por: Rev. Josivaldo de França Pereira
No evangelho segundo João 4:23-24 o Senhor Jesus, em seu clássico diálogo com a mulher samaritana, declara: Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.
Hoje, há quase dois mil anos após aquela declaração, Deus continua contando com verdadeiros adoradores. Quem são os verdadeiros adoradores?
1. Os Verdadeiros Adoradores são Aqueles que Conhecem a Deus e são Conhecidos por Deus.
Deus não vive numa busca desenfreada por qualquer tipo de adorador que o adore de qualquer maneira. Ele é e sempre será adorado de verdade por aqueles que verdadeiramente lhe pertencem. O verbo grego zeteo (procurar, buscar) sugere exatamente isso. O Pai busca seus eleitos com o intuito de torná-los seus adoradores.
Lembremos da história do profeta Elias e de seu lamento. Por duas vezes ele se queixou a Deus: “Tenho sido zeloso pelo Senhor, Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derribaram os teus altares e mataram os teus profetas à espada; e eu fiquei só, e procuram tirar-me a vida” (I Reis 19:10,14). É como se Elias dissesse assim para Deus: “Senhor, está um caos tremendo em Israel, e eu mesmo não vejo solução para esse país. E tem mais, o Senhor também está com um problemão porque ninguém mais pensa em te adorar, a não ser eu é claro”. A resposta de Deus ao profeta desmotivado foi: Conservei em Israel sete mil, todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda boca que não o beijou (I Reis 19:18). Mais tarde o apóstolo Paulo vai se utilizar desse episódio para falar do futuro de Israel:
Pergunto, pois: terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo? De modo nenhum! Porque eu também sou israelita da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. Deus não rejeitou o seu povo, a quem de antemão conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura refere a respeito de Elias, como insta perante Deus contra Israel, dizendo: Senhor, mataram os teus profetas, arrasaram os teus altares, e só eu fiquei, e procuram tirar-me a vida. Que lhe disse, porém, a resposta divina? Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos diante de Baal. Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça. E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça (Romanos 11:1-6).
Ainda hoje o Senhor conta com o remanescente fiel, não só de judeus, mas também de gentios que formam, juntos, a verdadeira igreja do Deus vivo. Portanto, não se iluda, o Senhor conhece os que lhe pertencem (cf. II Timóteo 2:19) e por esses (você é um deles?) sempre será verdadeiramente adorado.
Não se esqueça: É importante e fundamental conhecer a Deus para que ele seja verdadeiramente adorado, porém, mais importante do que conhecer a Deus é ser conhecido por Deus (veja Mateus 7:21-23; Tito 1:16).
E como os verdadeiros adoradores adoram o Pai?
2. Os Verdadeiros Adoradores Adoram em Espírito e Em Verdade
Nosso Senhor ensinou à samaritana que quem conhece Deus de fato, só pode adorá-lO em espírito e em verdade. Estudiosos da Bíblia têm dado diversas interpretações para a expressão “em espírito e em verdade” de João 4:23-24. [1] Parece razoável entendermos que, ao estabelecer o modo correto de adorar a Deus, isto é, em espírito e em verdade, Jesus estava criticando o culto judaico e o culto samaritano.
Os samaritanos acreditavam que adoravam o mesmo Deus dos judeus, mas não aceitavam as mesmas Escrituras dos judeus, a não ser os cinco primeiros livros, o Pentateuco de Moisés. Como não aceitavam os demais livros da revelação divina (por acharem que eram invenções dos judeus), o culto dos samaritanos era defeituoso. Por isso Jesus disse à mulher: “Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus” (v22). Os samaritanos adoravam “em espírito”, isto é, adoravam aquele que eles não conheciam “com alegria e verdadeiro entusiasmo”. Mas e daí? Não adoravam “em verdade” porque rejeitavam 34 livros do Velho Testamento, a Bíblia de então. A revelação de Deus nas Escrituras é progressiva; portanto, é impossível conhecê-lO verdadeiramente ficando apenas com os cinco primeiros livros da Bíblia. Por outro lado, os judeus aceitavam toda Escritura. Por isso conheciam Deus e tinham tudo para adorá-lO corretamente. “Tinham tudo”, mas não o faziam. Os judeus se limitavam à formalidade de um culto onde o espírito não estava presente. Faltavam emoção, vida e alegria no culto judaico.
Contudo, uma nova era estava surgindo para a adoração. Logo, logo, tanto judeus como samaritanos compreenderiam que para adorar a Deus o que menos importava era o espaço físico. O que conta “não é onde se deve adorar, mas a atitude do coração e da mente, e a obediência à verdade de Deus quanto ao objeto e o método de adoração. Não é o onde, mas o como e o quê o que realmente importa”. [2] Deus quer homens e mulheres que O adorem com o espírito dos samaritanos e a verdade dos judeus. [3]
Notas:
[1] Consulte os comentários bíblicos sobre João 4:23-24.
[2] G. Hendriksen, El evangelio según San Juan (SLC, 1987), pp. 178,9.
[3] É importante observar, porém, que os judeus aceitavam todo o VT, tendo a oportunidade de conhecer tudo o que de Deus se podia conhecer “naquela época”. Entretanto, hoje já não é possível dizer que os judeus conhecem verdadeiramente a Deus porque rejeitam a revelação de Deus em Cristo Jesus, conforme nos é ensinado no Novo Testamento.
Rev. Josivaldo de França Pereira – Pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil (I.P.B.) em Santo André – SP. Bacharel em teologia pelo Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição (J.M.C. – SP), Licenciado em filosofia pela F.A.I. (Faculdades Associadas Ipiranga – SP) e mestrando em missiologia pelo Seminário Teológico Sul Americano (S.T.S.A.) em Londrina – PR.
Fonte: Monergismo.