A Orquestra de Câmara

por: autor desconhecido [*]

O termo “orquestra” provém do nome que, nos teatros da antiga Grécia, se dava ao espaço onde se situava o coro, único protagonista das primeiras tragédias. Mais tarde, apareceram os atores, que passaram a ocupar um espaço retangular que corresponde ao palco dos teatros atuais e o coro ficou num plano inferior. Daí que, ainda nos nossos dias, o espaço compreendido entre o palco e as poltronas se denomine “orquestra” ou “fosso da orquestra”. Adotou-se também o termo “orquestra” para designar os diferentes grupos instrumen­tais que tocam conjuntamente, quer num teatro quer numa sala ou qualquer outro lugar onde se realize um concerto.

Tal como a música destinada ao culto religioso se chamava “musica da chiesa” (música de igreja) e a que acompanhava as representações teatrais se designava por “musica di scena” (música de cena), a música composta para ser interpretada numa câmara, ou sala principal de um palácio ou de uma grande mansão, é conhecida pelo termo genérico de “música de câmara“. Este tipo de música, próprio da época em que o concerto público não era ainda um acontecimento habitual, como é nos nossos dias, requer um número reduzido de executantes, que podem estar integrados num grupo de música de câmara (um trio, um quarteto, um quinteto, etc.) ou numa orquestra de câmara que, conquanto formada por poucos elementos, exceda o noneto (nove executantes).

A orquestra de câmara sofreu grandes transformações ao longo da história. Atualmente, esta formação orquestral tem de se adaptar às tendências estéticas trazidas pelos compositores de vanguarda que, no desejo de encontrar novos campos de expressão, plasmam a sua ideia musical no pentagrama, criando necessidades e problemas de colorido, timbre, volume ou dinâmica que até então eram desconhecidos.

As grandes dificuldades que se apresentam aos compositores atuais para estrearem obras destinadas a amplas formações sinfônicas determinam quase todos eles a escrever em elevada percentagem partituras para orquestra de câmara, sem que isto, evidentemente, signifique que não componham também obras para orquestra sinfônica. As obras para orquestra de câmara têm maior número de probabilidades de serem estreadas, já que o seu custo é muito mais reduzido. Este fator econômico, à margem das motivações estéticas, contribuiu grandemente para a evolução atual da orquestra de câmara.

Antes de fazermos uma passagem rápida por aquilo que a orquestra de câmara foi ao longo da história, é conveniente estabelecer com clareza a diferença que existe entre esta formação orquestral e um grupo de música de câmara. A orquestra de câmara exige a participação de um regente, enquanto o grupo de música de câmara pode e deve tocar sem a sua colaboração. Convém, no entanto, esclarecer que em qualquer grupo de música de câmara, mesmo que atue sem maestro, deverá haver alguém que indique os princípios ou ataques, os finais dos sinais de suspensão, a graduação dos ritardandos e accelerandos, as mudanças de tempo, etc.

O que dissemos atrás refere-se apenas à execução final da obra; a preparação nos ensaios exigirá também uma pessoa que decida em que moldes se deve processar a interpretação, embora, geralmente, nos duos, trios ou formações pouco numerosas, todos os executantes dêem a sua opinião e troquem impressões até chegarem a acordo quanto à forma como deve ser interpretada. Isto costuma levantar bastantes problemas, daí que existam poucos conjuntos de qualidade dedicados à interpretação deste tipo de música. Muitos deles soçobram ou dissolvem-se por causa das discussões e da disparidade de critérios, isto é, da ausência desse acordo musical imprescindível para interpretar música de câmara, que, quando existe um maestro, é estabelecido por ele de modo quase ditatorial. A este respeito, convém lembrar que a principal missão de um regente de orquestra é unificar num só critério – o seu – os diferentes pontos de vista que sobre a interpretação de uma partitura podem ter os professores que integram a orquestra.

Já no século IX existiam conjuntos musicais, cujo conhecimento se deve aos afrescos e baixos-relevos da época. Estas formações — que pareceriam muito estranhas aos olhos de um homem de hoje, devido ao tipo de instrumentos que as compunham — chamavam-se já orquestras, embora contassem menos de nove músicos, pois então ainda não se utilizavam as palavras duo, trio, quarteto, etc.

A orquestra de câmara foi sendo constituída por vários instrumentos até se ter conseguido um modelo a que se poderia chamar clássico. A maioria dos compositores do século XVIII escreveu grande número de obras destinadas ao referido modelo. No entanto, esporadicamente, estes músicos não se ajustavam ao modelo clássico e introduziam nele pequenas alterações.

Naquele século, predominavam as orquestras de câmara compostas principalmente por instrumentos de cordas, às quais se juntava um ou outro instrumento de madeira ou de metal — e até das duas famílias —, como fez, por exemplo, Johann Sebastian Bach nos Concertos Brandeburgueses. Convém, no entanto, chamar a atenção para o fato de, já em 1607, Monteverdi ter utilizado na sua ópera L’Orfeo uma orquestra de quase quarenta músicos. Frescobaldi e Gabrielli em Itália, Schütz na Alemanha, Rameau em França, e muitos outros, foram incluindo instrumentos na orquestra de câmara até se chegar ao modelo clássico que, salvo pequenas variações que eles próprios experimentaram, encontrou o seu ponto mais alto em Haydn, Mozart e até no Beethoven da primeira fase. Esta orquestra contava com um grupo de instrumentos de cordas em que figuram primeiros-violinos e segundos-violinos, violas, violoncelos e contrabaixos; costumava haver também uma ou duas flautas, dois oboés, dois clarinetes, dois fagotes, duas trompas, trompetes e tímpanos.

Desde as orquestras que se adaptam a este esquema clássico até aos conjuntos mais heterogêneos que os compositores dos nossos dias possam imaginar, há uma ampla gama de formações musicais a que, de um modo geral, se pode chamar orquestra de câmara. Resumindo, quando dizemos que uma formação orquestral é uma orquestra de câmara pretendemos apenas apontar a diferença existente entre ela e uma grande orquestra sinfônica, na qual, com o passar do tempo, acabou por se converter na orquestra de câmara.


[*] – Nota: Os editores do Música Sacra e Adoração não localizaram informações acerca do autor deste artigo. Qualquer contribuição acerca desta informação será bem-vinda.