por: Rev. Onézio Figueiredo [1]
Ordem psicológica do culto
01 – Consciência da presença de Deus: Chamada à Adoração:
O crente, para que o culto seja verdadeiro e ele se integre realmente como adorador em espírito e em verdade, tem de tomar “consciência” de que está frente a frente com Deus numa “audiência” profunda e permanente. Diante de Deus o servo que não se humilha é desrespeitoso e irreverente.
O primeiro gesto do súdito diante de seu rei era a inflexão.
Também assim deve nossa postura na presença de nosso Rei, que não é acidental, mas permanente.
O início do culto público deve possibilitar a “consciência da presença de Deus” na comunidade e “chamá-la à adoração”.
02 – Visão da glória de Deus:
A consciência da presença de Deus possibilita a “visão de sua glória”. Não lhe visualiza a glória, não lhe reconhece a majestade quem não tem consciência de sua presença real como Criador, Salvador, objeto e sujeito do culto. O culto é como uma transfiguração, tendo Cristo no centro, os profetas e Moisés como testemunhas históricas e revelacionais, e os adoradores perplexos com o inusitado da gloriosa companhia da Trindade.
O adorador que não toma consciência da majestosa grandeza de Deus, da incrível diferença entre o humano e o divino confrontados no tempo e no espaço litúrgicos, da indescritível santidade de seu Salvador, não está preparado para reconhecer-se pecador, indigno, mortal e relativamente desprezível.
03 – Confissão:
Diante da santíssima pessoa de Cristo, objetivamente presente, segundo a promessa, (“Eis que estou convosco”), e o testemunho interno do Espírito Santo, o crente se vê na presença de Deus Pai, Todo Poderoso, de roupa suja, não preparado para festa.
Olha para dentro de si mesmo e se descobre pecador, indigno de estar diante do Salvador. Esta “descoberta”, obra do Espírito Santo, leva-o a prostrar-se aos pés do Redentor em humilde confissão de seus pecados, delitos e culpas.
Como já dissemos, sem confissão, no culto velhotestamentário, não havia a oferta do animal sacrificial substituto. O pecado era antes confessado sobre a vítima para então oferecê-la em sacrifício por intermediação sacerdotal. Assim ocorre no culto da dispensação da graça: Quem se confessa a Cristo e se humilha perante sua imaculada pessoa, certamente receberá o perdão.
04 – Perdão:
Após a oferenda do sacrifício havia o conseqüente perdão. O ofertante sabia que seus pecados confessados haviam sido expiados na morte e queima da vítima. Aliviava-se e se considerava mais digno perante o Redentor. Não é diferente na Igreja de Cristo. Ela nos chama ao arrependimento e, arrependidos, confessamos-lhe os pecados e dele recebemos o perdão. No fundo da alma o crente sabe que seus pecados foram perdoados e ele conservado na comunhão dos remidos sem restrições.
Cristo pode dizer ao seu servo que seus pecados foram perdoados, quando sinceramente confessados, pelo testemunho interno do Espírito Santo ou pela palavra de perdão que ele, o Verbo, fala pelas Escrituras Sagradas. Há pecados individuais e há os coletivos, comunitários. Tanto o indivíduo como a comunidade devem confessar a Deus os seus pecados.
A consciência de perdão, um gostoso alívio, conduz à gratidão, ao reconhecimento de débito, ao agradecimento, à homenagem gozosa prestada ao benfeitor, ao impulso laudatório.
05 – Louvor:
O Louvor expressa, em grau elevadíssimo, a gratidão do perdoado ao Perdoador. E isto de maneira espontânea, natural. Aflora de dentro, do íntimo, quase instintivo. Ao coração grato as coisas ficam mais impressivas, mais lindas, mais sugestivas. O mesmo hino, dominicalmente contado, torna-se belíssimo, sublime, sentimental e espiritual nos lábios do crente cujo coração é atingido pelo perdão de Cristo e repleto de gratidão. Neste estado, o fiel canta com a mente, com o coração e com o espírito.
A gratidão conduz ao serviço, à dedicação, à consagração.
06 – Dedicação ou Consagração:
A gratidão é a expressão ética do amor. O grato é o que ama e procura demonstrar o seu amor por meio de alguma forma de serviço, de dádiva, de presente. O crente que sai de um culto sem vontade de servir a Cristo, de dedicar-se a ele de corpo e alma, de proclamar a sua existência, sua pessoa, seu ministério e sua deliciosíssima amizade, esteve no culto, mas verdadeiramente dele não participou e, em conseqüência, não se beneficiou de suas bênçãos santificadoras.
Quem ama quer sempre: Ouvir o amado falar; falar com ele; falar dele; falar a respeito dele em todas as oportunidades. O assunto do crente é o Salvador.
Anseia ver todos os seus amigos e parentes gozando as mesmas graças em Cristo Jesus. Seu impulso é interceder junto ao Deus por eles.
07 – Intercessão:
A intercessão e a edificação estão no mesmo bloco psicológico. O que eu quero para mim, também almejo para os meus amigos. Edifico-me com a Palavra de Deus; por isso desejo o mesmo para eles, suplicando que Deus atue em suas vidas, segundo o beneplácito do Salvador, tanto para cura física como para a salvação da alma.
O ministério da intercessão é o exercício do sacerdócio geral e individual. Cristo intercede por mim junto ao Pai; eu intercedo pelos pecadores junto ao Filho no qual me encontro, realizado e feliz.
08 – Edificação:
Edificar é construir pelo ensino, pelo consolo, pela fraternidade, pelo amor-serviço, pela dedicação, pela compreensão, pelo perdão, pela cooperação, pela sinceridade, pela amizade, pela comunhão, pelo espírito de igualdade, pelo serviço ao próximo, pela consagração a Deus, pela submissão ao Evangelho, pela união com os conservos. Um sermão pregado a uma Igreja não edificada é como voz que clama do deserto.
A edificação, pois, inclui a proclamação, mas não se resume nela. Deve ser o momento do Culto em que se serve o banquete para sustento do povo de Deus e fortalecimento, principalmente dos fracos. A Santa Ceia entra no universo cúltico da dedicação. O andamento psicológico conduz o adorador ao clímax, ao estágio litúrgico da instrução, do preparo, da habilitação para as lutas duríssimas na batalha cristã contra o mal do pecado, da mundanidade, da incredulidade.
Dentro desta visão psicológica, o dirigente litúrgico caminhará a trilha natural, cremos, do espírito humano que se coloca em adoração diante de seu Augusto Criador, Salvador e Pai. Nada forçado, nada estereotipado, nada rígido, nada mecanizado. O Culto tem regras e formas: Sigamo-las sem automatizá-las.
Notas:
[1] O presente texto foi escrito por um Reverendo da Igreja Presbiteriana. Por este motivo, o leitor encontrará algumas referências relacionadas ao culto de domingo, ou ainda alguns temas diretamente vinculados a esta denominação religiosa. Apesar deste detalhe, os editores do Música Sacra e Adoração compreendem que a leitura do texto do Reverendo Onézio Figueiredo é de suma importância para o contexto da adoração e do culto a Deus na Igreja Adventista do Sétimo Dia, justificando assim esta publicação.
Fonte: www.monergismo.com