por: Joel Sarli [1]
Bastava que as palavras “O passarinho voa” ecoassem até aquela cabecinha tenra de uma criança de um ano apenas, para que ela erguesse os bracinhos e impulsionasse as mãozinhas numa clara identificação do que se cantava.
Benditas as mães que plantam nos corações ainda no verdor dos anos a preciosa semente do evangelho através dos hinos infantis. Somente na eternidade saberão do resultado real desta despretensiosa contribuição para a formação do caráter de seu filho. Que oportunidade têm os pais e professores de formar na mente infantil sólidas ideias de Deus e de Seu amor através da música!
Como resultado do desinteresse de muitas mães quanto ao que os filhos cantam, uma legião de jovens da igreja está escravizada pela música satânica de nosso tempo.
“Há oportunidades de inestimável valor, interesses infinitamente preciosos confiados a toda mãe[2]“. “Ela pode fazer retas veredas para os pés dos filhos através de claridade e sombra em direção às alturas gloriosas do Céu[3]“.
A alma infantil, melhor que em qualquer outro estágio da vida, recebe duradouras impressões. As verdades lançadas no coraçãozinho de uma criança “se cristalizam e não se apagam mais”. Os hinos que levamos dos primeiros anos da nossa vida e as verdades que eles encerram acompanham-nos até a velhice.
Prezados leitores, entre os meios que a igreja tem planejado para ajudar seus filhos está a coleção de hinos infantis que já faz parte de nossa tradição abençoada. Que chuveiro de bênçãos pode se constituir para todo lar a coleção de hinos infantis encontrada no hinário Louvores Infantis! [4] Que delicadeza nas linhas dos poemas e que sabor na composição musical! E tudo isto feito para o nosso filho. Para o bem do seu futuro. O mundo moderno está coalhado de uma espécie de música que corrompe e que leva a alma a uma escravidão doentia do ritmo e de acordes mal formados. Temos que tomar amplas providências para que este tipo de música não venha pôr em perigo a integridade moral do nosso próprio lar. As crianças devem estar alheias a estas canções baratas que crescem livremente pelo mundo, e devem ter sempre um hino nos lábios, para que não haja lugar para as coisas de Satanás.
O sábado também deve ser reverenciado pela espécie de música que entra pela porta de nossa casa, tanto pela que cantamos, como pela que ouvimos. O sábado é santo e santo deve ser aquilo que cantamos e ouvimos nos seus momentos.
Modernamente muito se fala em música “Clássica” própria para se ouvir em casa e mesmo ser usada na igreja, por este caminho uma verdadeira profanação está se processando, tanto nas igrejas como no altar das famílias[5].
Estas tais músicas “clássicas” estão tirando dos recessos familiares a voz de Deus que está presente nas mensagens dos hinos. Já não se canta mais. Já não se aprecia a mensagem que uma composição contém, e tudo isto é feito com base numa pretensa afirmativa de que a arte vem de Deus.
Quando os vossos filhos se tornarem moços e moças, podeis ter a certeza de que a simplicidade de um sábado repleto de coisas peculiares de nossa igreja, tais como os hinos e a leitura dos nossos livros e da Palavra de Deus, tudo num ambiente familiar, trará saudade ao coração e esta saudade é em realidade uma verdadeira corrente de segurança para a juventude.
O ouvido da criança que se acostuma a passar os sábados envolvida com as coisas da igreja, tipicamente da igreja, se chocará ante a prejudicial liberdade de misturar o santo com o profano, mesmo com o pretexto de cultura.
E nesta altura cabe-nos dizer que compete aos pais promover uma censura cristã na discoteca da família, emudecer o receptor de rádio quando necessário e orientar os filhos naquilo que hão de ouvir na eletrola[6], na semana e no sábado. Nestes dias superabundantes de coisas perniciosas com aparência de boas, importa que nos mantenhamos como verdadeiras sentinelas das avenidas da alma de nossos filhos. Jamais poderemos contemporizar com o frouxo cristianismo que narcotiza o mundo e que, deixando de ser religião, está se tornando sofisticação social. Não podemos permitir que os demônios, pela música, rabisquem a brancura da alma de nossos filhos, preciosa herança que Deus nos deu, mas devemos traçar para eles retas veredas, rumo à eternidade.
Corre o mundo uma espécie de musiquetas perniciosas inspiradas em ternas levianos e diabólicos. Prezados leitores, ao invés de macularmos a pureza da alma infantil com as tais “modinhas”, por que não fazer dos impressivos anos da infância verdadeiros depósitos de verdades espirituais, base para um sólido caráter?
Porque trocar estes temas, “Foi no Nilo que Moisés”, “Noé que está batendo”, “Jesus escuta o rogar terninho” e tantos outros, por matéria doentia que mina a solidez dos anos futuros?
Prezados leitores, abandonemos falsas pretensões de cultura! Volvamo-nos decididamente para a simplicidade das verdades de Deus. Ensinemos para os nossos filhos as preciosas mensagens do Livro de Deus, que os nossos hinos contêm. Prendamo-nos mais às coisas da igreja e aos ideais cristãos e haveremos de conservar nossa família toda em torno do altar da verdade, até que Jesus venha nas nuvens do céu.
Notas:
[1]Agradecemos à Loide Simon por esta contribuição ao Música Sacra e Adoração.
[2]E. G. White. Patriarcas e Profetas, p. 612.
[3]Idem, ibidem.
[4]O hinário “Louvores Infantis”, citado no texto, era uma extensa coletânea de hinos infantis, muito bem editada e impressa pela nossa Casa Publicadora Brasileira. Os editores do Música Sacra e Adoração lamentam que esta coletânea não seja mais editada.
[5] Notamos que o autor se refere ao estilo de música clássica (ou erudita) denominada de secular ou profana, ou seja, aquela que não é sacra. Presumimos que o autor se refere ao estilo conhecido como “música ligeira”, muito em voga à epoca em que o artigo foi escrito. Não é a música “clássica” sacra que é condenada aqui, em favor de uma música popular, mas uma música secular que tira o adorador do contexto do sábado e da contemplação a Deus (própria para esse dia). (nota dos editores do Música Sacra e Adoração).
[6] O que é dito com relação ao “receptor de rádio” deve ser ainda mais perfeitamente aplicável ao aparelho de televisão. O termo “eletrola” designava os antigos aparelhos para reprodução de música gravada em discos. Este termo caiu em desuso, mas a ideia do autor aplica-se perfeitamente aos estrondosos equipamentos de som, seja em casa, no carro ou mesmo na igreja. O cuidado deve ser o mesmo, ou ainda maior! (nota dos editores do Música Sacra e Adoração).
Fonte: Revista Adventista. Setembro de 1964, pp. 11-12.