Música – Seus Efeitos Sobre o Homem – Parte 3

por: H. Lloyd Leno [*]

Influência Sobre a Mente (Conclusão)

Visto que a mente pode ser influenciada pela música de maneira subconsciente, reconhecemos com facilidade seu poder latente para controlar a mente. Gitler observou o que os psicólogos têm revelado pela investigação, a saber: que o ritmo é um fator principal. “O Rock tem uma batida penetrante e a audiência é influenciada por ela num nível primário”. [1] John Philips, do Mamas and the Papas: verificou por meio de observação e experimentação que tumulto e histeria podem ser suscitados “controlando cuidadosamente a seqüência de ritmos… Sabemos como fazê-lo… Qualquer pessoa sabe como fazê-lo”. [2]

A revista Time comentou: “Em certo sentido, todo rock é revolucionário. Com sua batida e som característicos, ele tem sempre rejeitado implicitamente a repressão celebrando a liberdade e a sexualidade”. [3]

Em seu livro mais recente: The Day Music Died ( “O Dia em Que Morreu a Música”), Bob Larson documenta numerosos exemplos do uso da música rock, nos quais suas qualidades de som, bem como seus versos líricos, são usados para promover o espírito de anarquia e revolução na América.

Um grupo: “Country Joe and The Fish”, é conhecido como tendo auxiliado as “Panteras Negras” e os SDS. Uma apresentação do quinteto de Detroit, denominado MC5, foi descrita da seguinte maneira pelo seu empresário original Jonh Senclair: “O MC5 é uma fonte livre de intensa energia; que nos tornará selvagens nas ruas da América”. [4] Larson cita também algo da revista Hit Parader de março de 1968, a qual continha um artigo satírico sobre o poder e a influência da música rock: “Suponhamos que quisésseis dominar um país. Poderíeis fazê-lo sem dar um só tiro. Usai a música popular. Digamos que quisésseis dominar os Estados Unidos. Começai a influir sobre a jovem mente impressionável dos estudantes secundários e universitários. Podeis influenciá-los com sutil propaganda por meio de vossos agentes no âmbito da música popular. Sua primeira medida é começar a entoar cânticos de protesto. Eles suscitam dissensão e conquistam simpatizantes”. [5]

Jerry Rubin sintetiza a relação entre suas ambições políticas e o estilo de vida Hippie: “Fundimos a nova política esquerdista com o estilo de vida psicodélico. Nosso estilo de vida – LSD, cabelos compridos, roupas extravagantes, maconha, música rock, sexo – é a revolução. Nossa própria existência zomba da América”. [6]

Poder Satânico na Música

Infelizmente, a influencia sobre a mente é mais profunda do que na moral ou na política. Fazendo uso de sua experiência pessoal, Bob Larson menciona o que é sentir o poder satânico através da música:

“Eu estava ciente da conexão entre os demônios e dança antes mesmo de minha conversão. (…) Aprende-se controlar o povo pela música que se toca. Tenho tocado um cântico continuamente durante quinze a vinte minutos. Houve ocasiões, ao tocar música rock, que fiquei tão elevado e com os sentidos tão amortecidos, que quase não notava o que se passava ao meu redor. Como ministro, sei agora o que é sentir a unção do Espírito Santo. Como músico rock, eu sabia o que significava sentir a unção falsificada de Satanás”. [7]

Ele relata então a experiência incomum de um hippie de 16 anos de idade, a qual lhe foi contada por um amigo que trabalha entre os hippies: ” Um dia ele pediu que meu amigo ligasse o rádio a uma estação de música rock. Enquanto eles ouviam, esse adolescente relatava, pouco antes de serem entoadas pelo cantor, na gravação, as palavras de cânticos que nunca tinha ouvido. Quando lhe perguntamos como podia fazer isso, esse rapaz de dezesseis anos respondeu que os mesmos espíritos malignos com os quais estava familiarizado tinham inspirado os cânticos. Explicou, além disso, que nas viagens de LSD ele ouvia os demônios entoarem alguns dos próprios cânticos que mais tarde ele ouviria gravados por grupos rock LSD”. [8]

A cadência Religiosa

Em acréscimo às investidas mais diretas contra a mente que já foram consideradas, há uma que, devido ao seu disfarce extremamente sutil, pode ser ainda mais devastadora do que todas as outras. Vimos que a reação humana para com a música é fundamental, e sua mensagem, especialmente no âmbito da música popular, é compreendida de modo universal. Que acontece com uma pessoa que se mostrou sensível ao jazz (inclusive as formas mais suaves do swing), samba ou rock e seu ambiente natural, quando ouve a mesma cadência e estilo básico num ambiente religioso, completados com palavras religiosas? (No interesse de nossas considerações suponhamos que essas palavras sejam bíblicas.) Como a mente reage diante dessa mistura do bem e do mal?

Ellen G. White nos diz que foi essa precisamente a técnica usada para causar a queda do homem. “Por misturar o mal com o bem, sua mente se tornou confusa”. [9]

A aceitação da mistura do bem e do mal ou atuar constantemente perto da linha divisória é transigência, em parte alguma isso é mais evidente do que no domínio da música religiosa. Os meios de comunicação condicionaram as massas de tal maneira com um sistema de contagiosos ritmos de dança, que qualquer outra coisa a não ser isso se a figura insípida e monótona. Isto tem resultado em algo parecido com uma obsessão entre muitos compositores e cantores de música evangélica de alguma espécie de cadência de dança.

Embora alguns grupos sejam mais cautelosos ou “conservadores”, o sistema padrão da maioria dos grupo inclui formas híbridas levemente disfarçadas de estilos de dança, como valsas, swing (foxtrote), canções do oeste, americano, rock suave e rock popular. Alguns procuram disfarçar ou racionalizar seu estilo sob o pretexto de serem um “grupo folclórico”. É bem, evidente que esses grupos estão usando modelos cujos alvos não são compatíveis com a teologia adventista do sétimo dia. De acordo com Ellen G White, essa mistura de ritmos de dança e música evangélica não somente ocasionou um problema no começo da história da Igreja Adventista do Sétimo Dia, mas ela também predisse seu reaparecimento. Certamente a admoestação de Paulo apropriada neste sentido: “Não vos conformeis com este século” Rom. 12:2.

Sensação Versus Experiência

Os perigos inerentes em reagir à música somente no nível sensual devem ser evidentes nesta altura. Além do risco de ser influenciado, se não o de sofrer uma “lavagem cerebral” pelos meios de comunicação, o cristão regenerado preocupar-se-á finalmente com dois outros aspectos: maturidade, tanto mental como emocional, e responsabilidade para com os outros. Em suas considerações sobre o valor e a grandeza da música, Meyer salienta aspecto da maturidade:

“A diferença entre a música artística e a musica primitiva está na rapidez da tendência de satisfação. Os primitivos buscam satisfação quase imediata de suas tendências, quer sejam biológicas ou musicais. Um aspecto de maturidade, tanto do indivíduo como da cultura dentro da qual surge um estilo, consiste na disposição para renuncia: à satisfação imediata e talvez menor, por amor à futura satisfação definitiva”. [10]

Há grande diferença entre o efeito psicológico da música cujo apelo é essencialmente voltado para a sensação e a que provê genuína experiência estética. A música que agrada somente aos sentidos não acrescenta coisa alguma ao conhecimento, à destreza ou à percepção da beleza por parte do indivíduo. Por outro lado, a música que tem valor não agrada somente aos sentidos, mas também ao intelecto. Isto proporciona uma experiência que é cumulativa e transmissível; sua repetição, devido ao envolvimento da mente, produz um indivíduo mais sensível e informado musicalmente.

Os defensores da música rock insistem que ela não deve ser avaliada por normas estabelecidas, alegando que ela é algo do “momento atual”, baseado em sensação que muda com os estilos cambiantes, sendo valiosa somente no momento de sua execução. Isto está em contraste com o termo experiência, que pode ser aplicado à música séria.

“A sensação é pessoal, particular, restrita e incomunicável. (Nossas sensações são o que recebemos.) Ou segundo a definição de um dicionário, sensação é a consciência de perceber ou parecer perceber algum estado ou afecção do corpo de alguém ou de suas partes, ou os sentimentos e as emoções da mente de alguém. Se eu não pudesse partilhá-la, não seria uma experiência. Seria uma sensação, uma mensagem que adviesse unicamente para mim. As sensações, então, por sua própria natureza, são íntimas e inefáveis. A experiência nos conduz para fora de nós mesmos; a sensação confirma e realça o próprio eu”. [11]

O cristão amadurecido não vive meramente para agradar a si mesmo. Ele se preocupa com os outros e se deleita em partilhar suas experiências. Ellen G. White (1913) traz-nos à lembrança o verdadeiro significado objetivo da cultura musical. Embora devamos desenvolver todas as faculdades da mente de maneira que atinjam o mais alto grau possível de perfeição, ela adverte: “Esta não pode ser uma cultura egoística e exclusiva; pois o caráter de Deus, cuja semelhança devemos receber, é benevolência e amor. Cada faculdade, cada atributo de que o Criador nos dotou, deve ser empregado para a Sua glória, e para o erguimento de nossos semelhantes”. [12]

Isto não significa que para ser proveitosa, a música precisa ser complicada. Ela pode ser simples e atrativa par o ouvinte não adestrado, sem que seja trivial, vulgar ou sensacional, e ser ainda apreciada pelo músico adestrado.

Conclusão

A música como um dos maravilhosos dons de Deus ao homem jamais será plenamente compreendida nesta vida. No entanto, temos acesso a informações científicas, conselhos inspirados e experiências da vida que nos proporcionam um meio adequado para compreender sua natureza e objetivo básicos. Para os adventistas do sétimo dia que lêem e aceitam os escritos de Ellen G. White, o objetivo da música é claro: louvar e glorificar a Deus e edificar o homem. Ela é um meio pelo qual Deus pode comunicar-se com o homem e revelar alguns aspectos de sua natureza divina. Como tal, pode ser usada para promover a saúde física, emocional e mental do indivíduo. Visto que a música pode ser percebida pelo cérebro (tálamo) e desfrutada sem que seja avaliado o seu conteúdo moral, é fácil de ver como Satanás pode obter acesso a mente. Deste modo ele é capaz de embotar as percepções espirituais, bem como suscitar ou estimular certos estados emocionais.

A musica tem significado devido a suas qualidades e associações intrínsecas. o significado musical se estende do que é altamente abstrato, e que não vai facilmente de encontro às culturas, ao que é mais funcional e de índole psicomotora, indo com facilidade de encontro ás culturas. Por conseguinte, a respeito de diferenças culturais e educacionais, a música é uma linguagem universal. Os elementos fundamentais da música: altura, volume, ritmo e, em grande medida, melodia e harmonia – afetam os processos mentais e físicos de todas pessoas de modo notavelmente similar. Alem disso, a maneira pela qual são combinados esses elementos resulta numa representação simbólica da vida. A música é o produto de uma cultura, e ela, por sua vez, influencia essa mesma cultura.

Cumpre notar que quanto mais abstrata for a música, tanto maior será a necessidade de educação para torná-la significativa ao indivíduo. Por exemplo: Grande parte do significado da música absoluta (concertos, sinfonias, etc.) tenderia a afastar o ouvinte inexperiente até que ele aprendesse algumas das fundamentais relações sintáticas na música. Por outro lado, pode ser demonstrado que o conhecimento teórico não é um requisito prévio para a fruição. Mediante audições repetidas, qualquer adulto ou criança isento de receio ou preconceito pode desenvolver profundo e duradouro apreço por uma enorme quantidade de música “clássica”. Naturalmente, o conhecimento sempre aumenta o interesse. Entretanto, mesmo que o significado musical não seja compreendido pelo indivíduo não adestrado musicalmente, tem-se demonstrado que a reação da disposição de, espírito é deveras universal.

Evidentemente, quanto mais funciona for a música, tanto mais universal e consistente será a reação da conduta. Visto que o corpo humano é rítmico por natureza, o elemento rítmico da música é o mais influente (desde que a altura e o volume estejam abaixo do limiar da dor).

O homem, criado à imagem de Deus, tem tanto a capacidade como a necessidade de experiências estéticas. Junto com a capacidade para amar e criar beleza, o homem, devido a sua natureza carnal, também possui aptidão e tendência para mostrar-se sensível às deturpações da beleza. A combinação de evidências científicas e conselhos inspirados deveria ser mais do que suficiente para confirmar a teoria da influência moral na música. A isto podemos acrescentar o testemunho dos que se têm envolvido atividades musicais, quer como compositores e cantores, quer como consumidores.

Consideramos algumas maneiras pelas quais a mente e o corpo pode ser influenciados pela música. Essa influência é tão real ao ser efetuada pelos ritmos hipnóticos da dança pelo rock and roll mais recente, como pela cadência mais branda e sedativa do fox-trote, que tem estado presente por trinta e cinco ou quarenta anos. Assim como as culturas de bactérias vicejam em determinado ambiente, creio também que as atitudes mentais e os estados emocionais suscitados por certos tipos de música promovem o desenvolvimento de pensamentos não cristãos.

É o privilégio de todo indivíduo formar seu próprio gosto musical. No entanto, em vista das evidências científicas do efeito da música sabre a mente, é necessário suscitar uma questão ética e moral com respeito a todos que se empenham em fornecer ao público qualquer espécie composição musical. Pelo ensino, por execuções ao vivo pela preparação de música gravada, os que assim se acham empenhados estão moldando o gosto e as atitudes de milhares de crianças, jovens e adultos. Que nos impele a faz escolhas para o público em geral? O desejo de elevá-lo, ou desejo de obter popularidade? Os ideais cristãos ou comercialismo? O pensamento de que podemos ter condicionado a mente de uma só pessoa, levando-a a rejeitar a salvação deveria ser deveras solene. Talvez alguns que ocupam posições de liderança e responsabilidade estejam sofrendo efeitos da mistura do bem e do mal.

É-nos declarado que “a mente da qual o erro alguma vez se apossou, jamais pode expandir-se livremente para com a verdade, mesmo após investigação”. [13] Apelo para que todos os que podem influenciar a outros, e que o fazem encarem seriamente sua responsabilidade, certificando-se que como cristãos amadurecidos suas faculdades estejam treinadas “para provar e saber a diferença entre o que é bom e o que é mau” (Heb. 5:14, A Bíblia na linguagem de hoje).


Notas:

[1] Ira Gitler, ” um Homem do Jazz Analisa o Rock”, Bell Janeiro-fevereiro de 1970, p.20.

[2] Guilherme Kloman, “chamaremos Somente de Supergrupo Saturday Evening Post, 25 de março de 1967, p. 41.

[3] “Rock”, Time, 3 de janeiro de 1969, p. 49.

[4] “Rock, a Neurastenia Revolucionária” Time, 3 de janeiro de 1969.

[5] Bob Larson, The Day Music Died (Carol Stream, Illinois: Creation house, 1972), p. 161

[6] Davi wilkerson, Purple violet Squish Zondervan Books, 1969), p. 30.

[7] Larson, op. cit., p. 181.

[8] Idem, pp. 181 e 182.

[9] Ellen G. White, Educação (Santo André, SP : casa Publicadora Brasileira), p. 25. (Grifo acrescentado).

[10] Leonardo B. Meyer, Emotions and Meaning in Music (Phoenix Books, The university of Chicago Press, 1956), p. 93

[11] Martin Stella ” Os Mestres da Intimidação”. The Instrumentalist, fevereiro de 1972, p. 15.

[12] Ellen G. White, Patriarcas e Profetas (Santo André, SP: casa Publicadora Brasileira), p. 639.

[13] Ellen G. White, Medicina e Salvação (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira), p. 89.


H. Lloyd Leno recebeu o grau de doutor em Arte Musical na Universidade do Arizona, Estados Unidos


[*] Agradecemos à Loide Simon por essa contribuição ao Música Sacra e Adoração.


Fonte: Revista Adventista, abril de 1977, pp. 40 a 43 102.