história de Saul é que por mais importante que seja a sinceridade ela, por si só, não salva ninguém. Leia com muita atenção o texto abaixo.

“Nenhum erro é verdade, nem pode tornar-se verdade pela repetição, ou por fé nele.
A sinceridade nunca salvará a alma das consequências de crer num erro. Sem sinceridade não há genuína religião, mas a sinceridade numa religião falsa jamais salvará o homem
. Posso ser perfeitamente sincera em seguir um caminho errado, mas isto não torna o caminho certo, nem me levará ao lugar a que eu desejava chegar. O Senhor não quer que tenhamos cega credulidade, e chamemos isto fé que santifica. A verdade é o princípio santificador, e portanto cabe-nos conhecer o que é a verdade. Precisamos comparar as coisas espirituais com as espirituais. Precisamos provar tudo, mas reter somente aquilo que é bom, aquilo que apresenta as credenciais divinas, que põe diante de nós os verdadeiros motivos e princípios que nos prontificam à ação”. — Carta 12, 1890. (Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 56.1}

Agora, analisaremos um outro episódio, também muito importante, para compreender-se a adoração verdadeira. Em conversa com a mulher Samaritana, Jesus diz que “a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade”. João 4:23 e 24. Muitos têm usado esse texto como pretexto para uma adoração que vise mais o aspecto emocional da adoração. No entanto, o espírito aqui demonstrado é o de humilhação e contrição, não aquele demonstrado externamente com manifestações afetadas e exageradas, mas o que se compromete em fazer a vontade de Deus. Também vemos que os verdadeiros adoradores adorarão em verdade. E o que seria essa verdade?

“Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”. João 14:6.

“A tua Lei é a própria verdade”. Salmos 119:142.

“Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade.” João 17:17.

Sendo assim, se o papel do Espírito Santo não é apelar às emoções, qual seria a sua função indicada por Jesus no texto (João 4:24)?

“Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim.” João 15:26.

“Mas, quando vier aquele, o Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir.” João 16:13.

E aí!? Já conseguiram fazer o link de todos esses textos?

Aqueles que decidirem fazer parte da adoração verdadeira terão o auxílio do Espírito Santo para guiá-los à Lei de Deus, encontrada não somente nos Dez Mandamentos, mas por toda a Bíblia, e, assim, oferecerem ao Senhor uma adoração plena e aceitável. Para isso, é preciso haver oração e estudo da Palavra, e um firme propósito de conhecer como Deus verdadeiramente deseja ser adorado.

Sem obediência aos Seus mandamentos, nenhuma adoração pode ser agradável a Deus, “porque este é o amor de Deus: que guardemos os Seus mandamentos”. I João 5:3. {RC 54.2}

Vale lembrar que não há adoração sem comunhão. “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus?”. Miquéias 6:6-8. Não é que Deus não ligue ou não faça questão de rituais em seu culto – Ele o faz sim e dizer o contrário é jogar por terra uma série de orientações bíblicas a serem seguidas por seus adoradores – porém, se o coração não for santificado esses jamais adiantarão. É como um homem que dá seu dízimo, mas no fundo ele está pensando no quanto aquela quantia lhe fará falta e no que ele poderia comprar com ela. O problema não está no dízimo em si, mas na cobiça do ser humano.

Somos mensageiros do Senhor, e nossa principal mensagem a ser dada ao mundo é sobre Quem realmente merece adoração (Apocalipse 14:7) e como Ele deve ser adorado Apocalipse 14:9 e 12).

Portanto, muito cuidado ao serem abordados pelas novas tendências emergentes de adoração. Nem todo cd e dvd, por mais chamativo que seja sua capa e o seu conteúdo, ou veiculado por meios de comunicação, sejam estes adventistas ou não, deve ser levado em conta como a verdadeira forma de adoração. Como verdadeiros adoradores, cada aspecto de nossa adoração (alimentação, vestuário, músicas, instrumentos, ofertas e culto) deve ser chancelada pelas Escrituras e pelos Testemunhos (Isaías 8:20). A prova de que realmente estamos interessados em adorar ao Senhor,e não ao nosso ego, é que deixaremos de lado as influências pecaminosas do mundo e os desejos enganosos do nosso coração.

Que a graça do Senhor esteja com todos!

“E a meu povo ensinarão a distinguir entre o santo e o profano e o farão discernir entre o impuro e o puro.” Ezequiel 44:23


Não deixe de assistir ao vídeo abaixo


Dicas de Leitura:

1) Movimento da Igreja Emergente

2) Adoração – O Presente do Homem para Deus

3) A arte da adoração: entrevista com Joel Sarli

4) Livro: Música, Reverência e Adoração – o propósito de Deus, Leandro Dalla


Fonte: Cooltura Adventista


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