por: Levi de Paula Tavares
Muitos cristãos da atualidade argumentam que a Bíblia se cala com relação a princípios claros e inequívocos que pudessem ser usados como diretrizes para nortear o uso da música na igreja. Além disso, estes cristãos sinceros citam alguns episódios descritos no relato bíblico, nos quais foram utilizados instrumentos de percussão (tambores, tamboris, adufes, etc.) e/ou danças no louvor a Deus, alegando que estes relatos históricos autorizam estas mesmas práticas na igreja de hoje.
O objetivo deste artigo é fornecer instruções aos crentes tementes a Deus como um todo e especialmente às pessoas ligadas às questões musicais na igreja, para que possam ter uma interpretação exegeticamente correta dos textos que falam a respeito do uso dos tambores e das danças no louvor a Deus no Antigo Testamento.
Inicialmente, devemos esclarecer que sim, existem instruções dadas por Deus com relação a este assunto, conforme II Crônicas 29:25. Este texto relata que o serviço levítico foi organizado no santuário de certa maneira, porque “este mandado veio do Senhor”. O fato de as palavras divinas não estarem explicitamente declaradas no texto sagrado não diminui sua autoridade nem a necessidade de as levarmos em conta e prestar-lhes obediência.
O que sabemos com certeza acerca destas instruções é que o resultado da obediência a elas levou os grandes músicos daquele tempo – ou seja, os responsáveis pelas definições e normatizações do culto no templo de Jerusalém – a se aterem a uma lista restrita de instrumentos musicais, a saber: címbalos, harpas e liras, além de trombetas e, evidentemente, a voz humana; e a banirem o uso de instrumentos de percussão e da dança.
Estas instruções foram fielmente obedecidas e esta foi a lista de instrumentos usados em todas as ocasiões de culto no templo, desde a segunda tentativa de transporte da arca para Jerusalém (I Crônicas 15:16, 28), quando todo o processional foi feito de acordo com a vontade de Deus. Os relatos incluem ainda a ministração diante da arca em Jerusalém, enquanto o templo não fora construído (I Crônicas 16:42), a organização do serviço levítico para o novo templo planejado por Davi e construído por Salomão (I Crônicas 25:1, 6), o transporte da arca para o templo, durante a sua inauguração (II Crônicas 5:12-13), a purificação do templo e restauração do serviço levítico no reinado de Ezequias (II Crônicas 29:25) e, mesmo séculos mais tarde, durante a construção e ministração no segundo templo, após o cativeiro babilônico (Esdras 3:10). Aliás, mesmo a alegre celebração popular da inauguração dos muros da cidade, após a reconstrução, utilizou esta mesma lista de instrumentos (Neemias 12:27).
Com relação ao transporte da arca, citado acima, uma atenção especial deve ser dada ao observarmos que a lista dos instrumentos utilizados na primeira tentativa – na qual Davi consultou apenas seus oficiais e comandantes (II Samuel 6:1,2; I Crônicas 13:1) – incluía instrumentos de percussão e danças (II Samuel 6:5; I Crônicas 13:8). Porém, a segunda tentativa, que foi bem sucedida – na qual Davi seguiu as prescrições divinas (I Crônicas 15:2 e 13) – não incluiu esta classe de instrumentos (II Samuel 6:15; I Crônicas 15:16 e 28) e, embora Davi tenha saltado alegremente diante do Senhor (II Samuel 6:14), este foi um ato pessoal e isolado, pois não é relatado que o povo tenha dançado, como ocorreu na primeira vez.
Vemos assim que, apesar de os instrumentos de percussão e a dança serem extremamente comuns na cultura israelita antiga, o princípio claro é que, embora não saibamos exatamente em que momento, nem tenhamos fielmente relatadas as palavras, uma instrução divina foi dada através dos profetas, em especial do profeta Natã, alterando o uso destes instrumentos e restringindo os instrumentos a serem utilizados, bem como a dança, na adoração a Deus. Não são informados os motivos desta restrição, mas ela é obvia e cristalina e sabemos que quando Deus dá uma ordem, ela deve ser obedecida mesmo que não compreendamos os seus motivos.
Na verdade, hoje sabemos, por fonte científica, os motivos desta restrição. Estudos demonstram claramente que a música fortemente ritmada, com o uso de instrumentos de percussão, os quais não realçam outro elemento musical que não o ritmo, excita o corpo e as paixões carnais; embota a mente e dificulta a tomada de decisões racionais. Entendendo que o verdadeiro culto, em espírito e em verdade (João 4:23-24) é o culto racional (Romanos 12:1), onde as emoções estão sob controle da razão e do entendimento (verso 2), podemos ver claramente que o estímulo aos aspectos físicos e emocionais não são desejáveis no culto bíblico e, certamente, podem nos levar a resultados indesejáveis, verdadeiramente nos afastando de Deus.
Concordamos com aqueles que defendem que não é possível atribuir qualquer malefício intrinsecamente ao instrumento de percussão (bateria) em si (exceto, talvez, àqueles que são especificamente consagrados no culto às divindades malignas). Mas mesmo que desconsideremos os princípios descritos acima, somos obrigados a reconhecer que a classe dos instrumentos de percussão é extremamente problemática para a finalidade do culto. Temos vários pontos negativos a serem considerados:
- Quais estilos musicais são os mais apropriados a serem executados usando instrumentos de percussão? A influência destes estilos musicais é benéfica para os objetivos do culto?
- Quem são os “ídolos” ou modelos dos percussionistas? A influência destes modelos sobre o resultado final no momento do culto é benéfica?
- Os instrumentos de percussão só podem enfatizar a ressaltar um elemento da música: o ritmo. Tendo em vista o caráter solene de um culto a Deus, é desejável que este elemento seja enfatizado em nossos cultos, em detrimento da melodia e harmonia?
- O percussionista abrirá mão de explorar completamente o instrumento que tem em mãos, mantendo o controle necessário para que o elemento rítmico não seja predominante?
- Sabendo que o que realmente importa na música de adoração é a letra, em que sentido o uso da percussão agrega valor á mensagem cantada?
Vemos que os pontos acima (além de outros que poderiam ser elencados) depõem definitivamente contra o uso desta classe de instrumentos em nossos cultos. E isto apenas analisando o instrumento em si, sem levar em conta as instruções divinas, as quais são o verdadeiro balizamento para as nossas diretrizes com relação ao culto.
Muitos querem assumir posturas de complacência com relação aos instrumentos de percussão, alegando que é necessário “equilíbrio”. Mas devemos dizer que o verdadeiro equilíbrio e bom senso, só podem existir depois que uma clara instrução divina é obedecida. Podemos exemplificar dizendo que a igreja de Laodicéia é descrita no livro do Apocalipse (3:14-22) como sendo “equilibrada”, pois não era fria nem quente (verso 15). Mas o resultado deste pretenso “equilíbrio” complacente é que Deus estava a ponto de vomitá-la (verso 16).
Em qualquer situação na qual quisermos colocar o nosso conceito de bom senso e a nossa noção de equilíbrio em oposição ou substituição a uma ordem divina, estamos no terreno encantado de Satanás. E isto é especialmente verdade no contexto da música de adoração, tendo em vista o conhecimento que Satanás tem sobre esta arte e a influência que ela pode exercer, para o bem ou para o mal, sobre a mente dos crentes e, por conseqüência, sobre a vida espiritual da igreja como um todo.
Alguns cristãos, embora estejam sinceramente buscando seguir o seu Mestre, não conseguem ver por si mesmos a base bíblica destas restrições, porque esperam encontrar na Bíblia um sim e não específicos para qualquer situação. Mas isto não é sempre verdade e precisamos cavar um pouco mais fundo, comparando textos (Isaías 28:10), para poder desencavar algumas verdades que são pérolas sem preço.
Lembre-se que, a Bíblia não é um compêndio de regras e normas, mas, um livro repleto de testemunhos que evidenciam a sabedoria, vontade e verdade de Deus. Às vezes Ele diz sim ou não, mas, muitas das vezes Ele apenas apresenta o fato em forma de testemunhos históricos para ensinar determinados valores, princípios e doutrinas sem dizer sim ou não.
Pesquisemos, pois a Palavra de Deus, revelada a nós, e deixemos que ela, através da direção do Espírito Santo, nos guie em toda a verdade (João 6:13).