por: Levi de Paula Tavares
“Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá a Deus.”(Hebreus 12:14 )
“pois está escrito: Sede santos, porque eu sou santo.” (I Pedro 1:16)
É bastante comum hoje em dia vermos muitos músicos que se auto-denominam “ministros da música” e que saem pelas igrejas, afirmando que estão “exercendo o ministério da música” e “ganhando almas” e “louvando ao Senhor”. Mas, apesar da grande proliferação destes “ministros da música”, notamos que a igreja, como um todo, continua na sua condição laodiceana e que estes pretensos “ministérios” não estão conseguindo exercer nenhum poder para a transformação e reavivamento da igreja.
Sabemos que a música tem poder. A própria serva do Senhor nos esclarece que:
“A história dos cânticos da Bíblia está repleta de sugestões quanto aos usos e benefícios da música e do canto. A música, muitas vezes, é pervertida para servir a fins maus, e assim se torna um dos poderes mais sedutores para a tentação. Corretamente empregada, porém, é um dom precioso de Deus, destinado a erguer os pensamentos a coisas altas e nobres, a inspirar e elevar a alma.
Assim como os filhos de Israel, jornadeando pelo deserto, suavizavam pela música de cânticos sagrados a sua viagem, Deus ordena a Seus filhos hoje que alegrem a sua vida peregrina. Poucos meios há eficientes para fixar Suas palavras na memória do que repeti-las em cânticos. E tal cântico tem maravilhoso poder. Tem poder para subjugar as naturezas rudes e incultas; poder para suscitar pensamentos e despertar simpatia, para promover a harmonia de ação e banir a tristeza e os maus pensamentos, os quais destroem o ânimo e debilitam o esforço.
É um dos meios mais eficazes para impressionar o coração com as verdades espirituais. Quantas vezes à alma oprimida e pronta a desesperar, vêm à memória algumas das palavras de Deus – as de um estribilho, há muito esquecido, de um hino da infância – e as tentações perdem o seu poder, a vida assume nova significação e novo propósito, e o ânimo e a alegria se comunicam a outras almas!” (Educação, pág. 166 – 167)
Ora, a pergunta que nos fazemos é: Se a música tem todo este poder, porque tantos “ministros da música”, não conseguem levar a igreja a um reavivamento e uma reconsagração que motivem uma reforma espiritual de grandes proporções na igreja? Isto realmente nos causa espanto, e esta questão nos preocupa. Teria Ellen White se enganado com respeito ao poder da música? Ou será que é esta música que está sendo apresentada que não tem poder? Ou será que estes “ministros” é que não estão dando o sonido certo, conforme I Coríntios 14:8?
Se buscarmos uma resposta com o apoio da Revelação, à luz da Palavra de Deus, a resposta é simples, embora dura: isto acontece simplesmente porque estes pretensos “ministros” não vivem em santidade. Faz-se muito, fala-se muito, ensaia-se muito, multidões os aclamam, mas não existe uma preocupação com a parte espiritual, que é o fundamento de qualquer coisa que se faça na área da religião, em nome de Deus. Em muitos casos, nestes “ministérios”, existe uma preocupação excessiva com o lado técnico, com a qualidade dos arranjos, com a musicalidade, com a sonoplastia, com a técnica vocal, com o aspecto visual e estético, com a mídia e as fotos, com a produção, com o lançamento do CD, e não sobra tempo para se preocupar em orar, em buscar a comunhão, em humilhar-se, estudar a Palavra de Deus e principalmente, aproximar-se de Cristo e conhece-Lo. Poderíamos aplicar aqui a segunda parte de Mateus 23:23 “e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas.”
A respeito deste assunto, Ellen White nos deixou o seguinte conselho:
“Os instrumentos de música têm tomado o tempo que devia ter sido dedicado à oração. A música, quando não abusiva, é uma grande bênção; mas quando usada erroneamente, é uma terrível maldição. Ela estimula, mas não comunica a força e a coragem que o cristão só pode encontrar no trono da graça enquanto humildemente faz conhecidas suas necessidades e, com fortes clamores e lágrimas, suplica força celestial para se fortificar contra as poderosas tentações do maligno. Satanás está levando cativa a juventude. Oh, que posso eu dizer para levá-los a quebrar seu poder de sedução! Ele é um hábil sedutor para levá-los à perdição.” (Testimonies, vol. 1, págs. 496 e 497.)
Ministrar, no contexto a que nos referimos, significa “apresentar”, ou seja, “exibir, mostrar, pôr na presença de, indicar”. Mas estamos falando de ministrar (ou apresentar) o que? O aspecto que estamos enfocando está em consonância com Marcos 16:15 – “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura”, ou seja, estamos falando de ministrar a Palavra àqueles que tem fome e sede do evangelho.
Porém, para alcançar tal objetivo, a comunhão é absolutamente necessária, porque não é possível ministrar aquilo que não se recebeu. Aos discípulos, a ordem acima foi dada depois de passarem três anos e meio com o Mestre, e terem recebido dEle a mensagem de salvação. Presenciaram Seus milagres, viram a Sua comunhão com o Pai e testemunharam Seu sacrifício supremo em favor da humanidade. E, mesmo assim, só saíram para pregar após aplainarem todas as arestas pessoais e receberem a unção do Espírito Santo no dia do Pentecostes (Atos 2). O próprio Cristo orientou-os para que fosse assim: “E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai porém, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder” (Lucas 24:49). Antes de converter, era preciso que estivessem convertidos, antes de dar, precisavam receber, para ter o que dar. Precisamos buscar o conhecimento de Deus e de seus propósitos, e precisamos buscar experiências cada vez mais profundas com Deus, fortalecendo a nossa intimidade com o Espírito Santo, abrindo-nos à sua obra transformadora.
Conforme vimos, nos textos destacados no início deste artigo, Deus tem princípios inegociáveis, e pela sua santidade, Ele exige santidade das pessoas que se chegam a Ele. Poderíamos dizer: “Ora, se for assim, ninguém pode chegar diante de Deus, porque ninguém é santo!” Mas a única resposta que podemos dar é dizer que quem pensa desta forma não conhece a Palavra de Deus nem o Seu poder para transformar vidas. O salmista dizia: “Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve” (Salmos 51:7). Através de Isaías, Deus nos convida a argumentarmos com Ele a este respeito: “Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados são como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que são vermelhos como o carmesim, tornar-se-ão como a lã” (Isaías 1:18). Jeremias também nos fala desta transformação maravilhosa e misteriosa na vida do verdadeiro crente: “Pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas malhas? Então podereis também vós fazer o bem, habituados que estais a fazer o mal” (Jeremias 13:23).
Evidentemente que esta transformação está além de nossas forças. Assim, quando olhamos para nós mesmos, não vemos como seríamos capazes de nos chegarmos ao trono de graça, pois somos pecadores e indignos diante de Deus. O profeta Isaías pensou que morreria quando contemplou em visão o trono de Deus (Isaías 6:5). Mas a graça está ao nosso alcance. Basta desviarmos o foco de nós mesmos e contemplarmos o Salvador, que foi morto e ressurgiu e agora está à direita do Pai (Romanos 8:34; Hebreus 8:1; Apocalipse 5:12). Basta buscarmos a comunhão e a santificação, de forma sincera e contínua, e seremos revestidos do perdão e da graça divinos. O apóstolo Paulo nos fala desta oportunidade aberta através do sacrifício de Cristo a todo crente: “Cheguemo-nos, pois, confiadamente ao trono da graça, para que recebamos misericórdia e achemos graça, a fim de sermos socorridos no momento oportuno” (Hebreus 4:16). E, finalmente, Pedro completa: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (I Pedro 2:9). Tendo considerado estes textos, como então, à luz da Palavra de Deus, um verdadeiro crente pode dizer que não é santo? Para isto fomos chamados e desta forma somos considerados pelo céus!
Mas, tristemente, temos visto a preocupação com os aplausos, com o gosto popular, com os números, tanto na platéia quanto na caixa registradora, tomarem o lugar daquilo que é realmente importante. E a igreja segue, moribunda espiritualmente, mas dizendo para si mesma: “Estou rico(a), adquiri riquezas e não preciso de nada.” Porém, a resposta de Deus é fulminante: “Não reconhece, porém, que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego e nu” (Apocalipse 3:17 – NVI). Não poderia haver condição pior para uma igreja, da qual Deus ainda espera tanto, e que possui tantos “ministros” de um elemento tão poderoso quanto a música.
“Religião não é limitar-se a formas e cerimônias exteriores. A religião que vem de Deus é a única que leva a Ele. Para O servirmos devidamente, é mister nascermos do divino Espírito. Isso purificará o coração e renovará a mente, dando-nos nova capacidade para conhecer e amar a Deus. Comunicar-nos-á voluntária obediência a todos os Seus reclamos. Esse é o verdadeiro culto. É o fruto da operação do Espírito Santo. É pelo Espírito que toda prece sincera é ditada, e tal prece é aceitável a Deus. Onde quer que a alma se dilate em busca de Deus, aí é manifesta a obra do Espírito, e Deus Se revelará a essa alma. A tais adoradores Ele busca. Espera recebê-los, e torná-los Seus filhos e filhas.” (O Desejado de Todas as Nações, pág. 189 – ênfase acrescentada)
Não podemos esperar que Deus aprove, abençoe e faça frutificar a ministérios cujo seus integrantes não tem uma vida espiritual plena, não tem santidade. O culto, que deveria ser o auge da adoração solene a um Deus santo, dirigido por tais “ministros”, torna-se apenas um espetáculo, momentos de entretenimento, onde em vez da reverência, busca-se o prazer, em vez da solenidade, a excitação. Isso é uma tristeza, pois um culto de adoração, sem a aceitação por parte de Deus, que deveria ser o objeto desta adoração, não tem o menor sentido.
Mais uma vez, Ellen White, de forma inspirada nos adverte:
“Muitos andam interrogativos e perturbados. Isto é porque não têm fé em Deus. Para alguns, os cultos não significam mais que um tempo agradável. Quando seus sentimentos são despertados, pensam que estão grandemente abençoados. Alguns não acham que são abençoados a menos que sejam agitados e exaltados. A intoxicação do excitamento é o objetivo que buscam; e, se o não obtêm, julgam tudo estar errado com eles, ou que algum outro o está.
O povo não deve ser educado a pensar que a religião emocional, tocando as raias do fanatismo, é a única religião pura. Sob a influência de tal religião, espera-se que o ministro empregue toda a sua energia nervosa no pregar o evangelho. Precisa derramar com abundância a poderosa corrente d’água da vida. Precisa trazer goles estimulantes que sejam aceitáveis ao apetite humano. Alguns há que, a não ser que suas emoções enfraquecidas sejam estimuladas, pensam que podem estar descuidosos e desatentos.” Carta 89, 1902.
“Se trabalharmos para criar excitação do sentimento, teremos tudo quanto queremos, e mais do que possivelmente podemos saber como manejar. (…) Importa não considerar nossa obra criar excitação. Unicamente o Espírito de Deus pode criar um entusiasmo são. Deixai que Deus opere, e ande o instrumento humano silenciosamente diante dEle, vigiando, esperando, orando, olhando a Jesus a todo momento, conduzido e controlado pelo precioso Espírito que é luz e vida” (Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 16-17)
Você, que trabalha diligentemente na música na igreja, tem notado a música que você tem apresentado, exercendo um poder restaurador da espiritualidade daqueles que te ouvem? A igreja tem sido verdadeiramente edificada, como Corpo de Cristo, através dos teus cânticos e melodias? Te convido agora a fazer esta análise sinceramente, entre você e Deus. Deixe que o Espírito Santo fale ao teu coração; conheça o que a Revelação tem a dizer sobre este assunto. Procure diligentemente conhecer a vontade de Deus e busque dos céus forças para realiza-la. Que a nossa amada igreja tenha centenas, milhares de verdadeiros ministros da música, mas ministros que ousadamente empunhem a bandeira da verdade, e que a ministrem, revestidos do Espírito Santo, aos demais membros, levando a igreja a estar pronta para os eventos que diante de nós estão.
“Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (João 4: 23-24).
Sejamos nós verdadeiros adoradores!