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O Cristão e a Música Rock – Capítulo 14

por: Brian Neumann

Da Música Rock para a Rocha Eterna



Brian Neumann é um músico Sul-africano que passou 16 anos de sua vida na indústria da música rock antes de voltar para a igreja Adventista do Sétimo Dia. Ele trabalhou como vocalista, guitarrista, compositor, e músico, tanto na Europa quanto na África do Sul. Polydor Records – uma das maiores companhias gravadoras internacionais na Alemanha – assinou contrato com a sua banda, The Reespect, e lançou a gravação popular “She’s so Mystical”.

Durante esta época, sua banda apareceu com músicos tais como Elton John, Janet Jackson, e os Communards. Como músico, Neumann teve a oportunidade de trabalhar em alguns dos melhores estúdios disponíveis na indústria fonográfica.

Desde a sua conversão, Neumann tem feito extensas pesquisas sobre a linguagem musical, a seus efeitos mentais, físicos e espirituais. Atualmente ele apresenta e dirige seminários musicais por toda África, Europa, Canadá e Estados Unidos.


Minha peregrinação espiritual da música rock para a Rocha Eterna (N.T. – O autor faz aqui, bem como no título do capítulo, um trocadilho intraduzível, entre “Rock Music” (Música Rock) e “Rock of Ages” (Rocha Eterna).) é uma história dolorosa de vícios, auto-destruição, e redenção final. Compartilhar esta experiência dolorosa é como abrir uma ferida que está sarando. Mesmo assim, a minha esperança é que esta dor possa ter um efeito curativo em minha vida e uma influencia redentora na vida de outros.

Nasci no Malawi, África, em 25 de março de 1961, depois que Bill Halley e seus “Cometas” surgiram no cenário dos anos cinqüenta com a música “Rock Around the Clock”. Naquele tempo, ninguém sonhava que o rock ‘n’ roll iria, realmente,

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balançar até que os ponteiros do relógio profético dessem a meia-noite. Estudiosos da Bíblia que vêem o cumprimento dos sinais proféticos do tempo do fim podem sentir mais do que apenas ironia por trás da declaração de Nick Paul: “Talvez a música rave seja verdadeiramente a música do fim do mundo.” 1

Desde o início, nos dias do pioneirismo de Elvis, Little Richard e toda uma multidão de outras celebridades do pop-rock até as tendências atuais do rap, techno e rave, ainda podemos sentir, quase até a medula dos nossos ossos, o “balançar, sacudir e girar” desta essência impulsionadora por trás de todas as formas de música popular – a batida.

Como a Música Rock Entrou na Minha Vida

Tendo nascido num lar de um casal missionário Adventista do Sétimo Dia no coração da África, parece absurdo que eu, seu filho mais novo, algum dia encontraria meu caminho de ingresso no mundo do rock. Mesmo assim, isto aconteceu. Na época que alcancei a idade de três anos, nós havíamos nos mudado para perto da Cidade do Cabo, África do Sul, e minha mãe e meu pai haviam se divorciado. Eu me senti rejeitado e enganado; e as circunstancias da minha vida eram ideais para que eu começasse a tomar um rumo que me levaria para mais e mais longe da fé do meu nascimento. Deixe-me contar-lhes como tudo isto começou.

Até 1976, não tínhamos televisão na África do Sul. Assim, minha primeira exposição à música popular foi através do rádio e de discos que meus amigos compravam e me emprestavam. Vim de um ambiente razoavelmente protegido em meu lar adventista, e assim, raramente estava exposto aos sons da música rock. Minha iniciação à música rock foi bastante gradual. Uma canção levava a outra, e o rock suave levou ao rock mais pesado.

Em pouco tempo, meu amor natural pela música e a arte foi canalizado para a “ilusão” envolvente e psicodélica dos anos 70. Em vez do manso e amável Jesus, meus novos heróis eram astros populares que iam e vinham como peões nas mãos de Satanás – Jimi Hendrix, Os Rolling Stones, Pink Floyd, Uriah Heep, Led Zeppelin, Carlos Santana, and Deep Purple, para citar apenas alguns. Eles se tornaram meus modelos de vida. Eles usavam drogas, então eu usava drogas. Eles eram obcecados por sexo em suas existências sombrias, então eu fiz do sexo uma força impulsionadora da minha vida também. Alguns astros de rock experimentavam o ocultismo, então, eu também me tornei fascinado pelo Diabo. Na época que a televisão chegou na África do Sul, no meio dos anos 70, minha decisão já estava tomada. Eu não viveria mais de acordo com os valores que minha família havia me ensinado.

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A música rock se tornou rapidamente meu coração e minha alma, o idioma ideal para expressar meus valores, objetivos e estilo de vida. Assim como para outros incontáveis jovens, tornou-se o meio através do qual eu podia expressar minha rebelião contra os valores da minha família, a igreja e a sociedade.

Em um tempo relativamente curto, me tornei completamente dependente do “barato” (N.T. – O termo original em inglês, “groove” é uma gíria que indica uma sensação prazerosa e que poderia, na gíria em português, ser chamada de “barato”, como nas “viagens” movidas a alucinógenos.), de toda a ideia e filosofia que impulsionava o trem de carga trovejante do rock. Minha mente e meu corpo foram completamente cativados. Fui capturado pelo poder, pelas roupas, a fama e a presença global absoluta da revolução do rock.

Minha dependência da música rock tornou-se tão forte que eu buscava desesperadamente satisfazer meus desejos, ouvindo-o constantemente, sentindo e me alimentando de sua batida hipnótica. Logo me vi quase que corporalmente separado do mundo e da fé religiosa de meus pais. Uma nova era, uma nova cultura, tinha tomado o palco principal da minha vida – assim como tem feito nas vidas de tantos outros.

Uma Vida de Rebelião e Isolamento.

A rebelião e isolamento que a música rock trouxe à minha vida deu um realismo profético às palavras do astro do rock David Crosby: “Descobri que a única coisa que eu tinha a fazer era roubar seus filhos. Dizendo isto, eu não estou falando de seqüestro, estou apenas falando sobre mudar o sistema de valores, o que os remove do mundo de seus pais de forma muito eficiente.” 2

A música rock realmente me tirou de forma eficaz do mundo dos meus pais. Antes dos meus vinte anos eu já tinha fugido da escola, fugido de casa, sido preso pela polícia por causa das drogas e furtos e já havia brigado, às vezes fisicamente, com outros estudantes e com professores. O coração da minha mãe estava quebrantado. Naquela época, era difícil para ela ver alguma luz no fim do túnel, e ainda assim, ela perseverava em constante oração e fé, confiando que algum dia uma mudança radical ocorreria.

Mesmo se eu tivesse compreendido o poder do rock para alterar a mente, muito provavelmente isto não teria feito qualquer diferença. Eu ainda teria escolhido, contra qualquer outro melhor juízo, fazer “minhas próprias coisas”. Fazer “as tuas próprias coisas“, é claro, é um contra-senso, porque “fazer as tuas próprias coisas”, invariavelmente envolve seguir os ditames das tendências populares. A maioria dos jovens que falam para seus pais “Eu quero fazer minhas próprias coisas“, estão dizendo que querem fazer o que os outros jovens estão fazendo. Eles não querem ser os diferentes, que ficam de fora.

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Em meu caso, fazer minhas próprias coisas significava expandir meus talentos musicais recentemente descobertos para dentro do mundo psicodélico da música popular. Meu sonho era aprender a tocar guitarra, o que eu estava fazendo muito rapidamente, de forma que pudesse penetrar no mundo glamuroso de ‘sexo, drogas, moda e rock ‘n’ roll’. É claro, eu sabia – ou pensava que sabia – que era disso que se tratava. As propagandas, as letras, a moda e o estilo de vida dos meus heróis havia enviado uma mensagem alta e clara. O gerente dos Rolling Stones disse certa vez, de forma muito clara: “Rock É sexo. Você tem que bater na cara dos adolescentes com ele!”. 3 Sem qualquer discussão, o Rock me atingiu com força total.

É bem conhecido que o rock ‘n’ roll é profundamente enraizado de sexo e das avenidas para o oculto. Por exemplo, em 1994 duas edições da revista de heavy metal Sul-Africana Ultrakill, trouxeram um artigo na contra-capa intitulado: “The Truth about the Devil” (A Verdade Acerca do Diabo). Este artigo declarava: “Nós temos Satanás, Belzebu, Satanás, a Serpente e senhor da desordem. Existe uma conexão musical entre tudo isso. Mesmo antes do heavy metal, o Diabo tinha um interesse no rock ‘n’ roll. O próprio termo rock ‘n’ roll começou como uma expressão dos negros americanos para o sexo. E a procriação pecaminosa tem sido o território do Diabo por muito, muito tempo”. 4

Como a Música Rock Embalou a Minha Vida

Para aqueles que não compreendem os mecanismos em operação no rock, é difícil perceber como algo aparentemente tão inócuo quanto a música pode ter efeitos que causam tamanha alteração na vida daqueles que se expõe à sua influencia. Desde o princípio de tudo, senti os efeitos do rock sobre a minha mente e o meu corpo.

Anos mais tarde, aprendi as razões científicas para os efeitos fisiológicos e psicológicos da música rock. Na verdade, descobrir estas razões científicas não me trouxe nenhuma nova luz. Eu já tinha vivido e experimentado o poder hipnótico que o rock tem para alterar a mente. Tudo o que aprendi, e ainda estou aprendendo, serve apenas para corroborar o que experimentei dolorosamente durante aqueles anos que passei ouvindo e executando música rock.

A primeira vez que fui exposto ao rock pesado foi no começo dos anos 70. Imediatamente ele capturou minha atenção e tornou-se impossível para mim romper com ele. Eu estava absorvendo religiosamente a batida incessante e pulsante do rock. Ele causava um fluxo incrível de adrenalina em meu corpo e evocava um sentimento de abandono descuidado e confiança destemida. Eu sabia que, se não fosse por um ato divino, nunca me libertaria de suas garras na minha vida.

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De repente, tudo se tornou possível, e não apenas possível, mas aceitável. Esta era a época do sexo e drogas livres, promovidos pelo mundo do rock. Eu queria ser uma parte deste mundo de sonhos. A música tinha uma capacidade estranha de quebrar os muros de resistência em minha mente e me abriu para a ideia da experiência com drogas e uma variedade de outras coisas. A própria música tinha se tornado uma droga para mim.

Na verdade, eu não precisava de outras substancias para alterar a minha mente. A própria música me deixava “alto” por si só. É claro, isso não diminuía a minha necessidade por outras drogas ‘de verdade’. O rock só aumentava o meu desejo de levar a adrenalina a limites cada vez mais altos. A combinação de rock e narcóticos perigosos tornou possível fazer “viagens” de êxtase. Aquilo que era errado, de repente se tornava certo; aquilo que era certo se tornava ou chato ou errado. É difícil de acreditar como o rock e as drogas podem prejudicar e mesmo destruir a consciência moral de uma pessoa.

Desde os primeiros tempos do rock, todos os grandes astros sabiam que a música rock tem a habilidade de hipnotizar e enfraquecer a resistência moral das pessoas. O próprio Jimi Hendrix declarou explicitamente: “As atmosferas virão através da música, porque a música é uma coisa espiritual em si mesma. Você pode hipnotizar as pessoas com a música e quando faz com que elas cheguem ao seu ponto mais baixo, pode pregar ao subconsciente delas qualquer coisa que quiser dizer.” 5

A música rock e a cultura popular pregaram ao meu subconsciente que não havia nada de errado com sexo pré-conjugal. O resultado se tornou evidente em 1980; um ano depois de terminar o colegial, minha namorada ficou grávida e deu a luz a uma menina. De fato, ter filhos fora do casamento é uma das características mais comuns da cultura do rock. A própria terminologia que está em conexão com a cultura do rock tem fortes sobre-tons sexuais ou demoníacos. Por exemplo, os termos jazz, rock ‘n’ roll, groovy, mojo, funky e boogie têm, todos eles, sobre-tons sexuais ou demoníacos.

Subindo a Escada do Rock

Depois do nascimento da nossa filha, que demos para adoção, me ocupei estabelecendo-me no cenário musical local na África do Sul. “Front Page” era o nome da banda da qual eu participava, e nós estávamos aparecendo na televisão. Nossa música era tocada em algumas das estações de rádio populares. Estávamos fazendo turnês e concertos e recebendo entrevistas de rádios e jornais. Para todos os fins e propósitos, estávamos subindo a escada para ficar “em cima da pilha”.

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Drogas se tornaram uma parte natural da minha vida, e meu interesse pelo ocultismo, que tinha começado na minha juventude, era agora uma obsessão completa. Astrologia, numerologia, e outras práticas ocultistas tornaram-se a ordem do dia. Embora eu estivesse subindo a escada do sucesso no rock, estava caindo rápido na espiral descendente das trevas exteriores do rock ‘n’ roll.

Com a idade de quatorze anos, tive meu primeiro encontro com o mundo dos espíritos. Minha criação Adventista do Sétimo Dia forçosamente me tornou consciente de que eu estava brincando com fogo, mas o desejo pela fama, dinheiro e vida na alta sociedade da cultura popular do rock tinha se tornado tão avassalador que eu estava pronto a vender a minha alma pela oportunidade de ser parte de tudo isto.

Este era literalmente o preço que eu estava preparado a pagar. Um dia em meu quarto no Colégio Helderberg derramei meu coração diante do meu senhor – mas meu senhor não era mais Cristo. Eu fiz uma promessa ao Demônio que, se ele me ajudasse a realizar os meus sonhos, eu daria a minha vida ao seu serviço.

Alemanha: De Cima para Baixo

Em 1980 eu estava me tornando conhecido no campo profissional da música popular. Por algum tempo toquei com a banda popular local “Trapeze”. Logo fui convidado para me juntar ao prestigiado grupo “Front Page”, e através deste grupo estabeleci uma forte amizade com Manlio Celloti, o principal produtor italiano dos EstúdiosHI-Z, na Cidade do Cabo. Celloti foi valioso na formação de uma nova banda, formada por três pessoas, que se tornou conhecida como “The Reespect”. Dois mebros da banda tinham tocado com os “The Boys” – uma banda popular que tinha tido sucesso com uma canção chamada “Fire”.

Depois de um ano no estúdio, gravando músicas para novos álbuns, fomos convidados para tocar na Alemanha. Em fevereiro de 1986 eu me encontrava em um vôo para a Europa e para novos horizontes em minha perseguição da euforia musical. Encontrei-me ali com os outros dois membros da banda e com Manlio, nosso novo produtor e nosso empresário.

Três meses depois da minha chegada à Alemanha, nossa banda de rock “The Reespect” assinou um contrato com a gravadora Polydor Records em Hamburgo. (Nós acrescentamos o ‘e’ extra ao nome da banda para dar a ele um valor numerológico mais favorável à sorte.) Esta prestigiosa gravadora fazia os lançamentos dos discos de bandas como Os Beatles, Level 42, Chris de Burg, e muitas outras bandas de rock famosas.

Em 1986 a Polydor lançou nosso primeiro álbum, “She’s so Mystical” a depois “Mamma Mia”. O lançamento destes álbuns abriu novas portas

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de oportunidades para nós. Fomos convidados a aparecer em um LP alemão com compilações de vários sucessos com artistas como Janet Jackson e Elton John.

Nosso tecladista, Thomas Bettermann, tinha vindo de uma banda de jazz internacional famosa “Volger Kriegel, Mild Maniac”. Ele se tornou uma parte regular de todo o nosso trabalho de composição e estúdio. Em setembro de 1986, voamos de Colônia para Hamburgo para uma grande convenção de gravadoras. No aeroporto, fomos recebidos por um representante da Polydor em uma enorme limusine preta. Parecia que estávamos no caminho certo para o “grande sucesso”.

A vida se tornou uma miragem constante de concertos, sessões de estúdio, entrevistas, mulheres, drogas e mais drogas. Por esta época, meu estado moral estava deteriorado a tal ponto que nenhum tipo de vício era grande demais para mim. O sucesso de nossos discos causou divergências entre os membros da banda e nossas ideias musicais diferentes, que tinham funcionado inicialmente para nossa vantagem, agora começaram a nos separar. Finalmente, terminamos rompendo.

Lancei-me em uma carreira solo que me levou a mais estúdios para fazer sessões de trabalho. Sessão de trabalho é como um músico free-lancer, que é contratado para gravar ou fazer apresentações ao vivo para diferentes bandas ou estúdios. Com esta mudança, meu consumo de drogas aumentou.

Como vocês podem imaginar, nesta época a minha vida tinha se tornado em uma ruína moral. Paradoxalmente, em meu conceito Nova Era torcido de religião, eu pensava que tinha alcançado um tipo de nirvana espiritual. Na realidade, estava raspando o fundo das trevas espirituais. De forma embaçada, às vezes eu vislumbrava os raios da verdadeira luz, que tremeluziam, e me agarrava pateticamente a eles, apenas para deixa-los ir e descobrir que a luz estava se enfraquecendo mais e mais.

Foi neste momento de minha carreira que, depois de uma maratona de sessões em estúdios e uma grande loucura de drogas em Hamburgo, me encontrei um dia deitado com o rosto no chão frio de um banheiro na casa de uma amiga vocalista. Eu estava me afogando no meu próprio vômito, lutando pela minha vida, e clamando pelo Deus da minha juventude a quem eu tinha negligenciado por tanto tempo.

Esta foi a luta de vida e morte mais importante da minha vida. Por horas eu lutei contra as garras das trevas que ameaçavam me engolfar. Meu corpo estava carregado com quatro dias de farra, velocidade, cocaína e heroína. Se não tivesse sido pela compaixão e providencial auxílio de Deus, a batalha pela minha vida teria sido perdida bem ali. Mas Deus ouviu o meu clamor de desespero e, embora eu não merecesse graça alguma, Ele me agarrou da borda do precipício e me deu uma outra chance.

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O Retorno à África do Sul: Um Novo Começo

Alguma coisa aconteceu aquele dia em Hamburgo, Alemanha. Minha condição desesperadora me fez compreender que só existe um único Deus e apenas um único caminho verdadeiro para a vida e felicidade. Senti que, em Sua misericórdia, Deus estava disposto a perdoar meu passado pecaminoso e me aceitar de volta como o Filho Pródigo. Minha jornada espiritual tinha dado uma guinada importante, mas este era apenas o começo de uma viagem tortuosa. Muitas vezes experimentei recaídas para a música rock antes de ganhar a liberdade completa de sua dependência.

O primeiro passo importante que tomei foi cancelar todos os meus compromissos agendados anteriormente para gravar e tocar na Alemanha. Decidi voltar para a África do Sul para começar uma nova vida. Infelizmente, minha decisão repentina desapontou e magoou algumas pessoas. Minha namorada sueca, meu produtor, e meu colega de apartamento todos foram afetados por minha pressa de “simplesmente sair fora.”

Mas o cume da montanha ainda estava oculto à vista. Os dezessete anos que eu tinha passado tocando rock e consumindo drogas tinham exigido o seu preço. Olhando para trás, entendo que não apenas as drogas e o estilo de vida decadente haviam consumido meu corpo. O fator mais importante desta equação era a própria música rock, que instigava toda espécie de males na minha vida.

É impossível descrever os efeitos devastadores da música rock em minha vida espiritual, moral e física. A batida do rock, mesmo sem levar em conta a letra, atacava todas as sensibilidades do meu organismo com uma implacável força demoníaca. Isto foi verdade não apenas para mim, um indivíduo relativamente desconhecido, mas para toda a quantidade incontável de vítimas famosas na grande piscina do rock ‘n’ roll.

O famoso astro de rock David Bowe, com vislumbre quase profético, advertiu: “Creio que o rock ‘n’ roll é perigoso, ele pode muito bem trazer um sentimento muito maligno para o Ocidente…. [o pêndulo] tem que ir para o outro lado agora, e é para lá que eu o vejo indo, trazendo a era de trevas…. Sinto que estamos apenas anunciando algo ainda mais tenebroso do que nós mesmos. [O rock ‘n’ roll] deixa entrar elementos baixos e sombras que não creio que sejam necessários. O rock sempre foi a música do Diabo. Vocês não podem me convencer de que não é.” 6

Numerosos astros de rock tem falado de forma inequívoca sobre os efeitos destrutivos da batida do rock sobre o organismo humano. O próprio John Lennon declarou: “Rock ‘n’ Roll é primitivo e não tem escrúpulos… Ele passa através de você. Sua batida vem da selva – eles tem o ritmo.” 7

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O empresário de rock punk Malcolm McLaren declarou: “Rock ‘n’ Roll é pagão e primitivo, e muito selvagem, e é assim que ele deve ser! No momento em que deixar de ser essas coisas, está morto…. o verdadeiro significado do rock é sexo, subversão e estilo.” 8

Do Hard Rock Para o Rock Cristão

O retorno para minha terra natal na África do Sul deixou muitas pontas soltas no além-mar. Estes problemas não me preocupavam porque eu estava determinado a romper com meu passado pecaminoso e a forjar uma nova vida. Eu decidira seguir o exemplo dos Músicos Cristãos Contemporâneos usando meu talento musical e uma versão modificada da música rock como uma ferramenta de testemunho.

Em vez de letras pervertidas, comecei a compor canções com uma forte mensagem profética e espiritual, que era baseada na Bíblia. O estilo da música era uma mistura de funk, rock, rap, e pop comercial. Assim como muitos outros artistas da MCC, eu cria que poderia alcançar especialmente a geração jovem, apresentando a eles a mensagem do evangelho através do meio musical rock, o qual eles reconheceriam de imediato e aceitariam prontamente.

Aqui eu comparo meu compromisso musical com um carro customizado. O interior do meu veículo era feito com o tecido da mensagem cristã, a carroceria era decorada com o trabalho de pintura assombroso do rock ‘n’ roll, e as janelas eram escurecidas com as sombras escuras de uma cegueira semi-espiritual. Ninguém poderia realmente ver o interior do veículo que eu estava dirigindo. Eu nunca me conscientizei, naquela época, quão inadequada era a minha visão espiritual.

Naquele tempo, contudo, eu sentia sinceramente que o Senhor estava me guiando em uma nova avenida do Seu serviço. A razão e a lógica por trás de minhas escolhas e as decisões que estava tomando pareciam ser profundamente sinceras e coerentes para mim e o encorajamento que eu recebia daqueles que eram abençoados pelo meu ministério confirmavam meu modo de pensar.

Como Paulo, queria me tornar “tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns” (I Coríntios 9:22). Esta lógica é usada hoje por artistas cristãos que criam versões modificadas de música rock para testemunhar ao mundo. Infelizmente, eles não entendem que tornar-se tudo para todos não quer dizer comprometer a pureza e os princípios do evangelho.

Em lugar algum a Bíblia sugere que para testemunhar ao mundo de maneira eficaz precisamos utilizar os métodos do mundo. Ao contrário, a Bíblia ensina: “Não vos prendais a um jugo desigual com os incrédulos; pois que sociedade

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tem a justiça com a injustiça?” (II Coríntios 6:14). A aplicação deste princípio nos conclama a termos a coragem de nos dissociarmos das várias formas de impiedade promovidas pela música rock.

Uma vez que a pessoa aceita que a estrada do comprometimento é sempre progressiva, ela deve reconhecer o pecado em sua vida pelo que ele realmente é. E quando convencida da culpa do pecado, o próximo passo é o arrependimento. Uma vez que tenha se arrependido, tudo se parecerá com um fardo de coisas sem sentido, se este arrependimento não for acompanhado de uma conversão genuína – o abandono das coisas velhas e apego a novas coisas.

Para experimentarmos o poder renovador do Espírito Santo, precisamos dar ouvidos à Sua convincente voz e jogarmos fora todo o lixo escondido em nosso armário, para darmos espaço para a pureza e a santidade. Tiago nos lembra que “a amizade do mundo é inimizade contra Deus. Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tiago 4:4). Levou tempo até que eu aprendesse esta importante lição. É desnecessário dizer que minha peregrinação, a partir da música rock para a Rocha Eterna foi bastante pedregoso.

Mudar a Letra Não é Suficiente

Quando eu deixei a minha carreira de músico de rock para trás, para começar a compor e executar “Rock Cristão”, muito havia mudado na minha vida. Porém, a coisa propriamente dita que havia me capturado a princípio ainda permanecia lá. Eu tinha dependência do ritmo da própria música rock. Ele tinha me acorrentado muito mais do que todos os meus outros vícios juntos. A letra é muito importante, mas o elemento mais poderoso da música rock é a sua batida.

Muitos artistas cristãos tentam justificar o uso do rock nos cultos cristãos pela tentativa fútil e ilógica de mudar a sua letra. Eu mesmo havia caído nesta armadilha também. Não compreendi que não poderia alcançar o mundo secular de forma legítima usando uma linguagem que tinha se provado ser desastrosa.

Cristo misturou-se com os excluídos para que pudesse alcança-los, mas Ele nunca sacrificou Seus princípios morais para atrair àqueles a quem estava ministrando. Ele não se vestiu como uma prostituta para alcançar uma delas. Nunca se embebedou para alcançar os alcoólatras. Nunca praticou a desonestidade para alcançar os coletores de impostos. Ele não cantou música sensual para excitar as pessoas fisicamente. Em todas as circunstâncias, Ele estabeleceu o exemplo da conduta pura, refinada e sem mancha. Foi sua vida de pureza e integridade combinada com o poder do Espírito Santo para convencer do pecado que tocou as vidas de tantos.

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Rock Secular e Rock “Cristão”

A despeito de afirmações contrárias, não existe diferença significativa entre a música rock secular e a sua versão “cristã”. Por que? Simplesmente porque ambas compartilham do mesmo ritmo musical e são impulsionadas pela mesma batida implacável. Música Cristã Contemporânea em suas formas rock, rap, rave, jazz, metal, ou outras relacionadas, compartilham o mesmo ritmo acentuado, sincopado e persistente da “batida do rock”. Outros aspectos também podem ser compartilhados, mas a batida é o verdadeiro coração e alma do problema.

A despeito de sua letra, a Música Cristã Contemporânea que esteja em conformidade com os critérios essenciais do rock em qualquer sentido, não pode ser legitimamente usada para a adoração na igreja. A razão é simples. O impacto da música rock, qualquer que seja a versão, se dá através da sua música e não através da sua letra.

Alguns argumentam que a música chamada de “soft-rock” não deveria ser colocada na mesma categoria que as formas mais pesadas de rock. Isto não é verdade. Muito do soft-rock, embora seja de natureza mais lenta, ainda carrega uma batida consistente, sincopada e ela freqüentemente é hiper-acentuada. Outro ponto importante a considerar é a expressão, atmosfera e entonação do soft-rock.

Palavras cantadas com tons sussurrados, supersentimentais sugerem uma atmosfera de amor ou luxúria entre um homem e uma mulher. Dificilmente isto provê um meio apropriado para expressar o amor por um Deus santo. Eu não estou falando apenas da letra aqui, nas também da atmosfera e entonação. Quaisquer palavras, sejam faladas ou cantadas, são expressas em uma entonação única para conduzir uma intenção especial.

Música planejada para expressar o amor por Jesus deveria estar em conformidade com o que os gregos chamam de “ágape” – amor que é altruísta, e não o que é denominado de “eros” – amor que é erótico e centrado no eu. Ao escolhermos nossa música cristã hoje, temos que exercer um grande cuidado e discernimento porque nem tudo o que vem com um rótulo de cristão colado, é necessariamente cristão. Isto é verdade, mesmo se não tiver uma batida pesada.

Música como Apoio Evangelístico

A Música Cristã Contemporânea é vista por muitos como um meio eficaz para converter pessoas a Cristo. Surpreendentemente, porém, nada na Bíblia ou na história da igreja indica que a música jamais tenha sido usada como ferramenta evangelística. A função primária da música é adorar e louvar a Deus. É a falta de fé no poder do Espírito Santo que tem feito a música ser, para muitos, um método essencial de apoio para a evangelização de descrentes e

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o entretenimento dos crentes. O resultado é que a nossos cultos de adoração estão se tornando espirituosos, e não espirituais.

Alguns têm suplantado o poder do Espírito Santo com o espírito hipnótico da música. Foram tão cegados pelo poder mágico da música popular que agora aceitam ansiosamente a mentira como se fosse verdade. Eu falo francamente sobre o poder enganador da música rock em todas as suas formas, porque fui enganado pela mesma mentira e sei exatamente quão fácil é cair nesta armadilha.

Tivesse eu mantido a Música Cristã Contemporânea como uma ligação vital com o mundo do rock e teria sido apenas uma questão de tempo antes que passasse a enganar a mim mesmo em um “compromisso cristão confortável” ou caísse direto de volta no mundo do rock secular mais uma vez. Apenas uma ruptura radical com a música rock me curou desta dependência. Passaram-se anos até que eu aprendesse esta lição.

De Volta do Rock “Cristão” para o Rock Secular

Minha ruptura radical com a música rock foi um processo gradual, especialmente porque, uma vez que retornei para a África do Sul, embarquei em um ministério de rock “cristão”. Esta ligação duradoura com a música rock provou ser a causa da minha queda. Lentamente, escorreguei novamente para drogas leves. Me convenci que a maconha não era tão ruim porque é uma droga natural, usada ritualmente por tribos indígenas nativas como uma erva para induzir a paz. Também comecei a me comprometer no tipo de música que estava executando. O comprometimento era fácil, porque tudo o que eu tinha a fazer era mudar a letra. O estilo de música permanecia o mesmo. Apesar de minhas boas intenções, encontrei-me em uma espiral descendente, caindo gradualmente de volta para a completa escuridão.

Restabeleci muito rapidamente minha carreira no rock na Cidade do Cabo. Por volta de 1989 tornei-me conhecido como um dos melhores guitarristas do país e era respeitado como um compositor competente. Tornei-me muito ativo no cenário local da música ao vivo, conquistando muitos seguidores que gostavam da técnica do meu estilo de tocar rock na guitarra e que estavam procurando por algo novo e original. As semanas se tornaram meses, os meses se tornaram anos, e o ciclo infindável de clubes, drogas e eventos sociais conseguiram matar aquela centelha de esperança que havia se acendido numa terra estrangeira.

Paradoxalmente, a espiritualidade ainda permanecia um aspecto importante da minha vida. Eu podia passar horas escrevendo a respeito das profundezas nas quais eu havia ma afundado, enquanto ainda me convencia de que estava tendo uma experiência espiritual profunda. Uma razão era que eu havia tomado um voto de que nunca mais me envolveria

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com drogas pesadas novamente, como cocaína e LSD. Mas em algum ponto da linha, esta promessa foi quebrada.

Em algumas festas e durante momentos de fraqueza da vontade, comecei a partilhar de uma carreira ou duas de cocaína, uma cápsula de ácido aqui e ali e um pouco de haxixe, se estivesse disponível. Os comprometimentos de tornaram infindáveis e cobriram praticamente cada aspecto da minha existência, a qual, em essência, estava encapsulada naquele surrado slogan do rock ‘n’ roll, “Sexo, drogas e rock ‘n’ roll.”

A Segunda Virada na Minha Vida.

Em 1992, experimentei uma segunda virada. O Senhor usara duas pessoas para influenciar a minha vida de uma forma tangível e permanente. Uma delas foi Sue, a jovem que após algum tempo tornou-se a minha esposa. A outra foi a menininha que eu havia dado para adoção quando nascera e a quem sonhara encontrar por muitos anos.

Encontrei com Sue pela primeira vez em 1988 na Cidade do Cabo em um concerto ao vivo no qual eu estava tocando. Nos encontramos novamente um ano mais tarde em um restaurante onde ela era garçonete, sem nos apercebermos que éramos as mesmas duas pessoas que haviam se encontrado um ano antes. Em ambas as vezes nós nos sentimos atraídos um pelo outro.

Em 1990, quase dois anos depois de encontrar Sue tive a oportunidade de me encontrar com a minha filha, que tinha sido adotada quase dez anos antes por uma família adventista, o Pastor Tinus Pretorius e sua esposa Lenie. Imediatamente me apaixonei por minha filha Leonie, como seus pais adotivos a chamaram. Podia ver tanto de mim mesmo nela, e senti uma emoção estranha, nova, que nunca havia experimentado antes.

Sob circunstancias normais, tal encontro nunca teria acontecido. Quando uma criança é dada para adoção, os pais biológicos perdem seus direitos de vê-la novamente. Mas a atitude de carinho e cuidado deste pastor de sua esposa não pode ser superestimada. Dentro de menos de um ano da primeira vez que eu os visitei, eles se mudaram com minha filha para a Cidade do Cabo. O Pastor Tinus foi comissionado para duas igrejas Adventistas do Sétimo Dia locais. Este novo relacionamento teve um impacto tremendo em minha vida, levando-me a considerar uma vez mais a minha pobre condição espiritual.

Bem nesta época, recebi uma oferta de uma amiga com fortes conexões na industria musical de Los Angeles para continuar a minha carreira musical nos Estados Unidos. As oportunidades potenciais eram por demais tentadores para serem desprezadas, e fiz todos os arranjos necessários para partir na primeira oportunidade. Mas Deus tinha outros planos para a minha vida.

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Sue ficou sabendo de um seminário sobre profecias que iria acontecer perto de nossa casa. Decidimos assistir às reuniões. Eu esperava aprender algo novo que pudesse usar na gravação musical na qual estava trabalhando.

No seminário sobre profecias aprendi muito mais do que havia esperado. Como resultado daquelas reuniões, cancelei minha passagem e meus preparativos para a viagem para os Estados Unidos. Dentro de dois meses, Sue e eu fomos batizados na Igreja Adventista do Sétimo Dia. Tudo parecia ir muito bem. As verdades recém-descobertas satisfizeram às nossas mais profundas convicções. Ainda assim, apenas três meses mais tarde, eu estava fora da igreja. A música rock ainda estava na minha alma. Mais uma vez eu estava tocando nos palcos pelo país afora, com minha guitarra elétrica pendurada no pescoço, agitando a mensagem do rock ‘n’ roll para platéias cativas aonde quer que eu fosse.

Nenhuma miséria é pior do que saber a verdade e ainda assim fugir do poder santificador de Deus. Rebelião, compromisso e tristeza seguiram os poucos passos que eu havia dado em direção a Cristo. Mas agradeço a Deus por Ele nunca ter desistido de mim. Apesar de meus passos tímidos em direção a Cristo, não tinha me disposto a ser quebrantado sobre a Rocha.

A Virada Final

É difícil de acreditar quantas vezes eu recaí para o cenário do rock antes de conquistar a liberdade permanente. Eu tinha mais uma vez me comprometido com uma volta à minha existência anterior como músico de rock. A única forma que eu conhecia para sobreviver era fazendo música. Não tinha a fé que precisava em Jesus, para me ver fazendo um rompimento radical com o cenário musical, mesmo que isto significasse uma perda financeira por algum tempo. A aparente questão da sobrevivência tornou-se o mecanismo que o Diabo usou para me aprisionar novamente em sua armadilha.

Nesta época, formei minha própria banda chamada “Projeto Caim”, um nome apropriado para meu desalento espiritual. Estava ocupado gravando Duncan McKay, o popular tecladista da famosa banda 10 CC, quando recebi um chamado para ir a Porto Elisabeth, uma cidade localizada cerca de 1100 quilômetros ao norte da Cidade do Cabo. O contrato exigia que eu tocasse ali por três meses. Eu havia sido contratado como um artista de rock solo, tocando seis noites por semana em uma das melhores casas noturnas da cidade.

Porto Elisabeth tornou-se o ponto final de minha peregrinação espiritual. Aluguei uma casa longe, na zona rural, perto de praia isolada e linda. Como meus concertos eram à noite, tinha tempo durante o dia para caminhar pela praia e refletir em tudo o que havia acontecido na minha vida nos

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anos passados. Creio que era ali que Deus queria que eu estivesse.

Passei a maior parte da minha vida profissional cercado de admiradores e músicos de rock. Mas por fim encontrei-me em uma praia isolada onde Deus me trouxe face a face com meu passado pecaminoso. Durante estes três meses, senti o Espírito Santo falando comigo como nunca antes. Muitos dias foram passados naquela praia solitária, examinando os mais íntimos recessos da minha mente confusa.

Às vezes as verdades ocultas da minha alma ferida eram muito difíceis de serem enfrentadas. Eu me quebrantava em um misto de angústia e vergonha e deixava que lágrimas de arrependimento fluíssem como rios de água clara como cristal, para lavar as manchas dos meus pecados. Às vezes eu quase podia sentir a presença do Espírito reprovador e consolador de Deus trazendo cura espiritual para a minha vida.

A porta da aceitação permaneceu bem aberta. Finalmente, caminhei ousadamente através dela e fechei atrás de mim a porta para o meu passado triste e pecaminoso. Quando retornei para casa, em junho de 1994, Sue e eu tomamos a decisão de que, pela graça de Deus não haveria retorno ao mundo do rock. Cortei todas as minhas relações de negócios com o cenário da música rock. Em 15 de janeiro de 1995 nós nos casamos e decidimos dedicar nossas vidas a um ministério especial em favor daqueles que buscam libertação do poder hipnótico da música rock.

Ajudando Outros a Encontrar Libertação do Rock

Hoje, vejo-me como uma testemunha viva, agradecido por aquilo que Deus pode fazer em prol daqueles que estão dispostos a permitir que Ele mude suas vidas e preferências. O objetivo de nosso ministério é ajudar cristãos de todos os credos a conquistar a vitória sobre sua dependência ao rock e desenvolver a apreciação pela boa música cristã.

Durante os últimos anos, viajei pela África, Europa e América do Norte realizando seminários sobre “Música e Adoração” nas igrejas, escolas, universidades, hospitais, me muitos outros canais. Igrejas inteiras têm reconsiderado seus padrões no uso do rock religioso depois de aprenderem todos os fatos a respeito de seus efeitos mentais, físicos e espirituais.

Tem sido uma experiência muito gratificante para mim, ver pessoas que foram fãs da minha música rock abandonando para sempre as atmosferas discordantes do rock e comprometendo suas vidas com o Senhor.

Minha preocupação mais profunda é com relação àqueles que crêem que a música rock pode ser usada corretamente no louvor a Deus, desde que a letra seja religiosa ou fale

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acerca de Jesus. Tenho testemunhado a falácia desta afirmativa vez após vez em minha vida e ministério musical. A música rock, em qualquer versão que seja, estimula as pessoas fisicamente em vez de eleva-las espiritualmente. Tenho visto os frutos do rock “cristão” nos concertos ao vivo. Eles não são essencialmente diferentes daqueles do rock secular. Tenho ouvido toda justificação possível para o uso desta música na adoração de um Deus santo, mas nenhuma delas é bíblica.

Fazendo Boas Escolhas Musicais

A experiência me ensinou que existe um perigo em ensinar as pessoas como fazer boas escolhas musicais dando-lhes uma classificação bem definida daquilo que eu considero música apropriada para ser ouvida, tanto secular quanto religiosa. Isto não significa que boas escolhas musicais são simplesmente uma questão de gosto pessoal. O gosto, seja proveniente de uma vivência cultural ou tendência pessoal desenvolvida, deve estar submetido a certos critérios musicais, psicológicos e espirituais/bíblicos.

Em outras palavras, apenas porque eu desenvolvi um gosto por heavy metal ou por ouvir o Réquiem de Mozart sem parar não quer dizer que estes sejam boas escolhas musicais para mim. Pessoas que perderam seu gosto por água porque durante anos se condicionaram a gostar de uísque com gelo não estão em posição de argumentar que uísque seja mais saudável do que água.

Todos nós temos perdido nossa sensibilidade por causa da mídia popular, e nossa habilidade de discernir entre música boa ou má (e uma porção de outras coisas) tem sido seriamente comprometida. Assim, para fazermos boas escolhas musicais, a pessoa deve ter sabedoria para se fazer cinco perguntas como teste:

1. A música realmente tem algo que vale a pena dizer? As verdades morais são comunicadas liricamente e instrumentalmente na mensagem da música? Ou é uma música sem gosto, repetitiva, ou tosca?

2. Qual é a intenção por trás da música? É mandar uma mensagem negativa ou positiva? Quando ouve a música, você acha que ela se enquadra nos critérios expressos por Paulo em Filipenses 4:8, acerca de pensar e ouvir tudo o que seja puro, amável, virtuoso e digno de louvor? A música te eleva espiritualmente ou te excita fisicamente? Responder a estas perguntas exige honestidade e uma audição capacitada.

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3. É a intenção da música ser comunicada de maneira eficaz? Em outras palavras, o músico, como comunicador, é bom naquilo que faz? Consegue gerar uma atmosfera de reverência, ou de frivolidade?

4. Os instrumentos musicais são apropriados para comunicar a intenção da música? Por exemplo, se a música pede notas ligadas, longas e melodiosas, os instrumentos que estão sendo usados são aqueles que só consegue produzir tons curtos, percussivos?

5. Estamos buscando a direção do Espírito Santo em nossas escolhas, tanto de música secular quanto de música religiosa? Devemos nos lembrar que as coisas espirituais só podem ser discernidas espiritualmente. Isto significa que precisamos do Espírito Santo para nos guiar em nossa escolha de música. Isto é especialmente verdade hoje, quando temos sido expostos a tanta informação, tanto musical quanto de outros tipos, o que nos tira a sensibilidade.

Não podemos confiar apenas em nosso juízo ou gosto quando se trata de fazer boas escolhas musicais. Devemos permitir que o Espírito Santo nos ilumine sobre se a música que estamos ouvindo tem um efeito espiritualmente enlevante, ou está tendo um impacto rebelde, depressivo.

Precisamos estar conscientes de que não é apenas a música pesada, orientada pela batida que pode ter um efeito negativo sobre nós. Alguns outros tipos de música sem qualquer tipo de batida podem nos lançar nas profundezas da depressão. Alguns destes estilos de música podem ser encontrados nos clássicos, embora eles sejam normalmente recomendados como alternativa para a música popular moderna ou para o rock.

É imperativo que deixemos o Espírito Santo nos guiar para que interpretemos corretamente se a atmosfera de uma canção é positiva ou negativa. Isto não quer dizer que devemos deixar de lado aquelas regras que identificam os aspectos questionáveis da música rock. O que isto quer dizer é que exerceremos nosso bom julgamento em consonância com a direção do Espírito Santo. Este processo pode muito bem nos levar a descartar todo um gênero de música.

Como Tomar Decisões Radicais Relativas à Música

Quando confrontados com o desafio de tomar decisões radicais com respeito à nossa música, uma pessoa pode perguntar: “O que sobra para ouvir, se toda a música rock que eu gosto tem que ir pela janela?” Não permita que esta atitude fique no caminho. O Diabo adoraria levar-nos a crer que o rock é a única música que vale a pena ouvir. A forma prática de se encarar este problema é, antes

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de tudo, olhar a situação atual de uma perspectiva diferente, e então considerar nossa direção futura sob uma luz mais positiva. Permitam-me dividir com vocês cinco sugestões que podem ajuda-los a tomas decisões radicais relativas à música.

1. Decida que você vai ser um indivíduo, tomando as suas próprias decisões com respeito à boa música com base em informações reais e não por pressão dos amigos ou por gosto pessoal. Você não tem que sacrificar o teu gosto pessoal ou preferências especiais. Eles só precisam ser santificados e refinados. Você não precisa voltar ao século dezenove ou à idade média para agradar a Deus e viver uma vida que respeite o templo do seu corpo.

É simplesmente uma questão de se livrar da música ruim enquanto mantêm a boa música. Neste processo, embora você possa ser tachado de quadrado ou fanático, mostrará que teve a coragem de tomar uma posição por aquilo que acredita e não apenas seguir a multidão. Com efeito, aí então você terá verdadeiramente se tornado único.

Ninguém gosta de ser considerado um ovelhinha ou um zumbi que segue a multidão, sem qualquer individualidade, e mesmo assim este é o caso de muitas pessoas. Era verdade no meu caso. Praticamente tudo o que eu fazia, seja no que diz respeito a música, moda, linguagem, ou atitude, era um resultado direto da pressão que vinha das tendências populares. Eu não era um indivíduo no sentido real da palavra. Comecei no mundo do rock porque era a música “legal” para ser ouvida. Usava o que usava porque a moda ditava que esta era a maneira “bacana” de se vestir De fato, parte da razão pela qual o rock “cristão” existe é porque os cristãos estão com medo demais de serem diferentes do mundo.

2. Considere as tuas novas escolhas musicais como uma aventura, um processo de descoberta. Tome tempo para definir e refinar o teu gosto, para buscar gemas musicais no poço da podridão musical. De repente, vai descobrir que aquilo que você considerava como a única opção em matéria de música é apenas uma pequena fração da boa música disponível. Pode levar algum tempo de busca e audição em oração, mas no final valerá a pena tudo isto.

3. Considere os cinco princípios dados acima para fazer boas escolhas musicais e coloque-os em prática quando ouve música. Pesquise e guarde aquilo que esteja em conformidade com estas regas básicas. Neste arcabouço você terá espaço para exercitar o teu próprio gosto musical. Tenha em mente que depois de anos de exposição a tipos negativos de música, o teu gosto

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pode ter sido pervertido. Peça ao Senhor para te ajudar a reconhecer onde teus gostos estão deficientes. Uma vez que se sinta seguro que isto te tenha sido revelado, não hesite em tomar o necessário passo adiante.

4. Ouça cuidadosamente a letra para determinar se ela é ou não teologicamente correta. Este é um exercício muito importante, porque será contraditório ter uma melodia adorável com uma letra que seja completamente contrária à Bíblia ou que insinue uma mensagem errônea. Ellen White aponta corretamente que o canto “é um dos meios mais eficazes para impressionar o coração com as verdades espirituais“, e pode ser usado de maneira eficaz para “proclamar a mensagem do evangelho para este tempo”. 9

Isto quer dizer que a mensagem de um cântico – palavras e atmosfera – devem ser testados pelos ensinos das escrituras. Alem do mais, um cântico pode pregar um sermão. Seria francamente vergonhoso se permitíssemos que cantores evangelistas saíssem por aí com doutrinas erradas em suas letras, tudo em nome da liberdade de expressão e licença artística. O evangelismo fornece uma oportunidade ideal para combinarmos a escolha de música com um estudo sério da Bíblia. Que grande combinação!

5. Escolha canções que se concentrem nos aspectos puros e enobrecedores da vida. Embora permaneça uma distinção entre a música que usamos para a adoração e a música que usamos para nosso relaxamento pessoal, o princípio básico de escolher aquilo que seja puro e enobrecedor permanece o mesmo. Considere a advertência de Paulo ao fazer escolhas musicais: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.” (Filipenses 4:8)

Conclusão

Minha peregrinação espiritual da música rock para a Rocha Eterna me dá razão para crer que muitas pessoas sinceras estão buscando a libertação divina da dependência da música rock. A boa notícia é que o Deus que me libertou das cadeias da música rock é capaz de libertar qualquer pessoa que se volte para Ele em busca de ajuda.

Os muitos anos que passei como músico, primeiro de rock secular, depois de rock “cristão”, convenceram-me plenamente que,

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qualquer que seja a versão, a música rock personifica um espírito de rebelião contra Deus e contra os princípios morais que Ele revelou. A característica distintiva das várias formas de música rock é e continua sendo a batida pulsante e impulsionadora, que pode alterar a mente humana e estimular o aspecto físico, sensual da natureza humana.

Nosso desafio hoje é seguir o exemplo dos três dignos hebreus na planície de Dura. Eles se recusaram a se prostrar diante da imagem de ouro ao som da música babilônica. Possa Deus nos dar sabedoria e coragem para rejeitar a música de Babilônia e a adorarmos com uma música que O honre e enobreça o nosso caráter.

Notas

1. Nick Paul, Revista Cosmopolitan (março de 1997), p. 76.

2. Peter Herbst, The Rolling Stone Interviews, Rolling Stones Press, 1981.

3. Manager of the Rolling Stones, Time (28 de abril de 1967), p. 53

4. Revista Ultrakill, vol. 2 (1994), contra-capa.

5. Jimi Hendrix, Life (3 de outubro de 1969).

6. David Bowie, Revista Rolling Stone (12 de fevereiro de 1976), p. 83.

7. John Lennon, Revista Rolling Stone (7 de janeiro de 1971).

8. Revista Rock (agosto de 1983), p. 60.

9. E. G. White, “Freely Ye Have Received, Freely Give,” Review and Herald (6 de junho de 1912), p. 253.

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