“Dançar Perante o Senhor” – Um Testemunho Pessoal

por: Mônica Camargo

Antes de eu ser adventista pela fé, freqüentei várias denominações cristãs, algumas de linha pentecostal. Sempre fui muito bem recebida nestes lugares, as pessoas em regra me tratavam muito bem. Como você deve saber, o culto para eles tem uma conotação bem diferente da nossa (adventista). Eles dançam enquanto cantam hinos (mexem o corpo na cadência musical), batem palmas, riem e choram, as vezes falam em línguas.

Esforcei-me na época para agir como eles, pois entendia que se eles agiam assim, era assim que Deus gostava. Estava decidida a servir a Deus, mas pouco conhecia de Sua Palavra. Orava a Deus e pedia para que Seu Santo Espírito me orientasse sobre qual igreja deveria me batizar, pois eu queria o quanto antes selar um compromisso eterno com Ele.

Para te ser bem franca, nunca me sentia à vontade nestes templos, não me sentia a vontade batendo palmas e dançando, lembrava-me muito as festas universitárias e shows que eu assistia na época, com a única diferença que não tinha álcool e nem o lugar era escuro.

Aos pouco fui estudando a palavra de Deus e comecei a freqüentar a Igreja Adventista com uma vizinha. Como eu achava fria aquela igreja! Que culto mais silencioso! Estranhei aquela liturgia, mas sentia-me melhor não sendo obrigada a “curtir” com balanço do corpo os hinos tão lindos tocados no piano.

Comecei a me deleitar com as apresentações musicais, onde eu conversava com Deus e meditava nas palavras cantadas, sem o dever de me mexer. Ao estudar a Palavra com minha vizinha, questionei a ela sobre o porquê de tanto silêncio. Questionei porque não podíamos bater palmas, nem mexer o corpo. Então ela me mostrou a forma como Abel, Moisés e Davi louvavam ao Senhor, ela me mostrou que quando da construção do templo, realizado por Salomão, os artífices cortavam as madeiras e quebravam as pedras bem distantes do lugar do templo, porque Deus não se alegrava com barulho e nem com excessos de movimentações no Seu Santo Lugar, mas que o Nosso Deus era um Deus de ordem e de reverência. Um Deus muito grandioso, para quem devemos ter muito respeito e não confundir com os prazeres do mundo. Que eu não devia me centrar no que me agradava, mas no que agradava a Deus.

Desde então não considero a orientação e prática de não “dançar perante o Senhor” como algo destituído de razão bíblica, muito pelo contrário, era algo totalmente em sintonia com a vontade de Deus expressada por Sua Palavra. Isto para mim é racionalidade, é crer com base bíblica, buscando a vontade de Deus e não viver se rebelando contra o que flui de Sua vontade. Contrariar a vontade de Deus é viver em rebelião, assim como fez o profeta Jonas, que estudamos neste trimestre.

A questão quanto a expressão das emoções durante o culto é que nós devemos professar uma fé racional e não emocional, apesar da emoção fazer parte do nosso contato com Deus. As emoções vêm e vão, o que sinto hoje posso não sentir mais amanhã, mas o que fica mesmo é a fé consciente e direcionada sobre a existência e atuação de Deus na tua vida.

Não creio em Deus porque posso senti-Lo durante o culto, mas porque vejo que em Suas ações e Palavras há racionalidade e, por isso, creio que Ele está presente. Já senti a presença de Deus muitas vezes, já ouvi Sua voz falar em meu coração outras tantas vezes, não apenas durante os cultos, mas principalmente durante minhas orações pessoais e nas decisões que entrego em Suas mãos. Isso faz parte de nossa fé.

Não creio em uma dicotomia entre razão e emoção no que diz respeito a fé humana. Quando falamos de seres humanos não há como afirmar que somos só isso ou só aquilo. Somo seres complexos e complexa também é a forma com que se manifesta a fé dentro de nossas vidas. Mesmo porque a fé é um dom de Deus, não provém de nós.

A fé é a esperança das coisas que não se vêem e, deve se fundar na razão e, certamente, de emoção, cada um em medida diversa para cada ser humano. Entretanto, a expressão da adoração a Deus, segundo o modelo bíblico, deve ser professada racionalmente, com emoção sim, mas sem a necessidade de explosões corporais.

Quando estou emocionada ou alegre num culto não preciso dançar ou bater palmas para mostrar isso a Deus. Afinal, Ele conhece nossos corações, ou não? Precisamos sempre expressar para Deus que estamos alegres? E se precisamos, isso deve ocorrer durante o culto, dançando e batendo palmas ou no meu cotidiano, na forma como trato os outros e na forma como encaro meus problemas?

Realmente, na Bíblia encontramos duas formas de adoração: uma silenciosa e outra explosiva. Todavia, parece-me claro que só dois personagens bíblicos adotaram o segundo estilo: Davi e Miriã. Acredito que estas manifestações por eles expressadas estavam bem ligadas ao tipo de personalidade de cada um.

O relato bíblico sobre Davi o mostra como tendo uma personalidade bem marcante e explosiva, uma pessoa muito emotiva, igualmente a Miriã, que sempre me pareceu uma pessoa emotiva e precipitada, o que é demonstrado também no evento narrado em Números 12. A forma de expressão que eles utilizaram estava muito mais ligada a suas personalidades individuais, do que a um modelo bíblico de adoração pessoal.

Por outro lado, adorações efusivas eram ligadas aos baalins e a outros pagãos, prática que não era repetida em Israel, até mesmo por que acreditavam que estavam diante de Deus e as adorações eram solenes, como foi em II Crônicas 6:12.

Creio ser importante que a adoração seja algo dirigido a atender a vontade de Deus e não a minha, não a minha necessidade, mas o que Deus deseja de mim. A submissão a vontade de Deus está ligada à verdadeira adoração e ao espírito de fidelidade a Deus. Quando tenho dúvidas sobre qualquer questão bíblica, do que dizer e de como agir, sempre busco as respostas Naquele que é nosso único modelo verdadeiro de conduta: Jesus.

Ao nos ensinar a orar no sermão da montanha, Cristo aponta que na época era costume dos falsos adoradores orar em público, de pé, no meio das praças, para serem visto por todos e chamarem a atenção para si. E, aponta que a verdadeira oração deveria ser dirigida ao Pai em secreto, de preferência no seu quarto, com singeleza e sinceridade de coração.

Ao ensinar a oração do Pai Nosso Suas palavras ilustram muito bem que o verdadeiro louvor é algo simples, direto, com muito respeito, sempre reconhecendo que somos criatura e não Criador, que obedecemos e não criamos nossas próprias regras.

As passagens bíblicas que narram Jesus no templo aos sábados, O mostram como um adorador reverente, estudioso da Palavra, disposto a aprender e a ouvir, também a ensinar a partir de eventos da natureza ou do cotidiano de seus ouvintes. O verdadeiro adorador para Cristo era aquele que adoram ao Pai em espírito e em verdade (João 4:24.).

Quando o povo adorou a Jesus na Sua entrada triunfal em Jerusalém, estenderam suas roupas e ramos de árvores, clamando que Ele era o Filho de Davi (Mateus 21:8 e 9). Nessa ocasião em específico, não há relato sobre danças ou qualquer outra manifestação do gênero.

Já o apóstolo Paulo sempre recomendou aos irmãos que revelassem alegria em viver com Cristo. (I Timóteo 6:8; Gálatas 5:22; Filpenses1:3-4; 3:1), como era prática da nova igreja em Atos 2:46. Gosto muito destes versos: “Alegrai-vos sempre no Senhor, outra vez digo: alegrai-vos. Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. Perto está o Senhor.” (Filipenses 4:4-5).

A verdadeira alegria é moderada, cordata, que expressa mansidão e domínio próprio. Entendo a alegria de viver com Cristo aquela que é vista na prática cotidiana do amor não em explosões corporais, durante os cultos.

Por outro vértice, mesmo que se adotasse a dança na liturgia dos cultos, fato que a meu ver está em desacordo com o modelo bíblico de adoração e reverência, seria muito difícil explicar para o novo na fé que tais manifestações são diferentes do que vemos no mundo.

O povo quando adora um ídolo humano, seja um cantor, um líder político ou um artista, também usa de palmas, quando não de danças, o que sempre chama a atenção para a pessoa. Será mesmo que Deus se agrada deste tipo de adoração, que o mundo usa para coroar seus ídolos ou para revelar que certo homem é notável entre todos os outros? Talvez, o contexto bíblico em que Davi recomenda o uso das palmas para louvar a Deus, não seja o mesmo que vivemos hoje.

Lembro-me de Elias no monte Carmelo, quando em disputa contra os adoradores de Baal. Enquanto estes dançavam e gritavam, Elias ficou em silêncio. No momento de Elias invocar a presença de Deus, ele fez exatamente o contrário do que os baalins, pois sua oração foi singela e direta.

O final da história todos sabem e isso, a meu ver, é uma das maiores provas de que para adorar e invocar no nome de Deus não precisamos dançar ou gritar, ou até bater palmas, mas ter um coração contrito e sincero que busca a Sua presença.