(Falsas) Estratégias de Crescimento para a Igreja

Pragmatismo na Igreja – Capítulo 10

por: Mac Dominick

Pragmatismo na Igreja – Uma Religião Orientada Para Resultados: Uma Apostasia com Propósitos

Brincando de Igreja com o Jogo dos Números — Parte 3

Em 1996, metade dos americanos freqüentadores de igreja participava de somente 12% das igrejas do país (1) e a tendência de formação de mega-igrejas continua em ritmo crescente. Existem muitas razões para essa tendência, mas em grande parte, o crescimento das mega-igrejas está baseado na aposta que os membros dessas igrejas fazem parte de uma organização que exemplifica aquilo que é reconhecido como sucesso. Embora essas igrejas certamente tenham um impacto muito positivo em seus bairros e cidades e sejam vistas como virtuais centros de refúgio dentro do charco moral em grande parte decadente do novo milênio; é preciso novamente repetir a pergunta — O sucesso percebido de uma organização religiosa que recebe aplausos entusiásticos dos homens é necessariamente equivalente à aprovação de um Deus santo? Além disso, em que base se estabelece aquilo que Deus aprova? As respostas honestas a essas perguntas precisam depender unicamente da obediência aos ensinos doutrinários e aos métodos detalhados na Palavra de Deus; e pode-se chegar logicamente à conclusão que qualquer igreja ou organização religiosa em crescimento que se afasta das instruções da posição bíblica está meramente experimentando crescimento com base nos mesmos conceitos utilizados por qualquer empresa secular em expansão. A partir da perspectiva do novo paradigma, a infusão desses conceitos seculares nas operações da igreja é classificada como “novo modo de pensar”.

Um conhecido pastor do novo paradigma deu um perfeito exemplo do novo modo de pensar quando afirmou, “As igrejas que se empenham para serem igrejas do Novo Testamento precisam buscar viver seus princípios e absolutos, não reproduzir os detalhes.” (2) O que ele quer dizer com “princípios”, “absolutos” e “detalhes”? A definição que ele faz desses termos ficaram claros quando também afirmou, “Estamos no negócio de construir o Reino de Deus.” (3) Com base nessas duas declarações, pode-se somente assumir que ele quer dizer que a igreja precisa manter as doutrinas fundamentais da fé, mas esquecer-se das instruções para as igrejas dadas aos coríntios, a Timóteo (veja o Capítulo 8) e aos outros destinatários das epístolas do Novo Testamento em favor dos princípios empresariais do marketing discutidos na “Regra 1”. O problema com essa abordagem é o simples fato que a metodologia da Palavra de Deus não pode ser ignorada e ao mesmo tempo a pureza de sua doutrina ser mantida. Como afirmado em um capítulo anterior — a obra de Deus precisa ser realizada do modo de Deus. Uma vez que os métodos do homem são empregados, a Palavra de Deus é contemporizada, e uma contemporização leva a outra até que o cristianismo autêntico deixa de existir. Quando levado até suas conclusões lógicas, esse é o ponto culminante da Religião Orientada Para Resultados.

O fato é que a maioria das mega-igrejas afirma ser “orgulhosamente evangélicas”. (É preciso observar que sob o guarda-chuva do termo “evangélico” residem muitas tonalidades de igrejas não-denominacionais, interdenominacionais, conservadoras, carismáticas e independentes.) (mas)… geralmente não as fundamentalistas”. (4). Essa declaração fundamental de posicionamento doutrinário é confirmada pela descrição, “… eles levam a Bíblia muito a sério, se não sempre literalmente”. (5). Francamente, Lúcifer e seus anjos caídos encaram a Bíblia com muita seriedade, mas há um “grande abismo” que separa uma posição da inerrância literal ou uma interpretação literal da Palavra de Deus e meramente “encarar a Bíblia com seriedade”. Essa visão menos que literal da Palavra de Deus está levando muitos que usam o distintivo de “evangélico” a direções que continuam a alargar a distância entre as igrejas que mantêm a verdade bíblica e aquelas que estão simplesmente brincando de igreja.

Essas direções são evidentes na declaração citada anteriormente de um pastor de uma dessas mega-igrejas quando disse: “Estamos no negócio de construir o Reino de Deus'”. (6) Embora essa afirmação possa soar boa à primeira vista (e as intenções do pastor possam muito bem ser nobres — Deus é o juiz nesta matéria) há um erro insidioso e duplo nessa filosofia:

1. “Estamos no negócio de…”

A essência dessa frase foi abordada na “Regra 2” do Jogo da Igreja do Novo Paradigma (veja o Capítulo 9). Muitos pastores de mega-igrejas vêem a si mesmos como o equivalente de um executivo presidente de uma grande empresa, e a igreja deve ser administrada como uma empresa secular. O empresário texano Bob Buford, da Rede de Liderança, está intimamente envolvido nos aspectos de negócio do Movimento da Igreja do Novo Paradigma. A organização dele tem infundido as filosofias do consultor empresarial Peter Drucker no modelo de crescimento de igreja. Drucker acredita que as igrejas precisam fazer as seguintes perguntas:

  1. Qual é nosso negócio?
  2. Quem é o cliente?
  3. O que nosso cliente considera valor? (7)

Essas perguntas formam a filosofia central de participar no “negócio de construir o ‘Reino de Deus'”. Como afirmado no Capítulo 9, essa filosofia vem com crescimento — porque com crescimento vem um maior encargo financeiro e obrigações — para não mencionar a pressão para obter mais crescimento. Portanto, o pastor da mega-igreja que brinca com o Jogo da Igreja do Novo Paradigma precisa mudar sua posição de um líder espiritual, cuja principal responsabilidade é a fidelidade à Palavra de Deus, para a de um facilitador e executivo cuja principal responsabilidade é o crescimento numérico e financeiro.

2. “… construindo o Reino de Deus”

  • A maioria dos cristãos não tem ideia do que envolve o “Reino de Deus”, muito menos como “construí-lo”. Isso se deve ao fato que a Igreja Católica Romana afirma ser a manifestação do Reino de Deus na Terra, com o papa como o “Vigário de Cristo”, como seu líder. Isso surgiu da ideia que os judeus perderam o direito ao Reino Judaico quando crucificaram Jesus Cristo e a igreja os substituiu, ou suplantou, como herdeiros desse “reino”. Entretanto, essa doutrina não somente é sem sustentação alguma na Palavra de Deus, mas é refutada pelo conjunto de Escrituras proféticas. Subseqüentemente, a retenção pela Reforma Protestante de muitos ensinos errôneos do catolicismo (veja o Capítulo 2), instilando a ideia da igreja como “Reino de Deus” ou encarregando os cristãos de expandirem ainda mais o Reino de Deus continua a ser ecoada por membros de igreja mal-orientados de todos os matizes.
  • Essa “terminologia do Reino” também tem sido elevada nos anos recentes por carismáticos como Jack Hayford e Pat Robertson, dois dos principais expoentes da Teologia do Domínio. (Para uma descrição detalhada da Teologia do Domínio, veja o Capítulo 5.) Essa terminologia infiltrou-se na igreja por meio das livrarias “cristãs”, a rede de televisão TBN, o Clube 700, e os “corinhos de louvor”, como Majestade, cantados todos os domingos até mesmo em igrejas fundamentalistas e baseadas na Bíblia.
  • A Palavra de Deus ensina a existência de dois “reinos”. O primeiro é o “Reino de Deus” eterno, ou Reino dos Céus” (os dois termos são usados intercambiavelmente) onde está o trono eterno de Deus nos céus. Esse reino já está implantado e Deus certamente não precisa da ajuda de homem algum para construir seu reino.
  • O segundo reino é o “Reino Milenar”, que será presidido por Jesus Cristo em sua segunda vinda. É nesse reino que Deus cumprirá suas promessas feitas aos patriarcas de Israel e ao seu servo Davi. Embora a igreja arrebatada e glorificada esteja envolvida nesse reino, o Reino Milenar não será “construído” até a segunda vinda de Cristo.
  • A Palavra de Deus absolutamente não ensina que a igreja governará o mundo via um governo mundial teocrático antes da vinda de Jesus Cristo, como insistem os teólogos dominionistas.

Portanto, qualquer pessoa que declare “estar no negócio de construir o reino de Deus” não somente está demonstrando uma falta de compreensão da Palavra de Deus, caindo presa de ensinos errôneos, católico romano ou dominionista, mas também está brincando com Jogo da Igreja do Novo Paradigma. Essa afirmação praticamente resume as Regras de 1 a 3 do Jogo da Igreja do Novo Paradigma e leva os participantes ao próximo nível do jogo — as Regras de 4 a 5.

Regra 4
“Nunca critique aquilo que Deus está abençoando.” (8)

Esta regra baseia-se em duas suposições:

  1. CRESCIMENTO = BÊNÇÃO.
  2. OS CRISTÃOS DEVEM EVITAR AVALIAR FRANCA E PUBLICAMENTE OS MÉTODOS OU MOVIMENTOS NEO-EVANGÉLICOS.

Uma vez que alguém pragmaticamente faça a primeira suposição que CRESCIMENTO = BÊNÇÃO, abre-se para as mais pavorosas conclusões. Por exemplo, a Associação Batista de Dallas, no Texas, ao promover a “Conferência de Transições da Igreja” declarou o seguinte:

  • Deus está realizando uma nova coisa (veja os Capítulos 8 e 9) no mundo!
  • 40 mil pessoas por dia estão confiando em Cristo na América Latina.
  • 70 mil pessoas por dia estão confiando em Cristo na China.
  • As maiores igrejas na história do cristianismo estão sendo construídas agora.
  • Países inteiros estão experimentando um reavivamento.
  • Em todo o mundo, os líderes das igrejas estão tendo um novo sonho sobre como “fazer igreja”. (9).

(A propósito, foi Dan Southerland quem ministrou esse seminário aos membros da ABD, em abril de 2003. Ele é o autor de Transição: Dirigindo Pessoas Através da Mudança e foi citado diversas vezes no Capítulo 9. Ele também é diretor e fundador da Church Transitions Inc. Essa organização ensina às igrejas o “Processo da Transição” de um modelo bíblico, separado e tradicional para o modelo do novo paradigma — posicionado para o crescimento exponencial. Como uma nota lateral, o boletim também faz a afirmação, “Venha e tenha comunhão com Dan, tenha comunhão com seus colegas no Reino…” (Novamente, a metodologia mal colocada leva ao erro doutrinário.).

Essa promoção está tentando vender a ideia que chegou o tempo de pular para dentro do vagão e provocar uma transição em sua igreja, de uma posição tradicional e separada para o modelo do novo paradigma porque Deus está abençoando o novo sonho de como fazer igreja com números que estão levando países inteiros ao reavivamento! Agora, quem em sã consciência não quereria receber esse derramamento das bênçãos de Deus? Qual cristão não gostaria de ver milhares de pessoas convertendo-se a Cristo? Qual pastor não gostaria que sua igreja fosse a maior igreja na história do cristianismo? Além de fazer essas perguntas, deve-se também ser muito cuidadoso para não ser nem um pouquinho crítico desses sucessos porque tal espírito crítico seria o mesmo que criticar o derramamento do Espírito de Deus.

Além disso, se alguém conclui que CRESCIMENTO = BÊNÇÃO, a lógica diz que NENHUM CRESCIMENTO = MALDIÇÃO. Com base na conclusão que nenhum crescimento é o resultado da maldição de Deus sobre um dado ministério, existem milhares de pastores e missionários que trabalharam fielmente durante anos sem ver frutos visíveis de seus esforços que foram sem dúvida amaldiçoados por Deus. Poderia essa possibilidade ser verdadeira? Se o crescimento numérico deve ser a base para as bênçãos de Deus, não seriam a Igreja Católica Romana e a Igreja Mórmon as duas organizações mais abençoadas que “usam o nome de Jesus Cristo na face da Terra? Isso significa que qualquer pequeno trabalho é um triste fracasso à vista de Deus? Todos devem brincar de igreja com os números ou arriscar incorrer na maldição de Deus? Todos os verdadeiros pastores tementes a Deus estão sonhando esse “novo sonho”? De onde esse novo sonho se originou? Esse “sonho” é o resultado da liderança do Espírito Santo de Deus, ou é a tática de marketing que alguém esquematizou para obter um determinado resultado?

Embora todas essas perguntas mereçam uma resposta, outras questões precisam ser feitas primeiro: de onde a Associação Batista de Dallas obteve essas informações? Estão esses números de “pessoas que estão se convertendo a Cristo” vindo de igrejas bíblicas ou dos serviços carismáticos de informações? Os ministérios carismáticos têm um histórico de anunciar grandes reavivamentos em países do Terceiro Mundo, lotando os estádios com pessoas que desejam a cura para suas enfermidades físicas ou testemunhar algum sinal sobrenatural. Foi exatamente o que aconteceu anos atrás no Brasil. De acordo com fontes como PTL (Praise The Lord) e TBN (Trinity Broadcast Network) houve um grande reavivamento no Brasil, mas contatos com missionários fundamentalistas bíblicos naquele país revelam que esse reavivamento foi uma total fabricação. A mesma dúvida precisa ser lançada nos números da Associação Batista de Dallas, e certamente ninguém em boa consciência poderia atribuir à metodologia do novo paradigma qualquer genuíno reavivamento — pois há uma vasta diferença no verdadeiro reavivamento e um resultado numérico baseado nas táticas de marketing das agências de propaganda situadas na Avenida Madison, em Nova York.

Isto posto, o terreno foi preparado pela Associação Batista de Dallas para que qualquer indivíduo em seu meio que venha a criticar o Seminário de Transições das Igrejas seja rotulado de divisivo ou cismático por criticar o derramamento do Espírito Santo. Os números são verdadeiramente convincentes e a evidência parece ser massacrante, de modo que por que alguém poderia pensar em criticar tal movimento? De modo a ganhar uma melhor compreensão, um exame mais de perto em alguns dos detalhes dessa transição precisam ser investigados. As seguintes são as orientações para fazer a transição da igreja conforme delineadas pelos principais pensadores do novo paradigma:

  1. Faça tudo o que for necessário para alcançar as pessoas para Cristo.
  2. Esqueça as preferências pessoais para alcançar os perdidos.
  3. Enfoque os objetivos pragmáticos medidos em vez de os objetivos acadêmicos.
  4. Enfoque na experiência.

Cada um desses pontos precisa ser tratado rapidamente para se compreender bem as direções do pensamento do novo paradigma.

1. Faça tudo o que for necessário para alcançar as pessoas para Cristo.

Essa primeira orientação soa muito piedosa e espiritual. Aceitando-se essa afirmação como está, a maioria dos leitores deste manuscrito concordaria que tais esforços de evangelismo são requeridos desde que a metodologia esteja dentro do contexto bíblico. Entretanto, é preciso lembrar o contexto dessa afirmação. Ela deve ser lida assim: “Faça tudo o que for necessário para alcançar seu mercado-alvo para Cristo.” Isso simplesmente significa que uma igreja precisa:

  1. Fazer toda a pesquisa de marketing necessária para identificar os desejos e as necessidades do mercado.
  2. Desenvolver um plano sistemático para apelar a esses desejos e necessidades.
  3. Dar ao mercado-alvo aquilo que ele quer.
  4. Ler, traduzir e identificar-se com a cultura do mercado-alvo.
  5. Uma vez que os indivíduos visados estejam no edifício da igreja, manipulá-los psicologicamente até o ponto em que recebam o evangelho de Cristo.

A distância desses conceitos dos princípios da Palavra de Deus devem “fazer gelar o sangue nas veias” de qualquer filho genuíno de Deus. Isso exemplifica, entretanto, a transição da “Religião dos Velhos e Bons Tempos” para a Religião Orientada Para Resultados.

2. Esqueça as preferências pessoais para alcançar os perdidos. (12).

Novamente, essa afirmação precisa ser vista em seu contexto. Por exemplo:

  1. A preferência de um estilo de adoração tradicional sobre a escolha de um serviço contemporâneo de escolha do mercado-alvo.
  2. A preferência de hinos tradicionais para os “corinhos de louvor”.
  3. A preferência da Bíblia Almeida Corrigida e Fiel [equivalente da King James Version] para uma pletora de traduções modernas.
  4. A preferência de um coro de igreja para uma “banda de louvor”.
  5. A preferência da pregação expositiva para sermões curtos e práticos e/ou apresentações dramáticas.
  6. A preferência para buscar alcançar toda a cidade/bairro em vez de apenas o mercado-alvo.

Algumas dessas preferências serão discutidas em detalhes dentro da “Regra 5” e a lista poderia ser bem mais extensa; mas o ponto está claro. Muitas questões do serviço da igreja ou procedimentos operacionais da igreja vistos pelo modo de pensar do novo paradigma como meras “preferências” são vistos por aqueles que interpretam a Palavra de Deus literalmente como princípios bíblicos. A estratégia para atacar (ou marginalizar) aqueles que escolhem tomar uma posição nessas questões e em questões similares serão verbalizadas com a defesa: “Isto não é bíblico — é apenas sua preferência pessoal e você está fazendo que suas preferências impeçam a obra de Deus.”.

3. Enfoque em objetivos pragmáticos e medidos em vez de acadêmicos. (13).

O foco nos objetivos pragmáticos está baseado na mesma posição que CRESCIMENTO=BÊNÇÃO. Os objetivos pragmáticos dizem que se um plano de ação resulta na execução bem sucedida de um determinado resultado, esse resultado (bem como os métodos usados para alcançar o resultado) precisam ser a vontade de Deus para o ministério e evidências da bênção de Deus. Além disso, para garantir a replicação do resultado, o processo precisa passar por precisas medições e procedimentos. Essas medições podem estar baseadas no número de respondentes, no dinheiro coletado nas ofertas, na venda de materiais relacionados, ou no crescimento mensurado da igreja. Essas mensurações podem ser equiparadas aos balanços de lucros e perdas ou gráficos de crescimento das receitas. Todo esse programa é muito similar aos modelos empresariais, como o Controle Estatístico do Processo, os procedimentos das normas ISO, ou o Gerenciamento da Qualidade Total. A chave para o processo neste caso, entretanto, é a correlação do sucesso do programa com as bênçãos de Deus no próprio processo.

Por outro lado, o “antigo modo de pensar” pode incluir objetivos acadêmicos e não-pragmáticos, como expor a verdade da Palavra de Deus, a edificação dos ouvintes, a comunhão dos crentes, o crescimento espiritual, o impacto da Palavra de Deus nos corações dos ouvintes, corações transformados, vidas transformadas e vida santa. Todos esses objetivos acadêmicos e tradicionais não necessariamente resultariam em crescimento da igreja. As pessoas que porventura compareçam a um serviço de igreja que propague esses objetivos podem não tolerar a intrusão da Palavra de Deus em seus desejos carnais; e alguns indivíduos podem não lidar bem com a afronta ao seu estilo de vida pessoal. Além disso, muitos desses objetivos nunca poderiam ser medidos precisamente deste lado da eternidade. Entretanto, a obtenção desses objetivos colherá retribuições eternas em vez de garantir auto-satisfação temporária do ouvinte ou o crescimento e enriquecimento da organização.

4. Enfoque na Experiência. (14).

Os “Três Pilares” da igreja orientada para resultados são “Relevante, Animada e Prática”. Esses três pontos focais são a fundação da implementação da metodologia do novo paradigma. Esses pontos serão tratados em mais detalhes na “Regra 5”, mas é preciso compreender que qualquer coisa na cultura atual que é caracterizada por esses três princípios precisa estar baseada na experiência humana a partir de uma perspectiva secular. Nesse caso, se alguém desejar se relacionar com o Henrique e a Simone sem-igreja, precisa relacionar-se com a relevância contemporânea para as experiências de vida pessoais do Henrique e da Simone. Portanto, qualquer tentativa de alcançar o Henrique e a Simone com o evangelho em qualquer nível fora daquilo que eles reconhecem como sendo de relevância prática derivada da experiência pessoal é fútil, e o Henrique e a Simone nunca irão então adentrar pela porta da igreja. Se esse é absolutamente o caso, a abordagem ao ministério precisa estar baseada e em sintonia com a cultura pós-moderna. Um dos melhores exemplos da implementação desse método é o estilo de encontro de grupo do “Estudo da Bíblia” em que cada um dos participantes relaciona-se com uma determinada passagem das Escrituras com base em “O que esta passagem diz para mim?” A essência de tal “estudo” depende de uma interpretação das Escrituras com base na experiência individual da pessoa. Tais exercícios, na maior parte das vezes, simplesmente resultam em uma “acumulação da ignorância” (15) sem que ninguém deixe a sessão remotamente enriquecido com o alimento sólido da Palavra de Deus. Uma vez que esse estilo de metodologia seja adotado, questões mais sérias aparecem na igreja. Por exemplo, uma igreja pode adotar uma determinada posição em qualquer variedade de assuntos — divórcio e recasamento, participação em sociedades secretas, qualificações para os pastores e diáconos, homossexualidade, aborto, etc. ad nauseum com base nas experiências pessoais na vida do “facilitador da visão para a igreja” em vez de em “Assim diz o SENHOR”.

Conclusão da Regra 4:

Se a Palavra de Deus é para ser obedecida, a busca por uma espiritualidade orientada pela experiência dentro da igreja precisa ceder lugar à vida dirigida e cheia com o Espírito Santo. Além disso, a vida cheia do Espírito somente pode ser derivada da total obediência à Palavra de Deus interpretada dentro de seu contexto. Do contrário, o foco na experiência é uma abordagem autocentrada à espiritualidade com total ambivalência aos mandamentos da Palavra de Deus. A ideia da caminhada cristã baseada em “Como me relaciono com Deus e o que Ele faz por mim” é absolutamente risível. Essa teologia psicologizada tem levado muitas pessoas na igreja a adotarem uma atitude em relação a Deus e à Sua Palavra que caracteriza os membros da igreja moderna como “filhos mimados de Deus” em vez de santos obedientes e altruístas e um Deus que é caracterizado mais como uma “mamãe ganso” (16) do que o Criador onipotente do universo, que exige obediência à Sua Palavra. A igreja precisa esquecer a abordagem fatal orientada para resultados no ministério, “retornar ao básico” da Palavra de Deus e seguir os princípios de governança da igreja, conforme prescritos nas epístolas de 1 e 2 Timóteo. (Veja o Capítulo 6.).

O edito de “nunca criticar aquilo que Deus está abençoando” não somente leva o filho de Deus mais para fundo na precária e confusa teia da tolerância pós-moderna (veja o Capítulo 6), mas também leva o indivíduo a um caminho que está em oposição direta à Palavra de Deus. Um dos mais notáveis elogios em todo o Novo Testamento foi dado aos bereanos em Atos 17:11:

Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim.

Embora as palavras que os bereanos estivessem avaliando fossem verdadeiras, eles confirmaram tudo o que ouviram com a verdade da Palavra de Deus. Porventura o autor do livro de Atos os criticou por terem sido tão julgadores, divisivos ou intolerantes? O autor do livro de Atos os condenou por não aceitarem a palavra dos missionários sem nada questionar? Não, muito pelo contrário, os bereanos foram elogiados por manterem a Palavra de Deus como o padrão e a base da verdade — exatamente como os cristãos de hoje deveriam também fazer, e exatamente como o apóstolo Paulo afirmou, “Mas o que é espiritual discerne bem tudo”. (17).

Usar a Palavra de Deus como o padrão final de medição não está muito mais na moda, e os verdadeiros cristãos estão enfrentando cada vez mais acusações de preconceito, arrogância e intolerância. Entretanto, existem algumas regras básicas que todo cristão deve seguir na preparação para encontrar qualquer diálogo religioso:

  • Observar que a Palavra de Deus é exatamente isto — a Palavra de Deus.
  • O Espírito Santo é o instrutor; somente Ele pode revelar a Palavra de Deus.
  • Encher o coração e a mente com o conteúdo das Escrituras.
  • Testar todos os mestres, como fizeram os bereanos.
  • Gastar mais tempo em comunhão com o Senhor.
  • Avaliar constantemente os sermões, estudos bíblicos, aulas na Escola Dominical, etc.
  • Se quiser saber o que Deus quer que você saiba, permita que as Escrituras interpretem as Escrituras. (18).

Como Chuck Missler freqüentemente diz, “Não acredite em uma palavra do que eu digo… Vá para casa, compare minhas afirmações com o padrão da Palavra de Deus, e então faça uma avaliação da validade das minhas afirmações com base nesse padrão.” Se os cristãos avaliassem honestamente o Jogo da Igreja do Novo Paradigma com base unicamente na Palavra de Deus, ninguém mais participaria nesse passatempo frívolo. O ponto crucial do problema reside no fato que a vasta maioria dos cristãos professos prefere seguir a visão que algum homem teve do que aquilo que Deus falou de forma bem clara em Sua Palavra.

Em resumo, a Regra 4 é meramente uma acusação velada de intolerância contra qualquer um que questione a validade da teoria de que CRESCIMENTO = BÊNÇÃO. Uma vez que os números impressionantes da Religião Orientada Para Resultados são medidos pelo padrão da Palavra de Deus, a Igreja do Novo Paradigma desaba do elevado pedestal da aclamação para as profundezas das tentativas humanas e mundanas de contornarem ou evitarem as instruções escritas de Deus.

Regra 5
Nunca Comunique a Palavra de Deus em um Estilo Fora de Moda.
(19)

O Dr. Rick Warren, da Igreja de Saddleback, é o originador dessa regra para a igreja do novo paradigma. Em seu livro, Uma Igreja com Propósitos, o Dr. Warren faz diretamente a pergunta, “Você está sendo fiel à Palavra de Deus se insistir em comunicá-la em um estilo fora de moda?” (20). Ele também diz, “Defendo a posição que quando uma igreja continua a usar métodos que não funcionam mais, isso é ser infiel a Cristo.” (21). Para responder a essas acusações, é preciso primeiro fazer uma análise das perguntas com base na metodologia incorporada pela igreja do novo paradigma. Essa metodologia do novo paradigma, conforme ela se relaciona com os estilos fora de moda e “métodos que não funcionam mais” podem ser discutidos sob os seguintes títulos:

  • A igreja deve se relacionar com a cultura popular.
  • Escolha um nome neutro.
  • Como a tradução Almeida Corrigida Fiel [equivalente da King James Version, em inglês] cria uma imensa barreira cultural, use exclusivamente as traduções modernas.
  • Enfoque o atendimento das necessidades sentidas do mercado-alvo utilizando psicologia, aconselhamento e dinâmicas de grupos.
  • Utilize a tecnologia e talentos disponíveis para obter impacto visual e emocional.
  • Não seja enfadonho.

A IGREJA DEVE RELACIONAR-SE COM A CULTURA POPULAR

Relacionar-se com a cultura popular é a base para o modo de pensar do novo paradigma, e é esse raciocínio furado que inicia mais uma descida à apostasia. Entretanto, é muito interessante (conforme registrado nos capítulos anteriores) que a batalha (mal posicionada como possa estar) para “salvar a cultura e a herança cristã” deteriorou-se ao ponto que a igreja precisa agora relacionar-se com a cultura pós-moderna para experimentar crescimento. Se alguém pudesse viajar de volta no tempo para os anos 60 e examinar as origens da cultura pós-moderna de hoje, ver de primeira mão o movimento hippie, e estudar o estilo de vida dos “Malucos por Jesus” ninguém poderia ter imaginado que essas filosofias teriam um peso tão grande sobre o braço conservador da igreja evangélica na virada para o século XXI. A maioria dos cristãos conservadores (com algumas exceções notáveis, como Billy Graham) ficou horrorizada com o caminho cultural que aqueles jovens tinham começado a percorrer. Esse grupo, como regra geral, via o Filho de Deus como “um rebelde barbudo com uma causa, de 2000 anos atrás” (22). Porém, parcialmente alimentados pelo apoio de homens como Billy Graham, “Malucos por Jesus”, como Bill Hybels, conseguiram com sucesso integrar aquela mesma cultura no reino do evangelicalismo conservador. Para conseguir essa tarefa, a estratégia da infiltração, proposta com estardalhaço pelos neo-evangélicos (veja o Capítulo 3), foi brilhantemente executada para fazer a transição do evangelicalismo conservador e o de muitos fundamentalistas para o pensamento do novo paradigma.

Esses aspectos do modo de pensar do novo paradigma são resumidos na seguinte afirmação do guru de crescimento de igrejas Donald McGavran, “Os maiores obstáculos para a conversão são sociais, não teológicos.” (23) Essa afirmação, na verdade, abre a porta para a edição cultural do evangelho de Jesus Cristo até um ponto que o desfigura e o torna irreconhecível biblicamente. Se os obstáculos são sociais, os relacionamentos sociais e os princípios da psicologia humanista devem tomar precedência sobre o ensino doutrinário da Palavra de Deus. Em segundo lugar, se esse é então o caso, a igreja deve identificar-se com a cultura, abraçar a cultura, e realinhar suas prioridades para dar aos princípios da psicologia humanista domínio sobre os princípios doutrinários da Palavra de Deus de modo a ganhar convertidos e experimentar o crescimento exponencial da igreja. Os resultados finais de tal “ministério” produzirão pessoas que não terão mais a capacidade de discernir a diferença “nos ensinos das Escrituras e nos do psicólogo Carl Rogers”. (24) Foi exatamente isso que aconteceu na Igreja da Comunidade de Willow Creek, pastoreada por ninguém menos que o ex-“Maluco por Jesus” Bill Hybels.

Um exemplo dessa posição pode ser vividamente ilustrada analisando-se um sermão pregado em uma igreja do novo paradigma em um bairro residencial elegante de Atlanta, na Geórgia, em 2/11/2003. A estrutura em tópicos da mensagem foi anotada por este autor, que estava entre as estimadas 7.500 pessoas presentes naquele culto dominical. Mesmo sabendo o que deveria ser esperado em uma “igreja” como aquela, o conteúdo da mensagem foi muito pior do que poderia ser imaginado. Pelo menos o pastor preparou os ouvintes para o pior quando afirmou que compreendia que muitos dos presentes tinham crescido na igreja; e que alguns teriam problemas com a experiência. Entretanto, para deixar todos os presentes à vontade (com algumas poucas exceções — uma das quais pode ser você), ele afirmou, “Nós nos desfizemos da parte da igreja…” Todo o programa (que iniciou com uma solista cantando o sucesso do momento “Por que os tolos se apaixonam?”) e sua mensagem em particular confirmou esse comentário além de qualquer sombra de dúvida:

O tema do sermão foi “Fazendo a Coisa Certa”. O veículo por meio do qual esse tema foi ilustrado foi o exercício de sabedoria na área da pureza sexual. A mensagem alinhou-se perfeitamente com os “Três Pilares” da igreja do novo paradigma mencionados anteriormente. Ela foi relevante, animada e prática. Entretanto, ela não foi bíblica. O resumo da estrutura em tópicos é o seguinte:

  1. Qual é a coisa sábia a fazer?
    1. Baseie suas decisões e ações em suas experiências passadas.
    2. Adicionalmente, considere sua situação atual.
    3. Considere o impacto das suas decisões no futuro.
    4. “Vemos a nós mesmos quando respondemos à pergunta e ao mesmo tempo consideramos essas diretrizes”.
  2. “A razão por que fazemos a coisa errada é porque nos recusamos a fazer a coisa certa.”
    1. “A cultura nos atraiu a fazer moralmente a coisa errada.”
    2. “Qual é a coisa sábia a fazer com base na minha experiência?”
    3. “O único modo de se guardar moralmente é perguntar a si mesmo “Qual é a coisa sábia a fazer?'”
  3. Deus, como um bom pai, nos diz para fugirmos da imoralidade sexual (1 Coríntios 6:18).
  4. Ações que não são sábias levam à conseqüências sérias na vida mais tarde.
  5. Devemos estabelecer padrões pessoais que nos inibam de cruzar a linha para atos que não são sábios.

Essa mensagem teria sido mais apropriada para uma palestra secular da Dra. Laura Schlessinger (que provavelmente também utilizaria mais referências religiosas). Entretanto, essa mensagem foi baseada estritamente na psicologia, e não na Bíblia. Uma análise dos pontos principais revela o seguinte:

  • A afirmação de que a sabedoria é derivada da experiência pessoal está em oposição direta e absoluta à Palavra de Deus. A Bíblia diz: “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus…” [Tiago 1:5]. A verdadeira sabedoria vem de Deus, não da experiência humana. Fazer as pessoas buscarem sabedoria dentro de sua própria experiência de vida é uma direção para avaliar toda a verdade com base na experiência. A sabedoria não é algum conhecimento mais elevado ou inteligência especial. Sabedoria é como você olha para a vida e reage a ela. Buscar sabedoria a partir das próprias experiências é lançar Deus e Sua Palavra para o escanteio na busca da iluminação humanista.
  • A primeira menção de Deus nessa mensagem ocorreu na quarta parte final do discurso. Quando Deus foi finalmente mencionado, não houve uma advertência que a imoralidade é uma afronta à Sua santidade. Não houve menção das conseqüências eternas do pecado. Não houve evangelho da graça declarado para o perdão dos pecados. Não houve um chamado ao auto-exame e ao arrependimento, e também não houve um convite à retidão. Deus foi descrito apenas como um pai preocupado que deseja que Seus filhos afastem-se de algo que poderá lhes ser prejudicial. Na verdade, o pastor quase pediu desculpas ao referenciar coisas que poderiam mesmo que ligeiramente afrontar aqueles que “não eram religiosos”.
  • Finalmente, o pastor exortou a congregação a definir padrões pessoais para inibirem suas ações dentro de certos limites morais. Na realidade, a definição de “limites” é um método psicológico muito popular que está sendo defendido na sociedade atualmente.

Em conclusão, a afirmação do pastor sobre “desfazer-se da parte da igreja” certamente se aplicou à sua mensagem. De uma só vez, esse pastor do novo paradigma se livrou da igreja, das conseqüências eternas do pecado, da natureza de Deus e do evangelho de Jesus Cristo. Em lugar de todos esses princípios bíblicos, ele apresentou psicologia humanista sob o disfarce de cristianismo evangélico conservador. A despeito de mensagens que ignoram totalmente os ensinos da Palavra de Deus, milhares continuam a afluir para essa e outras igrejas do novo paradigma porque as massas são manipuladas emocionalmente a uma experiência religiosa não-ameaçadora que faz as pessoas se sentirem bem consigo mesmas.

Se a cultura pós-moderna, que enfatiza mais a psicologia que a teologia, for usada para fazer uma igreja crescer, tal igreja logo cessará de ser uma verdadeira igreja (veja o Capítulo 2) — pois, como foi conclusivamente ilustrado, a mensagem precisa mudar para acomodar uma cosmovisão psicológica. O mesmo se aplica em outras áreas, como o ensino da evolução como um fato científico, a aceitação da homossexualidade, etc. Embora essas questões e filosofias estejam em contradição direta à Palavra de Deus, a igreja do novo paradigma precisa chegar a um consenso com o Henrique e a Simone sem-igreja sobre esses tópicos para que eles adentrem pela porta da frente da igreja.

Como ilustrado em outros casos, Rick Warren novamente abusa da credulidade e insulta a inteligência de seus leitores no livro Uma Igreja com Propósitos, com a revelação esclarecedora, “Quando Jesus disse aos seus discípulos para comerem o que for colocado diante deles, estava instruindo-os a serem sensíveis à cultura local.” Os discípulos viviam em Israel — a cultura judaica. Eles compartilhavam a cultura judaica baseada na Lei Mosaica como todos aqueles com quem se comunicavam. Em outras palavras, eles já faziam parte da mesma cultura, e para o Dr. Warren manipular as Escrituras em uma tentativa anêmica de justificar metodologia sem base escriturística é claramente enganoso. Com Rick Warren como o “menino pôster” (e a despeito do ensino específico na Palavra de Deus exigindo santidade e separação), a igreja do novo paradigma convida as filosofias humanistas do mundo para se infiltrarem e permearem a teologia cristã até o ponto que a síntese resultante crie um ambiente de transição na igreja que deixe o descrente muito à vontade, em conforto. Como resultado dessa síntese, essa pseudo-igreja começa a buscar ao deus (a inicial minúscula é intencional) que deseja em vez de o Deus eterno e onipotente. À medida que essas filosofias começam a se construir uma sobre a outra e se multiplicar, igrejas como as das Comunidades de Willow Creek, Saddleback e Northpoint alcançam o resultado dual do crescimento exponencial e a erradicação do fundamentalismo fora de moda de seu meio.

ESCOLHA UM NOME NEUTRO

A Igreja de Saddleback, pastoreada por Rick Warren, está afiliada à Convenção Batista do Sul dos EUA e o Dr. Warren foi educado em seminários da Convenção Batista. A igreja de Saddleback é uma igreja batista. Entretanto, o nome dela não é Igreja Batista de Saddleback, mas simplesmente Igreja da Comunidade de Saddleback. O Dr. Warren insiste que a eliminação de “Batista” do nome não é uma contemporização, mas uma estratégia de marketing. (25) Evidentemente, muitos outros pastores chegaram à mesma conclusão e o nome “Igreja da Comunidade” está se tornando cada vez mais comum nos últimos anos. Muitas dessas igrejas têm tradicionalmente adotado um rótulo “não-denominacional”, porém cada vez mais, as igrejas estão se movendo para uma posição “interdenominacional”.

A principal razão para deixar os estigmas denominacionais é evitar perder aqueles que discordam das posições de um determinado grupo ou denominação. Por exemplo, as igrejas batistas ensinam o batismo por imersão após a salvação, a segurança eterna dos crentes e a autonomia da igreja local. Isso difere das denominações protestantes que mantiveram as práticas católicas do batismo infantil, a perda da salvação por continuar a pecar, e a hierarquia eclesiástica. Como base nesses dois exemplos, a igreja não-denominacional, como regra geral, adota um sistema de crenças que cruza as barreiras denominacionais tradicionais. Por exemplo, uma igreja não-denominacional pode praticar o batismo infantil e ao mesmo tempo ensinar a segurança eterna do crente. Por outro lado, a igreja interdenominacional busca eliminar os credos teológicos e encontrar um terreno comum com todas as denominações com base em “Apenas ame a Jesus — a teologia só atrapalha.” (26) A Igreja da Comunidade de Willow Creek identifica-se como interdenominacional. Isso simplesmente significa que Willow Creek aceita pessoas de qualquer matiz denominacional e, como outras igrejas do novo paradigma que usa um nome neutro, não é dirigida por um sistema de crenças ou por uma determinada teologia, mas sim por uma filosofia de marketing.

A TRADUÇÃO DE ALMEIDA CORRIGIDA E FIEL CRIA BARREIRAS CULTURAIS — USE TRADUÇÕES MODERNAS

Este autor tem uma posição totalmente pró-KJV (King James Version, equivalente da tradução Almeida, Corrigida e Fiel), mas também está muito ciente das dinâmicas potencialmente destrutivas do debate sobre as traduções. Antes de iniciar qualquer debate, qualquer discussão, ou apresentar argumentos sobre a questão da tradução, é preciso ser muito cuidadoso para lembrar que essas discussões giram em torno da Palavra de Deus e, assim, o assunto deve ser abordado com reverente conhecimento das palavras que se originaram muito além do nível humano. O fato é que a KJV e a NKJV (New King James Version) são as únicas traduções inglesas das Escrituras que estão baseadas exclusivamente no Texto Bizantino da igreja primitiva (não-católica) — o Textus Receptus (o Texto Recebido), e esse foi o texto usado pela verdadeira igreja por mais de 1.600 anos. Como discutido no Capítulo 2, todas as traduções modernas, com exceção da NKJV, utilizam o Novo Testamento de Wescott e Hort, e a história é conclusiva que as intenções de Wescott e Hort eram descontinuar (se não destruir) o Texto Recebido, os manuscritos usados por Wycliff, Tyndale e Coverdale em todas as primeiras traduções das Escrituras Sagradas para o inglês. Isto posto, aqui não é o local para entrar no debate sobre as traduções, e este autor também não adota a posição que os fundamentalistas de boa fé que optam por uma posição mais branda sobre a questão da tradução “afastaram-se da fé”. Entretanto, esses fundamentalistas precisam estar bem cientes do fato que a utilização de traduções modernas das Escrituras tornou-se uma estratégia crítica na criação da igreja do novo paradigma. Quando implementada em todos seus outros aspectos, essa estratégia resultará na criação de uma igreja para a cultura pós-moderna que desafia todos os aspectos do fundamentalismo e busca fazer a transição da igreja para uma religião híbrida que atraia um segmento populacional de nível social mais elevado. Com base unicamente nesse fato, as igrejas com a coragem de seguir e preservar as instruções das Escrituras precisam também adotar uma política que exija que somente uma tradução baseada no Texto Recebido (como a Almeida Corrigida e Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana, ou a Almeida Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil) seja usada do púlpito, em todos os materiais para a Escola Dominical, por todos os professores que lecionam na Escola Dominical, e em todas as funções oficiais da igreja. Sempre haverá alguns que discordarão dessa posição, mas os seguintes aspectos precisam ser considerados:

  • Deus fala a Seus filhos por meio de Sua Palavra pela iluminação do Espírito Santo.
  • Como o Espírito Santo é sobrenatural, não precisa de uma tradução moderna para iluminar Seus filhos quando os corações deles estiverem receptivos à Sua direção.
  • Como o pastor e os professores da Escola Dominical são chamados pelo Espírito Santo para pregar e ensinar a Palavra, precisam dedicar tempo ao estudo e em oração sob a direção do Espírito Santo para comunicar com exatidão a Palavra de Deus aos ouvintes.
  • Sendo esse o caso, as questões de linguagem arcaica são eliminadas na pregação e o ensino sob a orientação e direção do Espírito Santo.
  • Assim, quando o pastor e os professores da Escola Dominical trabalham sob a direção do Espírito Santo ao comunicarem a Palavra de Deus, qualquer vantagem percebida oferecida pelas traduções modernas torna-se irrelevante.
  • Nenhuma ação precisa ser tomada com membros individuais que preferem as traduções modernas à ACF, mas a igreja precisa adotar um padrão, fixar uma estaca no chão e fazer uma declaração oficial em favor da ACF para repelir qualquer tendência à apostasia. (Logicamente, os membros da igreja precisam ser informados sobre as razões da tomada de posição da igreja.).

A história registra que uma vez que uma igreja começa a se afastar de uma posição de coragem e verdade bíblicas, a descida torna-se um efeito bola de neve que cresce sobre si mesmo até que um afastamento completo da verdade seja manifestado. Se uma igreja determinar recusar-se a contemporizar em qualquer questão, tal deslize para baixo bem pode ser evitado. Entretanto, uma vez que o deslize seja iniciado, torna-se um trem de carga descontrolado rumando em direção à apostasia e à infidelidade espiritual. Adotando uma posição firme em relação à tradução Almeida Corrigida e Fiel, uma igreja local estabelece de forma absoluta uma linha de base para a preservação da “fé uma vez entregue aos santos” para seus membros, e também servirá de farol para aqueles que estiverem procurando um ministério com a coragem de defender todos os princípios fundados firmemente na verdade e no poder da Palavra de Deus.

ENFOQUE NAS NECESSIDADES SENTIDAS, UTILIZE A PSICOLOGIA E O ACONSELHAMENTO

A cultura pós-moderna da sociedade ocidental tornou-se uma cultura da psicologia e, aparentemente, ninguém mais é responsável por seus próprios atos. Todos são vítimas:“Meus problemas foram causados por outra pessoa; agi de uma maneira imprópria porque sofri abuso na infância; tenho estes problemas porque passei por privações quando criança; sou simplesmente uma vítima do ambiente em que vivi; sou basicamente uma boa pessoa, mas não tenho auto-estima devido às ações de outras pessoas; preciso… preciso… preciso, e outra pessoa é a culpada.” A reação popular a essa vitimização maciça da sociedade é o aconselhamento ou a terapia, e a “grande comunidade evangélica” não é exceção à regra. O fato é que a igreja evangélica foi “seqüestrada pela psicologia no fim dos anos 70” (27) e nunca mais retornou à sua habitação original. Como evidência disso, alguns dos evangélicos mais famosos são “psicólogos cristãos” que ganharam fama e dinheiro propagando uma síntese de ensino cristão com a psicologia popular. O problema intrínseco associado com tal síntese é o fato que (como indicado no Capítulo 8), os conceitos do genuíno cristianismo e da psicologia serem diametralmente opostos. Em resumo, a psicologia procura olhar dentro do indivíduo para encontrar bondade e força, ao mesmo tempo em que acusa as influências externas pelas deficiências do indivíduo. O cristianismo, por outro lado, ensina que o indivíduo é um pecador depravado sem justiça própria e cuja única esperança é a justiça imputada de Jesus Cristo. A psicologia procura formar a auto-estima do indivíduo, enquanto a Palavra de Deus declara que os indivíduos devem “considerar os outros superiores a si mesmo”. [Filipenses 2:3] Em essência, a “Geração do EU” busca autojustificação dentro de si mesmos em vez de buscar a justificação diante de Deus pela fé na obra consumada de Jesus Cristo.

Assim, na busca de um caminho de auto-realização, a igreja evangélica hoje desenvolveu um “novo evangelho” que é mais apropriado para atender às necessidades sentidas do Henrique Sem-Igreja, da Simone Sem-Igreja, ou do típico residente do Vale de Saddleback, do que em tratar a questão das suas ofensas à justiça de um Deus que é santo. Esse “novo evangelho” precisa incorporar a terminologia da psicologia para garantir que os indivíduos sem-igreja possam relacionar-se em um nível prático, e precisam apelar ao atendimento das necessidades sentidas e emocionais dos sem-igreja, de modo a fazê-los compreender a necessidade de freqüentar regularmente a igreja. Os princípios desse “novo evangelho” são os seguintes:

  • “Libertar da baixa auto-estima.
  • Libertar do vazio e da solidão.
  • Um modo de realização e de sentir emoções.
  • Um modo de receber os desejos do coração.
  • Um modo de atender às suas necessidades.” (28)

Como ilustrado anteriormente pelo “sermão” em Atlanta, esses conceitos permearam totalmente a Igreja do Novo Paradigma. O conteúdo das mensagens nessas igrejas está baseado em vários princípios:

  • (Como já mencionado) A tradução Almeida Corrigida e Fiel nunca é usada.
  • Categorias psicológicas tendem a ser descritas como princípios bíblicos. (29)
  • As mensagens da igreja são mais de redução do estresse do que sobre a salvação.
  • As mensagens são mais terapêuticas do que teológicas.
  • A ênfase é mais sobre sentir-se bem consigo mesmo do que em lidar com as conseqüências do pecado individual.

O Jogo da Igreja do Novo Paradigma enfoca a manipulação emocional do Henrique e da Simone Sem-Igreja para o propósito de evangelismo. Bill Hybels, pastor da Igreja da Comunidade de Willow Creek, prontamente admite que “uma quantidade significativa do conteúdo da mensagem do fim de semana vem da psicologia” (30) e ele “tende a descrever as categorias psicológicas como princípios bíblicos”. (31) Entretanto, esses métodos dão margem às seguintes perguntas: o Espírito Santo atrai homens e mulheres para a salvação por meio da manipulação emocional? Pode o genuíno reavivamento ocorrer por meio da terapia? Sermões como o pregado na igreja em Atlanta, em 2/11/2003, levam os indivíduos ao arrependimento e à fé, ou estão meramente fazendo a igreja crescer permitindo o auto-engano espiritual? A “psicologia cristã” realmente existe, ou está John McArthur correto quando diz que o termo é um oxímoro? (32) Existe realmente o “aconselhamento cristão? E, em caso afirmativo, exatamente o que ele envolve? (Essas perguntas foram apresentadas por este autor durante uma entrevista pessoal com um indivíduo que tem um diploma de Mestre em Ciências em Aconselhamento pela Universidade Bob Jones. As observações citadas nos parágrafos a seguir foram compiladas nessa entrevista.)

O psicólogo cristão defenderá a posição que:

ESCRITURA + MÉTODOS PSICOLÓGICOS = AJUDA

Entretanto, como pode a infusão do humanismo no cristianismo bíblico fazer algo senão corromper o cristianismo bíblico? A Bíblia é muito clara que todas as respostas aos problemas da vida são encontradas dentro da palavra revelada de Deus. Isso significa que se alguém estiver buscando a “coisa sábia a fazer”, lidar com o pecado pessoal, lutar com relacionamentos interpessoais, ou determinar qual metodologia deve ser usada para alcançar os perdidos — as respostas não se encontram na experiência do homem, nas estratégias do marketing ou na psicologia. As respostas, entretanto, residem dentro das páginas da eterna e infalível Palavra de Deus. Portanto, ao buscar o aconselhamento cristão, a pessoa deve buscar aqueles que seguem as instruções da Palavra de Deus para encontrar as respostas para os dilemas da vida. Com base nessa verdade, a fórmula da psicologia cristã deve ser redefinida:

ESCRITURA + MÉTODOS PSICOLÓGICOS = PERVERSÃO DA VERDADE

Essa fórmula também precisa ser vista como outra implementação da Dialética Hegeliana:

ESCRITURA (TESE) x PSICOLOGIA CLÍNICA (ANTÍTESE) = RESULTADO (SÍNTESE)

Neste caso, o resultado é uma perversão da verdade ensinada pela Igreja do Novo Paradigma e pelos “psicólogos cristãos” em uma nova religião híbrida — a Religião Orientada Para Resultados. Esse aspecto da Religião Orientada Para Resultados é alarmante e foi discutida no Capítulo 9. Os resultados das múltiplas implementações do processo dialético hegeliano ameaçam a própria existência da verdadeira igreja e do genuíno cristianismo baseado na Bíblia e a infusão da síntese psicológica na igreja iniciou esse processo até o ponto em que ele agora está operando a pleno vapor. O fato da questão é que a Igreja do Novo Paradigma permeou tanto o cristianismo evangélico que encontrar uma igreja baseada na Bíblia que ainda não tenha sido pervertida pela psicologia é quase impossível.

Por outro lado, o aconselhamento bíblico cristão não buscará infundir o humanismo no cristianismo bíblico; mas, ao invés disso, o conselheiro cristão bíblico manterá as Escrituras em seus próprios méritos e princípios. Como a Palavra de Deus ensina que o cristão está em uma luta constante contra a velha natureza pecaminosa, os indivíduos precisam se confrontar com a fonte do problema e abordar cada questão a partir de uma posição de fraqueza humana e sob a ótica de um Deus Santo — em vez de procurar atribuir a culpa aos outros. O conselheiro cristão baseado na Bíblia forçará o indivíduo a ver a si mesmo como Deus o vê e a lidar com seus problemas a partir da perspectiva que eles são provavelmente conseqüência do pecado. Assim, a fórmula escriturística do aconselhamento está em oposição direta à fórmula proposta pela cultura pós-moderna da psicologia. (33).

Quando a Igreja do Novo Paradigma infunde os métodos pseudocientíficos e a terminologia de Carl Rogers, Skinner, Jung, ou Freud nos princípios da Palavra de Deus, não existe mais convicção do pecado, a rebelião do Henrique Sem-Igreja contra Deus não é abordada e não ocorre nenhum evangelismo genuíno. Se os pastores acharem que precisam encaminhar membros de suas igrejas a terapeutas profissionais (seculares ou cristãos), devem primeiro considerar que esses terapeutas desenvolverão o amor a si mesmo em um indivíduo que pode estar precisando desesperadamente fazer uma autoconfrontação e lidar com questões em sua vida em um nível espiritual. Conforme T. A. McMahon afirmou:

“O aconselhamento secular começa e termina com o eu: o aconselhamento profissional ‘cristão’ inicia e termina com o cristianismo interpretado por meio das teorias do ‘eu’. O resultado de ambos é a antítese daquilo que a Bíblia ensina.” (34).

Mesmo que um pastor que está brincando com o jogo da Igreja do Novo Paradigma perceba as questões associadas com o encaminhamento dos membros de sua igreja à psicoterapia, ele criou um grande dilema para si mesmo:

  • Baseou o convite para seu ministério no pré-requisito que “o cristianismo funciona” e que todas as “necessidades” do indivíduos serão atendidas se ele se tornar parte do trabalho.
  • Grandes multidões de pessoas entram na igreja convencidas que “Cristo morreu para atender às suas necessidades.”.
  • Algumas dessas “necessidades” poderiam ser mais adequadamente chamadas de “luxúrias” — Como a igreja atende a essas necessidades?
  • Algumas das necessidades poderiam ser mais adequadamente chamadas de “necessidades percebidas”, não “necessidades reais”. Está o ministério da igreja obrigado a atender a essas necessidades?
  • E aqueles membros cujas “necessidades” não foram atendidas? Cristo não morreu por essas necessidades particulares? Os indivíduos são verdadeiros “convertidos”?
  • A pergunta mais pertinente de todas foi feita por Gary Gilley: “O que acontecerá se um dia o Henrique Sem-Igreja for chamado para dar sua vida por amor a Cristo”? (35).

Para continuar com a charada, o pastor da Igreja do Novo Paradigma precisa se afastar das doutrinas fundamentais da Palavra de Deus e apresentar o Deus da Bíblia como a “mamãe ganso” que atenderá a todas as necessidades se os membros continuarem a “ter fé” em sua igreja e a buscar o “aconselhamento sábio dos profissionais treinados”. Isso novamente prova sem sombra de dúvida que a metodologia sem base nas Escrituras realmente leva a desvios doutrinários e, finalmente, a uma terrível apostasia.

UTILIZE A TECNOLOGIA E OS TALENTOS PARA OBTER O MÁXIMO IMPACTO EMOCIONAL

Como mencionado anteriormente neste manuscrito, a única coisa com a qual podemos contar é a mudança e não há um aspecto da sociedade do século 21 em que a mudança seja mais óbvia que na área da tecnologia. Considere o exemplo do agora desprezado videocassete. O videocassete tornou-se um aparelho de consumo popular no início dos anos 80, em meio a um grande entusiasmo geral. Agora, vinte anos mais tarde, o videocassete está se tornando obsoleto com o advento da tecnologia do DVD. Esse é apenas um dos muitos exemplos que confirmam o grande avanço em vídeo, telecomunicações, informática e muitas outras tecnologias que tornaram a vida do dia-a-dia muito diferente do que era nos anos 70, nos anos 80 e até mesmo no início dos anos 90. Esses avanços na tecnologia tiveram um impacto enorme na igreja e em sua capacidade de edificar e de evangelizar. A televisão via satélite permitiu que os ministérios cristãos transmitissem a mensagem do evangelho de Jesus Cristo a milhões de pessoas, que de outro modo não teriam ouvido a proclamação do evangelho. Embora a tecnologia tenha se tornado um maravilhoso instrumento no ministério da igreja, tornou-se também um ingrediente vital no crescimento da Religião Orientada Para Resultados.

O vulcão da tecnologia entrou em erupção após a Segunda Guerra Mundial e os indivíduos que cresceram a partir dos anos 50 cresceram com a caixa mágica — a televisão. Antes da televisão, a vida era muito diferente: as crianças ocupavam seu tempo com atividades físicas, tarefas no lar, ou lendo livros; os vizinhos conversavam uns com os outros regularmente (ou até diariamente); e os membros das famílias passavam tempo conversando, trabalhando e brincando juntos. Entretanto, a “babá eletrônica” agora já formou e moldou três gerações de indivíduos com imagens que estabeleceram um padrão para o que é considerado verdadeiro entretenimento. Além disso, o padrão tem sido constantemente elevado para o que exatamente é entretenimento aceitável e o que é insanamente enfadonho; e os padrões definidos por Hollywood e que retratam o que constitui entretenimento válido entrou fundo na psiquê de todas as pessoas. É a infusão desse padrão em todas as facetas da vida que tornaram o ensino e o entretenimento inseparáveis; (36) e, como resultado, a televisão criou um clima em que os indivíduos “não mais pensam e analisam… mas simplesmente respondem à manipulação inteligente de suas emoções”. (37). A influência da televisão exerce muitos efeitos profundos na igreja evangélica moderna, e é esse Padrão de Hollywood [aqui no Brasil diríamos, o Padrão Globo de Qualidade] que a Igreja do Novo Paradigma aspira alcançar. A instilação de motivação para essa aspiração torna-se óbvia quando se compreende que os participantes no Jogo da Igreja do Novo Paradigma percebem que não somente podem se identificar, mas também assimilar aquilo que há de mais avançado da cultura pós-moderna, de modo a obter o resultado do crescimento exponencial da igreja dentro de um mercado-alvo que está em ascensão na escala social. Ignorar o impacto da utilização da tecnologia que permite que o serviço da igreja imite o Padrão de Hollywood certamente (aos olhos do participante do novo paradigma) equivale a “comunicar a Palavra de Deus em um ‘estilo fora de moda'”.

Neste ponto, é preciso entender que os cristãos não devem confundir teologia com “estilo”. A teologia baseia-se em substância, e o estilo está baseado nos desejos da cultura. Portanto, adotar a metodologia do novo paradigma de colocar o estilo sobre a substância equivale a colocar “as coisas deste mundo” sobre as coisas de Deus. Quando isso acontece, “o resultado final de confundir teologia com estilo é uma teologia confusa”. (38) Muitas igrejas estão tentando fazer a ponte entre os diferentes estilos de adoração oferecendo um “serviço contemporâneo” para os jovens e um serviço mais tradicional para a “velha-guarda”. Normalmente, o resultado de ficar em cima do muro e tentar agradar a todos é o desastre. Lembra-se do princípio do novo paradigma de alcançar um mercado-alvo específico? Essa metodologia somente confunde a questão por que as “igrejas” que recorrem a essas estratégias estão criando um cisma tentando “atender às necessidades sentidas” de diversas atitudes e cosmovisões sem nenhum denominador comum para manter a organização junta. Sim, existem aqueles que dirão, “Vamos esquecer a teologia e apenas amar a Jesus! — Você pode amar a Jesus no serviço tradicional, e eu posso amar a Jesus no serviço contemporâneo — Seremos todos uma grande e feliz família desde que apenas amemos a Jesus.” Entretanto, sem teologia, a qual “Jesus” essas pessoas amarão? O argumento sempre retorna ao ponto que aqueles que jogam os resultados do Jogo da Igreja do Novo Paradigma estão realmente colocando o estilo sobre a substância, e qualquer sistema de crença que não tenha substância (neste caso, a sã doutrina) é meramente um jogo de conchas. Um provocador experiente do jogo de conchas certamente reunirá uma multidão e receberá os aplausos dos homens. Entretanto, por quanto tempo os aplausos dos homens ecoarão na eternidade? Quantas conversões genuínas advirão da manipulação emocional de um jogo de conchas? Como podem os santos reunidos serem edificados presenciando um jogo de conchas?

Embora toda igreja deva buscar honrar a Deus e ao mesmo tempo edificar os santos com a ordem e o conteúdo de cada serviço da igreja, existe o já mencionado “grande abismo” entre aqueles que ministram segundo o modelo bíblico e aqueles que implementam o padrão de Hollywood de produção e apresentação. Trazer o padrão de Hollywood para dentro da igreja é algo muito arriscado, mas o perigo certamente é percebido quando a igreja substitui ou confunde a edificação com o entretenimento. A maioria das pessoas compreende o entretenimento do estilo de Hollywood, mas o que exatamente é edificação? A palavra grega que foi traduzida como “edificar” na Bíblia pode ser melhor definida como “o processo de construir uma estrutura”. Essa é exatamente a principal função da igreja:

  • A igreja deve lançar um fundamento doutrinário sobre o qual o cristão possa construir sua vida espiritual.
  • A igreja deve fornecer os materiais e fornecer a mão de obra para enquadrar e suportar a estrutura da vida espiritual do indivíduo.
  • A igreja deve dar ao cristão o guia para a vida cristã prática (conforme encontrado em Romanos 12-16, por exemplo) para colocar os toques de finalização na estrutura de sua vida.
  • A igreja deve fornecer ao cristão maduro as armas da guerra cristã para proteger a estrutura de sua vida dos ataques de Lúcifer.

O que tudo isso tem a ver com o uso da tecnologia na igreja? A igreja do novo paradigma utiliza a tecnologia e o talento no estilo de Hollywood para atrair os sem-igreja para o serviço e, uma vez que os indivíduos sem-igreja estejam no serviço, suas emoções são manipuladas por uma apresentação profissional que rivalizaria com um programa de televisão. Essas produções substituem as cantatas pelos concertos de Rock religioso, os coros ou orquestras pelas bandas de louvor, a exortação pastoral pelas apresentações dramáticas, e a pregação expositiva da Palavra de Deus por verdadeiras aulas de psicologia. O serviço da igreja subitamente foi transformado de um período santificado reservado para edificar e alimentar as ovelhas para uma apresentação de primeira categoria voltada a entreter os bodes. Essa sessão de entretenimento dos bodes pode conter princípios morais, receber aclamações religiosas, e até mesmo usar o nome de Jesus Cristo. A experiência inteira pode ser “relevante, animada e prática”. As ovelhas bem como os bodes bem podem receber uma sensação de auto-realização, auto-estima, ou até uma sensação que suas necessidades sentidas foram ou serão atendidas. Mais importante para o “gênio visionário” que inspirou o espetáculo, uma multidão ainda maior voltará na semana seguinte para ser estimulada por outra sessão culturalmente relevante de “cristianismo prático”.

Além disso, o entretenimento (ao contrário da edificação) não constrói nada. O indivíduo vem à igreja, é entretido até o ponto em que vai embora se sentindo bem consigo mesmo, mas não há mudança na vida — há somente um vazio mais profundo no espírito que quando ele adentrou pela porta da frente. O indivíduo pode sair exclamando “Esta igreja tem estilo!” — mas sem que a doutrina seja ensinada para convencer ou edificar, tal igreja tem falta de toda a substância transformadora de vidas. Finalmente, esse indivíduo simplesmente testemunhou um perfeito jogo de conchas — um jogo que poderia possivelmente resultar em ramificações eternas indescritíveis e horrorosas para sua própria alma.

NÃO SERÁS ENFADONHO

Aquele que comete o crime de apresentar algo enfadonho sem ser solicitado perde automaticamente o Jogo da Igreja do Novo Paradigma. De acordo com a filosofia do novo paradigma, enfadar o buscador em um serviço de igreja é o “pecado imperdoável” e aquele que apresenta a referida chatice está na realidade cometendo pecado. A implicação dos parágrafos anteriores indica que se alguém atende o Padrão Hollywood de entretenimento, o serviço da igreja não será chato. Olhando de forma lógica essa mentalidade, será se seguir uma abordagem alternativa ou até oposta ao ministério condena esse ministério primeiro à chatice e depois ao fracasso? A resposta a essa pergunta está mais dentro do coração do ouvinte que na metodologia real usada no serviço da igreja. O Padrão de Hollywood, mencionado anteriormente, tem influenciado os indivíduos na cultura ocidental a se tornarem muito mais resistentes às coisas de Deus que os indivíduos nas gerações anteriores — os corações de cada nova geração parecem estar se endurecendo ao evangelho. Essa opinião é a base inteira para o argumento apresentado por Rick Warren, Robert Schuller, Bill Hybels e todas as demais “estrelas” do Novo Paradigma — que para efetivamente ministrar, é preciso “relacionar-se com a cultura popular” (39). Esse argumento soa não somente crível, mas altamente justificável na superfície, mas há um ingrediente vital que todo esse movimento parece desconsiderar:

A obra de Deus não está sob o controle da metodologia, tecnologia, engenhosidade, sabedoria, ou direção do homem; e a obra de Deus não pode ser adequadamente executada usando-se práticas empresariais seculares. A obra de Deus está sob a direção do Espírito Santo, e o Espírito Santo de Deus opera dentro dos limites da palavra escrita de Deus.

É claro que a Palavra de Deus deve ser apresentada com entusiasmo. Entretanto, os dois ingredientes necessários para o sucesso do ministério são muito simples:

  • Os homens precisam depender totalmente do Espírito Santo de Deus para falar ao coração das pessoas por meio da apresentação da Palavra de Deus. Isso se aplica ao ministério de música, ao ministério da educação cristã, e à pregação expositiva da Palavra de Deus.
  • O coração do ouvinte precisa estar receptivo ao Espírito Santo de Deus.

O Movimento do Novo Paradigma perdeu totalmente o foco desses dois fatos do ministério e tenta alcançar o indivíduo tornando-se “relevante, animado e prático”. Entretanto, esses três princípios enfatizam a metodologia e a pseudociência do homem e ao mesmo tempo minimizam o papel do Espírito Santo de Deus. Alguém já disse que a Igreja de Willow Creek comunica-se com o Henrique Sem-Igreja por meio da porta dos fundos das emoções”. Essa tática psicológica e enganosa omite a arma mais poderosa contra o pecado em todo o universo — a Palavra de Deus. A Bíblia diz de si mesma:

Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito, e das juntas e medula, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.” (40).

Uau! Como pode algo tão poderoso ser enfadonho? Se essa arma for utilizada como ela própria manda, por que deveriam os cristãos “comunicarem por meio da porta dos fundos” das emoções das pessoas? Por que os cristãos precisam de uma estratégia de marketing? O fato é que a Religião Orientada Para Resultados trouxe o mundo para dentro da igreja e mostrou ao Espírito Santo o caminho da porta de saída pelos fundos. Se os indivíduos endurecerem seus corações ao Espírito de Deus até ao ponto em que fiquem enfadados com a Palavra de Deus, nenhuma quantidade de manipulação, entretenimento, ou psicologia trará esses indivíduos aos pés do Salvador. Esses indivíduos poderão vir à “igreja” para serem entretidos, para receberem orientações sobre como reduzir a carga de estresse, ou para construir sua auto-estima — mas até que abram seus corações para a direção do Espírito Santo, a condição espiritual de seus corações continuará a mesma.

Conclusão da Regra 5:

A seguir estão algumas citações que formam a base da “Regra 5” do Jogo da Igreja do Novo Paradigma:

  • “A Igreja deve relacionar-se com a cultura que procura evangelizar” (41).
  • “O estilo de adoração diz mais sobre sua formação cultural do que sobre sua teologia” (42).
  • “Jesus era um pregador de aplicações práticas para a vida” (43)
  • “Jesus nunca vestiu terno e gravata, de modo que isso não é necessário para o cristão”. (44).
  • “Devemos nos concentrar nas necessidades das pessoas, em vez de na verdade teocêntrica.” (45).
  • “O pecado é uma estratégia falha para obter realização.” (46)
  • “Todas as religiões contêm verdades — o cristianismo funciona.” (47).
  • “Não somos o povo do ‘livro’… somos o povo das ‘pessoas’… queremos fazer as coisas acontecerem.” (48).
  • “Estamos tentando quebrar o ‘código cultural’.” (49).
  • “Nunca critique aquilo que Deus está abençoando, mesmo que seja um estilo de ministério que o deixe em desconforto.” (50).
  • “Defendo a posição de que quando uma igreja continua a usar métodos que não funcionam mais, está sendo infiel a Cristo.” (51).
  • “Quando Jesus disse aos seus discípulos, ‘… comei o que for colocado diante de vós…”, estava mandando que eles fossem sensíveis à cultura local.” (52).
  • “Usar um nome neutro foi uma estratégia de evangelismo — não uma contemporização teológica.” (53).
  • “Pouquíssimas pessoas vieram a Jesus procurando a verdade; elas estavam em busca de alívio, de modo que Jesus atendeu às necessidades sentidas delas.” (54).
  • “A tradução King James Version [equivalente da Almeida Corrigida e Fiel] cria uma barreira cultural.” (55).

Como ilustrado por essas citações, todos os aspectos da cultura pós-moderna — a obsessão com a psicologia, o pragmatismo e o padrão de Hollywood de entretenimento, trajes casuais, etc., foram integrados na metodologia do Jogo da Igreja do Novo Paradigma em uma tentativa de tornar-se culturalmente relevante. Entretanto, a Bíblia nunca diz para um ministro ou um ministério tornar-se culturalmente relevante. A Bíblia chama um ministro e um ministério para serem fiéis. O que envolve a chamada para a fidelidade? Um exame na Palavra de Deus revela o seguinte (sem ordem significativa):

  • Conservar e defender a verdade — 2 Timóteo 1:13-14.
  • Estudar a Palavra de Deus — 2 Timóteo 2:15.
  • Permanecer naquilo que aprendeu — 2 Timóteo 3:14.
  • Pregar a Palavra — 2 Timóteo 4:2.
  • Redargüir, repreender, exortar — 2 Timóteo 4:2.
  • Ser sóbrio em tudo — 2 Timóteo 4:5.
  • Suportar as aflições — 2 Timóteo 4:5.
  • Fazer o trabalho de um evangelista — 2 Timóteo 4:5.
  • Alimentar o rebanho de Deus — 1 Pedro 5:2.
  • Não enfatizar a unidade à custa da pureza doutrinária — Judas 3.

Esta lista da Palavra de Deus choca-se contra a “Regra 5” porque está baseada em um conceito ministerial crítico que a Regra 5 prefere ignorar totalmente: “O homem de Deus deve comunicar a Palavra de Deus com base unicamente no antigo padrão — a Sà DOUTRINA.” Não há a mínima implicação de relevância cultural ou estilo nessa relação anterior (ou em qualquer outra parte da Palavra de Deus). A curta sinopse da lista pode ser feita em uma simples declaração:

O homem de Deus deve estudar a Palavra de Deus, defender e preservar a doutrina vital que ela ensina, alcançar os perdidos com essa verdade, alimentar as ovelhas com essa verdade, e confiar o depósito dessa verdade a homens fiéis que a perpetuem para as futuras gerações.

Permitir a entrada do estilo ou da cultura na equação somente corrompe ou perverte a Palavra de Deus com a sabedoria do mundo. O homem de Deus deve manter as antigas verdades a despeito dos ditames e da sabedoria da cultura pós-moderna, e deve se firmar e pregar essas antigas verdades sem fazer quaisquer concessões ao mundo moderno que escarnece dessa posição “fora de moda”.


Notas Finais

  1. Trueheart, Charles, “The Next Church”, Atlantic Montly Digital Edition, www.theatlantic.com/issues/96aug/nxtchrch.htm, agosto de 1999.
  2. Ibidem.
  3. Ibidem.
  4. Ibidem.
  5. Ibidem.
  6. Ibidem.
  7. Ibidem.
  8. Rick Warren, “The Purpose-Driven Church” [Uma Igreja com Propósitos, Editora Vida], Zondervam Publishing, 1995, pág. 62.
  9. Dallas Baptist Association, boletim Grace News, “Church Transitions Conference”, www.dba.net/newsletter/viewarticle.asp?articleID=316, 17/6/03. pág. 1
  10. Ibidem.
  11. Warren, pág. 66.
  12. Ibidem, pág. ??.
  13. Pritchard, G. A., “Willow Creek Seeker Service”, Baker Books, 2001, pág. 208.
  14. Ibidem, pág. 286.
  15. Pickering, Ernest, “The Tragedy of Compromisse”, Bob Jones University Press, pág. 140.
  16. Gilley, Gary, “This Little Church Went to Market”, Xulon Press, 2002, pág. 86.
  17. 1 Coríntios 2:15.
  18. McMahon, T. A., boletim “The Berean Call”, novembro de 1994, pág. 1.
  19. Warren, pág. 65.
  20. Ibidem.
  21. Ibidem.
  22. Pritchard, pág. 33.
  23. Pickering, pág. 40.
  24. Gilley, pág. 75.
  25. Warren, pág. 199.
  26. Pickering, pág. 112.
  27. Gilley, pág. 74.
  28. Ibidem, pág. 94.
  29. Pritchard, pág. 274.
  30. Ibidem, pág. 155.
  31. Ibidem, pág. 274.
  32. MacArthur, John, Our Sufficiency in Christ, Word Publishing, Dallas, TX, 1991, pág. 59.
  33. Rose, Eric, Entrevista pessoal com o autor. Eric Rose é pastor de jovens em Pickens, SC e possuiu um diploma em Aconselhamento pela Universidade Bob
    Jones. Os parágrafos precedentes que tratam do Aconselhamento Cristão foram baseados em informações fornecidas pelo Sr. Rose durante essa entrevista em
    maio de 2003.
  34. McMahon, T. A., “To Whom Shall Men Go?”, boletim The Berean Call, abril de 2003, pág. 2.
  35. Gilley, pág. 82.
  36. Ibidem, pág. 34.
  37. Ibidem, pág. 35.
  38. Payton, Leonard, “Congressional Signing and the Ministry of the Word”, www.thehighway.com, julho de 1998, pág. 1.
  39. Warren, pág. 234.
  40. Hebreus, 4:12.
  41. Warren, pág. 234.
  42. Ibidem, pág. 232.
  43. Ibidem, pág. 230.
  44. Ibidem, pág. 273.
  45. Pickering, pág. 131.
  46. Pritchard, pág. 177.
  47. Ibidem, pág. 157.
  48. Ibidem, pág. 279.
  49. Ibidem, pág. 70.
  50. Warren, pág. 62.
  51. Ibidem, pág. 65.
  52. Ibidem, pág. 195.
  53. Ibidem, pág. 199.
  54. Ibidem, pág. 227.
  55. Ibidem, 297.

Fonte: A Espada do Espírito


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