por: Carlos Renato de Lima Brito
A pergunta que intitula nosso artigo é das mais recorrentes. Pode-se dizer que ela está incluída num assunto ainda maior e mais polêmico que é do relacionamento do crente com a cultura. Em novembro de 2008 escrevi um artigo falando sobre o assunto, mas creio que poucos têm o preparo físico necessário para ler algo tão extenso do computador. Há livros que tratam do assunto como o livro de Ricardo Gondim, “É proibido“, da Editora Mundo Cristão e o livro de Michael Horton chamado “O Cristão e a Cultura“, da editora Cultura Cristã, com que me afino melhor.
Primeiro, é necessário definir bem o que é mundano. Se mundano quer dizer, associado ao sistema caracterizado pelo mal, regido por Satanás, que objetiva deturpar a obra de Deus e promover a mentira e os desejos errados, então um crente jamais pode ouvir música mundana.
Confunde-se freqüentemente o conceito de mundano com o que chamaríamos profano ou secular. Profano é aquilo que não está ligado ao sagrado ou ao religioso da vida. Exemplo: os esportes são profanos, porque estão ligados a uma área da vida que não tem como propósito essencial o de nos ligar a Deus, o de estar na sua presença trazendo uma oferta espiritual ou material, o de nos fazer refletir nas verdades reveladas nas Escrituras e o de reagir de acordo com estas verdades. O profano não é errado em si, foi criado por Deus e deve ser regido pelo sagrado, sendo profundamente influenciado por este. Apesar disso, não é apropriado misturar o sagrado e o profano. Exemplo: não é correto vir ao culto com a camisa do seu time de futebol, short, chuteira e meião, trazendo debaixo do braço uma bola, para tentar acertar um gol numa trave colocada atrás do púlpito, enquanto o grupo de louvor canta “Uma vez Flamengo…”. (Nada contra o Flamengo nem a favor).
Além disso, qualquer coisa que o ser humano faça de bom, mesmo fora da área religiosa é uma manifestação da graça de Deus. Quando um jogador de futebol acerta um chute de fora da grande área e aquela boa faz uma curva no ar, tirando o goleiro da defesa, aquilo foi uma manifestação do favor de Deus para com aquele jogador. O atacante tem um corpo, uma mente, um espírito e emoções contaminadas profundamente pelo pecado. Até suas ações mais puras e bonitas são para Deus como trapo de imundície. Ele só pode fazer qualquer coisa acertada em qualquer área de sua vida se Deus providenciar aquele bem. Isto não quer dizer que o jogador foi salvo. O que o jogador recebeu foi o que a teologia chama graça comum, um favor que Deus concede a todos como manifestação do seu amor incondicional e todo abrangente. “Deus faz com que o sol se levante sobre justos e injustos”.
Deste modo, pode haver música profana que não é mundana. As sinfonias, os concertos, as cantigas de roda, as canções de ninar, a música popular feita com qualidade, sem contrariar a verdade revelada pelas Escrituras, mesmo que não haja menção do evangelho ou da pessoa e obra de Deus, podem ser ouvidas pelo cristão, contanto que este tenha maturidade suficiente para enxergar o Senhor na criação e critério para descartar as músicas profanas que vão contra a verdade revelada.
Aliás, falta muito critério para identificar a música religiosa, ou seja, não-profana, que também é mundana. Que crente não diria que um Ave Maria é uma música mundana? Apesar desse discernimento, falta muito juízo para aquelas músicas religiosas que veiculam na nossa mídia, que verdadeiramente são muito mundanas. É interessante que crentes proíbam suas famílias de ouvir uma música que fala da migração do nordestino do campo para a cidade, por conta da seca, destacando o que Deus criou, mas permitem que seus jovens vão a “shows evangélicos” (estas duas expressões são terrivelmente contraditórias; não pode haver evangelho, onde há culto da personalidade num “show”) em que fazem e verão outros fazerem as mesmas loucuras que os jovens descrentes fariam num show de um artista secular com um estilo de música afim. Nossas famílias de crentes estão entregando as próximas gerações a uma perdição maior do que as famílias do passado. Os pais crentes dizem aos filhos: “Tome este ingresso, filho. Vá se divertir. Você estará louvando a Deus. Já tem um lugar no céu”.
Será que aqueles que pensam estar ouvindo as canções celestiais não foram iludidos pelo acordes que vibram das portas do inferno?
Fonte: ViolaBrito