O Que é Música Sacra?

por: Gerson Pires de Araújo

Atualmente tem havido muito questionamento quanto à música que estamos usando em nossas igrejas nos cultos de adoração. Isto está causando uma divisão de opiniões que não tem trazido aos nossos cultos um espírito de reverência, paz e união.

Neste artigo procuraremos estabelecer certos princípios simples a fim de nossos irmãos em suas igrejas possam ter elementos com que julgar e escolher de modo consciente o que devemos usar para adorar a Deus nos cultos de adoração.

Conceitos de Música

Comecemos pelos conceitos de música e sagrado.

Quanto era criança e estava começando a estudar música, aprendi com minha professora que “música é a arte de combinar os sons que conservam entre si relações lógicas e ordenadas”. Mais recentemente, ao fazer um curso de extensão universitária com renomado músico internacional, ele nos deu uma definição um tanto diferente para a mesma palavra música. Esta seria “todo e qualquer conjunto de sons e ruídos destinados a expressar os estados íntimos da alma”.

Examinemos um pouco estes dois conceitos. O primeiro nos diz que música é uma arte, isto é, uma produção de sons que são combinados entre si de tal maneira que estão de acordo com a lógica e possuem certa ordem, a fim de serem combinações. A lógica é a parte do pensamento humano que estuda as regras ou leis que regem o pensamento válido, isto é, seguem certas regras pré-estabelecidas a fim de que nosso pensamento possa ser entendido ou inteligível. Se eu ajuntar uma porção de palavras, para que sejam entendidas elas terão que estar numa certa ordem e que ter uma relação natural entre elas. Não basta apenas ajuntar palavras; elas devem ter relações determinadas entre si. Por exemplo, seu eu disser: “A bola quadrada deu um grito que nadou pela rua e matou a cadeira”, esta construção de palavras não terá sentido. O mesmo acontece com os sons. Simplesmente ajuntar um grupo de sons que não tenham relações entre si, que não obedeçam a leis predeterminadas, não seria música. Para produzir uma obra de arte uma pessoa deverá seguir ou obedecer a regras que determinam uma boa combinação de sons, cores, linhas, movimentos, que possam estar de acordo com certos padrões ou parâmetros.

Assim como na ética, em que existem padrões de conduta ou leis que determinam o que é bem e o que é mal, o que está certo e o que está errado; da mesma maneira há leis que determinam o que é belo e o que não o é. A estética não é simplesmente produto de uma mente humana que faz alguma coisa sem haver qualquer padrão. Por exemplo: não dizemos que uma pessoa que tenha uma perna ou um braço mais comprido do que o outro, um lado do rosto mais gordo enquanto outro lado é magro, que ela é bonita. Para ser considerada bela, uma obra deve se aproximar tanto quanto possível aos padrões estabelecidos. No caso de culto a Deus é Ele mesmo que estabelece os padrões e não o homem.

Por outro lado, se examinarmos a segunda definição de música, notamos que nesta definição não existe combinação, mas só um conjunto de sons e ruídos. Estes são produzidos apenas para expressar os estados íntimos da alma. Nos dias atuais, o homem tem seu íntimo cheio de frustrações, conflitos, incertezas, dúvidas, revoltas e comete desatinos, violência e atos sem sentido. O mesmo está acontecendo com o que chamam de música. Basta ver o que acontece numa apresentação de música contemporânea moderna. Sons misturados com gritos, berros, guinchos de toda ordem.

O cristão terá que resolver por si que definição ele vai aceitar como sendo música. Qual é o padrão que vai adotar para compor, produzir música. Se for a primeira definição, terá que escolher aceitar os padrões que foram colocados por Deus na natureza. Assim como Deus estabeleceu sua lei para determinar o que é certo e o que é errado, Ele também estabeleceu leis que determinam o que é belo e o que não é. Não compete ao homem estabelecer seu próprio padrão, pois se o fizer e este padrão for diferente do padrão que Deus estabelece, teríamos a essência do que é pecado. Toda e qualquer discordância da vontade de Deus é considerado, por Ele, de pecado.

Elementos da Música

A música é constituída de certos elementos sem os quais não haverá música. O primeiro elemento é o que chamamos de melodia. É uma sucessão de sons que formam, à semelhança de palavras, frases musicais que tenham uma relação lógica e ordenada. Um conjunto de frases musicais forma aquilo que denominamos uma linha melódica, à semelhança de uma linha de pensamento.

O segundo elemento é a produção de sons concomitantes, simultâneos, isto é, produzidos ao mesmo tempo. A esta qualidade chamamos de harmonia. É um grupo de sons tocados juntos e que também tem entre si relações lógicas e ordenadas, isto é, de acordo com certas leis. Para u’a mente estruturada de maneira lógica, os sons harmônicos produzem um senso de prazer e satisfação.

O terceiro elementos é a sucessão de impulso e repouso, ou melhor, de sons fortes e fracos. É o que chamamos de ritmo. Também é um elemento presente na própria natureza. Traz o senso de equilíbrio, de seqüência, de regularidade. Quando esta sucessão de regularidade é desfeita vem o senso de desequilíbrio, de irregularidade, de descontinuidade. Tal é o caso quando na música omitimos o som quando deveria haver um som forte ou quando parte do som fraco se prolonga quando deveria haver um som forte. Chamamos a estes elementos, na música, de síncopes e contratempos.

Existe ainda outro elemento que está diretamente ligado à capacidade humana de suportar um som, sem prejuízo de seu órgão auditivo. Trata-se do volume em que o som é produzido. Nosso ouvido é capaz de suportar um som produzido num volume dentro de certos limites além dos quais nosso aparelho auditivo é prejudicado. Os cientistas já estudaram este elemento e determinaram o limite além do qual o som se torna prejudicial ao ouvido.

Para o uso de todos estes componentes da música há leis que estabelecem o que é certo e o que é errado em relação à arte. Para o cristão, Deus é quem estabelece estas regras, reveladas na natureza, em Sua Palavra e na consciência dirigida pelo Seu Espírito.

Há, contudo, um detalhe importante. Para que a mente humana possa apreciar a música composta de acordo com as leis da melodia, harmonia, ritmo e volume, é preciso que essa mesma mente seja estruturada, ordenada também de acordo com essas leis. Se a mente está desorganizada, desestruturada, acostumada às alterações e desvios das regras, vai não só estranhar, mas rejeitar o que foi composto seguindo-se as leis. Quem está acostumado à música rock, por exemplo, não aprecia a música clássica. Esta vai lhe parecer estranha e de mau gosto. Seria como um viciado em bebida ou drogas viver num ambiente onde não se bebe, não se fuma nem se vive num ambiente obnubilado pelas drogas. Tal ambiente seria um verdadeiro inferno para ele.

Para apreciar música de boa qualidade é necessário que a mente seja educada para isso.

Sagrado ou sacro

Isto quanto à música. O que diremos quanto à palavra sacro? O que quer dizer sagrado?

Se formos olhar num dicionário o que significa sacro ou sagrado notaremos que tem as seguintes conotações: venerável, respeitável, que recebeu consagração, concernente às coisas divinas, ao culto, santo. (Aurélio). Se examinarmos um dicionário da Bíblia, verificaremos que o termo santidade tem o significado de separado, distinto para um fim sagrado, santo, consagrado a Deus, separado do uso comum e dedicado a um uso santo (The New Bible Dictionary, editado por J. D. Douglas, Wm.B. Eerdmans Publ. Co., Grand Rapids, Michigan, 1963).

A ideia é de que usamos algo para um uso sagrado e não para uso comum. Isto nos deve levar a considerar música sacra como música que é composta de acordo com as leis já anteriormente mencionadas (que são leis divinas) acrescida de um caráter sagrado, de uma natureza santa, composta e dirigida para uso do culto a Deus.

A música sacra não deve ser confundida com qualquer música de caráter secular, popular ou profano. Deve ser solene, reverente, melodiosa, controlada. Barulho não é música.

Diz a serva do Senhor que “a música faz parte do culto a Deus nas cortes celestiais e deveríamos nos esforçar, em nossos cânticos de louvor, a aproximarmos tanto quanto possível à harmonia dos coros celestiais” (Counsels on Speech and Song, p. 430). Diz ela ainda: “deve possuir beleza, poder e faculdade de comover”(Evangelismo, p. 505).

Mas para que nos acostumemos a apreciar este tipo de música é necessário que nos dediquemos, já aqui, a aprender e apreciar a música celestial. “A comunhão do Céu começa na Terra. Aqui aprendemos a nota tônica de seu louvor” (Educação, p.168).

Resumindo, podemos dizer que a música sacra tem, entre outras, as seguintes características: simplicidade, harmonia, melodia, equilíbrio, proporcionalidade das partes, sonoridade, clareza e distinção, adequação, sincronia, solenidade, reverência, respeito, majestática, precisa, compreensiva, alegre, séria, espiritual, santificadora.

Qualquer música sem estas características, não é música sacra não importando como a chamemos. Trazer outra coisa para louvar a Deus é trazer fogo estranho diante do altar.


Os editores do Música Sacra e Adoração agradecem ao autor pela disponibilização deste artigo.