por: Pr. Douglas Reis
Parece que encontramos cristãos fazendo dois coros opostos: de um lado, nos deparamos com a bancada daqueles que promovem regras fixas, prezam “pelos bons costumes” e ojerizam mudanças. São a turma do “deixe tudo como está”. Não refletem em sua condição. Valorizam apenas o passado, inclusive os erros do passado!
Do outro lado, igualmente perfilados, salta à vista o grupo que luta contra as regras: são hippies de Jesus, gritando “paz e amor”, com a cruz invertida no pescoço. Dizem sim para Jesus, mas detestam a religião (fazendo curiosa e falsa oposição entre Jesus e a religião). Querem parecer normais, vivendo um cristianismo do coração (leia-se “emoção barata”).
Às vezes, parece que há apenas esses dois caminhos. Como se a vida cristã emulasse o antigo poema de Cecília Meirelles “Ou isso ou aquilo”. Nada mais falso. Não somos chamados a prestar continência a regras antigas, sem sentido no mundo moderno. Tampouco, Deus requer que o grito de liberdade de nossa garganta signifique desprezo a todas as exigências da vida cristã.
Eu sou um homem casado. Provavelmente os casados entenderão melhor o que quero dizer. Casamento não é uma comédia romântica. O relacionamento não vive de discursos românticos que param as filas nos aeroportos como nos filmes. O amor se revela por atos de companheirismo e abnegação. Experimente ler um poema para sua esposa e deixar a louça para ela lavar sozinha durante uma semana! Não durma ao lado dela para assistir o campeonato espanhol, o inglês e italiano toda noite e você terá uma prévia do juízo final!
Por outro lado, nenhum casamento se salva apenas com respeito, ordem e divisão de tarefas. É preciso calor, romantismo, tempo para ouvir e saber surpreender a pessoa amada. Em um relacionamento saudável entre dois adultos, as regras surgiram como consequência do relacionamento.
Amor não é uma abstração, mas algo tangível por meio de pequenos atos diários. Eu não preciso alugar um helicóptero e jogar flores do alto, formando um coração de rosas ao redor da minha residência, enquanto Kenny G em pessoa toca para minha esposa, que me vê pulando de paraquedas ao seu encontro (nem se eu quisesse poderia pagar essa homenagem romântica!). O amor tem mais que ver com um equilíbrio entre sentimento, tratamento adequado, companheirismo e demonstração de afeto do que com feitos mirabolantes!
No cristianismo, há uma semelhança com o que acabei de dizer. É preciso obedecer, mas por amor. Temos de seguir princípios celestiais, os quais têm o poder de transformar nosso coração, afetando nossas percepções e cultura. A religião do coração não fica no coração (sentimento, na acepção contemporânea); ela flui do coração (centro da vontade, na acepção bíblica), irradiando para toda a vida.
Não temos de promover cultos regados a guitarras e show de luzes para impressionar os descrentes. Eles não precisam assistir em 3D quarenta Lázaros ressuscitando para saber que Deus ainda faz milagres. Se os amarmos e orar por eles e com eles por assuntos de seu interesse, faremos tanta diferença, que eles se interessarão pelas verdades que defendemos. E quando estudarmos a Bíblia com oração, o Espírito nos dará discernimento para apresentar o que cremos poderosamente, atraindo o intelecto e as emoções das pessoas para Jesus, o Cordeiro e Sumo-Sacerdote. Se isso aconteceu nos últimos vinte séculos, penso que não será difícil acontecer agora…
O que tem de mudar? A nossa forma insípida de encarar a fé. O relaxamento do cristianismo pop, que quer viver da herança do passado, sem construir novas estradas pela fé. O clamor por maturidade tem hora para se iniciar: hoje, agora mesmo. A começar por você e eu.
Fonte: Questão de Confiança.