por: Carlos Queiroz
[…] Acontece que nossa geração tem passado por processos de transformações profundas. Não estamos, apenas, numa época de mudanças, mas numa mudança de época. Axiomas fundamentais estão interferindo no curso de nossa história. Saímos da perícia racionalista para o mundo da subjetividade, da intuição. Para a sociedade pós-moderna, não existe mais uma verdade absoluta, um ser único – o tempo presente fermenta a proliferação do relativismo e do pluralismo.
As práticas de espiritualidade, hoje, podem significar tudo ou qualquer coisa. Comparando-se essas vivências de espiritualidade com os ensinos e práticas do Jesus histórico, vamos encontrar muitas diferenças, e essa transição de época desafia a espiritualidade, missão e construção teológica dos seguidores de Cristo nessa geração. Não receio em afirmar que a espiritualidade cristã vive uma de suas crises mais profundas. A crise espiritual gera a banalização das virtudes e dos princípios mais importantes da vida. A corrupção e a hipocrisia de nossos líderes políticos; a decadência das relações familiares; a violência e tantas outras características danosas desta época são evidências da decadência dos valores éticos e morais do povo brasileiro.
A espiritualidade tem sido praticada, também, como ferramenta para a prosperidade material e satisfação de desejos. Sendo assim, a espiritualidade não é uma abordagem, apenas, de interesse de pessoas religiosas – ela passou a ser também objeto de entretenimento, seja em cultos e celebrações, seja em espaços de lazer e esportes, seja no mundo corporativo. Cria-se, assim, uma enorme panaceia espiritual: as noções do sagrado e da devoção se diluem nas mais variadas experiências místicas e em atitudes exteriores que passam longe da genuína devoção, da piedade e da fé viva.
Mesmo assim, ainda acredito numa espiritualidade que nos torne mais humanos, mais próximos de Deus, das pessoas e de todo o meio ambiente de que somos parte. Que possa gerar mais vida do que lucro material; mais virtudes do que sucesso; mais amor às pessoas do que apego às coisas; mais solidariedade do que competição; mais integridade do que religiosidade; mais renúncia do que egoísmo.
Fonte: Revista Cristianismo Hoje, junho/julho 2012, edição 29, ano 5, página 64 (trechos).