por Pr. Doulas Reis
Por que a adoração praticada nas igrejas cristãs tem se desviado do padrão admitido há séculos, com sensíveis variações, e assumido formas diferenciadas, incluindo expressões teatrais, dança, inserção de vídeos e outras novidades cúlticas?
A pergunta abre uma série de questionamentos. A revolução tecnológica, que sedimentou o estabelecimento de uma nova geração – os millenials ou Geração Y – está entre os fatores que contribuiem para cobranças por interatividade e dinamismo no culto cristão. Certamente, o culto nunca deveria ter sido ambiente para mera assistência passiva. Entretanto, a interatividade exigente do contexto contemporâneo cobra um padrão de qualidade que se pauta por valores midiáticos. Não à toa, o departamento de mídia de muitas congregações já recebe tanta atenção quanto o de louvor.
Contudo, somente a mudança na sociedade como um todo parece ser razão insuficiente para dar conta da revolução litúrgica que ora assistimos. Por mais que não se trate apenas de um “fator externo” (afinal, cristãos nascidos no início dos 1980s também pertencem à Geração Y, apresentando características similares a de não cristãos que nasceram no mesmo período), a mudança de geração não explica, por exemplo, a crítica e desestímulo generalizado que mesmo pessoas de outra geração expressam em relação às liturgias mais tradicionais.
Talvez o desgate se deva em parte à falta de ênfase no estudo da Bíblia, focando a perspectiva total que as Escrituras oferecem. O evangelicalismo americano, bem como sua vertente brasileira, nos transmitem o cristianismo da salvação pessoal, da experiência com Deus, sem que esse evangelho chegue perto de roçar o cérebro – nem ao menos de leve. O que a igreja tem a dizer sobre a luta do sertanejo em terra de coronéis? Ou sobre a corrupção política desmascarada no julgamento do mensalão? Que esperança prática oferecemos para universitários com seus desafios intelectuais? Para empresários às voltas com decisões éticas em meio ao mercado globalizado? Nada temos a dizer-lhes – apenas que se convertam a Jesus e salvem suas almas!
Nossa pequenez de visão e falta de abordagem holística diminui o evangelho a uma experiência menor, fraca. Como se pagássemos o melhor bolo de uma confeitaria e oferecêssemos apenas o glacê aos convidados. Todos saem comentando que o bolo deixou a desejar. Pudera! Não provaram do bolo, apenas de uma parte.
Assim, o pós-modernismo encontrou cristãos com as calças baixas. Toda desconfiança de verdades instituidas e apelo aos sentidos arrastou os cristãos porque nem eles se achavam muito bem satisfeitos com sua experência religiosa de migalhas. Com um agasalho tão fino o resfriado era certo em meio à travessia pelo luar de inverno. Com isso, inverteu-se a ordem das prioridades espirituais.
O culto público deixou de ser o ajuntamento de pessoas de fé dispostas a adorar unidas em torno de verdades cristãs fundamentais e em sua compreensão unânime da natureza amorosa de Deus como Pai comum. O culto passa a ser uma experência místico-emocional, em que se pode energizar a vida espiritual e obter vitórias específicas, além de proprocionar satisfação imediata. Antes, ia-se à igreja reconhecer a Deus e receber Sua instrução. Agora, o motivo é outro: experimentar a Deus e reclamar Sua bênção imediata. Quem sabe como esse novo paradigma afetará os adventistas…
Fonte: Questão de Confiança.