O Cristão, a Cultura e a Música Secular

por: Prof. Valdecir Simões Lima

Introdução

Música e cultura estão interligadas de tal forma que não há como estudar um povo sem estudar também suas manifestações artísticas. É sabido que a música é um elemento formador da cultura de qualquer cidadão. A música secular em nosso país é apenas um dos muitos elementos que sempre estiveram presentes como expressão cultural da nossa sociedade. Para analisarmos os pontos que ligam a música à cultura, definiremos cultura como: “o conjunto complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes e quaisquer capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”(1) e música secular como qualquer música produzida por indivíduos seculares e que não tenha o objetivo específico de louvar a Deus.

Na sociedade contemporânea é claramente perceptível uma íntima ligação entre as propostas inovadoras do mundo artístico com as mudanças de comportamento de forma geral. Remetendo-nos às inovações musicais da última metade do século XX percebemos nitidamente que elas proporcionaram uma sensível revolução no estilo de vida e no comportamento social das pessoas. O Rock’n Roll no mundo, a Bossa Nova e a Jovem Guarda no Brasil, a guitarra elétrica e o ritmo vibrante; o festival de Woodstock nos EUA e os célebres slogans: “Faça amor, não faça guerra”, “Sexo, drogas e rock and roll” deixaram marcas tão visíveis que podem ser notadas até pelos olhos menos analíticos.

Com vistas ao enobrecimento prometido pelas artes e sentindo os graves problemas advindos dessa mesma manifestação, levanta-se um dilema ao qual este trabalho se propõe a estudar: como situar a música secular entre as fontes provedoras de cultura para o cristão, uma vez que ela pode tão facilmente ser questionada quando utilizada para fins espirituais?

Este estudo se propõe a analisar o relacionamento entre a cultura moderna e o ideal de vida cristã. Como conciliar essas duas vertentes aparentemente opostas? Para tanto, passaremos a uma rápida análise da sociedade contemporânea, ou pós-moderna, e em seguida trataremos do relacionamento entre a cultura, mais especificamente a música secular, e a vida do cristão moderno. Afinal de contas, é possível para o cristão viver sem essas influências seculares? É adequado utilizar-se desse tipo de fonte? Se sim; qual é o limite?

1. O Pós-modernismo e a Cultura

Quando falamos de cultura pós-moderna, precisamos nos remeter ao contexto da cultura ocidental a partir da década de 1950, época que marcou o início de uma contracultura, que explodiu através do mundo e se disseminou com a rebeldia dos anos 1960. Havia, na verdade, um amadurecimento do mundo de então para uma atitude de ruptura e arrombamento próprio das vanguardas.

Embora muitos especialistas e estudiosos trabalhem sempre reformulando seu próprio conceito de pós-moderno, percebemos que “alguns teóricos (…) definem pós-modernidade como a crise das narrativas mestras, ou seja, dos sistemas totalizantes”.(2) Dessa forma, há uma pluralidade de conceitos no pós-modernismo. “Pós-moderno não é uma tendência que possa ser delimitada cronologicamente, mas uma categoria espiritual, um modo de operar”.(3)

De fato, a cultura ocidental, a partir dos anos 50, passou a vivenciar novas formas de pensar e agir. O autor Proença Filho (1995) destaca algumas características desse momento: desenvolvimento da sociedade de consumo, valorização da prevalência do impulso e da espontaneidade sobre a razão, superação crescente da paixão sobre o racionalismo, presença marcante da informação na caracterização da visão de mundo dos indivíduos, desmaterialização do mundo real, que se converte em signo, simulacro, atuação política assumida por grupos setoriais representativos, como as etnias minoritárias e eliminação de fronteiras entre arte erudita e popular.

Partindo desse princípio, resumem-se, consistentemente, as principais características do pós-moderno: “desreferencialização do Real, desmaterialização da Economia, desestetização da Arte, desconstrução da Filosofia, despolitização da Sociedade, dessubstancialização do sujeito”.(4)

Com relação à área social pós-moderna do mundo ocidental, sua caracterização é feita da seguinte forma: “gigantescos monopólios [que] concentram o controle da informação, gerando enormes dificuldades para aqueles que procuram auto-determinação e autonomia política”; entretanto, “um espaço crítico é aberto”(5) e esse espaço tem um nome e chama-se arte.

É por meio da arte que vêm os questionamentos e releituras de nosso tempo. Em uma sociedade onde até o homem é dessubstancializado, a música torna-se uma voz que se levanta paralelamente aos acontecimentos sociais e políticos, para criticar, repensar, mas principalmente para estabelecer os conceitos pós-modernos. Afinal, a música também é vítima das mesmas características desse momento histórico. Segundo Bloom (1987), a música, especificamente, se tornou o negócio mais lucrativo do capitalismo. Os temas são o sexo, o ódio, e uma versão hipócrita do amor. Visando o lucro, explora-se toda forma de entretenimento sem levar em consideração o crescimento moral, intelectual e físico do homem.

Por outro lado, a pós-modernidade não é culpada pelas mazelas de nosso tempo. O que o pós-modernismo fez foi revelar em fortes cores a degeneração ética de todos os ramos sociais e artísticos iniciada há muito tempo. Esse raciocínio dá origem a uma compreensão mais clara sobre a moralidade que envolve as coisas nesta geração em contraposição às gerações passadas.

Muitos crêem que as condições sociais e as manifestações artísticas do passado proporcionavam um estado mais propício para a estabilidade da vida de um cristão. Entretanto, o que podemos perceber é que hoje nossa sociedade está apenas mais amadurecida, apenas mais distante dos trilhos, à semelhança de um vagão, que desgovernado caminha em direção ao abismo. A manifestação amplificada pelo tempo é que expõe a gravidade do momento.

Todas as formas de arte estão em decadência e não é seguro dependermos do passado. “Nunca digas: por que foram os dias passados melhores do que estes? Porque nunca com sabedoria isto perguntarias” (Eclesiastes 7:10). Mesmo a música erudita mostrou sinais de degradação e deu origem a muita manifestação pós-moderna, “em 1910, Schoenberg e Stravinski injetam harmonia dissonantes, à primeira audição desagradáveis. É uma arte irracional, emotiva, humanista”.(6) E isso nos faz crer que nem o popular moderno nem o erudito clássico garantem pobreza ou nobreza moral. Um erudito Bolero de Ravel já exala sensualidade à medida que tem o compasso das relações sexuais.

O fato é que as sociedades pós-modernas, distanciadas do paradigma bíblico-cristão, colocam a identidade do cristão em cheque. Vivendo nesse mundo, facilmente pode-se ter sua identidade oscilando, ou seja, os muitos discursos e o choque de ideologias podem levar o cristão a uma vida de constante ansiedade e dubiedade.

As molduras de referência ou paradigmas sociais se alteraram porque a sociedade é dinâmica. Não haveria problema nisso se essas mudanças não interferissem nos inegociáveis princípios divinos. Sob a ótica da cosmovisão cristã, acreditamos que separado de Deus, o homem não tem onde se apoiar. Se na pós-modernidade só viceja o nada, o vazio, a ausência de valores e sentido para a vida, somos levados a questionar todas as ofertas dessa sociedade e pensamos que nada que ela nos oferece é confiável.

As músicas seculares refletem a verdade de seu tempo, onde “os grandes temas das canções são o sexo, o ódio, e uma versão hipócrita do amor fraternal. Fontes tão poluídas deságuam numa corrente lodosa onde só monstros conseguem nadar”.(7) Este é um extremo onde quase toda a manifestação artística chegou: literatura, teatro, pintura, poesia, etc. O homem cristão definitivamente não pode confiar nos valores dessa sociedade. O que parecia águas calmas tornou-se um rodamoinho descontrolado. Vivendo nessa época de grandes armadilhas sociais, o problema que nos afeta é que o mundo da música secular é muito amplo. Ele envolve todas as manifestações musicais seculares que englobam o folclore, hinos cívicos, cantigas de ninar, músicas de raiz, country, sertanejo, jazz, erudito clássico, pop, rock, heavy metal, etc.

Nesse mundo encontram-se inúmeros estilos musicais, distribuídos de tal forma que se torna fácil distinguir os extremos, mas quase impossível determinar o limite entre eles. De um lado, os Hinos Pátrios, cantigas de ninar, canções folclóricas, poemas musicados sobre a Natureza, amizade ou amor. Do outro lado, as músicas de conteúdo imoral, violento e agressivo, reconhecidamente inconvenientes e sobejamente analisadas e criticadas, como o rock’n roll, o funk, o rap, etc. A decisão não é difícil. A própria crítica secular esbanja argumentos sobre a inocência de um estilo e a perniciosidade do outro.

Sendo assim, percebe-se que o problema da música secular reside numa questão de escolha; e as escolhas só são seguras sob orientação espiritual. Na impossibilidade de se detectar o perigo, a segurança não está em regras ou orientações entre o certo e o errado, e podemos ser enganados com facilidade se tentarmos buscar a sabedoria por nós mesmos “porque vão é o socorro da parte do homem” (Salmos 108:12). Assim, o problema surge quando temos que fazer escolhas apoiados em opiniões humanas, pois elas podem ser inteligentes, bem intencionadas, mas não devem ser norteadoras da mentalidade cristã.

Ellen G. White, comentando uma música secular que ouviu certa vez, afirmou que a música era boa porque não feria os sentidos.(8) A questão não é perguntar o que é uma música secular que fere os sentidos ou até onde podemos ir sem ferir os sentidos porque aqueles que querem respostas que lhes satisfaçam o gosto particular encontram embasamento para qualquer tipo de resposta que desejarem. No mundo pós-moderno, a linha divisória entre o aceitável e o não aceitável é tênue e incerta. Só uma sintonia fina espiritual será capaz de promover discernimento.

2. Secular versus sacro?

A música acompanha o ser humano mesmo antes de seu nascimento. Ela está tão interligada à vida que, por se tornar imprescindível, não há ser humano que não sofra sua influência. “A vida é som. Continuamente estamos cercados de sons e ruídos oriundos da natureza e das várias formas de vida que ela produz. (…) Todas as crianças, sem exceção, nascem com capacidade musical, voz e ouvido. (…) A própria natureza é que nos dá a música; o que dela fazemos varia conforme o temperamento, a educação, o povo, a raça e a época”.(9)

Da mesma maneira, a música é vital à religião, necessária ao culto e à adoração. “Apresentemo-nos ante a sua face com louvores” (Salmo 95:2). “A música é um dos melhores veículos para manter a memória viva, e o meio mais efetivo para impressionar o coração com a verdade espiritual”.(10) Neste aspecto, encontramos um ponto de ligação entre a música secular e a música sacra pois nota-se que a música faz parte da vida e da adoração. Ademais, cânticos cristãos e algumas canções seculares têm temas comuns. Temas que enaltecem o relacionamento entre os seres humanos, a Natureza e os costumes, e são apresentados em variadas formas, ritmos e estilos.

Com certeza, os pontos em comum não as tornam homogêneas e, por causa disso, de maneira alguma deveria o cristão ter uma postura de acomodação diante de suas fontes de influência. A música secular e a cultura pertencem a esse universo e não devem nortear os princípios comportamentais daquele que busca segurança e autenticidade espiritual nestes tempos. Entretanto, não se pode negar a inevitável relação do homem com sua cultura e nem os pontos comuns existentes entre a cultura e o cristianismo.

Mas, até onde a intimidade entre música secular e cultura é benéfica à vida cristã? O que não é sacro é secular; e a linha divisória entre essas duas formas pode ser muito sutil. Portanto, faz-se necessário explorar um pouco mais o significado da palavra “secular”.

“Secular: Pertencente ao século; profano, leigo, temporal”.(11) Pode ser interpretado como toda produção relacionada com a vida, o mundo e os costumes, e que não apresente uma relação direta com a religião. Se entendermos a palavra mundo como a cultura dominante, facilmente perceberemos que até mesmo o cristão relaciona-se com os costumes de sua época, posto que ele é influenciado, consciente e inconscientemente, pelas ideologias, filosofias, comportamentos, tradições e molduras de referência de seu tempo e espaço. Ademais, todo homem, em qualquer época, deve ter as suas necessidades sociais básicas atendidas para que consiga sobreviver.

Segundo Graça (1988), além da satisfação das necessidades físicas (comer, abrigar-se, procriar), as sociedades humanas devem oferecer aos indivíduos condições para:

Raciocinar sobre o mundo que os cerca, para entendê-lo – ciência; transformar a natureza para utilizá-la; fabricar objetos inexistentes nela – técnica; partilhar das decisões de interesse coletivo e da administração dos bens públicos – política; a tuar dentro de um sistema de produção e de distribuição dos produtos do trabalho – economia; escolher e julgar comportamentos dentro dos padrões de “certo” e de “errado” na comunidade – moral; jogar, brincar, divertir-se, participar de festas, rituais e atividades esportivas – lazer; criar e recriar formas expressivas que, por sua beleza, agradem aos indivíduos – arte; participar de crenças e formas de culto – religião.(12)

Esse é o conjunto das atividades sociais que transformam um ser humano em um cidadão. Dentre essas atividades destacamos duas que são de especial interesse para este trabalho: Arte e Religião. Ao se relacionar essas duas atividades formadoras da cultura, surge um problema: existe compatibilidade entre a música secular, que é uma das mais populares formas de arte, e a religião, visto que são aparentemente antagônicas em essência?

Segundo esse autor, a religião é um elemento entre os vários componentes da cultura; ela está colocada ao lado da arte, da economia e do lazer. Isso pode parecer correto, mas carrega em si um sério equívoco. A religião, para os cristãos, não é uma atividade social que se soma às demais. Ela é uma atividade superior, da qual procedem todas as outras. “Não podemos, por um momento, separar-nos de Cristo com segurança. Podemos contar com Sua presença para assistir-nos a cada passo, mas somente observando nós as condições que Ele mesmo estabeleceu. A religião deve tornar-se o grande negócio da vida, tudo o mais deve ficar subordinado a ela.Todas as nossas faculdades morais, físicas e espirituais devem empenhar-se na batalha crista”.(13) (grifo acrescentado).

Se a religião é posta no mesmo nível de importância das outras atividades culturais, a tendência natural é dividir a vida em duas partes, o sacro e o secular, subestimando assim o valor da religião que deve ser soberano.

A Bíblia afirma que embora o povo de Israel muitas vezes tivesse rejeitado a Deus como seu único líder, Deus continuava a dirigir o Seu povo por meio dos profetas, juízes e reis. Este ideal ainda vale para os cristãos de hoje. Numa sociedade teocrática, como a intencionada por Deus, o trabalho, o lazer, a ciência, a moral, a técnica, a formação da família, bem como a arte, fazem parte de uma organização divina e são componentes de um plano superior.

Todas as atividades desenvolvidas pela sociedade israelita, mesmo as atividades que hoje seriam classificadas como seculares, tinham um objetivo divino, uma missão espiritual: alcançar o propósito de Deus para ela. A música tinha o objetivo do louvor a Deus, mesmo quando cantada na guerra. “Aconselhou-se com o povo, e ordenou cantores para o Senhor, que, vestidos de ornamentos sagrados, e marchando à frente do exército, louvassem a Deus, dizendo: Rendei graças ao Senhor, porque a sua misericórdia dura para sempre” (II Crôn. 20:22). Os provérbios de Salomão sempre foram considerados sacros, mesmo aqueles que não mencionam fatos relacionados ao templo ou a Deus. O livro de Ester, na Bíblia, nem sequer menciona o nome de Deus; porém ninguém questiona se essa obra literária é sacra ou não. Isso se deve ao fato de que tanto a ciência quanto as artes eram dimensionadas a louvar o Criador. As técnicas empregadas no trabalho e na guerra eram utilizadas sob a orientação divina. Os juízes que orientavam o povo e o conduzia nos parâmetros do certo ou errado, o faziam sob a moral teocrática. A diferença entre o certo e o errado, moral, era diretamente orientada por Deus. Os profetas, juízes e reis desse regime consultavam a Deus em busca de orientação para seus julgamentos e iniciativas pacíficas ou bélicas.

Entretanto, os cristãos do mundo democrático que acreditam ser este o único regime social aceitável, vivem uma vida de constante tensão. Para esses cristãos, no período de domingo a sexta-feira todas as atividades são seculares. As atividades sacras são reservadas do pôr-do-sol na sexta, ao pôr-do-sol no sábado, que é o dia do Senhor (Êxodo 20:8). Essa dicotomia é tão grave que altera toda a compreensão da adoração e do estilo de vida cristã.

Desta forma conclui-se, erradamente, que qualquer dia que não seja o sábado é do homem (secular) e não temos compromisso espiritual nele. Esse raciocínio é a cristalização do que foi ensinado às crianças por muito tempo através de uma singela melodia infantil que diz: “Um, dois, três, quatro, cinco, seis para nós, e o sétimo é pra Cristo”.

A democracia ensina que na vida de cada indivíduo deve haver a separação entre o que é de Deus e o que é do homem. Mas a única verdade é que tudo na vida do cristão deve ser feito para Cristo: o esporte, a ciência, o trabalho, as artes (música), etc. Quanto à análise da música, é certo que a Bíblia afirma que “o sábado é do Senhor teu Deus” (Êxodo 20:10) e “que o Filho do Homem é também Senhor do sábado”, mas deixa claro que “o sábado foi feito para o homem” (Marcos 2:27, 28).

O cristão precisa pôr a Deus em primeiro lugar, mas mesmo a democracia, que é o governo do povo, não permite que Deus ocupe esse espaço. O primeiro lugar na democracia pertence exclusivamente ao povo, mas essa rejeição a Deus é sublimada, permitindo-se que Ele seja cultuado através da religião, hoje relegada ao nível de um elemento a mais entre os vários formadores da cultura. O verdadeiro cristão, porém, embora se submeta ao regime democrático, prioriza os princípios teocráticos que regem sua vida.

Vivendo espiritualmente submisso ao regime teocrático, entende-se que tudo deve ser feito, em qualquer tempo, para louvar a Deus. Mas as boas novas são que, a despeito das mudanças sociais e políticas a que estamos submetidos, ainda podemos viver sob o regime teocrático, como o Israel individual de Deus.

Esse raciocínio nos leva a pensar que enquanto se é guiado pela filosofia de que de domingo a sexta vivemos para nós e no sábado para Deus, seremos inconstantes e incertos quanto à música e adoração propícias. Se não houver esse nível de discernimento, inevitavelmente o cristão se torna absolutamente vulnerável. É o Espírito, que por conhecer todos os caminhos, orienta as escolhas entre o certo e o errado sobre o que ouvir, e não as pesquisas acadêmicas. “O grande repositório da verdade é a Palavra de Deus (…) o livro da experiência no trato de Deus para com a vida humana. (…) Na pesquisa da verdade devem confiar em Deus e não na inteligência dos grandes homens, cuja sabedoria é loucura para Deus”.(14)

O problema da música secular na vida do cristão fica resolvido quando ele é guiado pelo Espírito Santo, ou seja, quando ele é submetido à moral, religião, princípios e costumes do regime teocrático. Só assim será possível utilizar a música secular e ainda adorar a Deus. Entretanto, só será possível selecionar, com segurança, a música secular que utilizaremos quando houver o discernimento que só o Espírito Santo pode dar. Esta é uma questão de fé.

Se os pés dos cristãos estão fincados no ambiente social e esse chão se desloca, onde irão eles se apoiar? A resposta é simples: na fé. “O justo viverá pela fé” (Romanos 1:17).

Considerações Finais

Na realidade pós-moderna, ninguém vive isento das influências da sua e de várias outras culturas. Até mesmo aqueles que têm um estilo de vida baseado em uma filosofia que conteste os padrões vigentes, como é o caso dos cristãos, não podem viver isoladamente.

Entretanto, esse mundo moderno descartou a Deus, e tudo o que ele produz e oferece aos seus cidadãos pertence unicamente a este século, ou seja, é secular. Sendo assim, o problema não está na contemporaneidade da música secular, mas em se expor ingenuamente à influência das artes, modernas ou antigas, clássicas ou populares, em detrimento do fortalecimento espiritual. E essa proteção que vem de uma vida de fé só é possível quando, individualmente, o cristão assume um estilo de vida teocrático. Se não for assim, as questões que são próprias deste mundo, ou seja, o dinheiro, a globalização, o poder, a luta de classes, o sexo, os entretenimentos em todas as suas formas, a mídia, as propagandas, o consumismo, a violência e todas as demais forças pós-modernas alterarão o seu comportamento e aniquilarão sua pureza espiritual.

A maioria dos trabalhos científicos relacionados com esse tema analisa os meandros da música e seus percalços objetivamente; porém nenhum deles apresenta soluções absolutamente cristãs, baseadas na fé. Eles põem às claras os problemas técnicos do Rock, da música erudita burguesa, porém, deixam de enfatizar Cristo como a única alternativa capaz de orientar o caminho.

Outros analisam os estilos de música secular colocando-os como os vilões do cristianismo, porém não revelam que quando Deus não ocupa o primeiro lugar em sua vida, outro deus o preencherá: ou o Rock, ou a Nova Era, ou o secularismo em todas as suas formas. O fato é que o vazio que o cristão negligencia em preencher com a espiritualidade, o nosso século cuidará em preencher com qualquer outro conteúdo.

Muitas pessoas estão perdidas em meio a águas pouco ou muito poluídas, mas venenosas o suficiente para matar a espiritualidade de todo aquele que se afasta da verdadeira Fonte segura. Talvez isso ocorra porque falar do Espírito como alternativa para solucionar problemas não seja uma atitude muito acadêmica para o nosso tempo.

O discurso de que o cristão precisa, portanto, não é o resultado da própria inteligência humana contra as artimanhas do secularismo, essa é uma concorrência desleal. O que o cristão necessita, de fato, é dar espaço ao Espírito Santo para esclarecer suas questões e exercer a fé.

A grande verdade é que, agora, não é hora de impor nossas ideias liberais ou conservadoras, nem de usar o academismo ou o poder para preencher uma lacuna que só pode ser preenchida com o Espírito. A Bíblia ressalta: “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada” (Tiago 1:5).

Uma vez que dependemos deste mundo e não podemos sair dele, temos que considerar mais uma vez a oração de Jesus: “Não peço que os tires do mundo; e, sim, que os guardes do mal“, pois isso nos prova que a despeito de nos relacionarmos
inevitavelmente com questões deste século, temos a esperança de sermos guardados do mal e o dever, como afirma Paulo, de não nos conformarmos com ele: “Não vos conformeis com este século” (João 17:15 e Romanos 12:2).

É significativo analisar as fontes que nos influenciam, mas só o Espírito nos libertará de sua influência degenerativa. A Bíblia pode não ter objetivamente todas as respostas, mas ela nos coloca em contato com Aquele que as tem.


Notas

1 HERSKOVITS, Melville J. El hombre y sus obras. México, Fondo de Cultura Económica, 1952. p. 29. (voltar)

2 GUELFI, Maria Lúcia Fernandes. Narciso na sala de espelhos . Tese de doutorado. PUC-Rio, 1994, pág. 3. (voltar)

3 ECO, Umberto. Pós-escrito ‘O nome da rosa’ . Rio de Janeiro, Nova Fronteira. 1985, pág. 55. (voltar)

4 SANTOS, Jair Ferrerira dos. O que É Pós-Moderno. São Paulo, Brasiliense, 1986, pág. 108. (voltar)

5 GUELFI, Maria Lúcia Fernandes. Narciso na sala de espelhos . Tese de doutorado. PUC-Rio, 1994, pág. 10. (voltar)

6 SANTOS, Jair Ferrerira dos. O que É Pós-Moderno. São Paulo, Brasiliense, 1986, pág. 36. (voltar)

7 BLOOM, Allan. O Declínio da Cultura Ocidental: da crise da universidade à crise da sociedade. 3a ed. São Paulo, Best Seller, 1987, pág. 95. (voltar)

8 Carta 6b, págs. 2 e 3 . Escrita ao desembarcar na Nova Zelândia em Fevereiro de 1893. (voltar)

9 CLARET, Martin. O Poder da Música. São Paulo, Editora Martin Claret, 1996, pág. 9. (voltar)

10 LaRondelle apud HOLMES, Raymond. Lecture for Theology and Ministry of Worship. S. America, 1996, Lecture 8 pág. 11. (voltar)

11 FERREIRA, Aurélio Buarque de H. Novo Aurélio Século XXI . São Paulo, Nova Fronteira, 1999. (voltar)

12 GRAÇA, Paulino. Literatura: participação e prazer. São Paulo: FTD, 1988, pág. 11. (voltar)

13 WHITE, Ellen G. Santificação. Santo André, Casa Publicadora Brasileira, 1977, pág. 104. (voltar)

14 WHITE, Ellen G. Parábolas de Jesus. Santo André, Casa Publicadora Brasileira, 1976, pág 125. (voltar)


Referências Bibliográficas

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Valdecir Simões Lima é Professor de Curso de Teologia e Comunicação do Unasp; Compositor e Regente do Coral
da Faculdade de Teologia do Unasp do Centro Universitário Adventista de São Paulo – Campus Engenheiro Coelho-SP


Fonte: Revista Kerigma – Ano 5 – nº 1 – 1º Semestre de 2009, pp. 5-19