Formação Musical faz Cérebro Reagir Mais à Música

Cérebro de violinista tem mais áreas ativadas ao som de música do que o de pessoa sem formação ou hábito musical

Uma sólida formação musical faz com que mais áreas do cérebro se ativem quando uma pessoa ouve música. Isso é o que demonstra um experimento proposto pelo novo Museu da Ciência de Barcelona, o CosmoCaixa, e apresentado por seu diretor, o físico Jorge Wagensberg, durante a Reunião de Museus da Ciência Latino-Americanos, que ocorre no Rio de Janeiro.

“É um bom exemplo de como um museu da ciência pode contribuir não só para divulgar, mas para produzir ciência”, disse Wagensberg.

O fenômeno pôde ser claramente observado em duas ressonâncias magnéticas funcionais feitas, simultaneamente, em uma violinista profissional e em outra mulher, com curso superior, sem nenhuma formação na área, que não tinha sequer o hábito de ouvir música.

As duas se submeteram ao exame enquanto ouviam a Sinfonia do Novo Mundo, de Dvorak, justamente a obra que a violinista estava executando com sua orquestra por aqueles dias.

Na mulher sem formação musical, a sinfonia ativou apenas o córtex cerebral responsável pela audição. Já na violinista ativaram-se sucessivamente essa área, uma outra que se acredita relacionada à linguagem musical, uma terceira, considerada uma região pré-motora, na qual o cérebro “planeja” os movimentos do corpo, e, em menor intensidade, uma quarta cujas funções ainda são desconhecidas.


Fig. 1 – Comparação: as áreas ativadas no cérebro da violinista (dir) e no da outra mulher

“O cérebro da violinista previa antecipadamente as notas, os ritmos e acordes da música e tocava mentalmente a obra, imaginando os movimentos que faria para executá-la”, explicou Wagensberg, que pretende publicar em breve um artigo científico sobre os resultados.

A ideia do experimento nasceu de uma conferência dada no museu pelo neurologista Robert Zatorre, da Universidade Mgill, no Canadá, um dos maiores especialistas sobre a interação entre música e cérebro. Zatorre demonstrou como, graças aos tons musicais, podem se observar fenômenos ligados à plasticidade do cérebro, mudanças anatômicas e até mesmo diferenças nas conexões dos neurônios.

Zatorre mostrou, por exemplo, que a zona que controla os dedos apresenta adaptações resultantes, provavelmente, da experiência de manejo de um instrumento musical.

As ressonâncias magnéticas com que trabalha revelam não só uma forte resposta neuronal nessas áreas como até mudanças anatômicas com áreas de maior densidade de matéria cinza.


Fonte: Jornal “O Estado de São Paulo”, 13 de abril de 2005, seção de Ciências