Michael Craven
A Igreja da Comunidade Willow Creek, localizada na área suburbana de Chicago, tornou-se uma das igrejas evangélicas mais influentes na América. Tendo dado origem ao modelo de igreja “sensível aos que buscam”, com sua ênfase em atrair grande número de pessoas, ela ajudou a moldar a eclesiologia de uma geração de pastores e líderes eclesiásticos. A igreja de Willow Creek também tem sido o alvo de muitas críticas, por parte de muitos outros líderes evangélicos. Os críticos argumentam que a abordagem “sensível aos que buscam” produziu uma igreja conhecida como tendo “um quilômetro de extensão e um centímetro de profundidade”, referindo-se à sua falta de profundidade espiritual e teológica. Estou inclinado a concordar com esta crítica.
É claro que esta crítica exige alguma qualificação. A frase “um quilômetro de extensão” implica que, apesar de quaisquer outras deficiências, a igreja ainda está crescendo, num momento em que, de acordo com a Pesquisa de Identidade Religiosa Americana, o cristianismo está, na verdade, encolhendo na América e, independentemente dos números, não há dúvidas de que o cristianismo não exerce mais sobre a nossa cultura a influência que já exerceu. Além disso, enquanto as mega-igrejas parecem estar despontando em cada esquina, igrejas menores estão fechando em números recordes. Poderia ser argumentado que as mega-igrejas, em vez de trazerem mais pessoas para o Reino, estão realmente apenas empurrando as igrejas menores para “fora do mercado” e consolidando os “consumidores” cristãos, mais ou menos da mesma forma que o Wal-Mart causou impacto nas pequenas mercearias.
Recentemente, a igreja de Willow Creek publicou os resultados de sua pesquisa congregacional de 2004, intitulada “Revelação: Onde Está Você?” Os resultados surpreendentes exigiram que os autores do estudo, incluindo o pastor executivo Greg Hawkins, dissessem ao pastor sênior Bill Hybels que “a igreja não é tão eficiente quando havíamos pensado”. No Prefácio do relatório, Bill Hybels faz uma surpreendente [e penso que seja humilde] admissão: “… partes da pesquisa não brilharam sobre a igreja. Entre as descobertas, [vimos que] aproximadamente um em cada quatro pessoas nA igreja de Willow Creek estão estacionadas em seu crescimento espiritual ou insatisfeitas com a igreja – e muitos deles estão considerando nos deixar”.
No relatório, a igreja de Willow Creek reconhece que têm empregado por muito tempo o “Modelo de Atividade da Igreja para o Crescimento Espiritual”. Essencialmente, a premissa era que conforme “uma pessoa afastada de Deus participe nas atividades da igreja”, ela eventualmente se tornará “uma pessoa que ama a Deus e ama aos outros”. Agora, isto poderia significar qualquer atividade, seja orientar o tráfego no estacionamento ou trabalhar como voluntário na creche. Chamo esta abordagem de “fé por osmose” – a ideia de que, na medida em que a pessoa está no ambiente da igreja, ela crescerá espiritualmente.
Para seu crédito, a igreja de Willow Creek faz e responde à seguinte pergunta: “Uma crescente audiência aos programas do ministério é automaticamente comparável a crescimento espiritual? Para sermos brutalmente honestos: não… somente a atividade na igreja não causa um impacto direto no crescimento [espiritual] do coração…”
O problema começa quando você adota a crença de que, para atrair pessoas “afastadas de Deus” a igreja e todas as suas práticas e tradições deveriam ser alteradas, de forma a evitar coisas que as pessoas que não são da igreja poderiam sentir como “estorvos”. Uma vez adotada, esta crença alteraria dramaticamente a adoração, a pregação e a eclesiologia em geral. Sob este novo paradigma, tudo na igreja institucional que era anteriormente orientado a, e reservado para os crentes batizados, seria agora redirecionado para os descrentes ou, na linguagem da igreja de Willow Creek, “os que buscam”, daí o termo “sensível aos que buscam”.
Praticamente, isto significaria que a pregação expositiva tradicional, a qual enfatizava a teologia e a doutrina, seria substituída por uma pregação em tópicos, a qual atenderia as necessidades presumidas dos ouvintes. A adoração seria centralizada mais na experiência e na satisfação do auditório, em vez da glória e majestade de Deus – não que ambas não possam ser alcançadas, mas a primeira deve seguir-se à segunda. E o discipulado seria substituído por programas de grande abrangência, planejados para treinar e posicionar os novos “salvos” em técnicas e “programas” evangelísticos simplistas. No final, o método FBE (Fique no Básico, Estúpido) tende a governar tudo, acrescentando ainda mais ênfase no espírito anti-intelectual que tem tornado a igreja americana grandemente irrelevante.
A deficiência desta abordagem torna-se aparente no fato de que o grupo “mais insatisfeito” dentro da igreja, de acordo com a pesquisa, foram aqueles considerados como sendo os mais maduros espiritualmente. As suas principais reclamações? “Eles desejam muito mais desafio e profundidade nos cultos” e “60 por cento gostariam de ver mais ensinos bíblicos profundos” – as mesmas coisas que o modelo “sensível aos que buscam” reduz em importância.
Apenas para ser claro, não creio que a igreja de Willow Creek, ou qualquer outra mega-igreja “sensível aos que buscam”, esteja, ou tenha estado, tentando solapar a igreja ou o evangelho tradicional. Exatamente ao contrário, estou disposto a crer no melhor: que estes novos métodos e técnicas são genuinamente motivados por um desejo de “ir e fazer discípulos”. Infelizmente, este não tem sido o caso e é disto, até certo ponto, que a igreja de Willow Creek se deu conta.
Embora não concorde com todas as interpretações que a igreja de Willow Creek faz dos resultados do estudo ou com a abordagem à eclesiologia como “pesquisa de consumo”, sem dúvida aprecio a coragem da igreja de Willow Creek em trazer à luz revelações críticas à sua abordagem ao ministério. Isto é honesto e revela o que só posso considerar como sendo um desejo sincero de servir melhor a Cristo e Sua missão no mundo.
Ainda creio que existem muitas coisas sobre as quais devemos pensar com relação ao cristianismo na América e aquilo que entendemos como sendo a missão da igreja no mundo, as quais exigem sérias críticas e reformas. Para começar, o relatório da igreja de Willow Creek revela que antes desta pesquisa eles criam que a “atividade espiritual” produziria crescimento espiritual, embora hoje compreendam que “o crescimento espiritual só está relacionado ao aumento da intimidade relacional com Cristo.” Em outras palavras, é só seguir a Jesus! Fico me perguntando quantas outras igrejas não entenderam este ponto essencial!
Ainda resta vermos o que a igreja de Willow Creek e os seguidores deste modelo farão com as informações críticas reveladas nesta pesquisa. Ela poderia ser um instrumento para trazer uma real e necessária reforma na igreja americana. Oro para que seja este o caso. Certamente, será necessária grande coragem, força de convicção e humildade para confrontar as sérias questões levantadas pelos resultados. Deveríamos todos estar em oração em favor da igreja de Willow Creek e todos aqueles que têm seguido seu modelo, enquanto eles lutam com sua resposta a essas revelações desafiadoras. Pessoalmente sou agradecido a meus irmãos e irmãs da igreja de Willow Creek por sua transparência. Oro para que todos nós examinemos como “fazemos a igreja” e olhemos uma vez mais para as Escrituras em vez de olharmos para “especialistas em marketing” em busca de orientação em executar a missão da igreja na terra para a glória de Cristo.
Fonte: Adventist Review Online
Tradução de Levi de Paula Tavares em dezembro de 2007