por: Osias Rodrigues Ferreira [1]
O que me motivou a escrever sobre o assunto foi o fato de ver um vasto número de lideres cristãos alimentarem uma visão tão equivocada a respeito do verdadeiro papel da música na adoração. São conceitos equivocados que terminam sendo revelados quando se pretende comunicar a respeito do assunto. Ouvi recentemente um líder de nossa igreja dirigir-se ao seu auditório, diga-se de passagem, um seleto auditório de líderes, e dar o seguinte aviso: “…em nosso programa teremos como ‘atração musical’…” e ai falou o nome do cantor. Como será que Deus está vendo nossas exibições musicais e ouvindo nossos louvores? Estão sendo feitos para Deus ou atrair aplausos e admiração a nós mesmos?
No dicionário encontramos varias definições para a palavra atração entre as quais destacamos: “espetáculo, ou qualquer representação, pessoa ou coisa que atrai grande número de pessoas”[2]. A música é parte da adoração e como tal não pode ser encarada como um mero momento de espetáculo, distração ou entretenimento. A música, quer seja apresentada por instrumentos, canto congregacional ou solo, não têm um fim em si mesma, ela faz parte da adoração a Deus, assim como a oração e a pregação. Nem a música nem o cantor são os agentes atrativos, este não é seu papel; seu verdadeiro papel é ser um canal utilizado pelo verdadeiro “agente atrativo”, o Espírito Santo, para conduzir as pessoas ao objetivo real da adoração que é a pessoa de Jesus. Porém, é lamentável que a expressão “atração musical” no contexto da adoração a Deus, não ecoe mal aos nossos ouvidos, pelo fato de estarmos tão acostumados a ouví-la em programas de auditório da televisão, onde o papel da música é simplesmente entreter chamando a atenção para o artista. Como encararíamos se neste mesmo aviso fosse dito: “e como atração na ‘ministração’ da palavra de Deus teremos o pregador, Pr. X”?. Infelizmente, não somente a música, mas muitas de nossas práticas cristãs estão se tornando meras cópias do que se vêem em programas de televisão, colocando o louvor a Deus ao nível de um mero exibicionismo humano, somado a um péssimo gosto musical. Infelizmente essa tem sido a realidade de grande parte do louvor que se pretende oferecer a Deus.
Hoje, a teologia da música deixou de ter significado. O gosto ou preferência por uma música é definido pelo estilo musical de cada pessoa. Dessa maneira, a mensagem, que deveria ser o elemento principal, é o que menos importa; o cantor ou o adorador a usa, de forma irracional, mesmo que sua mensagem esteja totalmente em dissonância com suas crenças. O estilo que está na moda o que mais atrai, formando uma mentalidade, onde cantores são meros atores, que quanto mais fazem malabarismos vocais e corporais em sua performance musical, mais atraem pessoas para seu fã clube. “Quando o Senhor requer que sejamos distintos e peculiares como podemos desejar popularidade ou procurar imitar os costumes e práticas do mundo? Devemos elevar nosso padrão um pouco acima do padrão do mundo, mas devemos tornar a distinção decididamente aparente. A razão por que temos tido tão pouca influência sobre os parentes e amigos não crentes é que tem havido pouca diferença clara entre nossas práticas e as do mundo”[3]. As semelhanças conosco, infelizmente não são meras coincidências.
É fato lamentável ver cantores evangélicos tão interessados em imitar o modelo secular para atrair para si uma multidão de fãs com suas “atrações musicais” em seus “belos”, porém, questionáveis espetáculos. Segundo o Dr. Horne alguns buscam admiração e louvor para si, roubando a verdadeira devoção do culto[4]. A Dra. Eurydice V. Osterman, reforçando essa ideia, nos diz que o canto foi dado ao homem para render louvor e adoração a Deus, não para incentivar o orgulho e a ambição de exibir-se. Quando isso acontece, o cantor e os que estão sendo entretidos pensam pouco no culto a Deus e, frequentemente, O esquecem.[5] Em contraste com esse tipo de louvor, o Apóstolo Paulo, escrevendo em tom de apelo, aos que, agora têm uma nova vida em Cristo (Romanos 12:1), fala: “Rogo-vos, pois irmãos que apresentem o vosso corpo” (na Linguagem de Hoje diz: se ofereçam completamente) “a Deus por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é vosso culto racional”.
Os adjetivos, vivo, santo e agradável são o princípio do louvor racional e verdadeiro que só pode ser entoado por aqueles que têm uma nova vida em Cristo Jesus. De seus lábios saem um louvor “vivo”, pois reconhecem que Deus abomina o louvor sem vida, artificial, fruto de um mero estilo da moda. Entoam um louvor “santo”, separado, sem mistura. O louvor santo está acima dos gostos pessoais do adorador é fruto de uma mente transformada e que não se conforma com os modismos desse século (Romanos 12:2). Portanto, o ponto determinante para uma correta visão de louvor na adoração é a transformação produzida pelo Espírito Santo na vida do adorador, o qual, longe de ser a atração do louvor, permitirá que Deus o use como instrumento para conduzir pessoas à verdadeira fonte de louvor, Deus. Finalizo citando as palavras da Dra. Eurydice: “Quando procuramos glorificar a Deus e não a nós mesmos, Ele abençoará nossos esforços de modo visível e permitirá que algo de sua glória brilhe sobre nós ao ministrarmos a outros.”
Notas:
[1] Bacharel em Teologia (Formando) SALT-IAENE e Licenciado em Música pela Universidade Federal da Paraíba- UFPB
[2] Dicionário Aurélio, Século XXI. Edição eletrônica 3.1.
[3] WHITE, Ellen G. Testemunhos Para a Igreja, vol. CPB. Tatuí – SP 2006. p. 143.
[4] SILVA, Horne P. Culto e adoração. Unaspress. Engenheiro Coelho – SP. 1994. p. 112- 117.
[5] OSTERMAN, Eurydice V. O que Deus sobre a música, Unaspress. Engelheiro Coelho – SP. 2003. p. 68.