por: Sylvio Macri
Uma das doutrinas bíblicas mais importantes é a do sacerdócio universal dos crentes. A maior parte das denominações evangélicas adota esta doutrina, mas algumas levam mais longe a sua interpretação, no sentido de que os crentes não se subordinam a nenhuma autoridade eclesiástica, vindo dai o entendimento de que a forma de governo da igreja somente pode ser a democrática.
A relação do indivíduo com Cristo é estritamente pessoal (João 14:6). Ele não vem a Cristo por meio da igreja, mas, sim, vem à igreja por meio de Cristo. As pessoas se reúnem em uma igreja porque uma dia creram em Cristo, e este ato de fé não depende da autorização de nenhum outro homem, seja sacerdote, pastor, ou bispo (ou ainda “apóstolo”, como alguns atualmente chamam a si mesmos). Jesus Cristo é o único mediador entre Deus e os homens (II Timóteo 2:5). E como diz o teólogo batista Walter Conner, “o princípio democrático está também envolvido no fato de que a nossa primeira relação é com Cristo e não com os homens. Todo cristão é diretamente responsável perante Cristo como Senhor e Mestre. Nenhum homem ouse colocar-se entre o indivíduo crente e seu Senhor. Cada de um nós dará conta de si mesmo a Deus (Romanos 14:9-12), e não ao pastor, ao sacerdote, nem ao bispo. Diante do juiz de toda a terra os homens mantêm um nível comum.” (“O Evangelho da Redenção“, CPB, Rio, 1950, p.234).
Esta doutrina, portanto, tem conseqüências tremendas tanto para a vida pessoal do crente, como para a vida da igreja. Por exemplo, quando o crente vem à igreja, não vem para assistir à adoração, mas para dar a Deus a sua adoração pessoal. Aliás, queremos fazer aqui uma observação importante: nesse sentido a expressão “ministério de louvor” é totalmente inadequada. Ninguém pode ministrar o louvor no lugar do outro. Na religião do Velho Testamento existiam os levitas, sacerdotes responsáveis por ministrar os cânticos e todas as demais tarefas do templo. Na religião do Novo Testamento cada crente é o seu próprio ministro, cada um ministra por si mesmo. O máximo que podemos ter são pessoas liderando as atividades de adoração, mas não ministrando a adoração a favor de outros.
Conclui-se, portanto, que o fato de que o crente é sacerdote de si mesmo perante Deus implica em algumas verdades muito importantes. Ele é responsável pessoalmente por buscar a Deus e sua graça, e aceitar esta graça é uma decisão que ninguém pode tomar em seu lugar. Igualmente ele é responsável por oferecer seu culto pessoal a Deus, o que inclui a leitura pessoal da Bíblia e a oração individual, o que também ninguém poderá fazer por ele. E ele também é responsável perante Deus pelos seus atos, apesar da influência que possa receber dos outros. Não pode dizer como Adão: “Foi a mulher que o Senhor me deu”. Isto inclui a confissão e a busca de perdão para os seus pecados pessoais, e a intercessão por si mesmo, para que Deus o guarde do mal.
Mas há um sentido, em que o crente é também sacerdote em favor dos outros, sentido este que tem dupla direção: o crente é um intercessor dos homens junto a Deus, e é um intercessor de Deus junto aos homens.
No primeiro caso ele torna-se um intercessor a favor de toda a humanidade, a começar dos seus parentes. O livro de Jó nos diz que ele fazia isso por seus filhos: “De madrugada ele oferecia um holocausto em favor de cada um deles, pois pensava: Talvez os meus filhos tenham, lá no íntimo, pecado e amaldiçoado a Deus” (Jó 1:5). E o apóstolo Paulo recomenda expressamente: “Exorto, pois, antes de tudo, que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graça por todos os homens; pelos governantes e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranqüila e sossegada, em toda a piedade e honestidade” (I Timóteo 2:1,2).
No segundo caso o crente torna-se um intercessor a favor de Deus entre os homens (contudo, não em benefício de Deus mas, em benefício dos homens). E é novamente o apóstolo Paulo que nos dá o ensino: “Deus (….) nos reconciliou consigo mesmo por Cristo, e nos confiou o ministério da reconciliação; pois Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões; e nos encarregou da palavra da reconciliação” (II Co.5:18,19). Somos o sal da terra e a luz do mundo, e como tal, temos um papel na preservação da vida da humanidade.
Fonte: Prazer da Palavra