por: Antonio Carlos Gonçalves Mataruna
Considero que o ministério de música foi instituído por Davi, logo após sua investidura como rei de Israel, sendo, portanto, bíblico. Concluo assim depois de examinar o texto de 1 Crônicas 6.31-48, o qual narra que Davi, logo que a arca foi colocada no tabernáculo, constituiu um certo número de levitas, das descendências de Asafe, Hemã e Jedútun, sobre o serviço de canto da casa do Senhor, os quais ministravam com cântico diante do tabernáculo da tenda da revelação, até que Salomão erguesse o templo em Jerusalém. Diz também a Bíblia que esse foi o dia em que pela primeira vez, Davi definiu que os louvores fossem dados através do ministério dos levitas escolhidos (1 Crônicas 16.7), ordenados, encarregados por ele, e que a tarefa desses levitas era de ministrar continuamente perante a arca (1 Crônicas 16.37), sendo isentos de outros serviços (1 Crônicas 9.33). Mas esses levitas não foram ordenados porque fossem simpáticos ou bonzinhos, mas porque conheciam a música, eram entendidos (1 Crônicas 16.22), “instruídos em cantar ao Senhor, todos eles mestres” (1 Crônicas 25.7). Mais tarde, quando Salomão levou a arca para o templo, logo após a sua construção, os levitas ministraram o louvor no primeiro holocausto oferecido a Deus naquele lugar (2 Crônicas 5.12.14), o qual a glória do Senhor encheu completamente de forma maravilhosa.
No tempo de Neemias, quando Ciro liberou liberou os judeus para voltarem para Judá e para Jerusalém e edificarem o templo que havia sido destruído, lá estavam os levitas, filhos de Asafe, os cantores (Esdras 2.41), contados entre os que compuseram a primeira leva dos que voltaram. E durante a obra de reconstrução dos alicerces do templo, lá estavam os filhos de Asafe, louvando, segundo a ordem dada por Davi (Esdras 3.10).
“Que negócio é esse de Ministério de Música?” Esse é o título de um artigo que escrevi e que foi publicado em O Jornal Batista de 15/11/98, do qual destaco o seguinte:
“Qualquer igreja pode ter um ministério de música? É claro que sim, desde que a igreja tenha a visão dos benefícios da atuação desse ministério, enxergue espiritual e materialmente o seu alcance e assuma o compromisso investir nele, sustentando um obreiro para ministrá-lo.”
Na verdade, o ministério de música sempre existe na vida de uma igreja pois ele é o conjunto de todas as suas atividades musicais. O que pode acontecer é ele não estar organizado, não tendo uma pessoa vocacionada e preparada para coordenar as suas atividades, atuando como ministro(a) de música. Mais precisamente, esse ministério abrange tanto as atividades de culto representadas por canto congregacional, execução de instrumentos, regência, canto coral, canto solístico e outros, como as atividades de educação musical, preparando pessoas para atuarem na área da música. Ministério de música é, enfim, tudo que se acha envolvido com a música sacra, a música que se canta na igreja.
A figura do(a) ministro(a) de música ainda é muito nova nas igrejas batistas do Brasil. Nos Estados Unidos essa nomenclatura surgiu no início do século XX mas só veio a se popularizar por volta de 1945-1950 (Jubilate, p. 62). Chamamos de ministro(a) de música, aquele(a) obreiro(a) vocacionado(a), formado(a) como bacharel em música sacra por uma de nossas instituições teológicas e consagrado(a) por uma igreja para servir nessa área de atividades. O(a) ministro(a) de música é mais do que um(a) musicista. Ele, ou ela, também é um ministro(a) da Palavra. Alguns usam dizer que o(a) ministro(a) de música é o(a) pastor(a) dos músicos de sua igreja. Não deixa de ser pois, apesar de não ter estudado Grego, Hebraico, Exegese e algumas outras disciplinas existentes no currículo do curso de Teologia, ele(a) teve de estudar Antigo Testamento, Novo Testamento, Teologia Sistemática, Introdução Bíblica, História do Cristianismo, Homilética e outras disciplinas ligadas à proclamação da Palavra de Deus. O(a) ministro(a) de música deve estar apto para pregar a palavra também na forma falada, além da cantada. Também porque deve pastorear os que atuam no ministério de música. Dentro do mesmo pensamento, todos os que executam a música no culto, principalmente os cantores, são verdadeiros pregadores através da música.
Donald Hustad diz que os ministros de música são realmente músicos profissionais, não somente dirigindo e promovendo a música em suas igrejas, mas às vezes servindo regendo, cantando ou tocando. Diz ele ainda que tais ministros atuam como educadores de música levando a igreja a entender e a cantar a música em vários estilos, na proporção apropriada e com precisão harmônica (Jubilate, p. 61). Há muito o que fazer no campo da educação musical de uma igreja. As atribuições do ministro de música são: coordenar a participação dos músicos nas reuniões da igreja (execução de instrumentos, canto, regência), orientar os procedimentos musicais (estilo, forma, etc.), orientar na escolha das peças musicais (conteúdo, teologia, doutrina, etc.), administrar a aquisição e a manutenção dos instrumentos, planejar e programar a educação musical dos musicistas e dos membros em geral, auxiliar o pastor na composição da ordem de culto (músicas e textos), promover eventos musicais educacionais, e outros.
Infelizmente, muitos pastores têm tido dificuldade para entender e aceitar o papel desempenhado por um(a) ministro(a) de música, assim como para entender e aceitar a soberania de Cristo através da sua igreja, não atentando para o fato de que um ministro não é chefe, nem dono, mas é servo (a palavra ministro foi traduzida da palavra grega diakonos, que significa servo. Tais obreiros, por isso, não abrem espaço para a atuação de um(a) ministro(a) de música no ministério global das igrejas que servem, o que impede que elas sejam mais abençoadas através de um ministério de música organizado. Muitas igrejas se acham musicalmente fracas por falta desse(a) obreiro(a), não tendo um programa de aprimoramento do louvor cantado em seus cultos nem ordens de culto bem preparadas.
BIBLIOGRAFIA
HUSTAD, DONALD P. Jubilate – A música na igreja. Tradução de Jubilate! Church music in the evangelical tradition. São Paulo: Edições Vida Nova, 1991. 310 p.
SEGLER, FRANKLIN M. Christian Worship: Its theology and practice. Nashville: Broadman Press, 1967.
Fonte: Publicado originalmente em: http://musicanoculto.xpg.uol.com.br/