Superdotados na Música

por: Ana Maria N. Gorski Damaceno [*]

Quem não fica admirado ao ver uma criança superdotada? Afinal, não é tão comum encontrarmos crianças com o Q. I. (quociente de inteligência igual ou maior que 140). Witty definiu os superdotados com crianças cuja atuação, num ramo potencialmente importante de atividades humanas, seja constantemente “notável”.

Conant considera como talentosos, do ponto de vista escolar, os alunos que se situam na faixa  percentual correspondente aos 15 – 20 % superiores da população escolar secundaria.

A criatividade vem sendo considerada como um aspecto importante da superioridade intelectual.

Guilford define: “São superdotados os alunos cujo potencial intelectual está em nível superior, tanto no raciocínio produtivo como no critico, de modo que se possa imaginar que serão os futuros solucionadores de problemas, os inovadores e os críticos da cultura, se lhes forem proporcionadas experiências educacionais adequadas”.

Guilford e Merrifield resumiram 4 operações fundamentais no intelecto:

  1. Conhecimento:“Descoberta, atenção, redescoberta ou reconhecimento de informação em várias formas, compreensão ou discernimento”.
  2. Memória: “Qualquer forma de retenção de informação”.
  3. Produção:“Produção Divergente (raciocínio dedutivo);Produção Convergente(raciocínio indutivo).
  4. Critica ou Avaliação: os fatores dedutivos compreendem:

    Fluência:o numero das várias respostas produzidas.
    Flexibilidade: a tendência para modificar a técnica ou estratégia.
    Singularidade: a originalidade das respostas.
    Elaboração: o acréscimo de detalhes para atingir um objetivo significativo

Os três fatores da produção indutiva agrupam-se em torno da capacidade de redefinição – transformação do conceito de um objeto ou ideia, de modo a usá-lo totalmente ou em parte, para satisfazer a determinadas condições.

Uma determinada porcentagem de crianças pode demonstrar desde cedo condições especiais para compreensão, execução e criação musical. Certas condições afloram em maior ou menor grau nos diversos tipos de indivíduos, por obra de um claro impulso interno e por ação de estímulos externos que atuam como desencadeantes.

O talento de uma determinada criança poderá também manifestar-se e florescer num ambiente menos apropriado e o talento do outro pode ter despertado pela influencia direta de um ambiente favorável para essa atividade.

Um bom professor e pais especialmente sensíveis às necessidades internas de seus filhos podem contribuir e favorecer naturalmente este despertar das atitudes artísticas. Mas é preciso reconhecer que tais atitudes ou dons podem surgir também como conseqüência de uma reação contra os pais e o ambiente geral.

É difícil, por outro lado, discernir em alguns casos, quando uma vocação é produto de uma verdadeira aptidão e facilidade que se possui para realizar algo, ou do esforço (força de vontade) que se põe a serviço da dita atividade. Assim observamos que um bom numero de artistas dignos e meritórios – interpretes e compositores – neste caso não demonstram possuir uma facilidade tão notável como a ostentam alguns aficionado.

Graças a inquietude do saber que impulsa certas crianças, e de seu árduo empenho até desmedido de suas atividades musicais, elas chegam ao domínio do instrumento e à compreensão musical em geral bem cedo.

A musicalidade se distingue qualitativa e quantitativamente na criança talentosa, da  outra criança. Observemos que as crianças talentosas a nível de maturidade sensorial, sensitiva, intelectual, são superiores aos de sua idade. Manifestam um interesse mui notável e definido com tudo que tenha algo que ver com os sons. A criança musicalmente mais dotada de distingue por sua capacidade em manter a atenção durante períodos maiores entre os de sua idade, enquanto escuta concertos, gravações e dá detalhes do que ouviu. É capaz de recordar e entoar os temas mais destacados de ditas obras.

Se sua idade o permite, tentará descobrir aquelas melodias no piano ou no instrumento que lhe seja mais familiar e até colocará os acordes mais ou menos apropriados às mesmas.

Tem grande capacidade de improvisar, até sobre um tema recém conhecido. O ouvido muito apurado leva à preguiça de leitura musical.

É preciso dizer que no caso de verdadeiros talentos é mais freqüente a necessidade de integrar a atividade predileta dentro da totalidade cultural, artística e humana. Não é raro que os que tem talento musical também demonstrem disposições especiais para a poesia, a matemática e a ciências.

A capacidade de fazer comparações para memorização e aprender coisas mais complexas, relacionando-as com o que já sabe, é muito grande.

Também essas crianças têm desenvolvido os componentes essenciais do caráter e da personalidade: força de vontade, persistência, sensibilidade geral aguçada, intelecto, memória alem das capacidades musicais especificas como: ouvido musical, sentido rítmico, memória musical, audição interior, inteligência musical, alta criatividade, capacidade para distinguir mesclas de sons (harmonia, acordes) capacidade para discernir estruturas musicais (forma musical)etc.

Algumas dessas aptidões podem observar-se antes mesmo da criança ter recebido algum tipo de educação. Outro aspecto tem a ver com uma acentuada predileção por um instrumento musical em cuja execução manifesta uma habilidade e destreza manual excepcionais, através do mesmo logra expressar seu mundo sonoro interior, produto da própria imaginação criadora. Pode fazê-lo não só através de instrumento, mas fazê-lo também cantando, compondo e dirigindo música, o que precisa de uma grande sensibilidade e também de uma audição interior.

Convém aos pais e professores detectar desde cedo o verdadeiro talento musical para poder seguir sua evolução natural e ao mesmo tempo dar uma orientação adequada.

Entre as crianças que cantam é possível determinar vários indícios de musicalidade precoce:

  1. Afinação
  2. Capacidade para continuar uma melodia interrompida em qualquer tom.
  3. Fazer transporte cantando
  4. Facilidade para descobrir semelhanças no ritmo e na melodia de diversos temas e canções.
  5. Poder de concentração e segurança necessária para não deixar-se influenciar por uma segunda voz que é percebida simultaneamente
  6. Capacidade para captar certos detalhes mais ou menos sutis no caráter mudanças dinâmicas, timbrísticas dentro da música que escuta.

O que fazer com os prodígios da música? 

Ao pressentir que a criança possa ser ou não superdotada é muito importante que seus responsáveis cuidem para que a mesma não fique pensando ser algo que ainda não é.

É bastante excepcional que entre 3 e 4 anos de idade, uma criança por mais dotada que seja, manifeste a necessidade de começar um estudo sistemático da música. O normal é que a criança satisfaça naturalmente suas inquietudes musicais, a expressão corporal e também mediante a atividade musical coletiva, em grupos onde de cantam canções de roda, se praticam movimentos rítmicos e se usam instrumentos de percussão.

Se começar no instrumento, que seja uma atividade ocasional, não sujeita a horários de nenhuma espécie, e se os pais tiverem condição de responder e ensinar os primeiros conhecimentos musicais – é o ideal.

Porque até os 8 anos a criança tem todo o direito de BRINCAR. Se ela quer brincar com musica, que parta dela esse interesse.

Às vezes á exploração pelos pais e pela sociedade, das crianças prodígios. Não existe talento que justifique a perda e o sacrifício da INFÂNCIA.

É mais importante que pais e professores saibam conservar e cultivar, sem falsas premissas, o rico caudal musical que essas crianças possam oportunamente trazer consigo.

O primeiro contato com a música deve ser o mais amplo e o mais vivo possível. Deve-se evitar, porém, possíveis frustrações com a pressa em começar a educação instrumental de forma individual, particular. Mais adiante a criança terá oportunidade de aprender os delicados problemas teóricos e instrumentais, dedicando-se ao mesmo com total convicção e maturidade.


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Fonte: http://www.folhadafamilia.com