por: Pr. David Karnopp
Um aspecto marcante em muitos cultos religiosos é a emoção. As emoções funcionam como espécie de medidor da aceitação do culto e também como energia para culto. E não poucas vezes, cria-se um clima emocional como forma de “elevação do culto” e de manter as pessoas satisfeitas.
A emoção é um sentimento que se manifesta pelo tom de voz, através de gestos e de expressões faciais; talvez, o jeito mais forte de ela se manifestar seja quando as lágrimas brotam dos olhos. As emoções mostram nosso jeito de ser. A tradição luterana não tem sido muito favorável a manifestações emotivas no culto. Inclusive já houve tempo em que se pensou que elas eram totalmente pecaminosas. Daí o máximo que se admitia era o cantar, o orar e as leituras em forma de responsos ao ministro oficiante. De resto, as pessoas deviam permanecer em silêncio e seriedade. Se, porém, olharmos os salmos, textos e contextos bíblicos, veremos que eles tocam na questão das emoções, por exemplo, da alegria e do choro. Jesus chorou e se alegrou; Jesus se enfureceu com os vendedores do templo. Isso nos leva a perguntar: até que ponto os sentimentos emotivos são possíveis no culto?
O centro do culto é Cristo e a sua Palavra
Primeiro, é preciso compreender que o centro, a base e a direção do culto cristão, é Cristo e o seu Evangelho, e não o sentimento humano. O que estabelece a relevância do culto é a Palavra de Deus. O culto tem sempre o propósito de fortalecer nossa fé em Jesus pela Palavra e pelos sacramentos. As emoções, porém, são parte da nossa vida. Deus nos criou com elas até como forma de podermos nos expressar melhor. Amamos a Deus, com todo o coração, toda a alma, toda a mente e todas as forças (Marcos 12:30). Nisso estão incluídas as emoções, e temos necessidade de extravasá-las. Assim, também é natural que no culto haja manifestações emotivas. A obra de Cristo pela nossa salvação é grandiosa demais – não é possível ficar estático diante dela. Não está errado, ao ouvir uma música ou cantar um hino, romper em alegria ou marejar os olhos. Manifestações emotivas também podem vir através de [diversas formas, inclusive] lágrimas, mas nenhuma dessas manifestações deveria ser forjada; elas podem fluir naturalmente.
As emoções não são sinal de culto agradável
Um dos perigos por trás das emoções é quando se acredita que elas são um sinal de que Deus está aceitando o culto. Muitos compreendem que o culto agradável a Deus é aquele que é carregado por emoções. O culto depende da ação de Deus, da sua promessa, do seu perdão e do que a Palavra de Deus determina. Além disso, quando o culto é realizado para atender a determinados gostos e sentimentos, Cristo corre o risco de perder o seu lugar ali, porque o ser humano não se satisfaz com o que recebe. Ele precisa de novidades para ser atraído. É uma isca perigosa. Esta é uma forma de pensar que o Espírito Santo deve agir de acordo com os gostos e interesses humanos. Contudo, é bom lembrar que nossas emoções e sentimentos não motivam nem bloqueiam a ação de Deus. Deus age dentro dos seus propósitos, e o que Ele recebe de nós está firmado na obra de Cristo por nós.
Na certeza do grande amor de Deus por nós, nossos sentimentos emotivos no culto poderiam ser mais visíveis. Por exemplo, dizendo um “Amém” quando o pastor o diz; ouvindo o sermão como uma reação mais positiva; recebendo a Santa Ceia com um sorriso no semblante, em vez de um rosto fechado como se o pecado ainda pesasse sobre nós. É preciso compreender que o centro, a base e a direção do culto cristão, é Cristo e o seu Evangelho, e não o sentimento humano. O que estabelece a relevância do culto é a Palavra de Deus. O culto tem sempre o propósito de fortalecer nossa fé em Jesus pela Palavra e sacramentos.”
David Karnopp é membro da Comissão de Culto da IELB e Pastor em Vacaria, RS
Fonte: Este artigo foi publicado originalmente em Mensageiro Luterano, Agosto de 2011 – Editora Concórdia, Porto Alegre
Os editores do Música Sacra e Adoração agradecem ao autor pela disponibilidade em ceder este material.