por: Dr. Fernando Canale
Terceira Parte – O Estilo de Vida e o Ministério Pastoral
“Na terceira parte, sugiro formas que podem ajudar pastores e leigos adventistas a ocupar-se em um ministério onde a salvação e o estilo de vida cristão se produzam como uma experiência existencial indivisível”. (p. 21)
“[…] desejo explorar o papel do ministério como ferramenta para reverter a progressiva secularização do pensamento e do estilo de vida adventista e promover a experiência espiritual do estilo de vida como salvação”. (p. 103)
Capítulo 13 – O Ministério Pastoral e o eclipse da Escritura
“[…] consideraremos a crise intelectual do pensamento adventista e o paradigma pragmático da liderança adventista. Finalmente sugeriremos alguns conselhos práticos que podem ajudar os ministros a superar esta situação e os crentes a experimentar a salvação como estilo de vida”. (p. 105)
“A pergunta diante de nós é: Que podem fazer os ministros adventistas para ajudar os membros da igreja a experimentar o estilo de vida cristão como salvação da escravidão do pecado e do mundo?” (p. 106)
O analfabetismo teológico
“Sem dúvida, muitos pastores, professores e administradores são doutrinariamente analfabetos, ou adotam doutrinas contrárias ao sistema adventista de crenças. Se a igreja espera conseguir unidade, reavivamento e reforma não pode ignorar esta crescente mentalidade. […] Infelizmente, o analfabetismo doutrinário é a semente da desunião, da estagnação e da secularização. Contudo, continuamos batizando na igreja um grande número de pessoas doutrinariamente analfabetas”. (p. 107)
“Nossa ‘identidade’ é nosso pensamento teológico. Então, qual é o problema? O analfabetismo doutrinário gera o vazio ocupado pelo secularismo. Ambas as coisas caminham juntas. Se você não sabe no que crê, então crerá naquilo que os outros lhe dizem para crer. Dessa maneira, temos indicada a verdadeira fonte da secularização adventista na prática do ministério. Se os pastores e líderes alimentassem o rebanho com sólidas doutrinas bíblicas, a secularização e as divisões teológicas seriam muito menos constantes e sistemáticas no adventismo contemporâneo”. (p. 107)
“Brincar com as tendências ecumênicas atuais das igrejas protestantes e evangélicas só pode intensificar o analfabetismo e o pluralismo doutrinário como uma estratégia prática para mudar o adventismo à imagem da cultura ocidental contemporânea”. (p. 107)
As divisões teológicas
“A Igreja Adventista do Sétimo Dia está teologicamente dividida. […] Os pastores e administradores precisam considerar essa situação seriamente. Ao menos precisam saber sobre sua existência, suas causas e seus resultados práticos. Como uma comunidade global, o adventismo não pode promover o status quo. Não fazer nada intensifica, multiplica e dissemina ainda mais as divisões teológicas. As divisões teológicas fazem com que a unidade da igreja seja impossível”. (p. 107)
“No início do século XXI, as divisões teológicas no adventismo não se referem a pontos menores de interpretação bíblica, mas sim aos ‘pilares da fé’. Os vários ‘setores’ compreendidos pelo adventismo como instituição dizem respeito a escolas teológicas e a práticas eclesiásticas completamente diferentes. […] Nenhum desses setores está formalmente organizado, ou tem formulado um conjunto de doutrinas. Numericamente, o adventismo ‘bíblico’ inclui a maioria dos crentes adventistas. O adventismo ‘evangélico’ cresce a partir de uma longa história de incorporação das teologias e práticas evangélica e modernista. O autodenominado adventismo ‘progressivo’ surge a partir dos intelectuais adventistas em nossas universidades”. (p. 108)
“Ao permanecer no princípio de sola Scriptura, o adventismo bíblico estrutura seu sistema doutrinário a partir da perspectiva geral da doutrina do santuário. O adventismo bíblico crê que o método historicista de interpretação profética seguido pelos pioneiros e por Ellen White é o método correto para interpretar as profecias apocalípticas de Daniel e Apocalipse. Finalmente, ao compreender que a salvação inclui não somente a justificação e sim também a santidade prática, o adventismo bíblico não adota a secularização da vida cristã, mas requer discipulado e santificação como componentes necessários na experiência da salvação pela fé”. (p. 109)
“Ao rejeitar a sola Scriptura e permanecer no princípio das fontes múltiplas da teologia, o adventismo evangélico estrutura seu sistema doutrinário a partir da perspectiva geral da compreensão de Lutero da justificação pela fé como salvação completa. O adventismo evangélico crê que o método histórico de interpretação seguido pelos pioneiros e por Ellen White está equivocado. A igreja deveria rejeitar este erro e seguir adiante. Finalmente, ao entender a salvação como justificação, o adventismo evangélico promove a secularização da vida cristã. A santificação e o discipulado não são componentes necessários da experiência da salvação pela fé”. (p. 109)
“Por sua vez, ao rejeitar a sola Scriptura e permanecer no princípio das fontes múltiplas da teologia, o adventismo progressivo estrutura seu sistema doutrinário a partir de uma perspectiva geral que combina a evolução e a compreensão de Lutero da justificação pela fé como a salvação completa. O adventismo progressivo crê que o método historicista de interpretação de Daniel e Apocalipse está equivocado e, consequentemente, nossos pioneiros e Ellen White refletem a perspectiva da cultura evangélica da justificação pela fé e, portanto, dão as boas-vidas e promovem uma secularização proativa do estilo de vida cristão, em conformidade com a cultura contemporânea, como a melhor maneira de apresentar Cristo ao mundo”. (p. 110)
“Como o adventismo bíblico ainda não desenvolveu um método teológico erudito coerente ou uma teologia sistemática, os teólogos e os pastores que pertencem a este grupo continuam extraindo ideias, ensinos e métodos da teologia evangélica. Desta forma, muitos adventistas bíblicos [também] entendem a justificação pela fé segundo a tradição luterana e contribuem de maneiras sutis para a protestantização e a secularização do adventismo”. (p. 110)
A superação da secularização
“O ministério pastoral e a administração desempenham um papel direto na secularização do estilo de vida adventista. A razão básica é simples. O adventismo se seculariza quando escolhe abandonar o princípio de sola-tota-prima Scriptura e adota as fontes múltiplas da matriz teológica. Quando renunciamos ao princípio de sola-tota-prima Scriptura, seguimos as tradições protestantes e as tradições que nós mesmos inventamos. Por que fazemos isso? Provavelmente, porque seguir a tradição é mais fácil (mais prático) do que estudar a Escritura. Estudar a Escritura exige tempo. E um crescente número de pastores confiam em ideias que encontram em livros teológicos e práticos, escritos por autores evangélicos e adventistas. Pensar a partir das fontes bíblicas é demasiado difícil e consome muito tempo. Em síntese, nosso ministério e nossa espiritualidade se nutrem mais a partir de tradições não bíblicas do que a partir de um profundo estudo e meditação da Escritura e dos escritos de Ellen White”. (p. 111)
“A chave para vencer a secularização do adventismo e produzir simultaneamente um reavivamento permanente e uma reforma, é simples. Precisamos abandonar a tradição e seguir a Escritura. Não existe outra forma. O Espírito Santo trabalha através da Escritura. Não tenho nenhuma nova fórmula milagrosa, mas sim a fórmula de Cristo, comprovada pelo tempo, que estudamos na segunda parte do livro. Penso que todos nós sabemos disto muito bem. Precisamos praticar isto em nosso ministério”. (p. 111)
“Como se vê, minhas sugestões não são nem novas nem desconhecidas para a maioria dos adventistas. Porém, de alguma maneira, ao seguir as tradições teológicas e ministeriais protestantes, temos descuidado da fonte divina da espiritualidade, do crescimento e da missão”. (p. 111)
Capítulo 14 – A Bíblia é o poder de Deus que o pastor ministra
“Qual é o ato mais importante que um sacerdote católico e um ministro protestante realizam? Administram os sacramentos, especialmente a Eucaristia e a pregação da Palavra”. (p. 113)
“Católicos romanos e protestantes igualmente entendem que ‘Cristo como o pão de Deus’ refere-se ao poder divino espiritual e onipotente conferido à alma através do sacramento. Mediar para que este poder divino alcance a alma é a tarefa essencial de seu ministério. Isto significa que mudaram as verdades da Escritura pela realização mecânica de rituais. De acordo com a Escritura, todavia, Deus não salva através de rituais, mas sim através do poder de suas palavras”. (p. 113)
“Os pastores adventistas e leigos não ministram rituais, mas o significado das Escrituras. De acordo com as Escrituras, o poder de Deus está em sua Palavra (a própria Escritura). Cristo ensinou que Ele é o pão da vida (João 6:35,48). Ele alimenta nossas mentes e vidas através das palavras da Escritura. ‘As palavras que eu lhes disse’ – explicou Jesus – ‘são espírito e vida’ (João 6:63, NVI)”. (p. 114)
“Tiago também aconselha que ‘aceitem humildemente a palavra implantada em vocês, a qual é poderosa para salvá-los. Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganando-se a si mesmos’ (Tiago 1:21-22, NVI). Paulo instruiu Timóteo que as Sagradas Escrituras ‘são capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus’ (II Timóteo 3:15, NVI). Ellen White resume a perspectiva bíblica ao dizer que ‘a vida de Deus, que comunica vida ao mundo, está em sua palavra …. Toda a Bíblia é uma manifestação de Cristo. É nossa única fonte de poder’ (Obreiros Evangélicos, p. 263, edição revisada, 1971, ênfase acrescentada). Através do ministério de ensino do Espírito Santo, o único ‘mestre eficaz’ (EGW, Caminho a Cristo, p. 91), as palavras da Escritura mudam os conteúdos e os valores da mente interior (o ‘coração bíblico’)*. Os pastores e os leigos ministram o poder da palavra. Este é o mais importante que podem fazer como representantes de Cristo”. (p. 114) [1]
“Por causa do pecado, Deus não pode nos falar agora diretamente, mas sim indiretamente através de seus profetas, seus apóstolos e de Cristo, o Filho de Deus. […] Desta forma, as palavras da Escritura são as palavras de Deus. Além disso, por meio do ministério de ensino do Espírito Santo o poder das palavras de Deus é libertado na alma humana. Este ministério torna-se efetivo através da compreensão, da aplicação e da obediência”. (p. 114)
“[…] Em outras palavras, a tarefa do Espírito Santo é testificar sobre os ensinos e as ações de Cristo encarnado (João 14:26). […] Na Escritura, através da inspiração do Espírito Santo, conhecemos o mesmo Cristo que falava com os apóstolos e se relacionava com eles. Desta forma, o poder das palavras de Deus se encontra na Escritura. Este é o poder que temos que ministrar à igreja e ao mundo”. (p. 115)
“Contudo, o poder das palavras de Deus só se torna real quando as compreendemos. O conhecimento meramente intelectual não tem nenhum poder; o conhecimento espiritual o tem (Colossenses 1:9). Como podemos entender a palavra de Deus? Obviamente, entender as palavras de Deus e libertar seu poder espiritual em nossas vidas precisa de estudo, de meditação e de aplicação da Escritura em nossa vida cotidiana. Nossa salvação depende desta disciplina espiritual básica. A fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus (Romanos 10:1). Mas ouvimos as palavras de Deus quando compreendemos a Escritura. Compreendê-la não é apenas ler, e sim apropriar-se de seu significado. Esta é uma experiência pessoal. Experimentamos Deus quando entendemos suas palavras e ações”. (p. 115)
A mudança de nossa atitude referente à teologia
“Não há nada mais estimulante do que buscar e encontrar a verdade divina na Escritura. Todavia, conhecer a Deus não é mais a paixão dos pastores e leigos. Se as pessoas não experimentam um reavivamento em seus corações e congregações por conhecer a Deus na Escritura individualmente, o adventismo continuará secularizando-se em suas crenças e em suas práticas”. (p. 115)
“Se não mudarmos a nossa atitude com relação à teologia, como poderemos cumprir a condição de sermos discípulos? […] A teologia é vital para a salvação de cada pessoa na igreja”. (p. 116)
“[…] nós adquirimos a informação acerca da Escritura principalmente de segunda mão. Ao ouvir sermões, ler revistas e livros, nós compreendemos a Escritura de maneira distorcida através da interpretação humana. Isto seria aceitável e justificado, se não tivéssemos acesso à Escritura. Mas a maioria de nós não se encaixa nesta categoria. ‘Não devemos aceitar o testemunho de nenhum homem quanto ao que ensinam as Escrituras, mas sim estudar por nós mesmos as palavras de Deus. Se permitirmos que outros pensem por nós, nossas próprias energias e habilidades adquiridas se atrofiarão’ (Ellen White, Caminho a Cristo, p. 89)”. (p. 116)
“[…] Para concluir a missão global da igreja não necessitamos de mais metodologias de origem humana, e sim mais compreensão de Deus que é quem nos conduz à fé e ao compromisso da prática e da missão. Uma vez que a fé vem através do conhecimento e da aceitação das palavras de Cristo, sem uma compreensão individual profunda do Deus da Escritura, nosso estilo de vida e missão se encontrarão vazios do Espírito e do poder de Deus”. (p. 117)
A compreensão da Escritura
“Influenciados pela cultura norte-americana e pelos modelos evangélicos de ministério e evangelismo, muitos creem que o poder do ministério depende de apelação aos sentidos. Neste processo descuidamos das palavras de Deus e seu poder nunca alcança as almas que buscam esperança e salvação”. (p. 118)
“De fato, a teologia é a compreensão das palavras de Deus. Quando são entendidas, as palavras de Deus geram fé. Como sabemos, a fé é necessária para que os atos salvíficos e o poder de Deus se apliquem às nossas vidas. […] O pastor deveria ministrar a teologia de muitas formas, incluindo o exemplo pessoal, as conversas pessoais, o conduzir conflitos, aconselhamentos, seminários, o estudo da Bíblia e a pregação”. (p. 118)
“Pelo fato dos ministros garantirem aos crentes que sua salvação está segura em Cristo, estão desaparecendo da experiência dos adventistas contemporâneos o estudo sério da Bíblia, a compreensão e o pensamento. Como consequência, experimenta-se uma carência de fé, de espiritualidade e de discipulado”. (p. 119)
“Sem estudar e compreender as Escrituras nós não podemos conhecer Cristo como nosso salvador e intercessor ou exercitar a fé nele, nem sermos discípulos nem sermos salvos. Consequentemente, a meta do ministério pastoral deveria ser ajudar os crentes e não crentes a compreender Cristo através do estudo da Bíblia”. (p. 119)
“Os pastores deveriam compreender as doutrinas bíblicas em profundidade como também sua unidade interna e harmonia espiritual. […] Baseados em sua própria experiência pessoal com o Cristo da Escritura, os pastores deveriam passar tempo com seus membros, individualmente e em grupos, ‘ensinando-lhes a obedecer a todas as coisas’ (Mateus 28:20) que Cristo ensinou a seus discípulos”. (p. 119)
A compreensão da missão apostólica de Cristo
“Os pastores são embaixadores. Sua primeira lealdade é para com Cristo e em segundo lugar para com a comunidade mundial que segue o Cristo da Escritura. Na estratégia salvadora global de Deus, a missão que Cristo comissionou seus discípulos define o papel da igreja e faz-se necessária a sua existência. A igreja existe para cumprir essa missão. […] Em consequência, os pastores e líderes das igrejas deveriam ter uma profunda compreensão bíblica da comissão de Cristo e um total compromisso com ela. Tal convicção e experiência deveriam moldar intencionalmente seus ministérios”. (p. 120)
“Na vida cotidiana, todavia, a forma que os pastores compreendem a missão depende de suas teologias pessoais, isto é, da forma que compreendem Deus, Cristo e o plano de salvação. […] Na prática, pouco ou nada do estudo bíblico está sendo requerido para batizar um candidato e aceitá-lo como um membro da igreja. Neste modelo de inspiração evangélica, as doutrinas e o estilo de vida não estão incluídos na salvação, mas vêm depois desta. A liberdade do pecado da nova criatura, na qual consiste o estilo de vida cristão, não é parte da salvação”. (p. 120)
“Quando os seres humanos aceitam o evangelho do reino de Cristo, entram na experiência existencial de toda uma vida de seguir a Cristo. A Escritura explica isto como fé-discipulado. A fé e o discipulado andam de mãos dadas como dois aspectos indivisíveis da mesma experiência do estilo de vida que pertence à salvação. Somente os discípulos são salvos. Somente os discípulos deveriam ser batizados e aceitos na igreja. A fé e o discipulado são o estilo de vida”. (p. 121)
“A comissão evangélica de Cristo baseia-se na premissa de que seus discípulos sabem o que significa o discipulado e como se faz discípulos. Eles se relacionam com Cristo como discípulos. Além disso, Jesus explicou explicitamente e em detalhes como se faz discípulos e como somos salvos. A progressiva e ininterrupta experiência de confiar em Cristo (fé) e a compreensão de seus ensinos (teologia) são essenciais para experimentar o estilo de vida do discipulado cristão. […] Em consequência, o estudo da Bíblia e a compreensão doutrinária são uma parte integral do que Marcos chama ‘proclamar as boas novas’. (p. 122)
“Essencialmente, a relação de fé-discipulado envolvida no ato de seguir Cristo não se sustenta sobre a base da pregação ou da mentoria, mas sim sobre a espiritualidade bíblica pessoal. Por esta razão, o mandato evangélico de Deus à sua igreja inclui a permanente tarefa de ensinar a todos os discípulos a ‘obedecer a tudo o que eu lhes ordenei’ (Mateus 28:20, NVI). Obviamente, Cristo tinha em mente uma compreensão exata de todos os ensinos e de todas as práticas da nova maneira de pensar e do estilo de vida do reino dos céus. Estamos longe de seguir o método de Cristo com relação ao evangelismo e ao ministério. […] Quando batizamos discípulos, não existe nenhuma brecha entre salvação e estilo de vida”. (p. 122)
Capítulo 15 – O paradigma ministerial da palavra
“[…] O conhecimento de Deus em Cristo é central na experiência de fé-discipulado. Todas as apresentações são doutrinárias, isto é, fomentam e modelam algum ponto de vista ou ensinamento. Em suas múltiplas formas e contextos, a pregação pastoral deveria fomentar os ensinos de Cristo. A pregação, portanto, deveria apontar para a explicação das doutrinas bíblicas (entendendo ‘doutrinas’ como os ensinos de Cristo)”. (p. 123) [2]
A proclamação como pregação doutrinária
“[…] Proclamar Cristo doutrinariamente requer nada menos que uma mudança no paradigma ministerial que acontece na maioria das congregações adventistas”. (p. 123)
“Infelizmente, a maioria dos ministros e membros experimentam as doutrinas como ‘conhecimento intelectual’ sem relação com a vida ou a salvação. Portanto, não é de se surpreender que a maioria dos crentes não entenda aquilo que crê. Apesar disto, todos desejam conhecer Deus e Cristo”. (p. 123)
“Ellen White estava familiarizada e abraçava completamente o paradigma de fazer discípulos que Cristo utilizou. [3] […] Dizendo em poucas palavras, os ministros necessitam ‘educar as pessoas na religião prática’. Aqui surge a questão do método ministerial, que é central a qualquer paradigma ministerial”. (p. 125)
O método do ministério pastoral: a educação
“Os ministros adventistas são pessoas práticas, orientadas para a missão. Estão convencidos de que possuem a verdade. Sentem que seu êxito ministerial depende apenas de descobrir o método apropriado. […] Poucos adventistas examinam que por trás do paradigma ministerial evangélico está inserida a teoria sacramental católica romana de acordo com a qual o poder sobrenatural de Deus se encontra intrinsicamente ligado à pregação (como veículo material) e gera (na alma de maneira sobrenatural) a experiência da ‘adoração’. Esta é a base carismática central sobre a qual se fundamenta o modelo evangélico e seu paradigma geral de entretenimento, música popular, teatro e recursos multimídia que têm invadido as igrejas adventistas por anos”. (p. 125)
“Claramente, o paradigma ministerial evangélico passa por alto a compreensão metodológica fundamental: ‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim” (João 14:6, NVI). Mais precisamente, este paradigma esquece que Jesus revela não somente a verdade (a teologia) e a vida (o significado da vida como o eterno estilo de vida cristão), mas também o método para compartilhá-las com o mundo”. (p. 125)
“[…] Ao abandonar o método ministerial educativo de Cristo, os ministros adventistas repetem tristemente um antigo erro. Ao ignorar a fonte de água viva estão cavando ‘as suas próprias cisternas, cisternas rachadas que não retêm água’ (Jeremias 2:13, NVI)”. (p. 126)
“[…] A educação é o paradigma fundamental de toda a metodologia ministerial porque – explica Ellen White –, ‘no sentido mais elevado, a obra de educação e de redenção são uma’ (Educação, p. 30). A razão de sua identificação é que ambas estão sobre o mesmo fundamento e procedem da mesma fonte: Jesus Cristo”. (p. 127)
“[…] deveríamos seguir o ensino bíblico de acordo com o qual a redenção é a obra histórica de restaurar a imagem de Deus nos seres humanos (Romanos 8:29, II Coríntios 3:18 e Colossenses 3:10)”. (p. 127)
“A redenção, então, se centraliza em mudar nosso estilo de vida pecaminoso para o estilo de vida do reino de Cristo. Para conseguir a redenção, o agente educador escolhido por Cristo é o Espírito Santo que centraliza sua obra educativa na encarnação, nos ensinos, na morte expiatória e na obra intercessora celestial de Cristo”. (p. 127)
“Quando a educação é o paradigma que permeia todas as metodologias ministeriais, as doutrinas já não serão mais um conhecimento ‘intelectual’ e sim um ‘conhecimento vivo’ do plano de salvação. Esta experiência revelará em termos práticos como a teologia é o motor da experiência pessoal e espiritual do discipulado. Assim concebido e aplicado, o ministério pastoral se converte em uma ferramenta facilitadora da experiência da salvação entendida como o estilo de vida cristão cotidiano. Isto requer, obviamente, que os ministros obtenham por si mesmos um conhecimento experimental do plano de salvação”. (p. 128) [4]
Capítulo 16 – Compreender a salvação como estilo de vida
“[…] O conhecimento pessoal e a experiência da salvação como estilo de vida é uma condição necessária para usar o paradigma ministerial educacional. Podemos dar somente aquilo que temos. Sem este conhecimento e sem esta experiência não podemos compreender as exigências específicas do estilo de vida do discipulado cristão que abrange todas as áreas das experiências de vida incluindo a dieta, o vestuário, o entretenimento e outras”. (p. 129)
A experiência da salvação
“Somos salvos pela graça. Devido à influência teológica de Lutero na comunidade evangélica atual, associamos a graça somente com a cruz e com a justificação pela fé. Na Escritura, todavia, a graça e a misericórdia como características de Deus que estão em todos os seus atos salvíficos, têm um significado mais amplo. A graça descreve o ato divino de dar algo (amor) a uma pessoa indigna. Consequentemente, existe graça não somente na cruz, mas também na lei. A lei é um dom divino de graça. Nós não merecemos a lei. Apesar de tudo, devido ao seu caráter amoroso e misericordioso, Deus nos deu sua lei espiritual de liberdade porque necessitamos dela para nossa salvação”. (p. 130)
“[…] Na liberdade de nossas mentes podemos desprezar o ponto de vista de Deus e rejeitar Sua vontade para nossas vidas. Mas também podemos exercer livremente a fé na vontade de Deus para nós quando experimentamos o ‘arrependimento’. Literalmente, o arrependimento significa ‘pensar e refletir depois de’. Em outras palavras, a fé na lei de Deus nos ajuda a ver o passado de nossas vidas na perspectiva da vontade de Deus e seu plano para nossas vidas. Ao exercer a fé, vemos a nós mesmos na perspectiva da vontade de Deus revelada na lei, na vida e nos ensinos de Cristo. Descobrimos então que estamos debaixo da condenação da lei. Portanto, precisamos de ajuda”. (p. 130)
“[…] Quando lhe abrimos nossos corações através da fé e do arrependimento, Cristo aceita nosso arrependimento (isto é, a mudança de nossa mente quanto à forma como vivemos nossas vidas) e nossa confissão dos pecados (o reconhecimento de que lamentamos nossos passados em pecado, devido ao arrependimento). Ele responde perdoando-nos pessoalmente. Assim nos tornamos seus discípulos”. (p. 131)
“Como discípulos, através do estudo da Bíblia, o arrependimento e a confissão, temos a “libertação do pecado”. A obra do Espírito Santo é a continuação do ministério de ensino de Cristo através da Escritura. Quando respondemos com fé, nascemos do Espírito Santo em nossos espíritos (corações) e morremos para o pecado”. (p. 131)
“[…] Ele se fez um de nós para revelar o estilo de vida do reino em sua perfeita obediência a Deus; Ele morreu por nossos pecados, ressuscitou, ascendeu ao céu e está agora ministrando a salvação em nosso favor continuamente. Cristo nos ajuda constantemente”. (p. 131)
“[…] Assim nos relacionamos com o Cristo real que está realmente no céu relacionando-se realmente conosco. Relacionamo-nos com o Cristo vivo, o Cristo encarnado que encontramos nos quatro evangelhos. Como discípulos de Cristo, experimentamos sua espiritualidade em nossas vidas”. (p. 132)
“[…] quando, como filhos de Deus e membros de sua família, olhamos o nosso futuro, descobrimos que a lei e o exemplo de Cristo não nos condenam mais. Em lugar disto, são os nossos guias espirituais pessoais. Fornecem-nos padrões gerais a partir dos quais podemos exercer a nossa liberdade. Os discípulos desenvolvem e vivem o projeto de suas vidas pessoais em obediência à ordem do amor revelado por Deus. Ao ficarmos livres do pecado, decidimos quem nos guiará nos princípios da lei de Deus e no auxílio de sua providência mediada através da obra intercessora de Jesus Cristo, e da obra educadora do Espírito Santo. Como discípulos de Cristo somos os arquitetos de nosso próprio caráter e destino”. (p. 132) [5]
“O arrependimento e a confissão do pecado se originam no livre reconhecimento espiritual de que a ordem espiritual que Deus traçou para a criação e que encontramos expressa em sua lei e em seus ensinos é muito melhor do que nossas ordens humanas”. (p. 133)
“[…] Esses princípios e essas diretrizes fundamentais nos guiam com relação ao funcionamento de nossa razão, ao conteúdo de nossas emoções, à qualidade de nosso caráter e aos propósitos de nossa criatividade. Em resumo, os mandamentos de Deus envolvem nossos corações em todas as suas dimensões, espiritual e fisicamente. Na liberdade da obediência a Deus somos discípulos de Cristo porque vivemos nosso estilo de vida de forma reflexiva, fiel, obediente, criativa e gratificante. Na obediência obtemos liberdade e experimentamos o prazer da salvação”. (p. 133)
Espiritualidade, discipulado e estilo de vida
“A primeira maior mudança no estilo de vida de qualquer pessoa que tenha sido adotada na família de Deus (reino dos céus) inclui o propósito completo e a direção geral da vida. Ao deixar para trás o estilo de vida de busca mundana de autogratificação, os discípulos adotam o estilo de vida missionário do reino de Cristo”. (p. 134) [6]
“[…] A experiência da salvação, então, muda completamente toda a meta do significado e do propósito da vida de cada discípulo. Neste ponto necessitamos ter em mente que, de acordo com os ensinos de Cristo e a sua comissão evangélica, somente os discípulos são salvos e adotados na família de Deus. Somente os discípulos deveriam ser batizados. Então, se não experimentamos o ser missionário como meta de nossa vida, deveríamos revisar diligentemente nossa condição espiritual”. (p. 135)
“A observância do sábado tornou-se formal e ritualizada. […] Deus sabe que a experiência da salvação como estilo de vida requer a relação dialógica espiritual contínua com o Cristo da Escritura. Em sua sabedoria e eterno amor, Deus dá este tempo durante o sábado, no qual também mantém como uma bênção especial para nós. Portanto, as horas do sábado nos são dadas como um tempo para entrar em uma relação espiritual com o Cristo real, através do estudo de sua Palavra, orando e compartilhando as boas novas com outros”. (p. 135)
“Posto que a relação salvífica com Deus concentra-se em contemplar a face de Cristo através do estudo e da compreensão da Escritura, os discípulos naturalmente buscam evitar contemplar e adotar acriticamente, em seu pensamento e em seu estilo de vida, as produções da cultura humana, não importando quão ‘avançadas’ ou ‘progressistas’ possam ser”. (p. 136)
“Os discípulos de Cristo prazerosamente deixam para trás os estilos de vida seculares nos quais costumavam viver quando seguiam ‘a presente ordem deste mundo e o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem na desobediência’ (Efésios 2:2, NVI). A razão para esta mudança radical no estilo de vida é que através da experiência pessoal da cruz (o novo nascimento) nos damos conta, pessoalmente, como aconteceu com Paulo, de que ‘o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo’ (Gálatas 6:14, NVI)”. (p. 136)
“A experiência espiritual interior de render os corações a Cristo, conduz os discípulos a não buscar um vestuário em conformidade com as modas deste mundo que enfatizam a aparência exterior para chamar a atenção. Em lugar disso, buscam desviar a atenção de si mesmos para a vida interior de um espírito semelhante ao de Cristo. Pedro explica este aspecto da experiência cristã ao formular um princípio básico geral: ‘A beleza de vocês não deve estar nos enfeites exteriores, como cabelos trançados e joias de ouro ou roupas finas. Pelo contrário, esteja no ser interior, que não perece, beleza demonstrada num espírito dócil e tranquilo, o que é de grande valor para Deus’ (I Pedro 3:3-4, NVI). […] Em cada cultura os cristãos escolhem vestir-se de tal forma que os ajudem a refletir para os outros seus valores espirituais interiores recém descobertos em Cristo”. (p. 137)
“Finalmente, torna-se evidente que a experiência cristã da salvação requer uma mente clara para compreender as verdades espirituais de Cristo para a vida e para decisões cotidianas em conformidade com a sua vontade. Se uma mente clara é necessária para o discipulado espiritual, a reforma nos assuntos relacionados à nossa saúde e aos nossos costumes se converte não somente em uma bênção que nos liberta de enfermidades desnecessárias, mas também em uma ferramenta necessária para uma experiência de vida espiritual rica, gratificante e vitoriosa”. (p. 137)
Capítulo 17 – Conclusão
“A conclusão bíblica é clara. A salvação inclui não só a justificação, mas também a experiência da vida cotidiana (santificação). Consequentemente, o estilo de vida adventista não é uma questão cultural sem importância e sim um aspecto significativo e necessário para a salvação”. (p. 139)
“Para motivar o retorno dos membros da igreja e das congregações ao estilo de vida do discipulado cristão espiritual, os pastores e líderes precisam se dar conta de que o poder de Deus para o ministério encontra-se na Escritura. Esta convicção ajudará os ministros a desenvolver uma atitude positiva com relação à teologia e a serem estudantes que busquem compreender Deus através da Escritura”. (p. 139)
“Conduzir o estilo de vida bíblico de volta à experiência espiritual da salvação como discipulado, exigirá alterações na metodologia ministerial adventista. Os ministros adventistas deveriam criar novas metodologias de evangelização e espiritualidade em harmonia com o paradigma metodológico educacional básico de Cristo”. (p. 139)
“[…] Os discípulos que cumprem a missão de Cristo trarão mais discípulos para a igreja de maneira abundante. ‘E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo como testemunho a todas as nações, e então virá o fim’ (Mateus 24:14, NVI)”. (p. 140)
Notas:
1 – “O conhecimento de Deus, conforme está revelado em Cristo é o que todos os salvos têm de ter. É o conhecimento que realiza a transformação do caráter. Este conhecimento, quando é recebido, recriará a alma à imagem de Deus. Comunicará a todo o ser uma força espiritual que é divina” – EGW, Testemunhos para a Igreja, vol. 9, 2ª edição, 2008, 8:30. (voltar)
2 – “Cristo foi enviado do céu para redimir a humanidade. Ensinou as doutrinas que Deus disse para ensinar. As verdades que proclamou, como se encontram no Antigo Testamento e no Novo Testamento, devem ser proclamadas hoje como a mensagem do Deus vivo” – EGW, Mensagens Escolhidas, 1:187. (voltar)
3 – “Não é suficiente pregar às pessoas; devemos orar com elas e por elas; não devemos manter-nos friamente separados delas, mas sim devemos aproximar-nos com simpatia das almas que desejamos salvar, devemos visitá-las e falar com elas. O ministro que realiza na forma adequada a obra fora do púlpito realizará dez vezes mais do que aquele que restringe seu trabalho ao púlpito” – EGW, Evangelismo, p. 465. (voltar)
4 – “A educação superior é um conhecimento experimental do plano da salvação, e é obtida pelo estudo fervoroso e diligente das Escrituras. Esta educação renovará a mente e transformará o caráter, restaurando a imagem de Deus na alma. Fortalecerá a mente contra as enganosas insinuações do adversário, e nos habilitará a compreender a voz de Deus. Ensinará o aluno a ser colaborador com Jesus Cristo, a dissipar as tendências morais que o rodeiam e espalhar luz e conhecimento aos homens. A simplicidade da verdadeira piedade é nosso passaporte da escola preparatória da terra para a escola superior do céu” – EGW, Conselhos aos Ministros, p. 13. (voltar)
5 – “Deus nos tem dado força intelectual e moral para que cada um seja arquiteto de seu próprio caráter. Cada dia a estrutura se aproxima mais de seu término. A Palavra de Deus nos adverte a prestar atenção em como edificamos, e cuidamos de nosso edifício para que esteja fundamentado na rocha eterna. Se aproxima o momento em que nossa obra será revelada tal qual é. Agora é o momento em que todos têm de cultivar as faculdades que Deus lhes tem dado para formar um caráter que os faça úteis aqui e alcancem a vida superior mais adiante” – EGW, Conselhos aos Ministros, p. 213. (p. 133) (voltar)
6 – “Cada verdadeiro discípulo nasce no reino de Deus como missionário. Aquele que bebe da água da vida, será uma fonte de vida. Aquele que recebe será um doador. A graça de Cristo na alma é como um manancial no deserto, cujas águas surgem para refrescar a todos, e dá a água da vida àqueles que estão a perecer ávidos por bebê-la” – EGW, O Desejado de Todas as Nações, p. 166. (p. 135) (voltar)
O Dr. Fernando Canale é licenciado em Filosofia e em Teologia, doutor em Teologia (PhD em Religião), pastor na IASD desde 1985, Professor de Teologia e Filosofia no Seminário Teológico da Universidade de Andrews (Michigan, USA), autor de artigos (acadêmicos e publicações denominacionais) e autor de vários livros desde 1986 (inglês e espanhol).
Fonte: Canale, Fernando, ¿Adventismo Secular? – Cómo entender la relación entre estilo de vida y salvación – Universidad Peruana Unión, 1ª edição (Dezembro 2012)
Traduzido e sintetizado especialmente para o Música Sacra e Adoração pela Profª Jenise Torres, em Março de 2014
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