por: Berit Kjos
Unidade e Comunidade
“Mas Deus diz que a vida se constitui de relacionamentos.” Rick Warren [1, p. 109]
“Os relacionamentos são a cola que mantém a igreja unida. As amizades são a chave para manter os membros na igreja. Certa vez um amigo me contou sobre uma pesquisa que realizou em sua igreja. Ele perguntou: ‘Por que você veio para esta igreja?’. 93% dos membros disseram: ‘Vim para cá por causa do pastor’. ‘E se o pastor sair da igreja, você também sairá?’ 93% das pessoas responderam: ‘Não’. Quando perguntou: ‘Por que você não sairia?’, eles responderam: ‘Porque temos amigos aqui!’ Note a mudança de aliança feita. Isso é normal e saudável.” … Pense relacionalmente!” [2] Rick Warren Relationships hold your church together [NT: Veja também: 3, p. 313-14]
“Quero ressaltar a importância de continuamente enfatizar para os membros a natureza corporativa da vida cristã”, escreveu Rick Warren em seu manual de gerenciamento de igrejas, Uma Igreja com Propósitos. “Pregue, ensine e fale sobre isto. Pertencemos uns aos outros e precisamos uns dos outros. Estamos conectados juntos como parte de um só corpo. Somos uma família. [3, p. 320]
Sim, aqueles que realmente pertencem a Cristo são um Nele! Somos parte de uma vasta e maravilhosa família que alcança todo o mundo e se estende pelo tempo até a eternidade! De fato, a comunhão que temos em Cristo – com aqueles que compartilham do mesmo Espírito, seguem o mesmo Pastor e se regozijam nas mesmas Escrituras – nos dá uma amostra antecipada da alegria que compartilharemos com nossa família celestial por toda a eternidade.
Mas o pastor Warren adiciona algumas razões organizacionais questionáveis para enfatizar a amizade e a unidade. Como ele explica em seu artigo Relationships hold your church together, a amizade entre os membros pode ser o meio mais eficiente de criar uma grande e forte igreja. Assim, no Movimento de Crescimento de Igrejas, a comunhão agradável às pessoas – planejada especificamente para ligar pessoas espiritualmente diversas entre si – se torna o propósito principal. Esse processo inclui os seguintes passos:
1. Enfatize continuamente a importância da amizade e da unidade, comprometimento (inclusive compromissos assinados) e participação comunitária. Reforce a uniformidade – a “natureza corporativa” da igreja. Essa é a base do “pensamento sistêmico”, nos negócios seculares ou eclesiásticos: tudo está interconectado; tudo é um. Nada tem significado a não ser que se enquadre “no todo maior”.
2. Crie estruturas organizacionais para trazer os visitantes e os novos membros rapidamente para os grupos pequenos onde “líderes de mudança” treinados poderão facilitar o diálogo, encorajar a formação de laços e monitorar o treinamento coletivo.
3. Advirta as pessoas sobre a falta de “responsabilidade” para com os cinco propósitos (ou “Declaração de Propósito”) – que estabelecem os limites para os tópicos a serem discutidos. Uma vez que tópicos “divisivos”, como a educação governamental ou o entretenimento ocultista, podem ser vistos como obstáculos para a unidade visada, eles freqüentemente não são incentivados, ou devem até mesmo serem banidos. Como diz o pastor Warren: “Uma ‘declaração de propósito’ reduz a frustração porque permite que esqueçamos as coisas que na realidade não têm importância.” [3, p. 89] É claro que a educação pública anticristã e o entretenimento popular de fato importam – mesmo que os “líderes de mudança” se recusem a reconhecer sua influência em nossas crianças.
4. Empacote a verdade de formas palatáveis e agradáveis a todos: membros, incrédulos e buscadores da mesma forma. Evite as Escrituras ofensivas e as advertências divisivas. Remova a ênfase nos absolutos bíblicos e em “doutrina” pois atrapalham a unidade e a “mudança contínua”.
5. Use compromissos assinados, o processo dialético e a contínua avaliação para manter todos os membros compromissados com o tipo de comunhão requerido pelo sistema gerencial orientado por propósitos.
A Igreja da Comunidade de Saddleback padroniza esses cinco pontos e muitas outras instruções para o crescimento da igreja e sua unidade, que veremos posteriormente. Mas, primeiro, consideremos os ensinos do pastor Warren sobre o corpo de Cristo – a comunhão dos crentes. Embora seu livro contenha muitas promessas encorajadoras, também oculta algumas estranhas meias-verdades e sugestões problemáticas. A primeira citação abaixo enquadra-se perfeitamente na nova visão coletiva e holística de que todas as partes de uma organização (o sistema) devem estar interconectadas – e que os indivíduos só têm valor ou significado de acordo com seu lugar no sistema como um todo. (Essa visão holística agora permeia, guia e une as organizações em todo o mundo) Com essa visão em mente, considere as cinco próximas declarações do pastor Warren:
“Você descobre o seu papel na vida pelo relacionamento com os outros. A Bíblia diz: ‘Cada parte tem seu sentido no corpo como um todo, e não ao contrário. … Mas como um dedo amputado ou um dedão arrancado não seríamos grande coisa, não é mesmo? ‘” [1, p. 115]
“A Bíblia não apresenta nenhum santo solitário ou eremita espiritual que tenha vivido isolado dos outros crentes, privado de companhia.” [1, p. 114]
“A forma de você tratar as outras pessoas, e não sua riqueza ou realizações, é a influência mais duradoura que se pode deixar na Terra. Como disse Madre Teresa: ‘Não é o que você faz, mas o quanto de amor você coloca no que faz que realmente importa.” [1, p. 110]
“Deus quer que sua família seja conhecida pelo seu amor, mais do que por qualquer outra coisa. Jesus disse que nosso amor uns pelos outros – e não nossas crenças doutrinárias – é o nosso maior testemunho perante o mundo.” [1, p. 108]
“Sempre que você dá seu tempo, está fazendo um sacrifício e o sacrifício é a essência do amor. Jesus foi um exemplo disso: “Sejam cheios de amor pelos outros, seguindo o exemplo de Cristo, que amou vocês e se entregou a Deus como sacrifício a fim de tirar os seus pecados.’” [1, p. 112] (Efésios 5:2 Biblia Viva)
Você vê as mensagens conflitantes? O aprisionado apóstolo Paulo, um “santo solitário” separado de seus irmãos cristãos no fim de sua vida, é um dos numerosos exemplos bíblicos de homens e mulheres que se tornaram fortes na fé, enquanto permaneciam solitários e compartilhavam os sofrimentos de Jesus. Confira os Salmos, os Livros de Isaías, Jeremias e de outros profetas perseguidos, os evangelhos… Lembre-se que em muitas prisões comunistas, a fé bíblica inflexível de crentes torturados trouxe multidões de outros prisioneiros – até mesmo inquisidores e verdugos de coração duro para Cristo. Sim, nosso amor visível, concedido por Deus, de uns para com os outros demonstra um dom divino que o mundo deseja, mas não pode reproduzir. Mas apenas a verdade do evangelho (doutrina), vivificada pelo Espírito, pode acender essa mesma vida e amor de Deus em outras pessoas. O “amor” sem a verdade não pode trazer os incrédulos para o reino de Deus.
Na última das cinco citações, o pastor Warren iguala o “tempo” que damos a nossos amigos com o sacrifício transformador de vidas de Cristo por nós. Esse princípio gera as seguintes perguntas: Nosso “sacrifício” deve ser motivado e realizado pelo Espírito ou qualquer tipo de “sacrifício” de tempo conta? E se esse sacrifício glorifica o doador humano e não a Deus? Isso poderia nos tentar a idealizar as “boas obras”, como o trabalho altruísta de Madre Teresa, uma freira católica que tinha uma visão universalista de Deus e da cruz? Ela dizia que via “Jesus em cada pessoa” (a maioria de seus pacientes eram hindus doentes e moribundos) – uma noção compassiva, mas totalmente contrária à Palavra de Deus.
Sem doutrina bíblica e um claro entendimento da Palavra de Deus, é muito fácil definir o amor (amor a Deus, amor pelas pessoas…) em termos humanos que contradizem os próprios ensinos de Deus sobre Si mesmo e Sua eterna lei moral. [4] Poderíamos simplesmente aplicar as definições mundanas para amor, compaixão, relacionamentos e simpatia para conceitos que lidam com as realidades espirituais. Em seguida, aplaudimos uns aos outros por alcançarmos nossos próprios padrões agradáveis, esquecendo- que nossos esforços humanos não são nada mais que “trapo da imundícia” à vista de Deus. [Isaías 64:6]
O profeta Isaías entendeu isso bem. O que conta não é nossa visão cultural sobre o que é certo, mas conhecer e seguir os caminhos de Deus, que diferem radicalmente dos nossos. Lembre-se de Isaías 55:8-9 e 64:4-5, onde Deus nos exorta a lembramos Dele “de acordo com Seus caminhos” – de acordo com o que revelou sobre Si mesmo, não de acordo com nossas próprias percepções míopes, boas intenções, pensamento voluntarioso ou ideais nobres (ou visões). Se nossos relacionamentos se baseiam em metas humanas e em estratégias organizacionais em vez de na fé bíblica e no Espírito Santo, são inúteis para o reino de Deus.
Quando minimizamos a santa Palavra de Deus e suas instruções, cegamos a nós mesmos. Quando convenientemente borramos a linha entre o que Deus chama de certo e errado, nem mesmo saberemos onde nos perdemos. E, quando rejeitamos as instruções bíblicas, considerando-as “doutrinas” fora de moda, tornamos-nos vulneráveis aos enganos intemporais que desviam a base do nosso pensamento de Suas verdades imutáveis para as fábulas e ilusões – como Deus adverte em 2 Timóteo 4:3-4.
Mas as afirmações do pastor Warren fazem sentido para uma geração pós-moderna que valoriza mais os relacionamentos humanos do que a verdade. Afinal, a Palavra absoluta e inflexível de Deus (doutrina) de fato causa divisão. Ela corta uma linha divisória entre a verdade e o erro. “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.” [Hebreus 4:12]
Essa verdade penetrante é incompatível com a uniformidade necessária ao novo “pensamento sistêmico” [veja Chuch Growth Glossary] e ao gerenciamento da igreja coletiva. Como afirma o pastor Warren:
“Mas, para o bem da unidade, não devemos deixar que nossas diferenças nos dividam jamais. Precisamos nos manter concentrados no que mais importa – aprender a amar uns aos outros como Cristo nos amou e cumprir os cinco propósitos de Deus para cada um de nós e Sua igreja. O conflito é normalmente sinal de que o foco foi desviado para assuntos menos importantes; coisas que a Bíblia chama de assuntos controvertidos. Quando nos concentramos em personalidades, preferências, interpretações, estilos ou métodos, a divisão sempre acontece.” [1, p. 141]
Isso parece bom. Não devemos enfocar nas personalidades, preferências, estilos ou métodos. Mesmo assim, o pastor Warren parece intensamente focalizado em seus métodos estruturados para a transformação da igreja e comunica esses métodos para as igrejas em todo o mundo como se tivessem saído da Bíblia, não das Escolas de Administração de Harvard e do MIT.
O maior problema com a declaração acima é outra palavra que o pastor Warren coloca em sua lista de “assuntos menos importantes”: “interpretações”. A tendência atual em direção a interpretações contextuais da Palavra de Deus (adaptada para se encaixar no contexto da cultura popular) deturpa seus significados em mensagens agradáveis feitas sob medida tanto para o mundo incrédulo, quanto para o movimento ecumênico mundial. E as “interpretações” pragmáticas do pastor Warren parecem criadas para bloquear qualquer argumento bíblico tanto contra o processo de transformação mental que guia a amizade quanto contra os métodos gerenciais que guiam sua igreja.
Deixe-me repetir essa declaração enganosa a respeito dos limites sobre que tipos de tópicos e problemas podem ser discutidos:
“Uma ‘Declaração de Propósito’ reduz a frustração porque permite que nos esqueçamos das coisas que na realidade não têm importância. A Bíblia diz em Isaías 26:3 que Deus ‘…dará perfeita paz àquele que mantém seu propósito firme, e põe sua confiança em ti’. (Today’s English Version) O propósito claro não somente define o que fazemos, mas também o que não fazemos … O segredo de ser eficiente é saber e fazer o que realmente deve ser feito, e não se preocupar com o que não pode ser feito” [3, p. 89; ênfase no original]
Tenha em mente que as traduções padrão da Bíblia não usam a palavra “propósito” nesse verso. Você não preferiria manter seu coração e sua mente focados em Jesus e em sua Palavra em vez de nos propósitos definidos por Rick Warren?
“Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti.” [Isaías 26:3] | “Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti.” [Isaías 26:3] |
De acordo com o pastor Warren, o foco deve estar nos relacionamentos e na unidade – os tipos de relacionamentos que o ajudem a sentir-se bem consigo mesmo e com o grupo. Questões divisivas (que podem incluir qualquer coisa controversa, desde o ensino anticristão das escolas públicas aos livros e o entretenimento popular) são desaprovadas, independente de quão importantes sejam para a fé e para os valores da sua família. Essas questões não se encaixam nos cinco propósitos da Igreja da Comunidade de Saddleback! Elas podem até mesmo entrar em conflito com a atmosfera afirmativa da igreja e fazer as pessoas se sentirem desconfortáveis. Em contraste, o pastor Warren proclama uma mensagem mais positiva – uma mensagem de acordo com a ênfase educacional atual na auto-estima:
“Você é parte da família de Deus e, por Jesus tê-lo feito santo, Deus tem orgulho de você! As palavras de Jesus são inequívocas: “E, estendendo a mão para os discípulos, disse: Aqui estão minha mãe e meus irmãos! Pois quem faz a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe.” [Mateus 12:49-50] [1, p. 106; ênfase adicionada]
Essas declarações suscitam algumas questões. Primeiro, Deus realmente sente orgulho de nós? De qualquer um de nós ou de todos nós? Não é a Sua justiça, não a nossa, que torna Seu povo santo? Jesus nos deu uma resposta muito tempo atrás. Não desejando que seus discípulos pensassem “muito além do que convinha” de si mesmos e de suas próprias “boas obras”, Ele contou uma parábola sobre o papel de um servo, que termina com a seguinte pergunta: “Porventura dá graças ao tal servo, porque fez o que lhe foi mandado? Creio que não. Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer.” [Lucas 17:9-10] Paulo conhecia essa verdade muito bem. Confiante de que tudo o que havia de bom nele vinha de Deus e não de si mesmo, podia regozijar-se totalmente na vitória de Deus em seu favor. “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.” [Gálatas 6:14] [5]
Em segundo lugar, Mateus 12:49-50, a Escritura que o pastor Warren usa para provar seu argumento, pelo menos se relaciona com esse ponto em particular? Todos os leitores do pastor Warren conhecem a revelada “vontade de Meu Pai” ou poderiam ser enganados pelas muitas Escrituras tiradas do contexto? Além disso, quando o pastor Warren faz mau uso da Palavra de Deus, não poderia estar construindo um falso fundamento para a unidade cristã?
Não pode haver verdadeira ou duradoura unidade a não ser que ela seja baseada na Palavra de Deus e sem contemporizações. Quando as igrejas adotam as mesmas estratégias psicosociais usadas pelas escolas públicas para o treinamento multicultural – e também pelos governos e empresas em “desenvolvimento-comunitário” para a solidariedade social – precisam distorcer ou esconder as Escrituras contrárias, como II Coríntios 6:12-18. [6] Não se pode agradar a Deus apoiando-se em métodos de sucesso do mundo. Quando as igrejas reinterpretam e adaptam partes da Bíblia de acordo com as percepções pós-modernas e as “necessidades sentidas”, mudam seu fundamento da sabedoria de Deus para as estratégias e regras humanas. Uma dessas estratégias é simplesmente descartar as advertências bíblicas e “disciplinar” ou expulsar os membros preocupados e piedosos, reputando-os como “divisivos”. [7]
A disciplina na igreja é bíblica e estou satisfeita em ver que o pastor Warren a mantém. Mas quando a disciplina bíblica é usada de forma contrária à Bíblia para remover os obstáculos a um processo mundano, não pode trazer sucesso bíblico. É difícil separar todas as coisas boas que o pastor Warren diz de algumas de suas impressionantes distorções, mas Deus diz: “Examinai tudo. Retende o bem. Abstende-vos de toda a aparência do mal.” [I Tessalonicenses 5:21-22] Portanto, considere estas afirmações:
“Todos os candidatos devem cursar a Classe de Membros e assinar um compromisso. Assinando o compromisso, concordam em contribuir financeiramente, em servir ao ministério, em compartilhar sua fé, em seguir a liderança … Se você não cumprir o pacto, será retirado do rol de membros. Todos os anos, removemos centenas de nomes de nosso rol.” [3, p. 58]
“Regras de Rick para o Crescimento.” Primeiro, existe mais de uma maneira de fazer com que uma igreja cresça… Segundo, são necessários todos os tipos de igrejas para atingir todos os tipos de pessoas. Graças a Deus não somos todos iguais! Deus ama a variedade… Por fim, nunca critique aquilo que Deus está abençoando, mesmo que seja um estilo de ministério que faça com que alguns de nós não nos sintamos muito à vontade.” [3, p. 64-65]
“Quando o corpo humano está fora de seu equilíbrio normal, dizemos que está doente. Se o Corpo de Cristo está desequilibrado, fica doente… A saúde acontecerá quando o equilíbrio do corpo retornar ao normal. A tarefa da liderança da igreja é descobrir e remover as barreiras e doenças que restringem o crescimento, para que haja um desenvolvimento natural e sadio.” [3, p. 20]
“Deus abençoa igrejas unidas. Na Igreja de Saddleback, cada membro assina um pacto que inclui uma promessa de proteger nossa unidade. Conseqüentemente, a igreja jamais teve um conflito que dividisse a congregação. Tão importante quanto isso é o fato de todos quererem fazer parte dela … Quando Deus tem um punhado de novos cristãos que quer libertar, ele busca como incubadora a igreja mais carinhosa que puder encontrar.” [1, p. 145-6]
Busca mesmo? Eu poderia citar diversos exemplos opostos – incluindo minha própria experiência. De fato, tanto a Palavra de Deus quanto a história factual sugere que nosso Senhor tem inúmeras maneiras de treinar os novos convertidos. Muitos de Seus filhos mais frutíferos são nascidos do Espírito e nutridos ao custo de desafios impensáveis. Ao contrário dos líderes do Movimento de Crescimento de Igrejas e dos “agentes de mudança” contemporâneos, Deus não padroniza Seus métodos ou mede Seus triunfos pelas definições mundanas de sucesso, unidade ou solidariedade.
Tenha em mente que as atuais Comunidades do Crescimento de Igrejas não são nada amigáveis com os membros que questionam os sistemas de marketing eclesiástico, as contínuas avaliações e os sistemas de dados digitais que avaliam a “energia relacional”. Muitas dessas igrejas são rápidas em “disciplinar” e excluir aqueles que se recusam a aderir aos diálogos dos grupos pequenos ou a assinar os compromissos. Veremos mais atentamente essa parte do sistema gerencial do Movimento de Crescimento de Igrejas nas partes seguintes deste estudo.
O testemunho de partir o coração daqueles que foram forçados a deixar essas igrejas em rápida transformação nos faz pensar que uma comunidade que pressiona as pessoas a aceitarem seu molde de marketing mundial pode ser mais perigosa para a fé e para a compreensão bíblica que a ausência de uma comunidade de igreja.
Esse programa não é sobre unidade bíblica e comunidade. A Igreja da Comunidade de Saddleback e as outras igrejas do Movimento de Crescimento de Igrejas não têm um monopólio sobre a unidade. Na verdade, a unidade (ou solidariedade) é o principal alvo de alguns dos mais poderosos sistemas gerenciais em todo o mundo, [8] e seu eminente guia comunitário, Peter Drucker, persegue os mesmos objetivos organizacionais que Rick Warren. Referindo-se à responsabilidade da igreja em servir e ir de encontro às necessidades de bem-estar em suas comunidades, Drucker diz:
“O pastor, como gerente, deve identificar os pontos fortes e as especializações deles [que o pastor Warren chama de dons espirituais e habilidades], direcioná-los e equipá-los para o serviço, e capacitá-los a trabalhar no harmonioso e produtivo todo conhecido como corpo de Cristo.” [9]
Em outras palavras, a igreja e o mundo se tornam parceiros na atual grande experiência de educar os recursos humanos para a criação de uma sociedade global unificada. Sim, devemos amar-nos uns aos outros e nos importarmos com os pobres. Mas não podemos nos conformar com o sistema mundial. Nem podemos usar as estratégias psicosociais do mundo (disfarçadas com termos e frases bíblicas) sem deturparmos a Palavra de Deus e voltarmos as costas para Jesus Cristo, nossa única fonte verdadeira de unidade. Lembre-se das advertências de Deus:
“Ninguém se engane a si mesmo. Se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia. E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são vãos. Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso.” [I Coríntios 3:18 -21]
“Porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.” [Mateus 7:13-14]
Sugerimos a leitura dos seguintes artigos: Social Change and Communitarian Systems e The Shepherding Movement Comes of Age
Notas Finais
1. Rick Warren, Uma Vida com Propósitos. São Paulo, Editora Vida, 2003. Leia Driven or Led?
2. Rick Warren, Relationships hold your church together. Disponível em: http://www.pastors.com/article.asp?ArtID=3917
3. Rick Warren, Uma Igreja com Propósitos, Segunda Edição, São Paulo, Editora Vida, 2004.
4. A lei moral de Deus não pode salvar-nos nem dar a força necessária para obedecermos suas instruções. Mas nos dá um padrão sobre o que é certo ou errado – e isso nos ajuda a entender a santidade, justiça, misericórdia e a graça de Deus.
5. Não devemos ser “dirigidos” por alguma coisa. Em vez disso, “…corramos com paciência a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz.” [Hebreus 12:1-2]
6. “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e eu vos receberei; e eu serei para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso.” [II Coríntios 6:12-18]
7. “Mas não entres em questões loucas, genealogias e contendas, e nos debates acerca da lei; porque são coisas inúteis e vãs. Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o, sabendo que esse tal está pervertido, e peca, estando já em si mesmo condenado.” [Tito 3:9-11]
8. Veja: “The Global Quest for Solidarity” em: http://www.crossroad.to/text/articles/solidarity.html
9. Christianity Today, “The Business of the Kingdom”, 15 de novembro de 1999.
Fonte: A Espada do Espírito
Tradução: Maria Stella Tupynambá
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