por: Clarindo Gonçalves de Oliveira
Igor Stravinsky (1882 – 1971) |
Cláudio Santoro (1919 – 1989) |
Sergei Prokofiev (1891 – 1953) |
Marlos Nobre de Almeida (1939 – ) |
Francisco Mignone (1897 – 1986) |
Edino Krieger (1928 – ) |
Cézar Guerra Peixe (1914 – 1993) |
Radamés Gnatalli (1906 – 1988) |
Alberto Evaristo Ginastera (1919 – 1983) |
Oscar Lorenzo Fernandez (1897 – 1948) |
Claude Debussy (1862 – 1918) |
Arnold Schoenberg (1874 – 1951) |
Maurice Ravel (1875 – 1937) |
Béla Bartók (1881 – 1945) |
Alban Berg (1885 – 1945) |
Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959) |
Igor Stravinsky (1882 – 1971)
Compositor russo naturalizado francês e depois norte-americano. Autodidata, tomou algumas lições de instrumentação com Rimsky-Korsakov e celebrizou-se com três balés apresentados em Paris pela companhia de Diaghlev: O Pássaro de Fogo (1910), Petruchka (1911) e a Sagração da Primavera (1913).
Parecia ser, então, o mais nacionalista dos músicos russos, embora armado de todos os recursos de um radical modernismo musical. Debussy, que ajudou Stravinsky a libertar-se do pitoresco da escola russa, foi influenciado por suas inovações; desta época data especialmente a ópera O Rouxinol.
Em seguida Stravinsky escreveu Renard (1916), A História do Soldado (1918), com um texto francês de Ramuz, que assinala sua ruptura com a escola orquestral russa, e Les noces (1917-1923), cantata dançada.
Aliou-se, durante certo tempo, a Cocteau e ao grupo parisiense dos “six”. Já estava então totalmente ocidentalizado. Adotou um estilo neoclassicista, ou então, pré-classicista, procurando inspiração em Handel ,Pergolesi e outros mestres antigos, mas sempre com uma dose de ironia e usando os modos de expressão modernos. São deste tempo o balé Pulcinella (1920), Concerto para piano e orquestra de harmonia (1924), o oratório profano Oedipus-Rex (1927), os balés Apollon Musagète (1928), O Beijo da Fada (1928), Jogo de Cartas (1936), a Sinfonia em dó (1940), a Sinfonia dos Salmos (1930) e, mais tarde, no mesmo estilo a ópera A carreira do libertino (1951).
Por volta de 1950, diante do impacto cada vez maior da escola de Viena e de Varése, voltou-se para a música serial: Canticum sacrum (1956) e o balé Agon (1957). Nesta última fase criativa, a inspiração religiosa ocupa um lugar preponderante, especialmente com Threni (1958). Escreveu Crônicas de minha vida (1935) e Poética Musical (1942).
Cláudio Santoro (1919 – 1989)
Compositor e violinista brasileiro. Nasceu em Manaus, Amazonas, e com 13 anos transferiu-se para o Rio de Janeiro, amparado pelas autoridades de seu estado natal, impressionadas com o seu progresso no estudo do violino.
Matriculou-se no Conservatório de Música da cidade e tornou-se professor deste estabelecimento logo após sua formatura.
Logo começaria a compor, iniciando uma obra que é apontada para a mais versátil no terreno da música vocal. Cláudio Santoro viveu vários períodos no exterior, sempre aperfeiçoando sua técnica e deixou uma grande produção.
Sua Obra
Inicialmente Cláudio Santoro dedicou-se ao Dodecafonismo, aderindo, por volta de 1943, ao Nacionalismo Musical. Compôs muitas obras nesse espírito, inserindo temas populares em estruturas clássicas. São desta fase a Sinfonia No. 4 e as Paulistanas (1953) para piano. Na década de 1960 voltou ao Dodecafonismo, tendo realizado nos últimos anos experiências acústico-visuais; compôs diversos “quadros aleatórios”, composições formadas por uma parte gravada em fita magnética e outra parte por quadros também de sua autoria. Sua vasta produção compreende, entre outras, oito sinfonias, três concertos para piano, peças de câmara e o balé Cobra Norato (1967).
Sergei Sergeievitch Prokofiev (1891 – 1953)
O compositor russo Sergei Prokofiev estudou música no conservatório de São Petersburgo, sob a orientação de Rimski-Korsakov e Tcherepnin, iniciando sua carreira como pianista. Já aos 14 anos, havia composto peças para piano e orquestra e quatro óperas.
Após a revolução de Outubro 1917, refugiou-se primeiro nos Estados Unidos e depois na Europa. Em 1936 retornou definitivamente à antiga União Soviética, fixando-se em Moscou com sua esposa e dois filhos. Depois de um certo período de resistência, quando foi criticado por “formalismo burguês”, retratou-se publicamente e passou a compor música de agrado das autoridades. E só em 1959 foi reabilitado.
Prokofiev morreu em 5 de março de 1953, no mesmo dia e na mesma hora que Stalin. Essa lúgubre coincidência fez com que sua morte ficasse de início relativamente desconhecida dos meios oficiais: os jornais só a publicaram vários dias depois; só a “Voz da América” noticiou o fato. Prokofiev morava perto da Praça Vermelha; por três dias o povo que enchia as ruas, dias e noites, chorando Stalin, tornou impossível transportar o corpo do compositor do prédio em que residia para a sede da União dos Compositores Soviéticos. Seus amigos e alunos tiveram que decorar a urna funerária com flores de papel – todas as flores disponíveis estavam reservadas para o túmulo de Stalin. Não foi sequer possível organizar um tributo musical adequado ao compositor no funeral, e eles tiveram que tocar a marcha fúnebre de Romeu e Julieta em um velho toca-fitas. Mas aconteceu ainda um acidente macabro: o aparelho se desregulou e a música terminou em um surdo ruído.
Sua Obra
Um dos traços característicos de seu estilo é o brilhante humorismo. Mas este estilo variou muito, no tempo, entre sutilezas requintadas e fortes acentos populares, entre o nacionalismo russo e o Neoclassicismo.
Sua obra é extensa e abrange todos os gêneros; o piano solista ocupa um lugar importante em seu trabalho (nove sonatas, 1907-1947). Para orquestra compôs nove sinfonias ( N. 1 chamada Clássica, 1917) e uma sinfonieta, suítes extraídas de balés, óperas e músicas para filmes. Para solista e orquestra, Prokofiev escreveu cinco concertos para piano e dois para violino. Para as crianças escreveu um poema sinfônico chamado Pedro e o Lobo (1936). Entre suas óperas destacam-se O Amor por Três Laranjas (1921), O Anjo de Fogo (1929-1937) e Guerra e Paz (1941-1952).
É autor de sete balés, entre os quais se destacam: O Bufão (1921), O Filho Pródigo (1929), Romeu e Julieta (1938) e Cinderela (1945).
Escreveu peças de circunstância que lhe foram encomendadas pelo governo e música para alguns filmes do cineasta Eisenstein.
Marlos Nobre de Almeida (1939 – )
Marlos Nobre de Almeida nasceu em Recife, Pernambuco, no dia 18 de fevereiro de 1939. Iniciou seus estudos musicais em Recife aos 5 anos de idade, no Conservatório Pernambucano de Música. Diplomou-se em piano e matérias teóricas em 1955.Em 1956 prosseguiu seus estudos no Instituto Ernâni Braga do Recife, diplomando-se com distinção em Harmonia e Contraponto em 1959. Em 1958, com uma bolsa de estudos do Departamento de Documentação e Cultura do recife, participou do I Curso Nacional de Música Sacra, cursando Harmonia, Contraponto e Composição com o padre Brighenti.
Posteriormente fez cursos de aperfeiçoamento com H. J. Koellreutter e Mozart Camargo Guarnieri. Em 1963 viajou para Buenos Aires, onde estudou no Instituto Torcuato di Tella, na qualidade de pós-graduado, estudando com Alberto Ginastera, Olivier Messiaen, Aaron Copland, Luigi Dallapiccola e Bruno Maderna. A estréia de seu Divertimento para piano e orquestra foi em 1965, no Rio de Janeiro, época em que compôs Ukrimakrinkrin , para voz e conjunto instrumental. Ocupou a direção musical da Rádio MEC (1971) e do Instituto Nacional de Música da Funarte (1976). Entre 1985 e 1987 esteve na presidência do Conselho Internacional de Música da Unesco, em Paris, a passando a dirigir a Fundação Cultural de Brasília em 1988. Dirigiu a Fundação Cultural do distrito Federal, entre os anos de 1986 a 1990. Foi o primeiro brasileiro a reger a Royal Philarmonic Orchestra de Londres, em 1990. Atualmente ocupa a Cadeira nº 01 da Academia Brasileira de Música.
Principais Obras
Música orquestral: Convergências (1968), Ludus instrumentalis para orquestra de câmara (1969), Biosfera para orquestra de cordas (1970), In memoriam (1973), Xingu (1989), Divertimento para piano e orquestra (1965), Desafio para piano e orquestra de cordas (1968), Concerto Breve para piano e orquestra (1969), Concerto para cordas n. 1 (1976), Concerto para cordas n.2 (1981), Concerto para piano e orquestra de cordas (1984), Concerto para trom,pete e cordas (1989) e Concertante do imaginário para piano e orquestra (1989).
Música de câmara: Trio (1960), Ukrimakrinkrin (1964), Canticum instrumentale (1967), Quarteto de Cordas n.1 (1967), Rhytmetron (1968), Sonâncias (1972), Sonatina (1989), Fandango
Piano: Homenagem a Arthur Rubinstein (1973), Sonata (1977), Tango (1984), Toccatina, Ponteio e Final Op. 12 (1963)
Violão: Momentos I,II,III, IV, Prólogo e Tocata (1984).
Música coral: Cantata do Chimborazo (1982) e Descobrimento da América (1990).
Francisco Mignone (1897 – 1986)
Francisco de Paula Mignone nasceu em São Paulo, em 3 de setembro de 1897, filho de italianos. Seu pai, o flautista Alferio Mignone foi seu primeiro professor de flauta, sendo Sílvio Motto o mestre pianístico até seu ingresso no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, onde estudou composição com Savino de Benedictis e piano com Agostinho Cantu.
Após quatro anos de estudo, recebe o diploma do conservatório. A participação, desde os 13 anos, em pequenas orquestras como pianista e flautista, ajudou-o a melhor captar os ensinamentos de harmonia, contraponto e composição daquela casa de ensino.
Trabalhou nas orquestras de baile até os 22 anos. Neste período Mignone escreveu muita música popular, adotando, para estas composições, o pseudônimo de Chico Bororó.
A atividade pianística tem o primeiro exemplo significativo na apresentação feita em 1918, quando no Teatro Municipal de São Paulo, executa o primeiro movimento do Concerto para Piano e Orquestra de Grieg. No mesmo concerto, várias composições suas são apresentadas.
Em 1920, uma bolsa concedida pela Comissão do Pensionato Artístico de São Paulo o leva até Milão, onde estudará com Vicenzo Ferroni. Os nove anos passados na Europa, com freqüentes visitas ao Brasil, estabelecem a qualidade do embasamento: “E no final de todos esses ensinamentos eu me tornei o meu próprio professor”.Desta época é a ópera O Contratador de Diamantes (1921), cuja Congada, peça de bailado do segundo ato, ficou célebre. Igualmente desta fase são a Festa Dionísica (1923), um poema sinfônico, e Momus, poema humorístico.
Ao regressar ao Brasil, torna-se professor do conservatório em que estudou, sendo friamente recebido pôr Mário de Andrade, seu colega quando jovem neste estabelecimento, devido às fortes correntes italianizantes de Mignone. A reaproximação resultará numa amizade duradoura entre os dois e na aceitação pôr parte do compositor de alguns postulados nacionalistas musicais propostos pôr Mário. Mignone passou a buscar inspiração nas raízes brasileiras. Nesta nova fase, compôs a Primeira e Segunda fantasia brasileira (para piano e orquestra), Festas de Igrejas (poema sinfônico) e a série das 12 Valsas de Esquina (cada uma composta sobre um dos 12 tons menores).
Em 1933, Mignone se muda para o Rio de Janeiro para exercer o cargo de titular da cadeira de regência no Instituto Nacional de Música. É desta época a elaboração do bailado Maracatu do Chico Rei com a colaboração de Mário de Andrade. Em 1939, pôr concurso, Mignone é efetivado junto ao INM na matéria que lecionava.
A Alemanha e a Itália são visitadas em 37 e 38. Em Berlim, como regente convidado, conduz a Orquestra Filarmônica. Rege em Hamburgo e em Roma. Do Departamento de Estado dos Estados Unidos, recebe o convite no ano de 1942, entrando em contato com entidades educacionais e realizando atividade musical.
No início da década de 50, escreve música para três filmes e assume a direção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Do Conservatório Brasileiro de Música, foi fundador e professor, da Academia Brasileira de Música, membro.
Nas últimas décadas, Mignone, continuando a intensa atividade como compositor, dedicou-se à função de regente, conferencista e desenvolveu uma profícua participação em duo pianístico com sua mulher, a pianista Maria Josephina.
Morreu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1986, aos 88 anos.
A Obra
Francisco Mignone é considerado um dos três maiores compositores do país, ao lado de Villa-Lobos e Lourenzo Fernandez. Compôs cerca de 700 peças. Sua obra é caracterizada pôr um profundo sentido melódico, a rítmica precisa.É extremamente ampla a criação de Francisco Mignone.Foram abordados os gêneros orquestral, instrumental, camerístico, dramático e sacro.
Música Orquestral: Utilizando-se de um ou dois instrumentos solistas e orquestra, compôs inúmeras obras do gênero: as Fantasias Brasileiras têm o piano como instrumento solista e começam a surgir a partir de 1929, as Variações sobre um tema brasileiro para violoncelo é de 1935, Concertos para piano (1958), para violino (1960, duplo concerto para piano e violino (1965/66), para violão (1975).
Compôs diversos poemas sinfônicos: Caramuru, Babaloxá e Batucajé, Festa de Igrejas,etc.
Música Vocal: A produção vocal de Mignone é das mais importantes entre os compositores brasileiros. Determinada parcela destas obras é constituída de canções com textos em espanhol, italiano português e francês de poetas famosos.
Música de Câmara: Mignone aproveita-se dos vários instrumentos, cordas, metais, madeiras e mesmo o piano, buscando uma distinção quanto à qualidade timbrística. Criou trios para vários e distintos instrumentos,quartetos de cordas, quinteto de cordas e quinteto de sopros. Escreveu extensa obra para duos diversificados: piano e violino, violoncelo e piano, flauta e oboé, etc.
Música Dramática: Mignone escreveu as óperas: O Contratador de Diamantes (1921), L’Innocente (1927), Mizu (opereta escrita em 1937), O Chalaça (1972), O Sargento de Milícias (1977).
Música para Piano: O piano foi para Mignone o instrumento preferido. Pianista de talento, poderia ter sido um de nossos grandes intérpretes se não fosse o imperativo da composição.Parte de sua produção é dedicada ao piano. Sonatas e Sonatinas a partir de 1941, seis Prelúdios (1932), seis Estudos Transcendentais (1931), Doze Valsas de Esquina, Valsas Brasileiras, Valsas-Choro e uma quantidade de outras peças extremamente comunicativas.
Edino Krieger (1928 – )
Edino Krieger nasceu no dia 17 de Março de 1928 na cidade de Brusque, em Santa Catarina. Desde jovem, o pai ensinou-lhe a tocar violino, e aos 14 anos de idade, após um concerto em Florianópolis, ganhou uma bolsa de estudos do então governador do estado, Nereu Ramos. Em 1943 foi para o Rio de Janeiro estudar violino sob a orientação da professora Edith Reis, no Conservatório Brasileiro de Música.
No ano seguinte iniciou seus estudos de composição com H. J. Koellreuter. Em 1945, com apenas um ano de estudos, ganhou o prêmio Música Viva com sua composição Trio de Sopros e passou a fazer parte do grupo que, sob a orientação de Koellreuter, defendia no Brasil o dodecafonismo.
A partir de 1947 dedica-se inteiramente ao dodecafonismo e concorre a uma bolsa de estudos do Beckshire Music Center, obtendo o prêmio. Nos Estados Unidos estudou violino com W. Nowinsky e composição com Darius Milhaud, Aaron Copland e Peter Menin.
Em 1949 retorna ao Rio de Janeiro, onde integrou os quadros de colaboradores da Rádio Ministério da Educação e Cultura. Prestou serviços ainda à Rádio Roquette Pinto e mais adiante exerceu a função de crítico musical de “A Tribuna de Imprensa”, nos anos de 1950 a 52. Em 1956 passou oito meses em Londres com uma bolsa do Conselho Britânico e lá se aperfeiçoou em composição com Lennox Berkeley. Organizou a Orquestra Sinfônica Nacional (1960 – 1964). Foi diretor da rádio MEC, da Orquestra Sinfônica Nacional e da Divisão de música da Funart.
Além da Medalha do Mérito Cultural Cruz e Souza, conferida pelo Conselho Estadual de Cultura de Santa Catarina em 1997, é titular do Troféu Barriga-Verde, de 1977, da Medalha do Mérito Cultural Anita Garibaldi, atribuída pelo Estado de Santa Catarina em 1986. No ano anterior recebeu a Comenda da ordem cultural do Ministério da Cultura e Belas Artes da Polônia. Em 1994 recebeu o Premio Nacional da Música do Ministério da Cultura. É membro da Comissão Internacional para a Difusão da Cultura Catalã, de Barcelona, Espanha e membro do Conselho Estadual de Cultura do Rio de Janeiro. Foi eleito, no fim de 1997, Presidente da Academia Brasileira de Música. Em 1998 foi agraciado com a Medalha Pedro Ernesto, maior honraria concedida pela cidade do Rio de Janeiro a personalidades do meio cultural.
Em 1º de julho de 1998 embarcou para Bruxelas, Bélgica, como convidado para assistir a estréia de seu Concerto para dois violões e Orquestra de cordas, pelo Duo Assad. Ocupa a cadeira n. 34 da Academia Brasileira de Música.
Sua Obra
Sua obra pode ser situada dentro da corrente neoclássica. Os primeiros ensaios em composição foram mais ou menos românticos; transformou-se depois em dodecafonista, para finalmente evoluir para um neoclassicismo levemente nacionalista. Seus trabalhos mais recentes se caracterizam pela utilização livre de todos os recursos da música contemporânea, incluindo a técnica serial. Incluem peças orquestrais, música de câmara, peças para piano, obras para coro à capela, etc.
César Guerra Peixe (1914 – 1993)
César Guerra-Peixe nasceu em Petrópolis (RJ) em 18 de março de 1914, de ascendência portuguesa. Aos sete anos já tocava violão, violino e piano de ouvido. Dos sete aos dez anos viajou por algumas localidades dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, participando sempre de conjuntos típicos, cuja lembrança parece haver ficado em sua memória.
Iniciou seus estudos de violino com o professor Gao Omacht, no Conservatório Santa Cecília de Petrópolis, no ano de 1925. Neste estabelecimento estudou também um pouco de piano e teoria musical. Mais tarde, na Escola Nacional de Música, estudou com Paulino d’Ambrósio. No período que vai de 1930 a 1933, compunha música de sabor popular, que instrumentava como podia, a fim de adquirir prática. Em 1934 transferiu-se definitivamente para o Rio de Janeiro e fez parte de orquestras de salão em confeitarias, bares e cafés e, esporadicamente, em orquestras sinfônicas.
Em 1938 iniciou novos estudos de harmonia no curso particular com o professor Newton Pádua, ingressando depois no Conservatório Brasileiro de Música, no ano de 1943, onde fez cursos de aperfeiçoamento em composição, contra-ponto e fuga com Newton Pádua e H. J. Koellreutter, que o introduziu na técnica dodecafônica.
Foi um dos fundadores do Grupo Música Viva, que abandonou em 1949, por ocasião de uma viagem à Recife, onde assistiu à diversas apresentações folclóricas; e tão impressionado ficou com o Maracatu, que, finalmente decidiu abandonar definitivamente o dodecafônismo, voltando a professar o nacionalismo musical.
Teve sua Sinfonia n. 1 (1946) executada pela Orquestra da BBC de Londres. Mais tarde, seu Noneto foi regido por Hermann Scherchen, que o convidou para residir na Europa. Mas Guerra Peixe preferiu assinar contrato com uma emissora de rádio do Recife, como orquestrador e compositor, a fim de de poder estudar os aspectos menos divulgados do folclore nordestino. Ali aprofundou suas pesquisas, colhendo temas, anotando ritmos, observando cada peça e reunindo conclusões que seriam publicadas, em 1956, em sua esplêndida obra Maracatus do Recife.
Realizou também pesquisas em São Paulo. Fixou residência no Rio de Janeiro a partir de 1962, tornando-se violinista da Orquestra Sinfônica Nacional e professor de composição do Seminário de Música Pró Arte. Lecionou também na Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais e na Escola de Música Villa-Lobos. Foi o criador da Escola Brasileira de Música Popular. Faleceu no Rio de Janeiro em 26 de novembro de 1993.
Guerra Peixe é autor de obra vasta, abrangendo praticamente todos os gêneros musicais.Compôs duas sinfonias, uma das quais dodecafônica. Compôs ainda duas suítes sinfônicas, numerosas peças de música de câmara (Noneto, Trio 1945, Quarteto 1947), três peças para violão (Ponteio, Acalanto e Choro) além de obras para flauta, violino, fagote, piano, etc.
Radamés Gnatalli (1906 – 1988)
Radamés Gnatalli nasceu no dia 27 de janeiro de 1906, em Porto Alegre, filho do Italiano Alessandro Gnatalli, que por gostar muito de música (era professor de piano e tocava bandolim e contrabaixo) deu aos filhos nomes dos personagens de Verdi (Radamés, Aída e Ernani). Aos seis anos de idade, iniciou seus estudos de piano com sua mãe, Adélia Fonseca Gnatalli, professora de piano.
Desde criança, Radamés fez-se notar por sua musicalidade, sendo, certa vez, premiado pelo Cônsul da Itália em uma festa, onde o menino de nove anos dirigiu uma orquestra infantil, com arranjos feitos por ele.
Ingressou no Conservatório aos 14 anos, aperfeiçoando-se com o professor Guilherme Fontainha, que mais tarde viria a ser diretor da Escola Nacional de Música, no Rio de Janeiro. Antes de receber o diploma, exibiu-se no Rio, em 1924, como pianista. De volta a Porto Alegre, Radamés prestou o exame final, encerrando o curso com brilhantismo. Ainda em 1924, concorreu ao Prêmio Araújo Viana e mereceu o grau máximo, pela primeira vez alcançado no Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul. Foi-lhe concedida, por esta ocasião, uma medalha de ouro.
A partir de 1931, Radamés Gnatalli dedicou-se afincadamente à composição. Foi regente da orquestra da Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, autor de seis mil arranjos, sendo considerado o melhor arranjador de música popular no Brasil. Chegava a criar nove arranjos por dia para o programa “Um Milhão de Melodias”. Em 1941 passou oito meses em Buenos Aires, contratado pela “Hora do Brasil”, da Rádio Municipal, daquela capital.
Apesar do sucesso alcançado por suas composições “para concerto”, Radamés constata, com amargura, que o reconhecimento, quando existente, é efêmero. Mas ele lida com o desconsolo, compondo para si mesmo, transferindo todos os seus conhecimentos de composição para seus arranjos de música popular brasileira, enquanto suas composições eruditas passam a ser executadas, com grande êxito, na Europa e nos Estados Unidos. Radamés faria também sua carreira internacional, excursionando pela Europa, tocando e regendo música brasileira erudita e popular.
De 1963 a 1967, o compositor trabalhou na TV Excelsior; a partir de então e até 1986, quando caiu doente, foi arranjador e regente da TV Globo. Faleceu no dia 3 de fevereiro de 1988, no Rio de Janeiro, esquecido pelas antigas gerações e desconhecido das novas.
Radamés destacou-se pela temática nacionalista, recriada em um estilo pessoal onde se observam algumas influências de Debussy e do Jazz. Entre suas composições figuram as dez Brazilianas, quartetos e trios e 26 concertos – entre eles um um concerto para piano e orquestra, concertos para harpa e clarineta e um Concerto para Harmônica de Boca, dedicado a Eduardo Nadruz, o Edu da Gaita. Projetou-se também como exímio arranjador orquestral. Criou, entre outras, a música incidental da novela Roque Santeiro (1986).
Alberto Evaristo Ginastera (1919 – 1983)
Ginastera, um dos mais importantes compositores da Argentina, nasceu em Buenos Aires, em 1916, e estudou no Conservatório Nacional de Música da capital portenha, sob a orientação de Athos Palma.
A atividade pedagógica e de animação cultural de Ginastera foi igualmente produtiva, sendo professor de composição por vários anos no Conservatório Nacional e na Universidade Católica, além de ser o principal responsável pela criação do Centro Latino-Americano de Altos Estudos Musicais do Instituto Torcuato di Tella, de Buenos Aires, por onde passaram alguns dos mais talentosos jovens compositores de quase todos os países do continente.
Em suas obras encontram-se a síntese de elementos politonais e dodecafônicos com os ritmos e temas típicos argentinos.
Obras principais: para piano, Danças Argentinas (1937); para harpa, Sonatina (1939); música de câmara, Impressões do altiplano (1934), para orquestra, Concerto Argentino (1935); para piano e orquestra, Abertura para Fausto Crioulo (1943), Variaciones concertantes (1943); música vocal, Cantos de Tucumán, sobre versos de Rafael Sanches (1938); bailados, Panambi (1941), baseada em uma lenda guaraní, e Estância (1941), sobre a vida rural argentina. Também compôs música para o filme Malambo (1942).
Oscar Lorenzo Fernández (1897 – 1948)
Compositor brasileiro de ascendência espanhola, profundamente ligado à tradição cultural do Brasil, confirma, em sua obra, a constância do nacionalismo musical brasileiro. Em 1917 ingressou no Instituto Nacional de Música, onde estudou piano e teoria com J. Otaviano e harmonia com Frederico Nascimento. Mais tarde, foi aluno de Francisco Braga.
Lorenzo Fernández foi um dos fundadores do Conservatório Brasileiro de Música, em 1936, e da Academia Brasileira de Música (em 1945). Seu nome se projetou com o Trio Brasileiro Op. 32 para piano, violino e violoncelo, trabalho laureado, juntamente com a Canção Sertaneja op. 31, em concurso internacional realizado no Rio de Janeiro promovido pela Sociedade de Cultura Musical, em 1924.
Em 1940, o seu Batuque foi executado no Rio de Janeiro pela orquestra da National Broadcasting Corporation dos Estados Unidos, sob a regência de Arturo Toscanini.
Em 1947 terminou a composição de sua segunda sinfonia, inspirada no poema O Caçador de Esmeraldas, de Olavo Bilac. Mas esta composição não chegou a ser executada enquanto o compositor era vivo. Lorenzo Fernández faleceu em agosto de 1948, após apresentar-se como regente em um concerto sinfônico.
Compôs numerosas obras: óperas (Malazarte), duas sinfonias, concertos (um para piano e outro para violino), canções (Toada para Você), peças para piano. É autor da Suíte (1929), incluída nos Festivais Sinfônicos Ibero-Americanos de Bogotá, e do Reisado do Pastoreio, do qual faz parte o famoso Batuque.
Claude Debussy (1862 – 1918)
Achille-Claude Debussy nasceu a 22 de agosto de 1862, em Saint-German-en-Laye, cidade situada nas proximidades de Paris. À época do nascimento de Claude, Manuel Achille Debussy e Victorine Josephine Sophie Manoury, seus pais, viviam dos parcos recursos proveniente da exploração do comércio de porcelanas.
Em 1867 instalaram-se em Paris, onde Manuel-Achille, de emprego em emprego acabaria se fixando. Aventureiro e não muito responsável, foi sempre um pai negligente, que parecia ter submergido à personalidade autoritária e irascível de sua esposa Victorine, costureira e mãe de cinco filhos, dos quais Claude era o primogênito. A precária educação das crianças foi confiada a uma irmã de Manuel Achille, Clémentine Debussy. Apenas Claude teve o triste privilégio de ser educado pela mãe, mulher que jamais suspeitou de sua natureza excepcional. A educação que transmitiu a Claude se limitou aos rudimentos de leitura, escrita e noções de cálculo. Nunca freqüentou a escola. Autodidata, chegou a tornar-se um homem culto, embora revelasse algumas lacunas em sua formação.
Passando uma temporada com a tia Clémentine, sua madrinha, em Cannes, ainda menino, recebeu ali as primeiras aulas de piano. E por volta de 1871 conheceu Madame Mauté de Fleurville, ex-aluna de Chopin, que depois de ouvir o menino ao piano, incentivou-o a seguir carreira, predispondo-se a dar-lhe aulas gratuitamente.
Chopin tornou-se, para ele, um dos grandes modelos a serem seguidos em sua obra. Menos de dois anos foram suficientes para que o jovem se apresentasse ao concurso de ingresso no Conservatório de Paris, em outubro de 1872. Debussy contava dez anos ao entrar para a classe de piano de Marmontel. Mas o professor diria depois: “Ele não se interessa muito pelo piano, mas adora música”.
Mas os anos seguintes foram marcados pôr dissabores provocados pela incompreensão de seus professores de harmonia e acompanhamento, Durand e Bazille. O temperamento independente de Debussy não se adaptava à disciplina arbitrária, pouco flexível e ao ensino acadêmico imposto no conservatório.
Alguns insucessos em concursos de piano e um primeiro prêmio em harmonia levaram-no a abandonar o projeto de vir a ser um concertista, dirigindo-se para o terreno da composição. Datam de 1876 as primeiras composições, nascidas de improvisações ao piano.
Por esta época, Debussy era um jovem de estatura mediana,atarracado, pálido e com os cabelos sempre em desalinho, talvez para encobrir um defeito de nascença que tinha no alto da testa. Reservado, era pouco sociável e não muito querido pelos colegas.
O ano de 1882 marcou a primeira aparição pública de Debussy em concerto , como pianista-acompanhador de Blanche Vasnier, cantora que se revelou intérprete ideal das primeiras canções do compositor.
Em 1884 recebe o Grande Prêmio de Roma em composição.Debussy chegou à capital italiana em janeiro de 1885. Estava com 22 anos. E os três anos seguintes ele os passaria estudando na Villa Medici, às expensas do Estado, com o compromisso de compor anualmente uma partitura, enviando-a a Paris, para ser examinada pelos professores do conservatório.
A permanência em Roma foi penosa. Tudo o desagradava: o clima da cidade, a disciplina, os colegas. Pensou por várias vezes em desistir. Nas horas vagas lia muito. Gostava também de tocar Bach ao piano, bem como Tristão e Isolda, cuja partitura passava horas a estudar, descobrindo um novo universo sonoro.
Durante suas férias vai a Paris ou para Fiumicino, cidade a beira mar onde morava um amigo. Mas as férias não o ajudavam a suportar Villa Medici. Suas únicas lembranças musicais agradáveis foram os contatos com os compositores Leoncavallo, Arrigo Boito, Liszt, e Paul Vidal.
Retorna a Paris em 1887, entrando em contato com a avant-gard artística e literária. Travou conhecimentos com inúmeras personalidades dos círculos literários parisienses. Mas não apreciava a companhia de outros músicos. Sua aversão era tamanha que preferia esconder sua condição de músico, a ponto de identificar-se, uma vez, como jardineiro.
Há quem veja nessa excentricidade de comportamento uma crítica à música francesa da época, da qual Debussy só amava em profundidade, Jules Massenet.
Viaja para Bayreuth, em 1888 e 1889, para assistir a Parsifal, Os mestres Cantores e, finalmente, Tristão e Isolda. Depois do impacto causado pelas óperas de Wagner, Debussy ficaria muito impressionado com a música oriental (javanesa, chinesa e anamita), por ocasiãoda Exposição Universal de 1889 em Paris.
Apesar de nestes anos continuar morando com os pais, quase nunca era encontrado em casa. Esta fase – conhecida como “período boêmio” – foi importante para seu amadurecimento enquanto homem e artista. É também a época que se iniciam as primeiras amizades sólidas, bem como inúmeras aventuras amorosas mais ou menos sérias. A relação mais duradoura foi com Gabrielle Dupont (Gaby), comerciaria e companheira fiel destes anos difíceis. Data desta época uma obra que se tornaria muito famosa: a Suíte Bergamasque, que contém o célebre Clair de Lune. Nesta época Debussy já havia rompido com o Conservatório de Paris, com Roma, com a música oficial…
Em condições financeiras precárias, Debussy vivia dos rendimentos provenientes de poucas aulas de piano e de algumas transcrições. Em 1892 Debussy começou a compor o Prélude à Aprés-Midi d’un Faune (Prelúdio para a Tarde de um Fauno), partitura concluída dois anos depois e considerada sua primeira obra prima.
Em 1892 – aos trinta anos – graças a uma relativa folga financeira, Debussy saiu da casa dos pais, transferindo-se para um pequeno sótão, juntamente com Gabrielle Dupont.
O primeiro concerto inteiramente dedicado a Debussy teve lugar em Bruxelas, em 1894, durante uma exposição de quadros impressionistas e art-nouveau.
Concentrado na elaboração da ópera Pelléas et Mélisande, Debussy encontrava distração na boêmia dos cafés parisienses e na elaboração de partituras pequenas.
Esta rotina de vida seria quebrada em 1897, pôr um pequeno drama familiar: cansada de tantas privações e traições ( Debussy distraia-se também com romances…) Gaby tentou o suicídio. Em princípio de 1899, houve a separação definitiva.
A 19 de outubro de 1899 casou-se com Rosaline (” Lily”) Texier, moça simples, jovem e elegante que trabalhava como modelo em uma casa de modas parisiense. Não possuía nenhuma cultura musical.
A morte do editor Georges Hartmann, em maio de 1900, viria abalar a situação financeira do casal. Pois, de uma hora para outra, deixou de existir a única fonte regular de renda. O compositor teve que contar com a generosidade de seus amigos para a sua subsistência.
O impacto causado pela apresentação de Pelléas, em 1902, alteraria a evolução de sua carreira. Após a apresentação da ópera, Debussy tornou-se uma figura polêmica, incensado pelos vanguardistas, que o apontavam como o “chefe de uma nova escola”, o “criador de um sistema”, ao mesmo tempo que era criticado pelos mais conservadores.
A contragosto, Debussy viu-se transformado em celebridade. A apresentação de Pelléas et Mélisande significou a sua consagração oficial como compositor.
Em junho de 1904, Debussy abandonou Lily, indo viver com a cantora Emma Bardac, mulher culta e inteligente, casada com um banqueiro. Não suportando o duro golpe, Lily tentou o suicídio em outubro… Foi um escândalo. Sem se importar com as críticas, Debussy e Emma continuaram juntos, obtiveram os respectivos divórcios e foram morar em uma bela mansão.
No outono de 1905, nasceu a única filha do casal, Claude-Emma, a quem Debussy chamava carinhosamente de Chouchou. E foi para ela que o dedicado pai comporia, alguns anos mais tarde, a suíte Children’s Corner ( O Cantinho das Crianças), para piano.
Foi no decorrer deste período que Debussy compôs alguns importantes trabalhos: L’Isle Joyeuse ( A Ilha Alegre – 1904), Masques (Máscaras – 1905), a primeira série de Images (Imagens – 1905), todas para piano: a segunda série de Fêtes Galantes (para voz e piano – 1904) e La Mer (1905), para orquestra.
Em janeiro de 1908, Debussy e Emma se casaram. Nesta mesma época tiveram início as longas tournées de concertos que o levariam, nos últimos dez anos de existência, aos principais centros da Europa. Em janeiro de 1909, quando se preparava para reger uma segunda vez em Londres ( a primeira vez fora em 1908), Debussy foi acometido por sérios distúrbios digestivos seguidos de hemorragias gástricas. Foram os primeiros sintomas do que seria diagnosticado como câncer. Pouco tempo depois Debussy retornaria a rotina de concertos e tournées; atividades que eram entrecortadas pela produção de novas obras.
“Festivais Debussy”, organizados na França e em outros países europeus, levaram-no a apresentar-se na Rússia, Itália, Holanda, Bélgica e Inglaterra.
Com a eclosão da I Guerra Mundial em agosto de 1914, teve início, para Debussy, um período de grande improdutividade de quase um ano.
Logo após começa uma intensa atividade criativa.Em rápida sucessão surgiram os Doze Estudos En Blanc et e Noir – série de peças para dois pianos – e duas sonatas de câmara, uma para piano e violoncelo e outra para flauta, viola e harpa.
Mas este período de criação logo teria um fim com o agravamento de sua saúde. O último concerto foi em Saint-Jean de Luz, no verão de 1917, quando executou juntamente com o violinista Gaston Poulet, a sonata para violino e piano – sua derradeira obra.
Faleceu na noite de 25 de março de 1918.
A Música de Debussy
O Impressionismo de Debussy residia no caráter vago de seus jogos harmônicos em que a melodia parece dissolver-se. A melodia libertou-se dos padrões tradicionais, das repetições e cadências rítmicas.
Debussy não seguiu também as regras de harmonia clássica: deu importância à acordes isolados, aos timbres, pausas e contrastes entre registros.
De um modo geral, sua obra pode ser dividida em música para orquestra, música de câmara e para instrumento solo, música para piano e obras cênicas.
Obras para Orquestra: A música orquestral de Debussy é a que melhor corresponde à imagem de impressionista. Os Noturnos, La Mer e Images pour Orchestre pareciam confirmar a imagem do músico vago, cujas melodias não tinham contorno definido. O efeito disto era uma nova e estranha sonoridade.
Música para o Piano: É uma sessão importante na obra de Debussy. São conhecidas as coleções Suíte Bergamasque, Estampes, Images, os 12 Prelúdios I e II e os Estudos I e II.
Da Suíte Bergamasque aos Estudos a evolução é marcante: os títulos poéticos desaparecem.
No último período a música pianística se torna mais abstrata como também mais áspera, na pesquisa de novos timbres.
Obras cênicas: Em 1902 a estréia da ópera Pelléas et Melisande causou estranheza: continha muito texto declamado. Nela Debussy voltou-se contra a tradição dramática de Berlioz e Wagner. O Martírio de São Sebastião é uma ópera ainda mais insólita.
Da mesma época é a música para balé Jeux ( 1912 – Jogos), obra de supreendentes inovações e de grandes complexidades harmônicas.
Influências: A música inovadora de Debussy agiu como um fenômeno catalisador de diversos movimentos musicais em outros países. Na França só se aponta Ravel como influenciado,mas só na juventude, não sendo propriamente um discípulo.
Influenciados foram também Bartók, Manuel de Falla, Villa-Lobos e outros.
Arnold Schoenberg (1874 – 1951)
Schoenberg inspirou-se, desde as primeiras obras, no cromatismo de Wagner (Noite Transfigurada 1899; Gurrelieder, 1900-1911). Permaneceu em Berlim de 1901 a 1903 retornando, a seguir, a Viena. Seu estilo evoluiu para à atonalidade, com Erwartung, op. 17 ( A Espera, 1909). Em 1917 escreveu um Tratado de Harmonia. Neste mesmo ano faz amizade com Anton von Webern e Alban Berg, seus alunos.
No ano de 1912 compôs Pierrot Lunaire para voz e pequeno grupo instrumental. De 1912 a 1921 seu círculo de alunos aumentou e Schoenberg desenvolveu uma técnica de utilização do Dodecafonismo, designada Música Serial. Desde 1925 ocupou o cargo de professor de composição em Berlim, mas mudou-se para os Estados Unidos quando Hitler assumiu o poder. Foi professor em Nova York e Boston, onde ocupou uma cadeira na Universidade da Califórnia, nos anos de 1936 a 1944. Nesta época criou obras especificamente seriais.
Na apreciação das teorias e das obras de Schoenberg há muita confusão entre o atonalismo e a fase do dodecafonismo. É preciso distinguir os três períodos de sua carreira musical. Schoenberg começou como pós-wagneriano, dedicado ao extremo cromatismo de Tristão e Isolda, desenvolvendo-o em seu sexteto de cordas Noite Transfigurada e na obra coral Gurrelieder. O cromatismo extremado já não permitia a distinção das tonalidades. É o início de sua fase atonal, iniciada com peças para o piano e um quarteto de cordas. A principal obra desta fase é: Pierrot Lunaire, um ciclo de Lieder declamados. Reconhecendo o perigo do caos musical, Schoenberg elaborou um novo sistema um novo sistema de relações entre os sons, chamado música serial ou dodecafônica. Com este sistema tornou-se chefe da nova escola de Viena. Nos últimos anos de vida ele admitiu retornos ocasionais à harmonia tradicional.
Suas principais obras são: Noite Transfigurada (1899), Gurrelieder (1900-1911), Erwartung (1909), Pierrot Lunaire (1912), Suíte para Piano Op.25 (1923), Variações para Orquestra Op. 31(1928); duas óperas, Moisés e Aarão (1925) , O Caminho Bíblico (1925), Concerto para violino (1936), Quarto quarteto para cordas (1936) e a obra coral de 1947, Um Sobrevivente de Varsóvia.
Maurice Joseph Ravel (1875 – 1937)
Maurice Ravel nasceu no dia 7 de março, filho de Joseph e Marie Ravel. A origem basca, pelo lado materno, e a proximidade da fronteira espanhola deram-lhe o gosto pela Espanha.
Quando estava com 7 anos de idade, seu pai notou-lhe o ouvido para a música e decidiu que o menino deveria ter aulas de piano. A família mudou-se para Paris, onde o pequeno Maurice pôde estudar com Henri Ghys, seu primeiro professor de piano.
Aos 12 anos de idade, tornou-se aluno de composição de Charles-René, que ensinou-lhe harmonia, contraponto e os princípios da composição. Em 1889 Ravel entrou para a classe de piano do Conservatório de Paris. Foi o ano da “Exposition Universelle”, onde Debussy maravilhou-se com a música javanesa, enquanto Ravel adquiria o gosto pela arte oriental. Sua música, de extraordinária unidade e limpidez, e de tradição clássica, ganhou com isso em colorido e originalidade.
Aos 26 anos obteve, com uma cantata, o segundo lugar no Prêmio de Roma. Nesta época já era autor de Les Sites auriculaires (1895), para dois pianos e de Pavane pour une infante défunte (1899). Ao candidatar-se novamente, em 1904, havia composto Jeux d’eau (1901, para piano), o quarteto de cordas em fá maior (1902-03) e Shéhérazade (1903). Mas não foi sequer admitido às provas eliminatórias e esta injustiça tornou-o arredio para o resto da vida. Em 1920 recusaria a Legião de Honra.
Ravel tinha o fascínio das coisas difíceis e insólitas. Algumas das suas peças, como Gaspard de la nuit (uma série de três peças para piano – 1908), o concerto para piano e orquestra em ré maior (Concerto para a mão esquerda, 1931) e a sonata para violino e violoncelo (1920-22) parecem desafios que o compositor se tenha proposto para resolvê-los com brilho. O balé Daphnis et Chloé (1909) foi composto a pedido de Diaghilev. L’Enfant et les Sortiléges (1925) põe em música um libreto de Colette.
Um desastre de automóvel (1932) teve como sequela a doença que afetou sua memória e a coordenação dos movimentos. Uma cirurgia cerebral, como último recurso, não teve êxito.
Outras obras: Miroirs (1905), Ma Mére l’Oye (1908), Valses nobles et sentimentales (1911), Le Tombeau de Couperin (1917), La valse (1920), Alborada del Gracioso (1907), Rapsodie espagnole (1907), Bolero (1928), etc.
Béla Bartók (1881 – 1945)
Bartók foi um desses homens excepcionais não só como grande artista mas como também de hombridade moral poucas vezes igualado na história da arte em geral. Coube-lhe viver numa época tumultuada, entre duas guerras mundiais que devastaram o mundo ocidental, em que os mais ferozes atos foram cometidos, e isso influiu decisivamente em sua música. Seu maior sofrimento foi no decorrer do período de 1930, quando os nazistas dividiram a humanidade em raças e eles se autoproclamavam superiores.
Artista original de grande poder criativo, sentiu-se atingido quando o ministro da Educação Popular e Propaganda Nazista Goebbels, em 1936,organizou uma exposição de “Música degenerada” incluindo os nomes de Stravinsky, Schönberg e Milhaud. Não teve dúvidas. Escreveu imediatamente para o ministro para que inscrevesse nesse grupo seu nome e sua música, como forma de repulsa, ao que acabara de se passar.
Violentamente antiracista e animado pôr um sentido muito firme de justiça, chegou mesmo a pensar, num certo dia de 1938, converter-se a religião judaica como forma de desabafo e ficar ao lado dos perseguidos. Não ignorava os riscos que corria ao estender a mão aos espoliados, afirmando seu patriotismo com uma lealdade igual ao amor que sentia pela humanidade. É nessa ocasião que pede a sua mãe e tia que não falem em idioma estrangeiro mais que “quando seja absolutamente obrigatório”e de forma alguma utilizem o alemão.
Béla Bartók nasceu em 25 de março de 1881, em Nagyszentmiklos, Hungria ( hoje Sannicolaul Mare, cidade da Romênia). Seu pai era diretor de uma escola de agricultura e inspirou no menino a paixão pela natureza e pela música. Aprendeu as primeiras noções de piano com sua mãe, a partir dos cinco anos. Quando tinha oito anos perdeu o pai.
Com a morte do pai, em 1894, o pequeno Béla acompanhou sua mãe até a cidade de Pozsony, atual Batislava, onde estudou piano e composição com Ladislas Erkel. Pozsony era um centro cultural importante, onde ele fez estudos musicais regulares. Tornou-se amigo de Erno Dohnâyi, que o iniciou nos mestre alemães: Bach, Wagner e Brahms.
Em 1898, entrou para a Academia Real de Música de Budapeste, na classe de piano de Thoman, aluno de Liszt, e na classe de composição do professor Koezler.
Em 1905 foi a Paris para o Concurso Internacional Rubisntein de Composição e Piano. Ali descobriu Debussy e sua escrita modal e, pôr isso, voltando à Hungria, compreendeu o interesse das canções populares. Dedicou-se, desde então, com a parceria do amigo, o compositor húngaro Zoltan Kodaly, estudos científicos sobre as canções folclóricas. Para colecionar estas canções fez numerosas viagens pêlos campos, munido de aparelhos registradores, cilindros e muito papel de música. Com estas pesquisas conseguiu dissipar o engano de Liszt, que havia confundido o folclore musical húngaro com o dos ciganos da Hungria.
Um ano depois publicou com Kodaly uma primeira coletânea de cantos populares húngaros, num total de 20, pôr eles harmonizados. Bartók estenderia, então, o campo de suas pesquisas à música romena, búlgara e oriental; ao Egito a à Turquia, onde esteve em 1932 e 1936, depois de tomar contato com a música árabe em Biskra, em 1913. O resultado, para a arte do próprio Bartók, foi um estilo baseado em particularidades musicais, alheias à música da Europa Ocidental, mas altamente pessoal; e que incluiu, depois, cada vez mais elementos da grande tradição européia, sobretudo Bach.
Foi nomeado professor de piano da Academia de Budapeste em 1907. Quatro anos mais tarde, a Comissão de Belas Artes de Budapeste recusava-se a apresentar sua ópera O Castelo do Barba Azul para a obtenção do prêmio de Melhor Peça Lírica. Mas em 1918 esta ópera era levada à Ópera Naciona Budapeste, onde obteve grande sucesso.
Foi necessário esperar-se o fim da Primeira Guerra para que começasse e editar e executar sua música no estrangeiro. Em 1924 publicou uma coleção de cantos populares romenos e húngaros. Em 1926 produziu diversas peças para piano e o balé O Mandarim Miraculoso. No ano seguinte partiu para sua primeira série de concertos na América e depois na Rússia.
Autenticamente democrata e horrorizado com o nazismo, recusa-se a permanecer em seu país quando o fascismo se instala no poder. Decide-se, em 1940, estabelecer-se nos Estados Unidos. Fez viagens de concerto, em compainha de sua mulher, também pianista, apresentando a sua famosa Sonata para dois pianos e percursão.
Foi nomeado Doutor em Música pela Universidade de Columbia. Em 1943, a Fundação Koussevitzky encomendou-lhe o Concerto para Orquestra. Nesta época escreve a Sonata para violino solo ( 1944) e o Concerto N.5 (1945).
Em 1939 Benny Goodman, famoso clarinetista de jazz, encomendou-lhe uma composição para clarinete. Quando viu a pauta Benny ficou aterrorizado: “Vou precisar de três mãos para tocar isso, senhor Bartók. É a coisa mais difícil que jamais vi.” Bartok riu-se: “Não se preocupe com isso. Toque aproximadamente o que escrevi.” Mas o telentoso Benny Goodman fêz mais que isso; Contrastes foi gravado pela Columbia, com Joseph Szigeti no violino, Bartók ao piano e Benny Googman no clarinete.
O reconhecimento do valor e da significação de sua obra não o alcança sequer nessa última arrancada final em que,precário de saúde e bens materiais, não deixou de trabalhar no hospital. Bartók compôs até o final de sua vida. Morreu em Nova York, em 26 de setembro de1945, em uma miséria tão grande que não deixou sequer dinheiro suficiente para o pagamento de seu enterro.
Levaria ainda algum tempo para que o mundo pudesse ver em Bartók, na qualidade de uma invenção e inovação musical, poderosamente mergulhada nas raízes de sua terra, na indiferença a todos os modismos, nas novas sonoridades de sua orquestração, assim como no rigor intelectual, um dos maiores gênios musicais da primeira metade do século.
A Obra
Em 1905 começa a sua pesquisa sobre o folclore húngaro. Anteriores a esse período, não obstante de mérito e importância indiscutíveis, são os Quartetos para Cordas N.1 (1908) e N.2 (1915-1917), bem como inúmeras peças para piano, entre as quais o célebre Allegro Barbaro (1911).
A ópera em um ato A Kekzakállu Herceg Vára (O Castelo do duque Barba Azul – 1911), cuja rejeição pôr parte das organizações musicais da Hungria, levou o compositor a fundar, juntamente com Kodaly e outros compositores jovens, a Sociedade Musical Húngara, infelizmente de pouca duração.
Seguem-se o balé A Csodálatos Mandarin (O Mandarim Miraculoso -1919) e as duas sonatas para violino e piano, produção em que a tonalidade se apresenta progressivamente mais livre e se afirma uma forte tendência expressionista, que se abrandaria na Tanz Suite (Suite de Danças – 1923), compostas especialmente para as festas de celebração do 50º aniversário das cidades de Buda e Pest.O trabalho propiciou a admiração de seus compatriotas, se bem que efêmera. A pouca receptividade dos conterrâneos e do público em geral para com as produções mais acentuadamente modernas do mestre húngaro se reduz ao final da Primeira Guerra Mundial, quando as sua obras são publicadas e ele se dedica, ainda mais ativamente à obstinada pesquisa folclórica, não apenas na Hungria, como na Bulgária, Eslováquia e Romênia.
Alguns anos depois se inicia a fase de maior fecundidade em toda a sua carreira. Surge o Concerto N. 1 para piano (1926), estranho, profundamente individual; o Quarteto para cordas N.3 (1927), de inusitado expressionismo em um único movimento; o Quarteto para Cordas N.4 ( 1928); a Cantata Profana (1930), de caráter social, tendo pôr tema a indignação de um cidadão comum, e o Concerto N.2 para piano (1930 – 1931). Bartók se encontra, então, em plena posse de suas características e recursos mais notáveis.
Também em 1926 começa a revelar-se outro aspecto decisivo da personalidade de Bartók: sua vocação pedagógica. O Mikrokosmos, coleção de exercícios pianísticos de dificuldades crescentes, principiada em 1926 e terminada em 1937, mereceu de vários autores contemporâneos a denominação de “Cravo bem Temperado do Século XX”.
Neste trabalho, longe de figurar entre os mais expressivos num período tão fértil da criação bartokiana, demonstra melhor uma de suas extraordinárias contribuições: a de ter filtrado, sintetizado o que de melhor existia, em seu tempo, de técnica e estilo musical.
É de 1934 o Quarteto para cordas N.5, uma de suas obras primas, de fascinante modernidade.
Compõe, nos anos seguintes, tanto a Música para Cordas, Percussão e Celesta (1936), como os Contrastes para clarineta , piano e violino (1939), e a Sonata paraDois Pianos e Percussão (1937), onde persegue, com grande pionerismo,uma pureza concreta do som e do instrumento.
Da mesma fase é o Concerto para Violino (1937 – 1938), em que a pujança e a delicadeza se contrastam, se completam, a cada instante, com grande originalidade. Ligeiramente posterior são o Divertimento para Cordas N.6 (1939) e o Quarteto para Cordas N.6 (1939), precedendo a última etapa da produção de Bartók, vivida na América do Norte.
Alban Berg (1885 – 1935)
Aluno de Schoenberg, pertence, junto com este e Webern, à Escola de Viena. Foi amigo de G. Mahler, que o influenciou. Em seu Kammerkonzert, de 1925, começou a aplicar a técnica serial, mas foi com Wozzek (1914-1921) que se tornou mais conhecido e respeitado. Wozzek é considerado um ponto culminante do Expressionismo musical: uma tragédia sombria, escrita em um parlando muito pessoal, mas construída conforme formas musicais antigas.
Em 1933 trabalhou na ópera Lulu, mas não chegou a terminá-la. Dedicava-se também, nesta época, à composição de seu concerto para violino Em Memória de um Anjo (1935), composto como um requiem para Manon, filha de Alma Mahler e mulher de Walter Gropius. Mas este concerto foi somente executado pela primeira vez por Louis Krasner em Barcelona, em 1936, e serviu de requiem para o próprio Mahler, morto no Natal do ano anterior.
Berg rejeitava todo o sistema exclusivo e, embora utilizasse toda a técnica dodecafônica, explorou igualmente a melodia de timbres. O compositor teve a preocupação constante com a forma trabalhada e equilibrada. Conservando uma expressão romântica em uma linguagem rigorosa, é o mais acessível dos dodecafônicos.
Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959)
Provavelmente poucos homens foram tão versáteis, tão ativos e produtivos , na música, como Heitor Villa-Lobos.Villa-Lobos seguiu simultaneamente carreiras de sucesso como violoncelista, maestro, educador e compositor. Tinha um entusiasmo incomum pela juventude brasileira. Era para a juventude daquela época que ele desejava abrir-lhes o caminho do mundo da arte. Todavia ele aprendera música sozinho.
Villa-Lobos escreveu música durante toda a sua vida, grande parte inspirada na música folclórica brasileira. Ele compunha constantemente, muito rapidamente, e sempre levado pôr um impulso interior.Gostava de compor no meio de uma confusão muito grande.Era normal, sempre em sua volta ouvir-se o rádio ligado, televisão, a vitrola, um piano ou uma conversa muito animada. Ele tomava parte em toda essa atividade, e ao mesmo tempo criava uma composição nova e original. As suas obras são tão numerosas que ele mesmo não tinha ideia de quantas criara. Conhecem-se cerca de mil composições de Villa-Lobos.
Heitor Villa-Lobos nasceu no dia 5 de março de 1887, na Rua Ipiranga, no bairro das Laranjeiras, Rio de Janeiro. Filho de Raul Villa-Lobos , professor, músico amador e funcionário da Biblioteca Nacional, e de Dona Noêmia, prendas domésticas.
Dona Noêmia sempre incentivou os estudos escolares de Heitor e alimentou a esperança de ver o filho formado em medicina. Não lhe agradava a ideia de vê-lo músico. Proibiu o menino de estudar piano, temendo que ele se empolgasse com a música.O próprio violão ele teve que estudar escondido. Só que seu grande sonho de vê-lo formado médico nunca aconteceu. O ambiente musical foi decisivo.
Muito cedo Heitor ou Tuhu, seu apelido familiar, iniciou sua vida musical. Começou aos seis anos,tocando um pequeno violoncelo (uma viola adaptada para este fim). Recebia as lições de seu pai. No ano seguinte já improvisava melodias sempre baseadas em cantigas de roda. Na casa de Raul tocava-se boa música. Convidava os amigos e realizavam verdadeiros concertos em casa. Nomes conhecidos da época eram assíduos freqüentadores destes saraus. Organizavam grupos de câmara, fazendo-se música até altas horas das noites de sábado.Tal hábito durou anos e teve influência decisiva na formação musical de Villa-Lobos. Cultivou seu gosto musical, conheceu de tudo e acumulou considerável experiência naquela atmosfera.
Todavia, ao invés de aprender a gostar do que já era considerado indiscutivelmente bom, encheu-se de tédio pela inegável semelhança formal da música que se via forçado a ouvir e a executar em seu violoncelo. Seu interesse pôr Bach começou aos oito anos de idade. A explicação é dupla: o garoto estava farto daquela música banal que o atingia pôr todos os lados e queria agarrar-se a algo diferente. Duas coisas pareciam-lhe incomuns: Bach e a música caipira.
Aos 11 anos aprendeu com o pai a tocar clarinete. Conheceu a música nordestina, pois costumava freqüentar como pai a casa de Alberto Brandão, onde se reuniam cantadores e seresteiros nordestinos. A música popular exerceu sempre uma atração em Villa-Lobos. A paixão pela música popular levou-o a aperfeiçoar-se no violão e a estudar com afinco o saxofone e o clarinete, sempre pôr contra própria.
Após longa enfermidade, seu pai faleceu aos 37 anos, deixando sua família numerosa em situação difícil, apesar de trabalhador e bom chefe de família. Era um homem imprevidente, ganhava bem mas gastava tudo, sem controle.
Dona Noêmia ficou em apuros, pois esgotaram-se todos os recursos. Foi obrigada a trabalhar duro para sustentar Tuhu e seus sete irmãos. Mas foi com admirável energia que aquela senhora, acostumada à vida social e ao trivial doméstico, pôs-se a lavar e a engomar guardanapos e toalhas para a “Casa Colombo”, hoje a tradicional “Confeitaria Colombo”.
Com a morte do pai, em 1899, aconteceu a liberdade para o terrível Tuhu que, imediatamente aproximou-se dos ídolos de sua infância , os “Chorões”. Estava com dezesseis anos quando fugiu de casa, fixando-se na casa de sua tia Fifina (ela lhe tocava o “Cravo bem Temperado” de Bach) , a fim de ser mais livre para viver entre os “chorões”e tocar em grupos na noite. Foi um ótimo período para Heitor, que não tardou a aprender a lutar capoeira e a caçar preás com o amigo Zé do Cavaquinho. Era figura obrigatória na sede de “O Cavaquinho de Ouro”, na Rua da Carioca, junto a Anacleto de Medeiros e outros chorões.
Mas seu fanatismo pelos músicos do “choro” não o impediu de prosseguir seus estudos no colégio do Mosteiro de São Bento.
A experiência veio com a necessidade de tocar em pequenas orquestras em festas e bailes, exibir-se como concertista de diversos instrumentos em suas viagens, enfim, da miséria e da necessidade que por muitas vezes passou. Era o início de uma vida penosa e boêmia que duraria muitos anos. Tocou no “Teatro Recreio”, repertório dos mais variados. Também no cinema “Odeon”, em bares, hotéis, cabarés. Sua produção musical desta época limitava-se à valsinhas, dobrados, música popular despretensiosa.
Em 1905, aos 18 anos, resolveu viajar para o Nordeste.Vendeu alguns livros raros deixados pelo pai e viajou, passando pôr Espírito Santo, Bahia e Pernambuco.Extasiou-se com tanta riqueza de folclore. Passou temporadas em engenhos e fazendas. Conheceu as canções dos vaqueiros, os instrumentos primitivos do sertão. No ano seguinte embrenhou-se pelo Sul.
Em 1907, de volta para o Rio de Janeiro atingiu também sua maioridade musical, ao compor sua primeira obra típica, “Os Cantos Sertanejos”, para pequena orquestra, onde procurou reproduzir os ambientes musicais regionais. Disposto a ter uma formação acadêmica musical (embora sua mãe ainda insistisse na medicina), Heitor matriculou-se no curso de harmonia de Frederico Nascimento, no Instituto Nacional de Música . Não agüentou mais do que poucos meses e partiu em uma nova viagem pelo Nordeste.
Em sua quarta viagem, a segunda pelo Nordeste , seguindo para o Norte, teve como compainha seu amigo Donizetti, um boêmio incorrigível e bom músico. Foi a compainha ideal para a ousada excursão que duraria três anos. Donizetti, constantemente alcoolizado e Villa-Lobos convencido das pesquisas que realizava. Em cada lugarejo em que chegavam,Villa-lobos tratava logo de arranjar alguns concertos e desintoxicar o amigo. E os dois multiplicavam-se, fazendo números de violoncelo, piano, violão e saxofone. Ganhavam o dinheiro para a sobrevivência e prosseguiam a viagem.
A colheita do material folclórico foi enorme, mas muito se perdeu nas travessias dos rios. Por duas vezes no rio São Francisco sua frágil canoa virou, perdendo toda a bagagem. Mal tiveram tempo de recolherem seus instrumentos, que significavam o pão de cada dia. No rio Solimões aconteceu o mesmo, mas desta vez já tinham experiência: traziam os instrumentos amarrados ao corpo .
Retornando ao Rio, soube que sua mãe fizera rezar uma missa pôr sua alma, imaginando-o morto.
Em 1913 casou-se com a pianista Lucília Guimarães, com quem viveria até 1935. Se no início ela lhe forneceu os segredos da técnica pianística, nos anos 20 ajudava o marido a preparar a obrigatória feijoada dos domingos em seu apartamento em Paris.
1915 foi uma época marcante na vida do mestre; ano de sua apresentação no Rio como compositor, causando críticas violentas pôr suas obras cheias de inovações. Em 1917 e 1918 realizaram-se mais três recitais com suas obras, repetindo-se as críticas.
Villa-Lobos ganhava a vida tocando violoncelo nos teatros e cinemas cariocas. Artur Rubinstein, grande pianista polonês, naturalizado americano, tinha ouvido falar muito sobre Villa-Lobos e conseguiu que amigos o levassem até o cinema Odeon, onde Villa trabalhava em uma orquestra mambembe, tocando nos intervalos e durante os filmes mudos. Após algumas músicas banais, atacaram uma de suas “Danças Africanas”e o grande pianista aproveitou o intervalo para cumprimentá-lo. Mas foi rechaçado violentamente com os seguintes dizeres: “Você é um virtuose e não pode compreeder minha música!”.
Após esta desagradável recepção, Rubinstein retirou-se sem dizer nada. Mas no dia seguinte, no hotel onde se hospedava, bateram em sua porta, as oito horas da manhã. Qual não foi a supresa do pianista quando surgiu Villa seríssimo, cercado pôr uma dúzia de músicos. Tocaram várias composições para que Rubinstein ouvisse. Artur Rubinstein foi um dos maiores divulgadores de Villa-Lobos na Europa. Gravou um álbum de discos do mestre e sempre apresentava suas obras em suas tournés mundiais, entre elas o Rudepoema e a Prole do Bebê.
Semana de Arte Moderna – movimento surgido em São Paulo em 1922 quando várias atividades artísticas foram apresentadas no Teatro Municipal de São Paulo. Villa-Lobos foi convidado pelos modernistas a participar e ficou entusiasmado com a proposta, que coincidia com suas ideias. Como todos os participantes, o mestre foi vaiado, principalmente quando em um de seus concertos entrou de casaca e de chinelos, por estar com um dos pés machucado.
Suas obras desta época sofrem influências das técnicas de composição do fim do século francês. O compositor pôs em banho-maria sua vivência juvenil da música popular. Mas não foi Villa-Lobos o único compositor moderno a ser interpretado. A música de Debussy, praticamente desconhecido no Brasil e a de Eric Satie escandalizaram a Paulicéia Desvairada.
Estando conhecido nos meios musicais brasileiro, seus amigos resolveram animá-lo a viajar para a Europa. Por um projeto apresentado na Câmara do Deputados, foi aprovada uma verba para financiar uma viagem a Paris, para divulgar sua obra.
Em 1923 partiu o mestre para a Europa, não para aprender, mas para ensinar e divulgar sua obra, logo se impondo. Em sua estreia em Paris na Salle Gaveau, em 1923, Heitor surpreendeu-se com uma pequena biografia sua em um jornal, escrita pôr Lucie Mardrus. A poetisa francesa, que visitou o compositor no Rio e falava português razoavelmente, pediu-lhe emprestado o livro Viagem ao Brasil, do alemão do século XVII, Hans Staden…e atribuiu a Villa-Lobos as aventuras pelo estrangeiro dois séculos antes!
“No período de 1909 a 1912, nosso músico realizou afinal a sua desejada viagem através das terras ainda habitadas por índios, incorporado a várias missões científicas, principalmente alemãs. Foi assim que pôde observar longamente os seus colegas musicais de tacape, assistir a rituais de feitiçaria.(…) Foi pegado pelos índios e condenado a seu comido moqueado. Prepararam as índias velhas a famosa festa da comilança ( o artigo não diz se ofereceram a Villa a índia mais formosa da maloca) e o coitado, com grande danças, trons de maracás e roncos de japurutus, foi introduzido no local do sacrifício. Embora não tivesse no momento nenhuma vontade pra dançar, a praxe da tribo o obrigou a ir maxixando até o poste de sacrifício. E a indiada apontava pra ele, dizendo: “Lá vem nossa comida pulando!”. (Mário de Andrade – 1930)
Villa-Lobos assimilou a “discreta” confusão da francesa mas foi obrigado a responder a uma madame parisiense se ainda comia gente: “No momento, só gosto de crianças, especialmente as francesas, que são as mais tenrinhas…”
Superado os problemas de afirmação, em 1927, Villa já havia impresso 19 obras em Paris. Seu nome já era conhecido no cenário mundial. A partir daí passou a apresentar concertos de suas obras, regendo orquestras importantes da Europa. A partir desta época Villa-Lobos era um nome famoso em Paris. Mas apesar dos sucessos, as dificuldades financeiras não desapareciam e Villa volta para São Paulo, depois para o Rio de Janeiro, para assumir a Superintendência de Educação Musical e Artística.
Em 1930, Heitor regressou ao Brasil, já tendo conquistado Paris. Estourou a revolução e o interventor de São Paulo, João Alberto, convidou-o a organizar um programa de educação musical no Estado. A experiência durou dois anos, findos os quais Heitor retornou ao Rio para assumir a Superintendência de Educação Musical e Artística, com o aval de Getúlio Vargas. Reinou durante todo o Estado Novo como condutor oficial da política de educação musical no país, baseada no coral e canto orfeônico. O resultado deste trabalho foi a criação das chamadas Exortações Cívicas Villa-Lobos, espetáculos que chegaram a reunir até 42 mil vozes, como o realizado no campo do Vasco da Gama, para cantar o Hino Nacional e outras peças cívicas. É verdade que que houve quem não lhe poupasse críticas, acusando-o de fascista, colaborador do Estado Novo e de Getúlio. Mas, de qualquer modo, as Exortações Cívicas foram um sucesso e, já consagrado no exterior, finalmente lançaram-no à glória tardia em sua terra natal.
Mesmo envolvido com o trabalho faraônico de treinar orfeões e professores, Villa não se descuidava de outros projetos. Foi assim que, financiado pôr seu próprio bolso, o bloco carnavalesco Sodade do Cordão saiu em 1940, comemorando os velhos carnavais.
Paralelamente, sua saúde começa a se debilitar. A 7 de setembro de 1941 apareceu com uma hérnia. Em 1948 foi atingido pôr um câncer que lhe consumiu a próstata, a bexiga e o rim, mas não o poder criativo. Foi para os Estados Unidos para tratar-se, mas morreu, aos 72 anos, em 17 de novembro de 1959, no Brasil, país que nunca deixou de amar, mesmo quando nele não foi compreendido.
A Obra
Villa-Lobos jamais quis pesquisar o folclore cientificamente, à Bela Bartók, pôr exemplo.
Nem sua vastíssima produção nutre-se apenas das manifestações rurais ditas rurais. Em vez disso, nutre-se da linguagem impressionista francesa, Puccini e Wagner; do choro carioca e das formas de música popular urbana do Rio de Janeiro do início do século; e do folclore rural indiciplinadamente assimilado nas viagens da juventude.
Os dezessete quartetos de cordas, as doze sinfonias, os poemas sinfônicos, as nove “Bachianas Brasileiras”, os catorze “Choros”, os cinco concertos para piano e orquestra, os estudos para o violão, a ópera Yerma, a vasta produção pianística ( grande parte dedicada às crianças) e coral, tudo isso tem pouco em comum. O ritmo talvez seja seu fio estrutural; o gosto pelo contraste, superposição de modos maiores e menores. Sua obra se caracteriza pelo uso original de instrumentos de percussão e de ritmos nacionais. Uma de suas séries mais características é o das Bachianas Brasileiras (1930 – 1944), em número de nove – particularmente popular a de número 5 para soprano e conjunto de violoncelos, e a de número 4 para piano.
Muitas de suas produções se extraviaram, percalços, sem dúvida, de grande riqueza e abundância da obra. No entanto, conhecem-se cerca de mil composições de Villa-Lobos.
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Fonte: http://www.oliver.psc.br