Música – Seus Efeitos Sobre o Homem – Parte 2

por: H. Lloyd Leno [*]

Implicações Morais

A noção de que a música possui significado moral e espiritual não é, por certo, um conceito do século dezenove, originando com revivalistas radicais ou místicos. O poder da música tem sido uma fonte de interesse e especulação por parte de vários tipos de povos através das eras. Antigos filósofos e cientistas, tais como Pitágoras e Platão, se aperceberam de seu potencial e o temeram.

Tem-se dito: “A música pode ser intoxicante. Tais coisas, aparentemente sem monta, destruíram a Grécia e Roma, e destruirão a Inglaterra e a América”. Os Adventistas do Sétimo Dia não apenas têm tido interesse e preocupação quanto ao poder da música, mas possuem a mais imperiosa razão para investigar sua influência – a possibilidade de conseqüências eternas.

Em nosso último artigo, examinamos algumas das evidências científicas dos efeitos físicos e mentais da música sobre o indivíduo. Agora vamos debater as implicações éticas, morais e espirituais, baseadas nessa informação Há outro tipo de evidência que embora não testada cientificamente em laboratório, é claramente identificada por historiadores, sociólogos, psiquiatras e músicos, o que tem sido comprovado no laboratório da experiência da vida.

Música e Moralidade

Possui a música, fora de seu conteúdo textual, uma “mensagem”? Há mais do que a associação com a imoralidade que influência as atitudes e comportamento do participante. Esta questão tem sido evitada por alguns, simplificada por outros, disseminada por muitos, mas, por outro lado, tem sido alvo de séria consideração por muitos outros.

Existe um reconhecimento difundido de que, dentro da música, há alguma coisa simbólica da experiência da vida humana. Na verdade, a música parece combinar algum estado de ânimo e atividade em que alguém possa estar envolvido. A filósofa Susanne Langer afirma que em todas as culturas há evidência de que o homem tem sempre avaliado a atividade estética e tem procurado sempre simbolizar tais experiências de alguma forma comunicativas. Reconhecendo que o homem cumpriu isto por meio da música. Soilbelman concluiu que “o comportamento humano se relaciona com os símbolos inerentes aos sons musicais”.[1] “O princípio terapêutico da música”, diz Altshuler, “repousa numa íntima afinidade entre o organismo humano e o ritmo, assim como sobre o simbolismo inerente aos sons musicais”.[2]

Criado à imagem de Deus, o homem foi dotado de muitos atributos divinos. Foi criado perfeito, capaz dos mais elevados pensamentos, aspirações e emoções.

No entanto, como ser caído, tem-se comportado, muitas vezes, mais à semelhança das bestas quadrúpedes que foram entregues ao seu domínio. Quando o homem procurou simbolizar suas experiências, naturalmente incluiu as que eram contrárias ao caráter de Cristo. O símbolo musical é uma representação da natureza pecaminosa do homem, o que devemos reconhecer como possuidor de conteúdo imoral. Ora, o pecado é, muitas vezes e sob qualquer ângulo, difícil de ser explicado, porque estamos tratando de verdade espiritual, e esta é discernida espiritualmente (I Coríntios 2:13 e 14). Quanto mais difícil é explicar ou debater a verdade e o erro em sua forma mais abstrata!

Muitas vezes, respostas a difíceis questões são encontradas tão facilmente que as deixamos passar por alto. Grande parte pode e deve ser aprendida mediante observar a música não apenas em seu habitat, mas também seus produtores e consumidores. Alguns poderiam objetar à consideração da associação como evidência do significado e influência musicais, mas não podemos ignorar o fato de que o homem tende a ser mais pragmático em seu comportamento. Ele é inventivo e capaz de selecionar. Usa aquilo que mais se ajusta a seus propósitos. Esta é a razão para a intima afinidade de certos tipos de música com determinadas atividades. Isto não pode ser mera coincidência.

Recentemente a Companhia de Seguros Cruz Azul divulgou um estudo sobre o cenário da juventude, na América, intitulado “Adolescence for Adults“. Crendo que “a educação da saúde pública I começa com a compreensão”, a Cruz Azul encarregou um grupo de sociólogos, psicólogos e escritores de várias instituições educacionais, para fazer um profundo estudo da cultura dos jovens, sua filosofia, costumes e moral. A análise do cenário musical intitulado “Filhos da Ética Licenciosa” começa com esta provocante afirmação:

A música popular tem agitado os americanos desde a virada do século, quando o “ragtime” (espécie de música sincopada norte-americana) e o jazz começaram a expandir-se e a ser tocados fora dos limites das cidades do sul e leste. Desde seu início, ela foi colorida com a má fama das pessoas das quais provinha e desde então muitas pessoas têm-se preocupado com as influências degradantes e desmoralizantes da nova música selvagem.[3]

A História corrobora a exatidão desta assertiva com uma exceção, a época em que surgiu o “ragtime”. De acordo com o historiador da música negra, Eileen Southern, o piano “ragtime” desenvolveu-se durante o período de 1865 a 1875. Os shows de menestréis (teatro de variedades) também emergiram por esse tempo. Digno de nota o fato de que Ellen G. White, durante esses anos, ter primeiro advertido a igreja a respeito da música própria para dança que poderia excitar determinados órgãos do corpo, permitindo que Satanás tivesse acesso à mente[4]. Por volta do ano 1896, ela contemplou em visão uma festa e uma execução ao teclado que tinham “abundância de entusiasmo e uma espécie de inspiração; mas a alegria era daquela espécie que unicamente Satanás é capaz de criar”. Esse entusiasmo, ela declarou, “prepara os participantes para pensamentos e ações profanos”.[5]

De acordo com Southern, “a fusão de canções de ritmo sincopado com charanga e música de dança sincopada resultou na música chamada jazz”.[6] Nomes descritivos para a música funcional são comuns, e a etimologia do nome jazz é indiscutivelmente significativa. Muitos dos ingredientes do jazz, como o jazz em si mesmo, estavam tão intimamente associados com a subcultura imoral da qual o jazz era uma parte, que se tornou natural a escolha desse termo com tal conotação.

O Novo Dicionário Mundial de Webster (Webster’s New World Dictionary) é mais explícito: “jazz (patoá crioulo, termo sexual aplicado a danças do Congo – Nova Orleans); uso vigente em Chicago, cerca de 1914, mas de uso semelhante anterior no cenário do vício de Nova Orleans”. Borroff confirma que o jazz era uma “palavra de quatro letras” comum nos bordéis de Nova Orleans.[7] Mais tarde, ela se tornou uma expressão da gíria vulgar no comércio sexual em muitas partes dos Estados Unidos.

Alguns têm tentado equiparar todo o cenário popular musical do jazz-rock com música folclórica. Alguns elementos folclóricos, como protestos de camponeses, canções de trabalho espirituais estavam entre os elementos que colaboraram com o jazz, mas o resultado não foi mais música folclórica. O jazz não tem paralelo em qualquer parte do mundo. É uma manifestação musical distinta cujo estilo e desenvolvimento não comportam semelhança com nenhuma classe da literatura folclórica onde quer que seja.

Southern afirmou: “O musicista negro criou uma música inteiramente nova – num estilo peculiarmente afro-americano – que hoje espalha sua influência por todo o mundo”.[8] O sucesso de muitas excursões dos grupos de, jazz do Departamento Estadual a muitas partes do mundo, é prova convincente de atração universal do jazz. O eminente músico terapista Gaston reconheceu a influência da música própria para dança, ao dizer: “Durante a dança, o homem e a mulher, têm os braços um ao redor do outro, numa intimidade que jamais poderia ser tolerada pelos dois, ou pelo público, mas aceitável na dança enquanto a música continua”.[9]

O jazz – também conhecido como música afro-americana – continuou como parte integrante do entretenimento universal, sendo aceito prontamente em todos os níveis econômicos da sociedade. Evoluiu e sofreu variações de acordo com o clima social, e criou uma indústria lucrativa, largamente financiada e divulgada pelos estabelecimentos comerciais dos brancos.

Entretanto, O antigo estilo continuou a ser usado, apesar dos novos que surgiram. A seqüência de estilos seguida é esta: o Dixieland jazz (no sul dos EEUU, como em Nova Orleans; mais tarde, também em Chicago), O boogiewoogie (espécie de swing caracterizado por um ritmo persistente de notas baixas), o swing (vários estilos e movimentos), be-bop (uma modificação do jazz, caracterizada por muita improvisão), o coll-jazz (frio e calmo), o rhythm and blues (canção de ritmo sincopado e letra melancólica), o funky (qualidade e estilo provenientes do blue, o soul e, a seguir, na década dos 50, o aparecimento do rock and roll. A nova forma de música, necessitava novamente, de um título apropriado. Este foi dado pelo brilhante “disc Jockey” Allan Freed, que batizou a nova música de rock and roll, expressão própria do comércio sexual originária do ghetto.[10]

Assim, não seria surpreendente o relatório da Cruz Azul, que analisaria o significado do rock and roll da seguinte maneira:

Tomada em sentido amplo, a nova música abrange duas mensagens: ‘Venha gingar comigo’. A atração mediante o canto sentimental para o romance, que foi o suporte principal da música popular durante as décadas de 30 e 40, e a essência do rock and roll nos anos 50, tornou-se uma atração mais direta para se dançar a dança da vida. Tal atração – expressa em muitas pelo grito – é muitas vezes apontada especificamente para uma possível associação com o sexo, sendo uma proposta ligeiramente mascarada.

Muitos pais, bem como outras pessoas, se preocupam com o fato de que a música deva ser bastante sugestionável, francamente sexual, estimulante para pessoas jovens ouvirem e dançarem. Muitos que são crentes reais na nova música, não se defendem a si mesmos contra tais pontos de vista, porquanto, conforme pensam, as notas e palavras são representações de suas atitudes e emoções. Quanto àqueles que reivindicam que a música restitui as relações sexuais íntimas, provendo cenas coletivas de orgasmo rítmico, eles rebatem: “Observem outra vez. (…) E, enquanto empenhados nisso, analisem a música de sua própria geração e as inibições que ela disfarça.[11]

Muitas pessoas, inclusive psiquiatras e sociólogos, reconhecem a implicação sensual do ritmo da música rock, mesmo que estejam despreocupadas quanto aos valores morais envolvidos “A maioria dos sociólogos, que encaram seriamente este tipo de coisas, concorda em que a sensualidade do rock and roll é ‘inofensiva’. (…) ‘Essas danças’, diz o psiquiatra Philip Solomon, da Harvard, são ‘vazões para a impaciência, para desejos sexuais reprimidos e sublimados. Isso é completamente saudável'”.[12]

Outros, entretanto, estão preocupados. “As grandes implicações sensuais da dança big-beat preocupam alguns psiquiatras”. Diz um deles: “Ela é uma doença sexual voltada para a diversão do espectador”.[13]O Dr. Matterson acrescenta:

A música não é apenas um meio de vazão física, mas, de certo modo, uma espécie de expressão sexual. A cadência possui implicações sexuais típicas e produz meios de realização de suas sensações.[14]

Como esta música afeta os jovens? Davíd Wilkerson, autor de “A Cruz e o Punhal”, relatou a seguinte entrevista com um jovem que explicou como a música rock o influenciou entre seus 13 a 20 anos. “Ela é completamente tumultuosa e desinibidora, e você não é capaz de deixá-la. (…) Por vezes eu podia dançar diante de um espelho e fazer todos os tipos de contorções e movimentos. Descobri-me a mim mesmo, mergulhando na música”.[15]

Fránk Garlock, presidente do departamento de teoria musical da Universidade Bob Jones e diretor do conjunto de metais, tem realizado muitas palestras em escolas e clubes. Ele relata: “Certo jovem que se distinguiu por conquistar garotas, contou-me que descobriu o melhor modo de ‘fazer com que as meninas se acendam: é fazer amor ao ritmo do rock and roll. Qualquer moça cederá sob circunstâncias apropriadas'”.[16]

Como os próprios amantes do prazer analisam seus papéis? Morrison of the Doors: “Imaginem-nos como políticos eróticos”[17]. Marty, do Jefferson Airplane: “Não estamos recepcionando, estamos fazendo amor”[18]. Jagger, do Rolling Stones: “Você pode sentir a adrenalina caminhando através do corpo”(…)[19]. Arthur Brown: “Toda música apaixonante é sexo”[20]. Zappa: “Negar o rock é negar o sexo”[21]. “A música de Hendrix é muito interessante. O som de sua música é extremamente simbólico: grunhidos orgásticos, guinchos angustiados, gemidos lascivos. Rapazes conduzem moças para os bastidores do teatro, para autógrafos. Enquanto assina seus pedaços de papel, suas costas, bolsas e calças, Hendrix freqüentemente é interrogado: ‘Você pensa em determinada menina enquanto está tocando, ou você pensa em sexo?’ Os rapazes parecem apreciar o fato de que suas amiguinhas estão sexualmente ligadas a Hendrix”[22].

A carreira de Bob Larsen como musicista do gênero rock, propiciou-lhe, em primeira mão, a experiência de observar os efeitos da música. rock. Sua experiência levou-o a investigar possíveis interpretações fisiológicas para o padrão de comportamento que observou em jovens.

Em seu livro “The Day Music Died”, Larson apresenta a teoria de que abaixa freqüência dos metais eletrônicos e ritmo impetuoso da música afetam a glândula pituitária e o fluido cerebrospinal e, assim, altera o equilíbrio químico da secreção hormonal, particularmente das glândulas sexuais. Quando alguém está ciente desse tipo de estímulo, diz Larson: “Não é difícil notar por que essas danças (rock and roll) envolvem tais movimentos eróticos”.

Sua observação pessoal combinada com um parecer médico, levou-o a concluir que o indecente comportamento histérico que algumas meninas exibem é resultado de sua “submissão a um estado de sensualidade progressiva “.[23]

Em face desta evidência, seria impossível negar a implicação sensual de determinada música. Muitos consumidores parecem entender seu significado; evidentemente, captam a mensagem que os artistas tencionam comunicar. Psiquiatras reconhecem-na como a maioria dos “disc jockeys”. Satanás sabe[24], e nós?


Notas e Bibliografia

[1] Doris Soilbelman. “Therapeutic and Induslrial Use of Music” (New York: Columbia University Press, 1948), P- 21.

[2] Idem, p. 86.

[3] J. L. Simons and Barry Winnograd, “Songs of lhe Hang-Loose Ethic”. Adolescence lor Adults (Blue Cross Association), p. 35.

[4] Ellen G. While, Teslimonies, Vol. 1, pp. 497 e 506.

[5] Idem, Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, p. 306

[6] Eillen Southern, The Music of Black Americans: A Hislory (New York: W. W. Norlon and Company, Inc., 1971), p. 374.

[7] Edith Borrol1, Music in Europe and lhe Uniled Stales (Englewood Cliffs, New Jersey: Prenice-Hall, 1971), p. 853.

[8] Soulhern, op. cit., p. XV.

[9] E. Thayer Gaston, Music in Therapy (New York: The Macmillan Company, 19681, p. 18.

[10] Bob Larson, Rock and Roll, The Devil’s Diversion (McCook, Nebrasca: Bob Larsonn, 1970), p. 48.

[11] Somons and Winnograd, op. cil.. pp. 35-39.

[12] Time, 21 de maio, 1965, p. 88.

[13] Ibid.

[14] Phillis Lee Levine, “The Sound of Music?” New York Times Magazines. 17 de março, 1965, p. 72.

[15] David Wilkerson, Purple Violet Squish (Grand Rapids: Zondervan Books, 1969). p. 129.

[16] Frank .Garlock, The Big Beal, A Rock Blasl (Greenville, South Caroline: Bob Jones University Press, 1971), p. 19.

[17] “This Way to lhe Egress”, News- week, 6 de novembro, 1967, p. 101.

[18] “Rock and Roll: Open Up, Tu in. Turn On”, Time, 23 de junho de 1967, p. 53.

[19] “Mick Jagger and the Future Rock”, Newsweek, 4 de janeiro de 1971, p. 47.

[20] Larson, op. cit., p. 44.

[21] Frank Zappa, “The Oracle Has It All Psyched Out”, Life, 28 de junho de 1968, p. 83.

[22] Idem, p. 91.

[23] Bob Larson, The Day Music Died (Carolstream, Illinois: Creation House. 1972), pp. 121 e 122.

[24] Ellen G. White, Testimonies, vol. I, p. 497.


H. Lloyd Leno recebeu o grau de doutor em Arte Musical na Universidade do Arizona, Estados Unidos


Leia também de H. Lloyd Leno: Música – Seus Efeitos Sobre o Homem (Parte 3).

[*] Agradecemos à Loide Simon por essa contribuição ao Música Sacra e Adoração.


Fonte: Revista Adventista. Março (págs. 13-15) de 1977.