por: Joêzer Mendonça
No salmo 40, Davi diz que o Senhor o tirou de um pântano de perdição, colocou-o numa rocha firme e segura e lhe “pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor a Deus”. O salmista agradece o livramento divino no passado e clama pela graça ao enfrentar novas dificuldades. Davi compôs também salmos penitenciais. Em um deles, o salmo 51, ele confessa o pecado, busca o perdão e pede de volta a alegria da salvação.
Assim, na rememoração da misericórdia, Davi encontrava novos motivos para louvar a Deus e criava um novo salmo. Na atitude de reconsagração pessoal, sua nova vida produzia um novo espírito de louvor.
Os salmos nos convidam a cantar “um cântico novo”. Mas a Bíblia está falando de uma nova música ou de um novo espírito para cantar uma música?
Excluindo os exageros e deturpações que há em tantos estilos, uma nova canção não tem que seguir necessariamente os preceitos musicais e culturais de todos os indivíduos de uma mesma comunidade religiosa. O que para alguém pode soar simplista e pobre, para outro é a música que dá sentido ao amor divino. O que para uma pessoa pode soar solene, para outra transmite formalismo vazio.
Essas diferenças de atitude são de ordem bastante individual. No entanto, quando toda a congregação está reunida e louvando coletivamente, as diferenças mais atrapalham do que ajudam, mais dividem do que agregam.
Novos estilos de música fazem parte do desenvolvimento histórico da música sacra. Se as inovações de estilo devessem ser proibidas completamente, a igreja deveria voltar ao canto judaico cheio de melismas e entoado apenas por homens no templo. De outro lado, se toda inovação de estilo fosse abraçada irrefletidamente, estaríamos dando mais ênfase à diversidade musical do que à unidade congregacional.
Como se observa na vida de Davi, não são apenas os novos tempos que requerem novas músicas. Novas bênçãos propiciam novos agradecimentos e hinos de louvor (ver os salmos 33, 40, 96). Em relação ao salmo 33, o Comentário Bíblico Adventista (v. 3, p. 798) diz que “não se deve limitar a usar sempre o que tem sido usado. Circunstâncias diferentes requerem uma expressão adequada e oportuna em palavras de oração e louvor”.
Há, portanto, uma nítida circularidade que envolve novidade musical e novidade de vida: novas canções podem sensibilizar alguém a buscar uma nova vida, uma nova vida vai falar das boas-novas por meio da música, a música pode ser entoada com um novo espírito.
Nesse sentido, podemos dizer que há momentos em que cantamos as velhas músicas com um espírito renovado e há outros em que nossa vida reconsagrada nos leva a compor novas canções. Essas circunstâncias se repetem continuamente na trajetória dos filhos de Deus. Homens e mulheres, anciãos e jovens, seja no passado ou no presente, têm se reunido para cantar, cada um trazendo sua voz e seu espírito de louvor. Ao longo da história, o Espírito de Deus os têm regido em uma admirável sinfonia.
Qual será meu novo cântico neste novo ano? Minha música ou minha vida?
Não sei como será seu novo cântico. Que ele seja adequado e oportuno para relembrar o cuidado de Deus e reconsagrar-se. Sem esquecer que uma vida renovada é um hino de louvor a Deus.
Joêzer Mendonça, doutor em Música (UNESP), é professor da PUCPR e autor do livro Música e Religião na Era do Pop
Fonte: Revista Adventista Publicado em 19 de Dezembro de 2014.