por: Scott Mooney
O Que Dirige Sua Vida?[*]
Este capítulo é construído restritamente sobre a ideia de significado e propósito introduzidas no capítulo anterior. Até agora nos foi dito que “Deus” é o “criador”, e nós, a criatura. Contudo não nos foi dito como os pensamentos na mente de Deus fazem par com os nossos, de modo que possamos “descobrir” o que é “revelado”. Foi dito que apenas a partir do nosso “relacionamento” com Ele podemos “descobrir” nosso significado e propósito. Contudo, não foi dito como isso acontece, pois nosso padrão é estar fora, e não dentro de tal relacionamento. Simplesmente nos é garantido que podemos agir, de alguma maneira, para buscar tal relacionamento, e que tendo agido assim podemos, com sucesso, “descobrir” significado e propósito. Contudo, não é dito como a criatura possa determinar algo para o Criador. A chave para resolver estas dificuldades é uma discussão clara e bíblica da Doutrina do Pecado, o que sofrivelmente falta neste tratado, até este ponto.
A ideia do Pecado esteve completamente ausente no Dia Um, este assunto foi mencionado no Dia Dois, e aqui vemos que este ponto é tocado de novo. “Quando Caim pecou, sua culpa o desconectou da presença de Deus” (p.28)[N.T. – a tradução em do livro de Warren para o português feita por James Monteiro dos Reis traz a expressão “fez cair” em vez de “desconectou”, como está no original.]. Warren evidentemente escolheu o caso de Caim porque o texto, então, prossegue a respeito dele “… será um fugitivo errante pelo mundo” (Gênesis 4:12). Isto leva bem a seu ponto, que “descreve a maioria das pessoas hoje em dia perambulando pela vida, sem propósito.” (p.28). Contudo, isso não caracteriza precisamente a natureza ou as conseqüências do pecado. Os pais de Caim, Adão e Eva, pecaram e não foram “desconectados da presença de Deus”, pois os vemos trazendo sacrifícios a Deus, o que foi o pretexto do pecado de Caim. Se a conseqüência do pecado fosse “sermos desconectados da presença de Deus”, então qual seria o significado de Gênesis 4:15, onde Deus “… pos um sinal em Caim…”? No contexto dessa tese, Warren parece querer dizer que estando em relacionamento – conectados – com Deus, nos é permitido “descobrir” nosso propósito, mas que estando fora de tal relacionamento – desconectados – Deus nos veda esta descoberta. Aqui ele declara que pecado é o que causa esta desconexão. Há uma forma de verdade, nisso. Contudo, como recontado acima, as ideias de Warren sobre Criador, criação, homem, existência e significado estão terrivelmente atrapalhadas, e em um estado que não se podem distingui-las das ideias do Humanismo. É crucial para restaurar o verdadeiro significado cristão destas coisas a verdadeira Doutrina bíblica do Pecado. Warren perdeu outra oportunidade de nos prover isto.
“Pecado é qualquer transgressão ou falta de conformidade à Lei de Deus”, é o que diz o Pequeno Catecismo de Westminter [1]. Isto é baseado na clara declaração de I João 3:4 “Qualquer que comete pecado também comete iniqüidade, porque pecado é iniqüidade”. O pecador é moralmente culpado perante Deus. O pecador não é “desconectado da presença de Deus”; ao invés disso, ele permanece sob a ira de Deus, “pelas quais coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência” (Colossenses 3:6). Há um verdadeiro sentido no qual o pecador é feito estranho à Graça de Deus, como é expresso em Isaias 59:1-2 “Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem o seu ouvido, agravado para que não possa ouvir. Mas as vossas iniqüidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus e o vosso pecado encobre o Seu rosto de vós, para que não vos ouça.” O verso um torna extremamente claro que não há nada errado com a audição ou força de Deus. O verso dois explica que se nós não gozamos de seu poder e sua atenção, temos somente a nossos próprios pecados para nos culpar. Isso é uma forma de julgamento. O pecador não é banido, ele é julgado.
De modo geral Warren fixou nossas dificuldades a algum tipo de alienação de Deus, devido a algum pecado. Mas esta discussão sobre esta questão é muito incompleta e dada em termos muito nebulosos. Não nos surpreende, então, ver que o remédio também é expresso em termos bastante nebulosos. Diz ele, “A especialidade de Deus é dar às pessoas um novo início” (p.28). Aqui o pecador é caracterizado como tendo perdido o significado e propósito, os quais deveriam vir de Deus, e a Graça de Deus para com ele é dá-lo outra chance. Warren não tentou definir o pecado, mas concentrou-se nos resultados ou conseqüências do pecado, o que ele sugere que seriam, basicamente, sermos “desconectados da presença de Deus”. Como Caim, ele diz, o “pecador” da atualidade vaga sem objetivos e sem propósitos pela vida. Sob alicerce tão instável fica impossível dizer o que, exatamente, seria esse “novo início”. A clareza da verdadeira mensagem bíblica apresenta distinto contraste com este pábulo. Biblicamente, o pecador ofendeu a Deus transgredindo Sua Lei, e fica condenado perante Deus. Ele [o pecador] não tem nada de bom em si mesmo, que pelo seus meios possa reparar seu pecado. A Graça de Deus para com ele consiste da Redenção – Sua obra em Cristo, a imputação da culpa dos pecadores a Cristo, que em Sua morte, sepultamento e ressurreição traz expiação dos pecados. O problema do “pecador” não é vagar sem propósitos pela vida. O pecador, do ponto de vista bíblico, escolheu a falta de propósitos ao invés de encarar seu dever para com seu Criador e Juiz. Sua “falta de propósitos” consiste em uma determinação pré-meditada de fugir de Deus. O remédio provido por Jesus Cristo não é um “relacionamento” que nos reconecta à origem cósmica da qual podemos “descobrir” significado e propósito. O remédio, biblicamente falando, é a Redenção – a Expiação de nossos pecados – de modo que a Graça de Deus possa nos atrair e não nos repelir dEle. A cada dia vemos Warren divergindo mais da ortodoxia.
A parte principal deste capítulo é uma pesquisa de várias coisas – culpa, ira, medo, materialismo, necessidade de aprovação – que guiam as vidas das pessoas. Warren argumenta, ao invés disso, que os propósitos de Deus é que deveriam guiar nossas vidas. É nisso que nós vemos a tese subjacente a sua marca registrada ” Uma Vida Guiada por Propósitos ” [N.T. – Esta é a tradução literal do título do livro]. Dado a forma como ele apresentou o problema – o pecado nos aliena de Deus, e como Caim, nós vagamos errantes pela vida, sem propósitos; Deus nos concede um novo começo, e agora podemos “descobrir” nosso propósito – a ideia de propósito ascende à suprema importância em seu esquema. “Nada é mais importante do que conhecer os propósitos de Deus para sua vida, e nada pode compensar o prejuízo de não conhecê-los.” (p.30). Para evitar que o leitor suponha erroneamente que Warren exagerou na importância de “propósito” ele o define em termos que não deixam dúvida. “O propósito se torna o padrão pelo qual você avalia quais ações são essenciais e quais não são… Sem um propósito claro, ficamos sem alicerce sobre o qual funda¬mentar decisões, destinar o tempo e empregar os recursos” (p.31). Com termos como “Nada é mais importante”, “padrão” e “alicerce”, é impossível para o leitor evitar a conclusão de que Warren concebe “propósito” como se fosse um deus na vida humana. “Propósito” até pode ser entendido como o poder de Deus. “Não há nada tão potente como uma vida direcionada, que é vivida com um propósito… O após¬tolo Paulo, por exemplo, difundiu o cristianismo no Império Romano praticamente sozinho. Seu segredo era uma vida direcionada” (p.32). Se o “segredo” de Paulo foi concentrar-se em algum “propósito”, então não foi o Cristianismo que ele difundiu por todo o Império Romano. O “segredo” de focalizar um “propósito” é uma ideologia de auto-ajuda que Warren rejeitou no Dia Um (veja p. 19).
Warren encerra este capítulo com uma introdução ao terma da eternidade. No final, quando estivermos perante Deus, ele imagina que Deus nos porá duas questões cruciais. Ele propõe que a primeira destas questões será “O que você fez com meu Filho, Jesus Cristo?” (p.34). Colocando o problema deste modo, apenas serve para reiterar uma questão já posta, e que ainda permanece sem a atenção de Warren: Como podemos, de modo significativo, falar de um relacionamento entre Deus e sua criatura como dependendo da iniciativa e poder da criatura? Nos termos desta discussão, poderíamos colocar: Como pode um pecador, morto em seus descaminhos e pecados, fazer algo por Jesus Cristo estando apartado da Graça de Deus? Warren cita João 14:6 “…ninguém vem ao Pai senão por mim”. Até o protesto arminiano cita João 15:5 “…sem mim nada podeis fazer.” Não resta dúvida que, se questionado diretamente sobre isso, Warren iria concordar com o ensinamento bíblico a respeito do povo de Deus, de que “estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)” (Efésios 2:5). Porém, aqui ele fala dessas coisas de uma maneira que glorifica a iniciativa e poder humanos, roubando de Deus a glória devida somente a Ele.
Warren imagina que a segunda questão colocada por Deus no final será “O que você fez com o que Eu te dei?” (p.34). Aqui ele se refere a nossos “dons, talentos, oportunidades, energia, relacionamentos e recursos” e se, ou não, nós “os usamos para os propósitos que Deus fez para você”. Warren estruturou “propósito” como algo que nós deveríamos, de algum modo, “descobrir” em Deus, e tendo uma vez captado isso, se torne algo mais importante do que qualquer outra coisa, e se torne o padrão e alicerce de nossas ações. Finalmente, ele se torna o critério pelo qual somos julgados por Deus. Fora da imaginação de Warren, nós lemos na Bíblia “Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio de seu corpo, ou bem ou mal” (II Coríntios, 5:10). Seguramente Deus irá nos julgar pelo que fizemos. Mas o critério não será o “propósito”. O critério será “bem ou mal”. Como podemos determinar bem ou mal? O próprio Deus personifica o padrão de bem e mal, e Sua Palavra nos revela isso. Warren encheu seu livro com referências à Bíblia (ou, na maior parte, com referências às paráfrases mais modernas da Bíblia), mas até este ponto no livro não foi explicado como deveríamos receber a Palavra de Deus de maneira diferente daquela que recebemos pensamentos que aparecem, que por si só, em nossas mentes. Sem uma clara distinção entre Criador e criatura não pode haver distinção decisiva entre as palavras do “Criador” e as palavras da criatura. Neste caso não pode haver um claro padrão da justiça nas palavras do “Criador”, à qual a criatura tem o dever de se submeter. Sem que o pecador se curve com arrependimento perante o Criador pode haver apenas o Humanismo, para o qual cada homem é uma lei para si mesmo. A ideia de Warren de julgamento como um “propósito” não contraria a moralidade Humanista. Todavia, iremos insistir nisso neste tratado.
[*] Nota dos editores do Música Sacra e Adoração: Todas as indicações de páginas referem-se à edição original, em inglês
[1] – O autor é calvinista, o que justifica a citação a documentos do Calvinismo. Todavia, os autores do Música Sacra e Adoração consideram o conteúdo geral do artigo de grande valor para a compreensão de conceitos básicos da adoração a Deus, justificando assim sua publicação neste espaço virtual.
Fonte: https://purposejourney.blogspot.com/
Traduzido por Renato Tavares em maio/2008, mediante autorização expressa do autor
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