Apostilas

O Culto – Capítulo 18

por: Rev. Onézio Figueiredo [1]

Modelo litúrgico

01 – Elementos litúrgicos no Novo Testamento:

O Novo testamento não contém um manual de liturgia, como também não nos instrui explicitamente sobre a responsabilidade da entrega do dízimo, a forma batismal, a Santa Ceia para as mulheres, a eleição de presbíteros docentes e regentes, a guarda do domingo. Estas são bíblicas por inferências e analogias. Há delas “sinais” fortes e inconfundíveis pelos quais deduzimos e concluímos conteúdos e formas. Assim acontece com o culto. Além de sua biblicidade e formas vetotestamentárias, encontramos, embora não ordenados, os elementos essenciais do culto em textos como: I Ts 5.16-22; Cl 3.16-18; Ef 5.18-21.

Nos textos citados se encontram: a- Louvor. b- Oração. c- Ação de graças. d- Pregação. e- Ensino. f- Submissão por via confessional. g- Regozijo espiritual. Não confundir o regozijo espiritual com ludinismo sensorial. O regozijo sensorial desperta os sentidos e nos induz ao prazer e à satisfação sensórios. O regozijo espiritual, introspectivo por natureza, é a alegria de estar com Deus e servi-lo dia e noite. Observamos, pelas informações recebidas por meio dos trechos mencionados, que o culto do Novo Testamento não era anárquico e nem improvisado, pois Paulo, o autor sagrado deles, nos esclarece que tudo deve ser feito com ordem e decência (I Co 14.33,40).

02 – Modelo litúrgico:

A Igreja de Corinto ter servido de base eclesiológica, pneumatológica e litúrgica para muitas igrejas, como se uma camunidade primitiva, a mais problemática de todas, pudesse servir de parâmetro para a Igreja universal. Cada comunidade possuía virtudes e defeitos, mormente as gentílicas, como a de Corinto, que se distanciava da Igreja-mãe, a de Jerusalém, cujo culto nada tinha de carismatismo. A liturgia numa igreja com divisões e partidos, com pecado de incesto, com irmãos apelando aos tribunais seculares contra outros irmãos, com avareza e carnalidade, com crentes que não podiam ser chamados de espirituais, mas de carnais (I Co 3.1-5; 6) não servirá de modelo espiritual, pois espiritualidade de fato não existia.

Miremo-nos na Igreja ierosolomita ou na de Filadélfia contra a qual o Espírito não teve restrições. A ela o cordeiro diz: “Conserve o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (Ap 3.11b). Conservar, eis a ordem!

O culto deve ser racional sem eliminar o emocional (I Co 14.15 cf Rm 12.1,2); não perdendo nunca seus fundamentos bíblicos:

a. Oferta de Deus ao homem: a- A Palavra bíblica, o sacrifício vicário de Cristo, o perdão.

b. Responso do homem: Aceitação, contrição, confissão, dedicação ou consagração, gratidão e missão. Eis a liturgia da reunião e da dispersão, da comunidade e de cada fiel.

03 – Exorcismo:

O exorcismo não constava do culto vetotestamentário, do sinagogal e da liturgia da Igreja primitiva. Onde a Igreja se reune é o “Santo dos Santos”, local de encontro litúrgico de Cristo com seus remidos (Mt 18.20): “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí eu estou no meio deles”.

E assim como nada impuro podia penetrar além do véu, no Templo de Salomão, do mesmo modo, o impuro dos impuros, o “porco”, deus do lixo e das moscas, não penetra o “santuário” de Cristo, do Sumo sacerdote, que é a Igreja, corpo do Cordeiro; e nem se apossa de nenhum de seus membros, pois todos são templos do Espírito Santo. Admitir que Satanás pode adentrar o Corpo de Cristo, sua Igreja, e possuir os que são templos do Espírito, é o mesmo que admitir o sacrifício de porco no altar santíssimo, jamais profanado, onde Jesus Cristo exerce o ministério de Sumo Sacerdote. O lugar que o Espírito Santo ocupa não deixa espaço para o Demônio.

Transformar o culto em sessão de exorcismo é profanar a Casa de Deus, é desconhecer que o culto é uma antevisão, uma antecipação escatológica da comunhão celeste dos filhos redimidos com o Cordeiro remidor. O culto bipolariza-se na Palavra de Deus e na celebração da Ceia do Senhor, dois poderosíssimos meios de graças concedidos à Igreja militante visível para sua edificação.

04 – Línguas:

A língua estranha, bem como a estrangeira não interpretada, em nada edifica a Igreja.

Portanto, como recomenda Paulo, deve ser evitada (I Co 14.3,5,9,10,12,18,l9). A língua estranha (glossolalia) e o exorcismo não constavam da ordem do culto racional (logikos) da Igreja primitiva ierosolomita, fundamentada na tradição judaica do templo e da sinagoga. O maior e melhor dom geral para a fraternidade comunitária é o amor. O mais importante carisma para a edificação da Igreja é a profecia, pregação didática ou querigmática. Os dons de exorcizar e de curar são equipamentos dos apóstolos, exercidos na implantação do reino de Cristo, mas eles não os levavam para dentro da Igreja como ordem programática da liturgia. Deus, que cuida de seus servos, sabe o que lhes é bom ou conveniente (Mt 6.6).

O culto não é e nem pode ser uma “disputa” entre o Espírito de Deus e o espírito satânico. Culto, repetimos, é a reunião dos salvos em Cristo Jesus, convocados por Deus para adoração em espírito e em verdade. Também, frisemos, o Corpo de Cristo, a Igreja, e o corpo do crente, do regenerado, são templos do Espírito Santo, onde o Demônio não pode penetrar. A Igreja, pois, não deve transformar-se em sinagoga de Belzebu. Não se orgulhe de no culto de sua Igreja “aparecer” muito “espírito mau”. Agradeça a Deus se nele o maligno não se manifesta, pois a manifestação de Deus (teofania), de Cristo (cristofania), efetivadas perenemente na Igreja, são incompatíveis com manifestações satânicas. O culto é, acima de tudo, uma “cristofania” permanente, sentida e percebida pelos crentes, iluminados pelo Espírito Santo, nos sinais invisíveis do gozo espiritual, da paz interior, da edificação da alma contrita, da alegria do salvo, do perdão, da consagração, do desejo irreprimível de servir, da harmonia com Deus e com os irmãos.


Notas:

[1] O presente texto foi escrito por um Reverendo da Igreja Presbiteriana. Por este motivo, o leitor encontrará algumas referências relacionadas ao culto de domingo, ou ainda alguns temas diretamente vinculados a esta denominação religiosa. Apesar deste detalhe, os editores do Música Sacra e Adoração compreendem que a leitura do texto do Reverendo Onézio Figueiredo é de suma importância para o contexto da adoração e do culto a Deus na Igreja Adventista do Sétimo Dia, justificando assim esta publicação.


Fonte: www.monergismo.com


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