Técnica Vocal e Fisiologia

O Estudo do Canto

por: Alberto Damián Montiel

Temos aqui um modesto resumo sobre as generalidades do canto. Porém, nossa missão não é fazer longas exposições sobre os órgãos vocais e os músculos que os regem, assim como considerações fonéticas sobre cada vocal e cada consoante, sobre a abertura da boca por elas requeridas, etc, etc.

São suficientes algumas noções elementares, claras e simples para compreender o mecanismo do canto.

Assim como a verdade é única, não existe mais que um método de canto verdadeiro, o qual faz necessário estabelecer rigorosamente os pilares da respiração, ressonância, emissão e articulação, como bases para o canto bem sucedido, onde nada deve ser livrado ao azar, adquirindo-se deste modo, o domínio e o controle vocal, ou seja, a técnica.

Podem Todos Esperar Ser Cantores?

Antes de tudo: o que é o canto?

Segundo o “Dicionário da Música“, de Hugo Riemann: “O canto não é mais que a palavra tornada música pela exageração das diversas inflexões da voz”. Tudo o que tem uma voz falada, pode, por conseguinte, se desenvolver com a intenção de cantar.

Uma boa técnica, tempo e trabalho, chegam a “fazer surgir” quase infalivelmente, uma voz cantada, se ela está normalmente timbrada na fala. Isto, por aquilo que o instrumento se refere. Mas só o instrumento não basta. É necessário fazer-lhe vibrar melodiosamente, e para isto requerem-se muitas condições, mas o primeiro é sobre tudo, o desejo de cantar e o amor ao canto. Este amor, quase sempre apaixonado, obedece a uma vocação com freqüência irresistível.

Vocação muitas vezes abandonada, ao não ter uma voz natural formosa e forte, acharam inútil trabalhar contando com um pequeno “fio de voz”. Porém, quantos “pequenos fios de voz” se desenvolveram com o trabalho! Com freqüência, vozes excepcionais estão profundamente ocultas. Então, quem quer possuir sentido musical, com ouvido e uma voz falada bem timbrada, pode esperar obter bons resultados no estudo do Canto.

O Instrumento Vocal

Tanto a um pianista ou um violinista, é indispensável também para um cantor conhecer seu instrumento musical. Por que? Se o instrumentista danifica seu violino ou o seu piano pela força de batê-lo ou maltratá-lo, ainda é possível concertá-lo e, no caso de necessidade, comprar outro, que tratará desta vez, com maior precaução.

Mas e o cantor? Seu instrumento não pode ser trocado. Desde um princípio, ele deve aprender a dirigi-lo devidamente, evitando assim, sérios encostos e escapando do perigo de perdê-lo prematuramente.

O aparelho vocal é um mecanismo extremamente complicado. Nele estão compreendidos um número incalculável de nervos, vasos sangüíneos, músculos, ligamentos, etc., que por terem nomes científicos de ressonâncias bem exóticas, resultam difíceis e inúteis de lembrar. Trataremos então de simplificar dentro do possível, sua descrição, a fim de não desalentar ninguém e de sermos compreendidos por todos.

O instrumento vocal se divide em três partes bem definidas:

1- O aparelho respiratório, onde se armazena e circula o ar.

2- O aparelho da fonação, nele que o ar se transforma em som ao passar entre as cordas vocais.

3- O aparelho ressonador, onde o ar, transformado em som, se expande, adquirindo sua qualidade e sua amplitude.

1- O Aparelho Respiratório

O aparelho respiratório está integrado pelo nariz, a traquéia, os pulmões e o diafragma.

O ar que penetra pelo nariz (ou a boca) passa pela traquéia (conduto com forma de tubo que divide em dois a entrada dos pulmões).

Os pulmões (massas esponjosas e essencialmente extensíveis), constituem nosso receptáculo de ar. Estão na Caixa Torácica.

A Caixa Óssea está formada, de cada lado, por doze costelas fixadas, todas por detrás da coluna vertebral. Destas costelas, apenas sete estão fixadas separadamente sobre o esterno por diante. Três falsas costelas estão unidas conjuntamente ao esterno por uma cartilagem, e duas costelas flutuantes estão livres para adiante.

Na inspiração, ao se incharem os pulmões, as costelas se separam e a Caixa Torácica se dilata.

A elasticidade da Caixa Torácica está assegurada pelos músculos intercostais, pelas cartilagens que servem para unir as costelas e, finalmente, pelo diafragma (largo músculo transversal que separa os órgãos respiratórios dos digestivos).

O diafragma descende durante a inspiração, para deixar lugar aos pulmões.

2- O Aparelho da Fonação

O aparelho da fonação está constituído pela laringe e as cordas vocais.

A laringe se encontra na continuação da traquéia, situada no interior do pescoço. É uma cavidade que contém as cordas vocais e dá lugar a uma protuberância denominada “maçã de Adão”, que é mais pronunciada nos homens que nas mulheres. Esta saliência tem como finalidade, a proteção das cordas vocais.

3- O Aparelho da Ressonância

O som produzido apenas pela vibração das cordas vocais é muito tênue. Para adquirir seu brilho, sua amplitude, sua redondeza, necessita passar pelos ressonadores, assim como o som produzido pela corda de um violino, deve ressoar na caixa de madeira do instrumento para ter um resultado musical.

Quais são os ressonadores da voz humana?

Os mais importantes são: o paladar ósseo (popularmente conhecido como céu da boca), os seios (maxilares, esfenoidais e frontais, o cavum e a faringe.

Nas notas graves, os ossos do peito aportam também grande riqueza a ressonância.

Todas as câmaras antes mencionadas recebem as vibrações diretamente da coluna de ar, depois que as cordas vocais foram acionadas.

A Respiração

A voz só existe a partir do momento em que a expiração fornece uma pressão suficiente para fazer nascer e manter o som laríngeo.

Aprender a cantar, é inicialmente aprender a respirar, ou seja treinar para obter uma respiração adaptada ao canto.

A respiração é vital, pois ela garanta as trocas químicas entre o ar e o sangue. Neste caso é um gesto inconsciente, instintivo, cujos movimentos são, regulares, rítmicos, simétricos e sincrônicos. Mas, para o aprendiz de canto, os movimentos respiratórios devem ser conscientes e disciplinados, para tornarem-se ativos e eficazes, após um longo treinamento e, desta forma, serem colocados a serviço da função vocal e da música.

Este treinamento põe em jogo o comando nervoso e todo um conjunto muscular apropriado a fim de adquirir a agilidade e a firmeza indispensável a toda atividade muscular.

No canto, como na voz falada, a respiração deve ser costo-abdominal porque ela favorece os movimentos do diafragma e permite um gesto mais ágil e mais eficaz.

O cantor deve cuidar de não deixar o sopro escoar sem controle. Ao contrário, ele deve aprender a economizá-lo, dosá-lo, isto é regular conscientemente o gasto de ar segundo a intensidade, a altura tona, o timbre, a extensão e a duração da frase musical. Voluntariamente ele deve retardar o fechamento das costelas com a ajuda da sustentação abdominal e da solidez dos músculos para-vertebrais. São as massas costo-abdominais que, tomando ponto de apoio sobre a coluna de vertebral, regulam a pressão expiratória. É sobre esta musculatura dorso-lombar que os músculos de cinta abdominal e os da parte inferior do tórax vão encontrar um ponto de resistência. Portanto, na voz cantada há uma tonicidade muscular que não é necessária na voz falada,.

Dada a fragilidade da voz, o cantor deve possuir uma técnica correta já que o controle da emissão não é feito unicamente pelo ouvido. Por esta razão, mesmo produzindo belas sonoridades, ele precisa saber a que se devem suas qualidades.

Ele deve, também, ser capaz de remediar os aborrecimentos passageiros como por exemplo o cansaço!. Neste caso é preferível dar menos intensidade e compensar com mais timbre, isto é dizer usando ao máximo as cavidades de ressonância.

Desta forma, mesmo para os mais dotados, o trabalho regular da respiração tem por objetivo treinar a musculatura a fim de adquirir a agilidade e a tonicidade necessária á toda atividade muscular, assim, transforma um gesto instintivo num gesto disciplinado e dominado, permitirá ao canto responder a todas as dificuldades encontradas.

O respirar para cantar tem quatro estágios

  1. O período de inspiração (inalação);
  2. O período de instalação (sustentação);
  3. O período de expiração controlada (realizar o som vocal enquanto exalo o ar);
  4. O período de descanso ou recuperação. Esses quatro estágios devem estar a principio sob controle consciente, até que eles se tornem reflexos e automáticos.

1)- Inalação: Para o canto, deve ser mais rápida e mais profunda que a natural. Quando você inale, pense nestas expressões chaves: para dentro, para baixo, expandido. Elas poderão ajudá-lo a ter as sensações corretas ao respirar.

A inalação deve ser fácil, sem fazer barulho, e não de uma forma forçada. Respirar fazendo esforço chama a atenção para o auditório, causando um desconforto geral.

2)- Sustentação: Não é feita na respiração natural, pois não se faz necessária, mais no canto, porém, é muito importante que a respiração seja sustentada (parada) por um momento, como se o ato de respirar tivesse sido completado. O propósito desse momento de sustentação é ajustar ou graduar o ar exalado que vai ser usado no som vocal que irá a servir. Quando é feita adequadamente, a sustentação possibilitará começar o som sem nenhum esforço significativo ou qualquer reajustamento das partes de seu mecanismo vocal. É importante lembrar que enquanto a sustentação estiver, sendo feita, sua respiração está suspensa, nada está sendo inalado ou exalado; logo todo o seu corpo também deverá estar parado. Já que a sustentação não faz parte da respiração natural, é necessário que ela seja elaborada pelo cantor, e praticada até que se torne espontânea.

3)- Expiração controlada: No canto, é o período no qual o som vocal é produzido. A duração do tempo a que a exalação será controlada será determinada pelo tanto de música a ser cantada em uma respiração. Na respiração natural, o ar deixa seu corpo de uma maneira consideravelmente rápida, quando o diafragma relaxa e vários músculos e órgãos se juntam para empurrar o ar para fora. Todavia, em canto, a respiração precisa ser conservada (mantida) e depois solta de uma maneira bem lenta, assim como o diafragma vai saído gradualmente do seu estado de tensão e retorna à sua posição original.

4)- Recuperação: É o breve momento ao final de cada respiração quando todos os músculos se associam para um relaxamento. Se esse período de recuperação for ignorado, os músculos adquirirão uma tendência de ficarem cada vez mais tensos com as respirações que se seguirão, principalmente na cansativa tarefa de cantar ao público.

A Emissão

A emissão vocal é o ato de produzir o som.

O Ataque Do Som

O som deve começar no instante exato em que se inicia nossa expiração e sem brusquidão no “golpe de glote”.

O Apoio Do Som

É o ponto no qual se sente a solidez do som, que se tem à impressão de possuí-lo e dirigi-lo. É obvio que o apoio encontra-se nos ressonadores, pois são neles onde o som é atacado e amplificado.

Por conseguinte, não deve deixar de estar em contato com eles, aos quais deve encontrar-se firmemente “pendurado”, “apoiado”. Sem o apoio, este ponto de contato não está firmemente estabelecido, uma parte do ar transformado em som não chega a os ressonadores e é emitido diretamente sem haver sido amplificado. A voz é então apanhada e velada pelo barulho do ar que escapa. Em resumo, um bom apoio outorga a amplitude e a estabilidade à voz.

Como Finalizar O Som.

Sobre tudo, não os encontreis faltos de hálito ao terminar uma frase melódica. A expiração deve deter-se com o canto.

A Altura

Para mudá-la, é preciso mudar a pressão expiratória. Isto é, modular o grau de tonicidade da musculatura abdominal, assim como o volume das cavidades supra-laríngeas que modificarão a posição da laringe, o fechamento glótico, a freqüência das vibrações das pregas vocais e o deslocamento da sensação vibratória.

A Intensidade

Ela depende da pressão sub-glótica, ou seja da sustentação abdominal que permite a potência. A intensidade se concretiza por uma sensação de tonicidade que se distribui pelos órgãos vocais. Ela é percebida como uma energia transmitida, pouco a pouco, ao conjunto das cavidades de ressonância e aos músculos faringo-laríngeos. O cantor, durante seu trabalho, da dinâmica apropriada e generalizada que provocarão o enriquecimento do espectro sonoro.

A intensidade aumenta com a tonicidade e está associada à altura tonal.

O Timbre

É definido de diferentes maneiras. Fala-se do seu colorido e este está diretamente relacionado com a forma dos ressonadores. Fala-se da amplitude que corresponde às sonoridades extensas e redondas, do mordente, da espessura, do brilho que cresce e decresce com as modificações da intensidade e estão em correlação com a tonicidade das pregas vocais.

A Articulação

Aprender a cantar, não é procurar um belo timbre, desenvolver a extensão, a agilidade, a facilidade vocal, é também ser comprometido por que o ouve. Esta deveria ser a preocupação constante do cantor, já que a voz tem o privilégio, em comparação aos outros instrumentos, de unir a palavra à música.

Articular bem não é, exagerar nem deformar os movimentos articulatórios: abertura excessiva da boca, tanto no grave como no médio, ou abertura exagerada em altura e sobre todas as silabas, entre outras coisas!.

Ao contrário, o que permite a identificação da articulação, é a precisão dos movimentos. Cada vogal ou consoante tem um mecanismo linguo-palatal definido que tem uma repercussão sobre as atitudes dos órgãos supra-glóticos . Esta ação repercussora determina, também, a posição da laringe, a forma e a tensão das pregas vocais. Cada letra tem um valor acústico e fonético que a identifica. Por exemplo: as vogais são definidas como sons irrestritos da fala, que podem ser sustentadas e prolongadas. Por isto as vogais carregam o tom. Já, pelo contrario, as consoantes colocam-no em seu lugar, colocam uma restrição ou obstrução no caminho do tom.

Posição e Função dos Órgãos da Boca

A boca desempenha um papel de primordial importância na articulação das palavras da voz falada e cantada.

  1. A mandíbula inferior deve estar livre de toda contração, podendo descender (descer) e ascender (elevar-se) com soltura, sem alterar o som. Deve-se colocar sua adaptabilidade à inteira disposição da voz, para os altos e baixos assim como para a articulação.
  2. A língua, para o canto, deve estar submetida a uma absoluta obediência. Macia e passiva nos sons mantidos. Firme e vivaz para a articulação, deve voltar sempre rapidamente a seu lugar habitual, que é no fundo da mandíbula inferior, com a ponta apoiada contra os incisivos posteriores.
  3. O céu da boca macio tem uma missão muito importante na produção artística da voz cantada: ao elevar-se obtura as fossas nasais, libera o fundo da garganta e assegura deste modo o som “redondo” oposto ao som estridente e áspero.
  4. Os lábios devem ter toda a soltura e a firmeza requerida pela pronúncia. O som não dependerá em absoluto de contrações dos músculos faciais, é dizer que não deve ser ajudado por nenhuma expressão facial (careta). Pelo contrário, é a expressão natural da cara o que matiza, diversifica, infalivelmente a voz de acordo com o sentimento que se experimenta.

A Classificação Das Vozes

Classificar uma voz é rotulá-la, posicioná-la numa categoria determinada.

É reconhecer que essa voz se presta para algum repertorio determinado.

A voz pode ser: Agudo – Médio – Grave

  • Soprano (mulher dó3 – fá5)
  • Mezzo-soprano (mulher lá2 -si4)
  • Contralto (mulhermi2 – lá4)
  • Tenor (homem dó2 -ré4)
  • Barítono (homem sol1 – lá3))
  • Baixo (homem dó1 – fá3)

Com isto, citamos apenas as divisões mais gerais, que admitem por sua vez, numerosas subdivisões: tenor forte ou dramático, soprano lírica, etc.

É evidente a total importância que existe para o porvir do cantor, a classificação de sua voz e a fatiga que representaria para ele ter que cantar obras que não lhe convenham.

Existem vozes naturais que podem ser imediatamente classificadas. Outras, mais numerosas, apenas após longos meses.

Fatores Primários:

A Tessitura – é o conjunto de notas que o cantor pode emitir facilmente.

A Extensão Vocal – abrange a totalidade dos sons que a voz pode realizar. Isto depende de:

  • A forma e o volume das cavidades de ressonância, variáveis para cada indivíduo.
  • O comprimento e a espessura das pregas vocais.
  • Do timbre, que é uma qualidade do som que nos permite diferenciar cada pessoa, de reconhecê-la… ele é apreciado de modos diferentes.

Fatores Secundários:

  • A capacidade respiratória e o desenvolvimento torácico e abdominal.
  • A altura tonal da voz falada, desde que o sujeito utilize aquela que corresponde à sua constituição anatômica.
  • A amplitude vocal, que indica que uma voz com sonoridades amplas, arredondadas sobre toda a extensão vocal.
  • A intensidade que permite a potência sem esforço.
  • O temperamento que representa o conjunto das qualidades do cantor em relação às suas capacidades vocais.
  • As características morfológicas. Geralmente se admite que um tenor ou uma soprano são baixos e gordos, que um baixo ou um contralto são altos e magros!… Mas isto não é uma constante. Há tantos fatores que estes, não podem ser considerados como determinantes. Eles podem apenas confirmar os fatores predominantes e facilitar a classificação.

Devemos considerar, também, que numerosas pessoas apresentam desarmonias nos órgãos vocais e respiratórios. Desta forma podemos encontrar cantores com cordas vocais grandes e caixas de ressonância pequena; ou uma capacidade respiratória insuficiente; ou pequenas pregas vocais com um grande ressonador; ou uma laringe assimétrica; uma prega vocal ou uma aritenóide mais desenvolvida de um lado; uma assimetria faringo-laríngea provocada por uma escoliose cervical.

Tudo é possível!. Quando existe discordância, a voz, mesmo sendo muito bela, será curta, ela terá poucos graves ou um agudo limitado.

Alguns mestres falam que o essencial não é dar nome à voz, mais sim guiá-la ao longo de um estudo, que a leve ao seu desenvolvimento máximo, sem fatiga nenhuma.

Atributos Saudáveis Do Estudo Do Canto

Aquele que se pergunta: “para que cantar?”, eis aqui algumas justificações de irrelevante importância:

No que respeita a saúde, o canto proporciona uma respiração ampliada e profunda, favorece o desenvolvimento dos músculos do tórax, o controle da respiração, a massagem vibratória pelo uso dos ressonadores, etc.

Os exercícios respiratórios, ao efetuar-se forçosamente pelo nariz, revelam as obstruções que se apresentam (vegetações, desviações do tabique, amídalas bastante desenvolvidas, etc.). Uma visita ao laringólogo e um tratamento adequado acabarão rapidamente com os obstáculos citados, que são, por outra parte, conseqüentes de mais de um mal-estar.

Às vezes basta o melhoramento do estado das vias respiratórias superiores, lhes dando assim, maior permeabilidade ou suprindo algum elemento infeccioso, para estabelecer corretamente o jogo da ventilação pulmonar e a oxigenação sanguínea.

No que diz respeito a ginástica respiratória, indispensável para o trabalho vocal, seu efeito sobre a patologia pulmonar não deixa de ser saudável.

A prática do controle respiratório atua sobre os centros nervosos, equilibrando-os.

Inclusive a beleza resulta-se favorecida, graças à atitude exigida pelo canto: boa postura peitoral, leveza da cabeça, mobilidade da cara e a obrigação, por parte do cantor, de cuidar mais que ninguém de seu aspecto físico.

Moralmente, como todas as artes, o Canto educa, afina, libera, dá forças e coragem para sobrelevar as dificuldades da vida. É, no meio das preocupações cotidianas, uma janela aberta ao Ideal, um meio para exteriorizar nossos sentimentos, para transmitir uma mensagem embebida de nossas experiências pessoais.

Higiene Vocal

Inúmeros hábitos e acontecimentos podem ser nocivos para a voz do cantor. Vamos ressaltar o que devem ser evitados, explicando os efeitos negativos, a fim de evidenciar os principais cuidados a serem tomados.

Os principais hábitos nocivos para a voz do cantor, são os seguintes:

  • Pigarrear: é um atrito entre as pregas vocais; este roçar forte e agressivo pode contribuir para o aparecimento de alterações nas pregas vocais, pois o atrito provoca a irritação e descamação no tecido.
  • Falar muito: O excesso de fala, principalmente em emissão continuada é prejudicial para a laringe, pois submete ao aparelho vocal a um esforço prolongado; nessas situações, o risco de se desenvolver uma lesão é também maior. Quando o uso continuado de fala ou canto se fizer necessário, procure, em seguida, descansar a voz pelo mesmo período.
  • Falar cochichando ou sussurrando: Embora, aparentemente, cochichar ou sussurrar possa sugerir relaxamento das pregas vocais, na verdade este é um ato de extrema força que pode, até mesmo, ser mais lesivo do que falar com a sonoridade habitual.
  • Gritar: Falar em voz muito forte ou gritar é utilizar a laringe em sua força máxima; evidentemente, o desgaste é maior e bem mais rápido nessas situações, cansando a voz rapidamente e aumentando o risco do aparecimento de lesões na superfície das pregas vocais, ou até mesmo de hemorragias submucosas. Os gritos devem ficar restritos a situações absolutamente necessárias.
  • Realizar competição sonora: falar em locais barulhentos constitui competição sonora, ou seja, você tende a elevar o volume de voz num esforço para se comunicar. O pior de tudo é que você nem percebe quando está se esforçando.
  • Falar fora de sua freqüência habitual: todos apresentamos uma freqüência de voz que nos identifica e que é chamada de freqüência habitual. Enquanto falamos ou cantamos estamos constantemente variando a freqüência de nossa emissão, porém, existe um valor médio onde nossa voz se situa. Alguns cantores tendem a usar a freqüência do canto na própria fala, o que representará um abuso vocal, além de soar artificial. Procure usar sua voz, do modo mais natural possível.
  • Ingerir cafeína em excesso: A cafeína é encontrada no café nos chás de ervas e também em refrigerantes dietéticos; além de estimulante, a cafeína favorece o refluxo gastroesofágico, ou seja, o líquido ácido do estômago vem, em forma de jato, como uma azia, para a boca, podendo ser desviado para a laringe. O refluxo, por sua composição química, é extremamente irritante para as sensíveis mucosas da laringe. Se você tem o hábito de cafezinhos freqüentes use o descafeinado.
  • Ambientes secos: redução de umidade do ar causa o ressecamento do trato vocal, induzindo uma produção de voz com esforço e tensão. É como se um sistema mecânico altamente potente tivesse que funcionar sem lubrificação de seus componentes.
  • Se sua permanência em locais com ambiente seco for inevitável, procure se hidratar tomando vários copos com água em temperatura ambiente.
  • Descanso inadequado: cantar é um ato de extremo gasto energético. A energia da laringe é recuperada através do descanso, mais especificamente através do sono. A voz nunca está boa depois de uma noite mal dormida. Programe-se para dormir o suficiente.
  • Estresse: Um certo estresse é positivo para o canto, pois estresse nada mais significa do que mobilização de energia; porém, o estresse excessivo é negativo e prejudica a emissão, o que se observa através de cansaço vocal, falta de resistência, ronquidão e, também pode ocorrer perda de notas da tessitura.
  • Fumo: é de conhecimento comum que o fumo é altamente nocivo para a laringe, principalmente para os cantores. Entre tanto outros efeitos, o fumo causa irritação direta no trato vocal, pigarro, inflamação da região laríngea, tosse e aumento de secreção viscosa. Abandone-o.
  • Álcool: os líquidos não passam pela laringe, mas o álcool, principalmente os destilado provocam edema (inchaço) das pregas vocais e irritação de toda a laringe. O álcool fermentado é menos irritante. Evite beber antes de cantar.

É Importante Minha Postura?

Sim!. Você deve adotar uma boa postura por seis razões:

  1. Uma boa postura é bem menos cansativa do que uma postura má ou relaxada, isto porque dessa forma permite que os ossos sustentem melhor o corpo e também que os músculos o posicionem de forma que haja o mínimo de esforço e tensão.
  2. Uma boa postura automaticamente facilita ao aparelho respiratório um desempenho melhor, tornando mais fácil para você respirar bem.
  3. Uma boa postura dá um aspecto melhor para quem o está vendo, por causa da pose que você adquire, e da vitalidade que você demonstra, e isso nunca será possível com uma má postura.
  4. Uma boa postura automaticamente coloca o mecanismo vocal na melhor posição para o seu bom funcionamento, tornando mais fácil à produção de um som de qualidade.
  5. Uma boa postura faz você sentir-se melhor tanto fisicamente quanto mentalmente, e muito mais confiante. A boa postura lhe proporcionará muitos benefícios psicológicos.
  6. Uma boa postura lhe será benéfica para sua saúde e bem-estar. As várias partes do seu corpo podem funcionar de uma forma mais efetiva quando a sua postura é correta.

Algumas considerações ao respeito:

  • Os pés: deverão estar ligeiramente separados um do outro. Seu peso deve ser distribuído uniformemente pelos pés, de modo que possa ser bem equilibrado nas palmas dos pés.
  • As pernas: a sensação ideal é a de que elas se sintam livres e flexíveis, prontas para se movera qualquer momento. Tente evitar qualquer sensação de rigidez ou estar preso a uma só posição. Se qualquer músculo estiver sob tensão durante muito tempo, sem poder relaxar, haverá uma tendência de começar a tremer.
  • O abdômen: falando em postura e em respiração, é melhor dividir o abdômen em duas partes- o abdômen inferior e o abdômen superior. O abdômen inferior é a parte entre a cintura e a pélvis, e o superior entre a cintura e as costelas.
  • O abdômen inferior é muito importante para uma boa postura. Você deve sentir-se levemente apoiado confortavelmente, centralizando-o. O abdômen superior é importante de uma forma bem significativa para uma boa respiração. Você deve senti-lo de uma forma bem livre, pronto para se mover a qualquer hora.
  • O tórax: deve estar o tempo todo suspenso confortavelmente, você deve tomar essa postura correta antes de respirar ou cantar. A caixa torácica não deve subir nem descer quando você inspira o expira, mais sim permanecer parada.
  • Os ombros: Devem estar totalmente descontraídos, deixando-os relaxados em suas juntas.
  • Os braços e as mãos: deverão cair livremente, de uma forma bem natural, em ambos lados do corpo. Sim por acaso estiver cantando com um livro, segure-o com uma mão e com a outra vire às paginas. É bom trocar de mãos de vez em quando, para reduzir a tensão e uma possível fadiga.
  • A cabeça: quando estiver cantando a cabeça e os olhos devem permanecer fixos em um plano horizontal. Mantenha a cabeça centralizada, e procure não levantar o queixo tentando buscar as notas agudas.

Conselhos:

  • Para cantar não é necessário aspirar muito ar, porém sabê-lo emitir com economia.
  • O excesso de ar oprime e incomoda o cantor.
  • Por conseguinte, as aspirações muito profundas não devem ser praticadas mais que nos exercícios respiratórios, pois isto tem como objetivo, chegar a dominar o mecanismo da respiração e submetê-lo ao controle da vontade.
  • Todo o ar deve transforma-se em som. É uma questão de “dosificação”, e é também o segredo das vozes puras e cristalinas.
  • Quando o hálito é excessivo, se tende um véu sobre a voz, semelhante ao do barulho da agulha sobre o disco.
  • Cuide sempre que sua expiração acabe com o som.
  • É preciso que não sejas visto nem escutado respirar.
  • Enquanto se canta, se seguirá estudando, pois “o que não adianta, apenas retrocede”. No canto, sempre há algo para aprender, procurar aperfeiçoar.
  • É oportuno lembrar que “o tempo não respeita mais do que foi feito com ele”. Por conseguinte, se se quer cantar bem e por muito tempo, é necessário trabalhar bem e durante muito tempo.
  • A prática vocal bem realizada não fatiga em absoluto a voz: pelo contrário, desenvolve e fortifica os músculos e os órgãos vocais. Necessitam de um treino cotidiano, assim como os músculos que intervém na cultura física ou no esporte.
  • Se o trabalho vocal nos traz uma fatiga ou ronquidão anormais, quer dizer que foi mal feito. Neste caso, é preciso retificar a técnica empregada.
  • Fique relaxado ao cantar. A caixa de um violoncelo não se contrai quando se toca. Seu corpo deve atuar com soltura e liberdade no canto.
  • Ao enfrentar uma obra, estude primeiramente seu texto, em seguida, a linha melódica. E finalmente se esforce para obter o máximo de expressão do conjunto.
  • Quando cantar forte, será ouvido.
  • Quando cantais piano, se os escuta.
  • Um canário solitário que jamais ouve outros canários, perde pouco a pouco seu virtuosismo. Os criadores de pássaros colocam sempre em sua gaiola, um pássaro que seja muito bom cantor. Ao imitá-lo,os outros pássaros irão melhorando seu canto. Toda vez que for possível, assista e escute os grandes cantores. Trate, por meio da análise, distinguir onde está a sua superioridade. Então, tente imitá-los.
  • Todo esforço visível é antiartístico.
  • O estudo da música e o solfejo, devem formar parte da Educação Vocal, e se é possível, precedê-la.
  • As mulheres se estudam muito ante o espelho para embelezar-se. Empregue a fita como espelho para a voz, para descobrir e corrigir suas imperfeições.
  • Sempre que seja possível, reprima a tosse, pois ela fatiga a voz e oculta a sua pureza. Evite as tossezinhas inúteis.
  • A desintoxicação do organismo aclara a voz. Dois ou três dias de jejum lhe dará uma pureza e uma facilidade assombrosa.
  • Se tens que cantar a noite, jante cedo e levemente.
  • Fale suavemente. Evite os gritos e os estalidos da voz.
  • Pela rua, no ônibus ou qualquer lugar barulhento, procure manter o silêncio.
  • Cuidado ao telefone: evite falar forte.
  • Recuse sempre cantar a o ar livre: é muito perigoso para a voz.
  • Evite beber ou comer coisas geladas, e também fazer alterações bruscas de temperatura, que na maioria das vezes, são servidos nos ambientes climatizados.
  • Cultive a calma e a serenidade. Fuja da agitação e do nervosismo, sobre tudo antes de cantar.
  • Cultive a “mentalidade profissional”, ou seja, aquela que aprofunda tudo e procura sempre a perfeição.
  • Se queres manter-se jovem, não deixes de se instruir.
  • A grande dificuldade do canto é que só se dispõe de meios humanos para expressar algo sobre-humano. Por isso ao cantar, não escute mais sua voz: escute seu coração!
  • Viva intensamente!

Preparando O Nosso Corpo Para Cantar

Alguma vez você viu uma pista de largada, as olimpíadas, ou qualquer outro tipo de evento atlético?. Qual a primeira coisa que os atletas fazem antes de entrar no campo ou na pista?. Nenhum atleta realmente competente tentaria executar sua perícia sem antes fazer algumas flexões, exercícios de estiramento e aquecimento, para preparar seu corpo para ação harmonizar a musculatura para um estado ideal.

Um cantor precisa ir por esses mesmos passos preparatórios, antes de começar a cantar.

Muitos cantores têm o habito de começar a cantar com toda a força, sem o zelo de aquecer a voz ou ver se o corpo está adequadamente preparado para o trabalho do canto.

Muitos dos problemas que são encontrados no canto podem ser evitados pela preparação adequada do corpo como um todo. É muito bom estabelecer um procedimento regular de aquecimento a ser usado antes de qualquer prática ou desempenho do canto. Se você ainda não criou uma sistemática de aquecimentos, tente a seguinte rotina abaixo sugerida:

Exercícios De Aquecimento Muscular

  1. Faça alguns exercícios de flexões e estiramento:
    1. Empenhando-se o máximo que você possa, relaxando logo em seguida; faça isso repetindo varias vezes;
    2. Toque ambos os dedos dos pés ao mesmo tempo;
    3. Toque seu pé esquerdo com a mão direita e depois o pé direito com sua mão esquerda, repetindo isso várias vezes.
    4. Gire seu corpo em círculos sobre a cintura.
    5. Faça várias flexões com os joelhos.
  2. Relaxe os músculos de seu pescoço:
    1. Rolando a cabeça sobre o mesmo, em círculos, no sentido dos ponteiros do relógio, várias vexes, revertendo em seguida a direção, deixando a cabeça cair em todas as direções.
    2. Balance a cabeça para frente e para trás de forma que seu queixo toque seu peito e a nuca como se quisesse tocar as costas.
  3. Relaxe seus ombros e músculos do braço:
    1. Movendo os ombros em círculos, primeiramente para trás é para baixo várias vezes, revertendo a direção logo em seguida.
    2. Faça auto massagens, também na face com movimentos circulares. Comece suavemente é aumente a pressão a os poucos.

Exercícios Respiratórios

Pensamentos Sugestivos para Inalação:

  1. Pense que você está cheirando uma flor, de forma que ela esteja encostada ao seu nariz.
  2. Sinta como se estivesse começando um bocejo, sem realmente bocejar.
  3. Levante sua mão até a boca, como se fosse beber um copo de água.

Pensamentos Sugestivos para a Sustentação

Inspire de forma profunda e fácil, expandindo toda a área ao longo da parte central do seu corpo. Assim que você se sentir confortavelmente cheio de ar, estanque esse movimento do seu diafragma. Pare nessa posição e conte até cinco, lentamente. Não tente fazer essa operação fechando os lábios ou as cordas vocais, mas somente mantendo o diafragma contraído.

Depois de ter mantido a respiração e contado até cinco, deixe o ar escoar rapidamente.

Pensamentos Sugestivos para a Exalação Controlada

  1. Coloque as mãos no abdômen superior de forma que os polegares toquem as costelas inferiores, os dedos menores toquem próximos da cintura, ficando os dedos do meio juntos uns dos outros. Inspire de forma natural e profunda, até que a expansão sob as mãos mova somente os dedos do meio. Mantenha essa posição de expansão (sustentação) por alguns momentos, antes de exalar. Agora, solte o ar suavemente, entre os dentes, fazendo um leve chiado. Continue a soar esse chiado, até escoar totalmente o ar. Tente sustentar essa expansão com os dedos do meio na mesma posição anterior o máximo que você possa, sem chegar a ter que fazer força.
  2. Agora, repita o exercício anterior, sendo que dessa vez deixe os lábios ressaltados, soprando o ar que está saindo por entre eles. Note que dessa forma a expansão se desfará mais rapidamente.
  3. Volte ao exercício do chiado e repita-o várias vezes, mantendo sempre a expansão o mais confortável que puder, e tente associar as sensações do abdômen, das costelas e costas.

Pensamentos Sugestivos para a Recuperação

Pratique os quatro estágios da respiração enquanto conta mentalmente. Inspire contando até três, sustente contando de novo até três, expire com chiado entre os dentes, também contando até três, e relaxe finalmente, contando mais uma vez até três, antes de retornar ao processo. Repita esta operação várias vezes. Depois abrevie as fases de sustentação, recuperação, contando até três, enquanto para as outras fases continue contando até três. Repita esta operação várias vezes. Por fim, abrevie o tempo de sustentação e recuperação, contando somente até um, enquanto com as outras duas fases continue contando até três. Repita esta operação várias vezes.

Respiração de Apoio

É um relacionamento dinâmico entre os músculos de inalação e exalação. Quando você assume uma postura certa, respira correta,ente, e suspende o ar, uma tensão balanceada é estabelecida entre os dois conjuntos musculares.

Deve regular a sua tensão balanceada, de forma que seja suficiente para fornecer a pressão respiratória necessária para um certo pique vocal, com certo volume de voz.

O bom cantor saberá dosar a quantidade de pressão respiratória que ele deverá usar em um som

Como Sentir a Respiração de Apoio?

Coloque-se em uma boa postura e faça os dois primeiros estágios da respiração em canto – inalação e sustentação. Depois comece a exalar fazendo um leve chiado, como já feito antes. Aumente progressivamente o som desse chiado. Observe atentamente o que você sente na área abdominal quando você produz o pequeno chiado, e quando você vai aumentando esse som. Essa é a sensação da respiração de apoio. Você sentirá mais apoio quando estiver produzindo o chiado mais forte.

TS e S-X-F-P.

Ts.

Inspire rapidamente profundamente e exale o ar fazendo tssss brevemente até acabar o ar.

S-x-f-p.

Inspire e exale rapidamente, com apoio do diafragma pronunciando a consoante S. Depois repetir o processo com as consoantes restantes. Lembre que deverá inspirar e exalar para cada uma das consoantes. Deverá fazer cada exercício por um tempo aproximado a os 2 minutos.


Fonte: Publicado originalmente em http://www.musicaharmonia.com.br/arquivos/artigos/textos/Apostila_O_Estudo_do_Canto.doc

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