por: Pr. Stanley Ng Wai-Chun
As Escrituras sugerem que o lugar não é o aspecto mais importante no ato de cultuar
Uma equipe de pesquisadores cristãos conduziu recentemente uma pesquisa nacional entre os freqüentadores de igrejas nos Estados Unidos. Uma das perguntas da pesquisa dizia o seguinte: Qual dos seis fundamentos de prática da fé – adoração, evangelismo, discipulado, fraternidade, mordomia e assistência social – deve ser considerado a maior responsabilidade para um cristão? As respostas colocaram a adoração no topo das prioridades, com 92% dos entrevistados apontando-a como sendo o mais importante dever para com Deus.
A adoração ocupa um lugar importante na vida do cristão. Ao prestar culto, o ser humano se coloca, em sua pequenez, diante da grandeza de Deus, como que dizendo por suas atitudes: “Senhor és melhor do que eu. És maior do que eu. És mais do que eu”.
No culto, a iniciativa é de Deus. Como Criador, Redentor e Libertador, Ele tomou a iniciativa de Se aproximar do ser humano. A história da redenção, os eventos do Êxodo, a Páscoa, a crucifixão e a ressurreição, tudo isso requer uma resposta do povo de Deus. Essa resposta é adoração.
[Nesta série de artigos], temos estudado sobre quem devemos adorar, por que devemos adorar, e como devemos adorar. Agora estamos diante da seguinte questão: Onde devemos adorar?
Além da controvérsia do lugar – O lugar de adoração foi assunto de contenda e controvérsia entre judeus e samaritanos no tempo de Jesus, como podemos ver no relato do diálogo de Jesus com a mulher samaritana, junto ao poço de Jacó, em João 4. Enquanto Ele falava sobre a água da vida, a mulher O olhava com admiração. E disse: “Senhor, dá-me dessa água para que eu não mais tenha sede, nem precise vir aqui buscá-la” (João 4:15).
Abruptamente, Jesus mudou o curso da conversação. Ele sabia que antes que a mulher pudesse receber Seus dons, ela deveria convencer-se de que era pecadora e necessitava de um Salvador. Assim, Ele colocou o dedo sobre alguns segredos daquela pobre vida (versos 16-18).
A mulher ficou ainda mais surpresa. Quem era aquele que podia ler daquela forma os segredos da sua vida pecaminosa? Reconhecendo estar diante de um profeta, ela retomou o diálogo: “Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar” (v. 20).
O ato de adorar estava intimamente ligado a um lugar sagrado. Para um samaritano, esse lugar era o monte Gerizim; para um judeu, Jerusalém. Os samaritanos tinham muitas razões para fundamentar suas reivindicações do monte Gerizim como um lugar sagrado. Foi ali que Deus primeiro apareceu a Abraão depois que ele entrou em Canaã (Gênesis 12:6 e 7). Foi ali que Jacó habitou (Gênesis 33:18). Foi ali que Josué leu as bênçãos e maldições (Josué 8:33). E foi ali que os israelitas sepultaram os restos mortais de José (Josué 24:32). Os samaritanos construíram ali um templo a adoravam segundo os rituais mosaicos. E mesmo depois que o templo foi destruído por inimigos, eles ainda mantinham suas tradições e formas de culto.
Respondendo ao questionamento da mulher, Jesus disse: “Mulher, podes crer-Me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai” (João 4:21). Posteriormente todas as distinções religiosas como lugares de culto seriam abolidas. O verdadeiro culto não mais estaria confinado a qualquer lugar ou nação. Cristo sabia que ela não necessitava perturbar-se quanto ao lugar de culto, porque em pouco tempo Jerusalém e seu templo seriam destruídos, não ficando pedra sobre pedra que não fosse derribada. Sem templo, monte Gerizim ou Jerusalém, todas as pessoas levantariam as mãos, orariam e ofereceriam sacrifícios espirituais em qualquer lugar.
“Mas desde o nascente do sol até o poente, é grande entre as nações o Meu nome; e em todo lugar lhe é queimado incenso e trazidas ofertas puras, porque o Meu nome é grande entre as nações, diz o Senhor dos Exércitos” (Malaquias 1:11).
Sem restrições – A adoração a Deus não está restrita a um lugar particular – Judéia, Samaria, Jerusalém, monte Girizim, Meca, Vaticano, ou qualquer outro. Não é onde, mas como, o que conta no culto. Está chegando o tempo em que será compreendido que o aspecto que confere genuinidade ao culto é a espiritualidade, não o local.
Jesus continuou falando: “Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade” (João 4:23). O Mestre dirigiu os pensamentos da mulher, do lugar de adoração à Pessoa adorada; e da forma ao espírito da adoração. Deus está buscando genuínos adoradores, não formais, que O adorem em verdade, rendendo-Lhe obediência de fé com um espírito filial.
A seguinte declaração de Ellen White ilumina o conceito real de adoração: “Não por procurar um monte santo ou templo sagrado, são os homens postos em comunhão com o Céu. Religião não é limitar-se a formas e cerimônias exteriores. A religião que vem de Deus é a única que leva a Ele. Para O servirmos devidamente, é mister nascermos do divino Espírito. Isso purificará o coração e renovará a mente, dando-nos nova capacidade para conhecer a amar a Deus. Comunicar-vos-á voluntária obediência a todos os Seus reclamos. Esse é o verdadeiro culto. … Onde quer que a alma se dilate em busca de Deus, aí é manifesta a obra do Espírito, e Deus Se revelará a essa alma. A tais adoradores Ele busca. Espera recebê-los, e torná-los Seus filhos e filhas.” – O Desejado de Todas as Nações, pág. 189.
A união do espírito e verdade lança luz sobre o significado de “verdadeiros adoradores”. Esses são genuínos, opostos àqueles que meramente parecem ser ao participarem apenas dos rituais exteriores. A mesma distinção entre verdadeira adoração e formas de culto é claramente estabelecida pelo profeta Miquéias (Miquéias 6:7 e 8).
“Deus é espírito; e importa que os Seus adoradores O adorem em espírito e verdade” (João 4:24). Essas palavras contêm uma das mais simples e mais profundas verdades. Elas mostram que Deus é absolutamente livre de toda limitação de espaço e tempo, não estando, portanto, confinado a templos. Deus não é material como os idólatras afirmam; Ele não é uma força abstrata como pensam os filósofos. Ele é um Ser que está acima de toda necessidade de templos, sacrifícios, etc., que são benéficos aos seres humanos, mas não a Deus.
“O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo Ele Senhor do Céu e da Terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas. Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois Ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais” (Atos 17:24 e 25).
A Igreja Adventista não dá preferência a um lugar de culto em relação a outro, com respeito à santidade e à aceitação por parte de Deus. Na China, de acordo com as estatísticas governamentais, existem aproximadamente 15 milhões de cristãos nas igrejas registradas. Entretanto, para cada adorador nessas igrejas, há pelo menos seis ou oito crentes que cultuam em suas casas, no que comumente se chama “igreja do lar”. Aí, estima-se que entre 90 e 100 milhões de pessoas cultuam cada semana. Esses crentes, mesmo sem um magnificente edifício, adoram com sinceridade, coração purificado e mente renovada. Suas orações, ações de graças e cantos não estão limitados a um certo lugar. Seus atos de adoração são seguramente aceitáveis a Deus.
“Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome”, Cristo prometeu, “ali estou no meio deles” (Mateus18:20). Deus não está confinado a um determinado lugar, mesmo que seja Seu santuário celestial. A presença de Deus depende da nossa busca. Se nosso coração se afasta dEle, com o tempo Ele abandona Seu santuário e o destrói. (Jeremias 7:1-15).
Os adventistas são edificados juntos, em unidade, através da adoração. Temos diferentes culturas, antecedentes, linguagens e raças. Adoramos a Deus em diferentes estilos, formas e lugares. Mas não há diferença diante de Deus. A genuinidade do culto é determinada por sua natureza espiritual, não por seu estilo ou geografia. Jesus disse: “Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade; porque são estes que o Pai procura para Seus adoradores” (João 4:23).
Perguntas para debate
1. Que antiga controvérsia em relação ao lugar de adoração ainda nos persegue hoje? Em que formas ela se manifesta?
2. Qual é o mais importante ingrediente da adoração?
3. Você pode relatar alguma experiência em que ficou agradecido a Deus porque o lugar de culto não se afigurou importante para Ele?
Pr. Stanley Ng Wai-Chun é secretário da Divisão Ásia do Pacífico Norte, com sede em Ilsan, Coréia.
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Fonte: Revista Adventista (Casa Publicadora Brasileira) Nº 10. Outubro, 2002. Ano 98. págs. 12-13.