por: Daniel Solano de Oliveira
Nestes últimos anos tem crescido no Brasil o número de igrejas que adotaram os Métodos de Crescimento de Igrejas (MCI). Em sua maioria importadas dos EUA, essas técnicas têm se mostrado eficazes em encher os templos de lá já há muitos anos, daí a existência de muitas mega-igrejas (igrejas com dezenas de milhares de membros) por lá. E aqui nas terras tupiniquins, os MCI já têm mostrado resultados.
Mas afinal, como surgiram os MCI?
Nos EUA, há algumas décadas, existem grandes parcerias, onde de um lado se encontram: seminários teológicos (geralmente apóstatas), pastores e líderes eclesiásticos em geral, e do outro: empresas de consultoria especializadas em marketing e administração de empresas. Estes consultores analisam uma igreja como se fosse uma empresa (o membro como um cliente, o pastor como um gerente administrativo, as atividades da igreja – louvor, pregação etc – como o produto a ser vendido, os dízimos e as ofertas como lucro) e desenvolvem um modelo de gestão com foco no resultado: a fidelidade do membro. O modelo dita qual mensagem a ser pregada, qual o tipo de música a ser tocada e por quanto tempo, quais os tipos de atividades a serem desenvolvidas, como deve ser o culto, enfim, define todas as atividades da igreja. O modelo de gestão é então vendido ao pastor para adotá-lo em sua igreja, que agora passa a crescer “exponencialmente”. O modelo é então disseminado através de cursos, palestras e livros (nossas livrarias evangélicas estão repletas destes livros) com os nomes mais criativos, do tipo: “a visão de Deus para a igreja de hoje”. É claro que a fonte da estratégia geralmente não é citada. Pastores brasileiros vão aos EUA fazer esses cursos e trazem-no para o Brasil. Existem também os pastores conferencistas especialistas em crescimento de igrejas, que viajam pelo mundo ensinando suas técnicas. E quando se trata de encher igrejas, elas realmente são um sucesso!
Diante de tudo isso, surge a pergunta: é correto?
A escolha pelo uso dessas técnicas parte da premissa de que devemos fazer tudo que for possível para trazermos pessoas à igreja, para que elas ouçam a Palavra e sejam salvas. A intenção é inquestionavelmente boa e correta, mas foi esse o método que Deus escolheu? Não deveríamos consultar a Deus e sua Palavra para sabermos qual o método que Ele deseja? Como Paul Washer certa vez disse em um de seus sermões, deveríamos consultar os mortos espirituais para saber como dirigir a igreja do Deus vivo? A Palavra de Deus nos dá a resposta:
“Porventura não consultará o povo a seu Deus? A favor dos vivos consultar-se-á aos mortos?” Isaías 8:19
Como podemos consultar os mortos espirituais para saber como administrar nossas igrejas? Veja o que a Bíblia afirma sobre eles:
“Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” I Coríntios 2:14
As técnicas baseadas em administração, marketing, psicologia, sociologia ou qualquer coisa do tipo é incapaz de ajudar a igreja, pois tiveram sua origem nas mentes de homens não regenerados e não em Deus, e sequer levam em conta o mundo espiritual ou mesmo a existência de uma divindade soberana.
Mas se os MCI dão certo, qual o problema deles?
A verdade é que eles não dão certo. Elas realmente trazem as pessoas aos templos, porém com a motivação errada. As pessoas vão por causa da música, dos amigos, para se divertirem e para conseguirem bênçãos de um deus que é fruto de sua imaginação, pois é muito diferente do Deus da Bíblia. Além disso, essas pessoas não se convertem nas igrejas, pois não ouvem o evangelho. Se olharmos para a igreja evangélica brasileira hoje sob a luz da Bíblia, constataremos que há uma multidão de pessoas na igreja que nunca se converteram, não conhecem a Deus, e pior, têm convicção de que são salvos.
Para entendermos melhor, vamos ler o famoso “ide” de Jesus em Marcos:
“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura”. Marcos 16:15
A ordem é para pregar o evangelho! Nas igrejas que adotaram os MCI, a mensagem é definida de acordo com o método adotado, e não de acordo com a Bíblia. Para constatar basta ler os livros existentes sobre o tema. Ensinam que a mensagem deve ser agradável, prazerosa, alegre e cativante. Não deve criar tensões, polêmicas ou controversas. Deve realçar as qualidades das pessoas. O ouvinte deve se sentir confortável, à vontade, e deve ser incentivado a retornar.
O homem é senhor e não o servo! O culto se tornou para o homem!
Um certo pastor líder de uma das maiores igrejas dos EUA que adotam um MCI disse numa entrevista na TV que na sua igreja ele não prega sobre pecado, pois “isso pode causar um mal-estar nas pessoas”. Pasmem! A mensagem do evangelho começa justamente com o pecado do homem, passa pelo julgamento divino, a condenação do homem, o sacrifício substitutivo de Cristo e culmina com a salvação por meio do arrependimento e da fé em Jesus! O próprio Espírito Santo foi enviado por Jesus para convencer o homem “do pecado, da justiça e do juízo” (Jo 16:8), ou seja, o resumo do evangelho! Se o evangelho puro como está na Bíblia não for pregado, é impossível que sejam salvos, pois a Bíblia afirma:
“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.” Romanos 1:16
Sem evangelho não há salvação! Nossas boas palavras não podem regenerar o coração humano. Somente o Espírito de Deus pode conceder vida ao homem e libertá-lo do poder do pecado! O método utilizado pelo apostolo Paulo foi pregar o evangelho sob o poder de Deus! Vejamos o que ele mesmo diz:
“E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor. A minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder; Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.” I Coríntios 2:1-5
Não poderíamos ter uma declaração mais clara e precisa do que esta! Como então poderíamos trocar a Palavra divina por mensagens de auto-ajuda? O fracasso neste caso é certo! Bill Hybels, pastor da Igreja da Comunidade de Willow Creek, em Chicago, uma das maiores mega-igrejas estadunidenses, um exemplo de “sucesso” dos MCI, anunciou há pouco tempo o fracasso do método utilizado por eles:
“Se você quer simplesmente uma multidão, o modelo “sensível aos que buscam” produz resultados. Se você quer seguidores de Cristo sólidos, sinceros, maduros, [este método] é um engodo. O que deveríamos ter feito quando as pessoas cruzavam a linha da fé e se tornavam cristãos [é que] deveríamos ter começado a dizer e ensinar às pessoas a assumir a responsabilidade de alimentarem a si mesmas. Deveríamos ter feito as pessoas entender, ter ensinado a essas pessoas como ler as suas Bíblias entre os cultos, como realizarem práticas espirituais por si próprias, de uma forma muito mais agressiva.” [1]
O que vemos nos MCI é a supervalorização dos números, em detrimento da pregação, da música cristã e da prática cristã. Para produzir “resultados”, o foco dos MCI está no homem, e não em Deus. Mas do ponto de vista bíblico, o foco deve ser Deus. O culto é adoração a Deus e toda a vida cristã é voltada para satisfazer a vontade dEle.
A Bíblia é suficiente?
Talvez alguém ouse dizer que precisamos de complementar o ensino bíblico com as teorias da psicologia ou de outras áreas do conhecimento humano. Mas aí reside um problema: isso é o mesmo que dizer que o que está na Bíblia não é suficiente para que a igreja cumpra a sua missão! Vamos ler o seguinte texto:
“Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” II Timóteo 3:16
Ora, se o próprio Deus nos diz que a Palavra que ele nos deixou tem por objetivo tornar o homem de Deus “perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra”, não precisamos de mais nada! Essa é a maior declaração da suficiência das Escrituras que pode existir!
E se alguém disser que “não precisamos, mas podemos” ensinar coisas que não estão na Bíblia. A este, vou deixar que Spurgeon, um dos maiores pregadores da história da igreja, responda:
“A Palavra de Deus é suficiente para atrair e abençoar a alma do homem ao longo dos tempos; mas as novidades logo fracassam. Alguém pode bradar: “Certamente, precisamos acrescentar nossos pensamentos a isso”. Meu irmão, pense o que quiser, mas os pensamentos de Deus são melhores do que os seus (Isaías 55:8-9). Você pode ter lindos pensamentos, como as árvores no outono soltam suas folhas, mas há alguém que sabe mais sobre seus pensamentos do que você e os julga de pouco valor. Não é verdade que está escrito: “O Senhor conhece os pensamentos do homem, e sabe como são fúteis!” (Salmos 94.11). Comparar nossos pensamentos aos grandes pensamentos de Deus, seria total absurdo. Você traria sua vela para mostrá-la ao sol? O seu nada para reabastecer o todo eterno? É melhor calar diante do Senhor, do que sonhar em complementar o que ele falou. A Palavra do Senhor está para a concepção dos homens como um pequeno jardim, para o deserto. Mantenha-se no escopo do livro sagrado e estará na terra que mana leite e mel; por que tentar lhe acrescentar as areias do deserto?” [2]
Qual o método correto então?
A Bíblia afirma que Jesus é Senhor e cabeça da igreja, então a Ele devemos pedir direção. O Espírito Santo foi enviado também para dar direção à igreja pois Jesus disse que:
“Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” João 14:26
Quando a Bíblia diz “todas”, então não há nada que precisamos que Ele não nos ensine. Fiel é o Senhor que não nos desampara! A igreja deve fazer somente (e nada além) daquilo que foi ordenado por Deus, e que se encontra na sua Palavra!
Devemos voltar ao culto cristocêntrico e à vida cristã completamente voltada para a glória de Deus, pois para isso fomos salvos:
“E Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou.” II Coríntios 5:15
Devemos reconhecer nossa total incapacidade de fazer convertidos na força do nosso braço, ou gerar qualquer tipo de fruto na vida cristã sem o poder de Deus:
“Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim. Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” João 15:4-5
Devemos entender que Deus é o maior interessado no crescimento da igreja, mas é Ele quem traz as pessoas:
“Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.” I Timóteo 2:3-4
“Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar.” Atos 2:47
“Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.” João 6:44
O nosso problema é a incredulidade e a frieza espiritual!
Muitos já não crêem na Bíblia, ou pelo menos em parte dela. Então já não esperam que ela traga resultados. Ensinar somente a Bíblia é tido como ultrapassado. Os modismos tornaram-se mais atraentes e produzem “resultados” mais imediatos. Que a maioria dos cristãos sequer lê a Bíblia não é nenhuma novidade, mas uma pesquisa feita recentemente no Brasil surpreendeu, quando mostrou que mais da metade dos pastores evangélicos nunca leram a Bíblia toda! [3] Quando alguém perde a fé na Palavra, essa pessoa precisa crer em alguma outra coisa.
O outro problema é nossa frieza espiritual. Quando o verdadeiro cristão cultiva um relacionamento real com Deus, do seu interior corre “rios de água viva” (João 4:14, 7:38), e ele se torna uma verdadeira testemunha: prega uma vida cristã que vive e um Deus que conhece. A falta de comunhão com Deus deixa o homem perdido. Ele então já não tem uma mensagem, nem vida. Precisa recorrer a outras fontes como os MCI.
“Houve alguma nação que trocasse os seus deuses, ainda que não fossem deuses? Todavia o meu povo trocou a sua glória por aquilo que é de nenhum proveito. Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! Ficai verdadeiramente desolados, diz o SENHOR. Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm águas.” Jeremias 2:11-13
Que o Senhor restaure a sua igreja, e a conduza pelo único caminho que leva a Ele:
“Assim diz o SENHOR: Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; e achareis descanso para as vossas almas… ” Jeremias 6:16a
Notas:
1 – http://www.musicaeadoracao.com.br/crescimento/confissao_willow2.htm (voltar)
2 – Spurgeon, Charles H. A maior luta do mundo.Pg 18-19. (voltar)
3 – https://noticias.gospelmais.com.br/ler-a-biblia-toda.html (voltar)
Fonte: Publicado originalmente em: http://www.conhecimentoefe.com.br/2011/05/os-metodos-de-crescimento-de-igrejas.html