O Papel de Lutero – Lutero e a Música Sacra Contemporânea

por: Jaime D. Bezerra

(Comentário baseado no livro: O Cristão e a Música Rock, de Samuele Bacchiocchi(*))

Um argumento popular usado para defender a adoção da música secular (rock) com seus tons e ritmos, é a alegada adoção da música secular no passado por escritores cristãos. Na revista adventista Ministry Setembro de 1996, Anita J. Strawn de Ojeda escreveu que “A história mostra que compositores Cristãos emprestaram elementos da música secular.” Ela se refere especialmente à igreja primitiva e Lutero. Assim, ela alega que se cristãos no passado adotaram e adaptaram música secular para o uso nas suas igrejas, então nós podemos fazer o mesmo hoje.

O exemplo de Lutero é sempre citado por causa de sua enorme influência em introduzir o canto da congregação no tempo da Reforma. Steve Miller escreveu: “O modelo para as suas (Lutero) composições eram as baladas do seu tempo. As melodias eram emprestadas das canções folclóricas Alemãs, a música das massas, e mesmo um hino para Maria. Lutero não estava preocupado com a associação ou origem das melodias assim como estava com sua habilidade para comunicar a verdade.” (O Cristão e a Música Rock, Samuele Bacchiocchi, pág. 34).

Semelhantes afirmações, embora provindas de músicos consagrados, são de fato superficiais e imprecisas, por pelo menos três razões:

Primeira:

Dos trinta e sete hinos compostos por Lutero, somente um possui características de canção folclórica secular. Quinze foram compostas pelo próprio Lutero, treze vieram de hinos em Latim, duas tinham sido originariamente canções de peregrinação religiosa, quatro foram derivadas de canções folclóricas religiosas Alemãs, e duas são de origem desconhecida. (O Cristão e a Música Rock, Samuele Bacchiocchi, pág. 35).

O que a maioria das pessoas ignoram é que mesmo a única música que teve como base uma canção secular, que “aparece no hinário de Lutero e 1535, foi mais tarde substituída por outra melodia no hinário de 1539. Historiadores acreditam que Lutero rejeitou este hino porque as pessoas associavam-no com antigos textos seculares.” (Ulrich S. Leupold. “Learning from Luther? Some Observation on Luther’s Hymns“. Journal of Church Music Nº8 (1966), p. 5).

Segunda:

Lutero mudou a melodia e estrutura rítmica das músicas seculares que ele eventualmente emprestou, em ordem de eliminar qualquer possibilidade de influência mundana. em seu livro, “Martin Luther, His Music, His Message”, Robert Harrel explica que: “A mais efetiva forma de ‘negar’ a influência secular seria interferir no ritmo da música. Por evitar melodias de dança e ritmos de outras canções, Lutero desenvolveu os hinos (chorale) com um ritmo controlado, mas sem o artifício que fizesse o povo lembrar-se do mundo secular. Tão bem sucedido foi o trabalho desenvolvido por Lutero e outros músicos Luteranos, que profissionais tinham sempre dificuldade em detectar origens seculares nos hinos. Outra forma pela qual Lutero procurou remover associações seculares da mente das congregações foi através do uso das Escrituras e alusões bíblicas nos textos. Por preencher os hinos com a Palavra escrita, Lutero procurou dirigir os pensamentos das pessoas à Palavra Viva.” Robert Harrell (nota 43), p. 21 (O Cristão e a Música Rock, Samuele Bacchiocchi, pág.35).

Harrell conclui em seu bem documentado estudo que:

Um estudo dos hinos de Lutero revela dois importantes fatos sobre o uso dos elementos seculares em sua música sagrada:

1- Embora houvesse muita musica popular disponível para ele, das canções de bares às músicas de danças até canções folclóricas religiosas e outras, Lutero escolheu somente as melodias que melhor transmitissem os temas sagrados e evitassem o que fosse vulgar…

2- Nenhum material que Lutero usou para os hinos, ficou sem mudança, exceto o caso já mencionado anteriormente. Na verdade, ele cuidadosamente testou as melodias e considerou, e quando necessário moldou-as ao que fosse melhor… “Alterações eram feitas livremente.” (Idem, Ibidem. págs. 21 e 22).

Terceira:

Lutero arranjava as músicas para os jovens de seu tempo de forma que os levassem para longe das atrações da música mundana. Tal evidência difere da “Musica Cristã Contemporânea” de hoje que retém a melodia e o ritmo do rock secular. Lutero explicou porque ele mudou os arranjos de seus hinos: “Estas canções foram arranjadas em quatro partes por nenhuma outra razão se não a de que eu queria atrair os jovens (que devem e precisam ser treinados em música e em finas artes) para longe das canções românticas e peças carnais e portanto ao invés, dar-lhes algo benéfico, de maneira que eles possam entrar com prazer dentro do que é bom, e que seja proveitoso para o jovem.” (Prefácio de Lutero à coleção de Johann walter referida por Friedch Blume, “Protestant Church Music: A History” (New York, 1974), p. 78).

Que maravilhoso exemplo temos de Martinho Lutero, que evitou tons, ritmos, melodias e o que era secular no seu tempo. Ele sabia que tais sons denegririam a imagem do que era sagrado e permitiriam aos crentes fazerem a diferença do que era mundano e o que era religioso. O uso do que é popular/rock na música Cristã contemporânea só poderá ser justificado por aqueles que não vêem a diferença entre o que é divino e o que é mundano. Usarem o pretexto enganoso de que podemos livremente usar ritmos seculares em música sagrada revela acima de tudo uma falsa concepção de que Deus não é deste mundo e que embora Seus filhos vivam nesta Terra, não são deste mundo. Não teriam aqueles que foram convertidos pelo sangue do Cordeiro melodias e ritmos diferentes dos do mundo? Não possuiriam eles uma inspiração celestial em vez de secular? Talvez a melhor resposta para aqueles que adotam ritmos seculares em seus hinos, seria a de que eles de fato nunca tiveram uma experiência com Cristo a ponto de se consagrarem exclusivamente a Ele. Sendo assim não possuem inspiração o suficiente para não copiarem do mundo.


(*)Nota dos Editores: Você pode ter acesso a todo o livro The Christian & Rock Music de Samuele Bacchiocchi, traduzido para o português (O Cristão e a Música Rock) clicando aqui.


Fonte: Publicado originalmente em http://adventista-aconselho.com