Arranjo Instrumental: 2° parte

por: Joel Barbosa

Seus efeitos e como se somar harmonicamente a ele

Os metais (trompete e trombone) são os instrumentos que dão ao arranjador maior opção de escrita, pois além de combinarem bem com os outros metais, têm boa extensão de registro e boa expressividade de dinâmica. Outras características dos metais são: maior proeminência nos agudos; devem ser evitados os seus registros extremos; e trompetes e trombones têm a mesma força (dinâmica). Os saxofones (alto e tenor) têm as seguintes características gerais: sonoridade distintiva; potencial de mistura com todos os outros instrumentos; o colorido sonoro se mantém inalterado por toda a extensão do instrumento, porém a intensidade pode variar por causa da tessitura e capacidade técnica.

Considerando-se que um arranjo instrumental para pequeno grupo (trompete, trombone, saxofone alto, saxofone tenor, guitarra, piano, baixo e bateria) será realizado, é de grande valia que sejam exploradas, dentro das necessidades apresentadas pelo arranjo, as possibilidades sonoras de cada instrumento ou de todoogrupoparaoenriquecimentodotrabalho. A partir da manipulação apropriada dos instrumentos do naipe de sopro, pode-se “criar” a sonoridade de pelo menos três naipes distintos; além de misturas riquíssimas resultantes do trabalho simultâneo (uníssono, terças, quartas, etc.) entre os instrumentos do naipe de sopros e os instrumentos da base.

1o. exemplo: (soando como um naipe de saxofones)

Para que se consiga este resultado, as vozes do arranjo devem estar distribuídas da seguinte forma:

  • 1a. voz para o saxofone alto
  • 2a. voz para o trompete
  • 3a. voz para o saxofone tenor
  • 4a. voz para o trombone

2o. exemplo: (soando como um naipe de metais)

Para que se consiga este resultado, as vozes do arranjo devem estar distribuídas da seguinte forma:

  • 1a. voz para o trompete
  • 2a. voz para o saxofone alto
  • 3a. voz para o trombone
  • 4a. voz para o saxofone tenor

3o. exemplo: (soando como um naipe de trompas)

Para que se consiga este resultado, as vozes do arranjo devem estar distribuídas da seguinte forma:

  • 1a. voz para o trompete (com surdina)
  • 2a. voz para o saxofone alto
  • 3a. voz para o saxofone tenor
  • 4a. voz para o trombone (com surdina)

Muito interessante, também, é o resultado obtido com a combinação entre um instrumento de sopro e um instrumento da base.

Exemplos

1o. – em combinação com a guitarra/piano:

  • saxofone alto (uníssono ou oitava)
  • trompete (uníssono, 3as., 6as., 8as. ou 10as.)
  • saxofone tenor/trombone (uníssono, 3as., 6as. ou 8as.)

2o. – em combinação com o contrabaixo:

  • saxofone alto/trompete (8as. ou 10as.)
  • saxofone tenor/trombone (3as., 6as., 8as. ou 10as.)

3o. – em combinação com a bateria:

  • saxofone alto
  • trompete
  • trombone
  • saxofone tenor
  • (qualquer altura, mesmo ritmo)

Outras possibilidades, tanto com os sopros e quanto com a base, poderão ser experimentadas.

Toda (boa) informação transmitida aos músicos interfere positivamente no resultado da interpretação musical. Portanto, ter os intérpretes bem-informados das intenções musicais deve ser uma práxis do arranjador.

A notação musical para a seção rítmica (piano, guitarra, baixo e bateria) deve ser clara, objetiva e universal. As intenções do arranjador devem estar explicitadas, sem complicações, para os instrumentistas desta seção. As convenções que se fizerem necessárias devem ser anotadas de forma simplificada, porém com a mesma clareza que se requererá da sua interpretação. Quando não houver situação especial, uma mesma parte cifrada escrita para piano servirá para a guitarra, para o contrabaixo e, se estiver bem escrita, com todos os detalhes convencionais, para a bateria. As indicações dos padrões a serem seguidos, as convenções, devem ser anotadas preferencialmente sobre a cifragem envolvida na convenção desejada e, sempre que possível, com a indicação do instrumento guia (provocador) da convenção adotada.

Outra situação de cuidado está relacionado à notação das cifras. Quando alguém cifra G/A, que indica o acorde de sol maior com a sua nona no baixo (já se adotou o uso da quarta inversão?), ou seja, analiticamente se toma como base o acorde de sol maior. Porém, na maioria dos casos, o que realmente se quer é o acorde cuja fundamental seja o lá e a sua extensão coincidente com a estrutura do um acorde de sol maior. Em resumo, busca-se, na realidade, um acorde de lá maior com sétima, nona e quarta suspensa, para o qual cifra-se Asus7(9).

“Arranjador não inventa, no máximo, ‘cria com coerência'”.


Joel Barbosa é arranjador, compositor, produtor musical, professor e regente da OCBrass e da Orquestra Sinfônica da Escola de Música de Brasília (DF).


Fonte: Publicado na Revista Weril n.º 133