O Adorador

Adoração é Muito Mais Que Uma Canção

por: Jorge Luis Jesuino

Infelizmente, existe em grande parte de nossos ministérios musicais, uma “Liturgia” que une a adoração congregacional exclusivamente com canções. Poucos líderes se preocupam com elementos de adoração a Deus que não seja a música. No livro de Atos, temos um exemplo de quatro dessas atitudes de adoração que, muitas vezes, são completamente distintas da música.

“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.” (Atos 2:42).

Aqui temos quatro grandes elementos que precisamos incluir em nossa lista de necessidades de um grupo de Louvor & Adoração. Eles devem ser as prioridades absolutas em nossos grupos musicais, como também em nossa vida de adoração pessoal. Neste estudo, tentaremos trazer a realidade um pouco destes “elementos” que muitas vezes são negligenciados dentro de nossos ministérios musicais, e portanto em nossas adorações congregacionais.

Verdade

“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, …”

Precisamos compreender, antes de qualquer coisa, que VERDADE se distingue totalmente de leis e regras impostas por homens que buscam satisfazer sua necessidade de poder ou justiça. Deus odeia esse tipo de religião, assim como Max Lucado (Quando os Anjos Silenciaram), quando diz: “Ela (religião) oprime o povo, contamina os líderes e corrompe seus filhos”.

Jesus sempre condenou a religião composta apenas de regras. Fez suas mais duras críticas, aos religiosos que baseavam sua adoração em leis injustas e rígidas. Conclamou o povo a uma única verdade simples, e a resumiu numa única frase: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.” (Lucas 10:27). Pronto, está definido que a verdade bíblica se baseia em amor a Deus e respeito ao próximo.

Jack Hayford (Adorai Sua Majestade) diz algo, que creio servir para nossa reflexão: “A palavra que só informa sem inspirar, ou que só confronta sem instilar esperança, pode ser ortodoxa, mas é também contraproducente.”

Quase todos sabemos que não somos salvos através de boas obras, mas poucos são os que transferem esta verdade para a adoração. Muitos músicos crêem que ensaiando muito, receberão de Deus o título de “Adorador do Ano”. Outros, Líderes de Adoração, acreditam que tocando diariamente, compondo quase que semanalmente e vendendo seus Cds mensalmente, receberão o disco de Ouro da “Céu’s Recordes”. Isso é tentar ser um adorador pelo que se faz, não pelo que se é.

“Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens.” (Mateus 15:8,9)

Precisamos nos aproximar de Deus, através de uma adoração baseada na verdade descrita pela Palavra. Sempre quando leio o texto de Mateus 15 (e vários outros também) tenho a nítida impressão que a MOTIVAÇÃO vale para Deus mais que a ação. O motivo pelo qual cantamos nossas músicas é muito mais importante que as músicas em si mesmas.

Você pode estar se perguntando o que quero dizer com tudo isso, note: A palavra de Deus (verdade) nos impede que tropecemos em nosso orgulho e corrupção, mas os métodos humanos nos levam a eles. Sabe porque? Porque “Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro, e ilumina os olhos.” (Salmo 19:8)

Isso é uma inversão total de valores (principalmente para nós músicos e ministros), pois quando nos prendemos a verdade bíblica, Deus automaticamente passa a ser o centro de nossa vida e ministério. E tê-Lo no centro de nosso ministério, evita que caiamos no legalismo farisaico, assim como os sacerdotes da época de Cristo.

Comunhão

“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, …”

Um dos ingredientes mais complexos da verdade é a comunhão que ela exige de nós. Isso mesmo, a partir do momento que você coloca Deus no centro de sua vida, impreterivelmente os “outros filhos” virão junto com Ele. Passaremos então a usufruir a COMUNHÃO com os irmãos, quer gostemos ou não.

Pense um pouco comigo e leia o que diz I João 1:7: “Mas, se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado.” Baseado nisso, cremos que não exista qualquer possibilidade de separar a comunhão horizontal (pessoas) da vertical (Deus), temos que aprender a conviver com ambas.

Em uma de suas pregações na igreja que pastoreia em São Paulo (Projeto Ágape) o pastor Sandro Baggio disse: “Relacionamentos saudáveis nunca acontecem por acaso; é preciso aprender a desenvolve-los.” Nós, como igreja, precisamos aprender imediatamente como nos relacionar, e buscar esta comunhão com nossos irmãos (cristãos ou não-cristãos), pois foi por elas que Jesus morreu em uma cruz e nos deu uma missão de amor.

Nós cristãos, muitas vezes, temos um sentimento secreto de superioridade sobre as outras pessoas, principalmente as não-cristãs. Acreditamos que nossa obrigação é a de mostrar seus erros e desmascarar o inimigo em suas vidas. Sempre nos esquecemos (ou buscamos esquecer) que na verdade, temos que traze-las para nosso convívio pessoal, pois Jesus morreu pela remissão de pecados, como também morreu para que TODOS tivéssemos uma família e um lar.

Até drogados, homossexuais, aidéticos, mães solteiras, pecadores em geral tem direito a esta mesma família de Cristo. Philip Yancey (Maravilhosa Graça) diz: “Com demasiada freqüência, a igreja levanta um espelho refletindo a sociedade que a cerca, em vez de uma janela revelando um caminho diferente.” O mundo está cansado de leis e acusações vinda de nós, os “santos”, as pessoas já sofrem demais com os pecados que cometem para ter de ouvir mais acusações de nós cristãos.

Devíamos ter muito mais comunhão com o mundo que nos cerca, segundo Dietrich Bonhoeffer (Teólogo alemão morto por Hitler pouco antes de terminar a 2ª guerra mundial) “no mundo em que vivemos, os cristãos devem ser uma colônia do verdadeiro lar”. Devemos refletir, a vida que Cristo nos ensinou. Uma vida de amor a Deus e ao Próximo, Verdade e Comunhão.

O ministério musical que a igreja busca é um grupo de pessoas que estejam dispostas a serem esta colônia, onde as pessoas que buscam a presença de Deus, tendo comunhão conosco, aprendam a viver a verdade. Um lugar onde se aponta unicamente para pessoa de Deus e de seu Filho, não para nossas músicas e/ou erros pessoais.

Onde o amor seja a principal verdade ensinada em nossas adorações congregacionais, e a comunhão entre os irmãos é uma realidade impactante sobre o mundo decaído e com tanta falta de relacionamentos. Dwight L. Moody disse algo sobre o porque da necessidade de um lugar assim: “De cem homens, um lerá a bíblia; noventa e nove lerão o cristão.” Se tivermos atitudes de um adorador que busca a comunhão entre TODOS os irmãos, faremos uma verdadeira revolução de louvor no mundo.

“E eis que uma mulher Cananéia, que saíra daquelas cercanias, clamou, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim, que minha filha está miseravelmente endemoninhada.” (Mateus 15:22)

Você já se perguntou porque Jesus tinha tanto contato com pessoas de “baixa moral” e a igreja atual tem tão pouco? Porque as pessoas procuravam Jesus descrevendo seus problemas abertamente e a igreja atual não? Porque as pessoas mal podiam esperar para estar perto de Jesus e odeiam ir a um culto?

Porque elas querem ir a igreja para ver a Deus e seu Filho, não para ouvir como seus erros e fracassos os farão sofrer. Procuram uma experiência de adoração com o Deus que ouviram falar que alivia suas dores e perdoa seus pecados. Poucos ministérios têm interesse por essas almas, falta COMUNHÃO em nossa adoração. Falta um interesse real de conversão de almas na maioria de nossos ministros musicais. Preocupamo-nos em demasia com ensaios, reuniões, músicas, melodia e células rítmicas, para pensar em qualquer outra coisa.

Serviço

“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, …”

O serviço traz propósito à adoração. Na verdade, adquirimos uma dupla responsabilidade quando assumimos a Verdade & Comunhão como peças fundamentais em nosso ministério. Além de louvar a Deus, a adoração nos impulsiona ao serviço ao próximo. A experiência de adoração que temos enche-nos de amor, e esse amor é levado aos que necessitam dele.

Por isso, adoração e evangelismo, estão intimamente ligados, um te leva ao outro, um não consegue viver sem o outro. Separa-los é como tentar distinguir o gás-carbônico do oxigênio enquanto respiramos, é algo impossível de se fazer com nossos narizes.

“Se alguém me serve, siga-me, e onde eu estiver, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, meu Pai o honrará.” (João 12:26)

Quando digo que o serviço é uma peça essencial numa vida de adoração, sei que adquiro muitos inimigos, pois nós músicos temos um ego muito forte. Todos nós (principalmente eu) preferimos ser servidos a servir outros. Temos uma necessidade acima da média por honra ou reconhecimento, mas para o desespero de alguns (inclusive o meu): o maior de todos os mestres serviu toda uma nação com seus dons, sabedoria e também com sua morte. Por isso ele sempre será nosso exemplo máximo de ministério e também de serviço.

O serviço é tão importante para o bom funcionamento de um ministério de música e/ou para nossas vidas de adoração, que John C. Maxwell (As 21 Indispensáveis Qualidades de um Líder) chega a dizer que “As pessoas não se importaram com quanto você sabe, até que saibam quanto você se importa”.

Isso é radicalmente oposto, e até indecente, para o líder musical que considera o profissionalismo perfeccionista (isso é radicalmente diferente da Excelência) como forma de governo para seu ministério e para sua adoração. Apesar de trazer boas coisas para dentro de um grupo de música, o profissionalismo traz também uma certa necessidade de se “auto-completar”, sendo assim, qualquer ajuda externa é descartada, inclusive a de Deus.

Concordo em todos os sentidos com Rory Noland (Coração do Artista) quando diz: “O serviço cristão é uma noção de contracultura; vai contra a natureza humana”. É por isso que o serviço cristão (principalmente o musical) é tão contestado e até refutado por muitos hoje em dia.

Temos que nos concentrar em servir as pessoas, em suas necessidades, com nossos dons e talentos – mesmos os musicais e artísticos. Noland diz que o “ministério não diz respeito a nós e a nossos talentos maravilhosos. Diz respeito às pessoas.” É por isso que Pedro tão habilmente nos ensina que “Cada um administre (sirva) aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus.” (I Pedro 4:10)

Jesus (Marcos 10:45) disse: “Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos.” É por isso que quando se via frente à multidão de pessoas que o acompanhava tinha “grande compaixão delas, porque andavam cansadas e desgarradas, como ovelhas que não têm pastor.” (Mateus 9:36). Seu ministério estava totalmente voltado as pessoas, era para elas (pessoas) que tinha vindo.

Precisamos desesperadamente, de líderes musicais, que quando estiverem no palco, olhem as pessoas com os mesmos olhos de Jesus. Que tenham compaixão delas e seu coração chore por suas necessidades. E se disponha a fazer todo o possível para que as almas se tratem no “hospital da Adoração”. Que elas (pessoas) sejam a prioridade em sua ministração, colocando assim a música em seu devido lugar.

Sei que o serviço é muitas vezes árduo, as pessoas muitas vezes abusam da graça que estamos dispensando a elas, abusam de nosso amor e de nosso respeito. Mas Foi Jesus quem disse: “Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento.” (Marcos 2:17) Temos que entender que elas estão, muitas vezes, doentes e precisam de remédios, como o da adoração.

Oração

“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.” (Atos 2:42).

Eu poderia enfocar a oração como elemento de adoração por vários ângulos diferentes. Existem excelentes livros e estudos que falam somente de oração, e sua aplicação numa vida cristã de adoração. Mas vou tomar emprestado de John Piper (Teologia da Alegria) algo que resume o que gostaria de dizer sobre este elemento: “A oração sempre te leva à plenitude do Espírito e a razão disso é que ela é o centro nervoso de nossa comunhão (adoração) com Jesus.”

Se tentarmos cumprir aquilo para o qual fomos chamados, mantendo nossas responsabilidades perante Ele e a congregação em nossas mentes, nossa Oração deve ser feita dentro do sentido de Adoração & Serviço.

“Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito.” (João 15:7)

A pastora Gisela Guth (IMMEI – Cuiabá, Mateus) disse certa vez que “a oração é a mola que move o braço de Deus, então, como sacerdotes e ministros, devemos usa-la em benefício do próximo.” Um dos motivos da oração ser grandemente negligenciada em nossos ministérios musicais é o fato de que não entendemos seu propósito de Adoração & Serviço. E nossa maior (para não dizer única) responsabilidade é justamente adorar e servir.

A oração é essencial nesse processo porque é um dos principais fatores bidirecionais de nosso relacionamento com Deus. Talvez Charles Spurgeon, tenha sido um dos primeiros a descobrir esta verdade quando disse: “Quando se trata de oração, Deus e a pessoa que ora, são parceiras.” Deus nos ama de tal forma, e está tão interessado em nos auxiliar, que nos deu um meio de interagirmos com ele.

Um Ministério Musical sem o elemento da oração é tremendamente perigoso (para não dizer catastrófico). A falta da oração nos leva, dentre outros, a falta de conhecimento de Deus e de seu caráter, e nunca conseguiremos adorar quem não conhecemos.

Creio que até agora não tenha dito nada de novo em relação à oração, todos sabemos destas coisas, e talvez você esteja até começando a sentir um certo sono enquanto lê este tópico do estudo. Você vai me dizer (com toda certeza) que tem condições de me dar uma aula sobre esse assunto, pois minha explanação está muito fraca. Mas então, se todos sabemos de sua importância, porque a oração é tão desprezada (ou despreparada) em nossos Ministérios Musicais?

Um dos motivos que mais acredito é o de que a oração, através do tempo, passou a ser desconsidera como um exercício de adoração, e sim mais uma simples obrigação cristã. A utilizamos, muitas vezes, por mero constrangimento no início e final de nossos ensaios (afinal temos que mostrar uma certa espiritualidade), algumas vezes lembramos de faze-la durante algum estudo e/ou trabalho pessoal, e mais raramente ainda em nossa casa. E quando fazemos, apenas pedimos, de forma egoísta, algo que supra nossas necessidades.

“Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua. E apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia.” (Lucas 22:42,43)

Jesus mais uma vez nos da o exemplo máximo. No Monte das Oliveiras fez uma de suas orações mais profundas de toda sua história. Ele, de forma magnífica, conseguiu colocar numa única frase de oração, a Adoração & Serviço de tal forma, que Deus lhe enviou um anjo para lhe confortar e ajudar.

Quando nos posicionamos em relação à oração, com o espírito correto, Deus da forma mais natural possível, passa a cuidar de nossas necessidades. Ele tem prazer em nos “presentear” com sua doce e amável presença, suprindo todo e qualquer desejo que tenhamos em nosso coração. Alem de passarmos a ter experiências fantásticas do poder e graça divina.

Conclusão

“Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens buscar a lei porque ele é o mensageiro do SENHOR dos Exércitos.” (Malaquias 2:7)

Sei que muitas vezes posso passar a impressão que sou contra qualquer tipo de musicalidade, mas na verdade não é isso. Eu apenas busco coloca-la no lugar que creio ser certo. Realmente penso que os elementos descritos acima são de vital importância para nossos ministérios musicais, muito mais que a mera aplicação de regras melódicas e de conceitos harmônicos. Porque como já disse, a MOTIVAÇÃO (e aqui posso dizer caráter) define nossos métodos.

Quando tivermos a oportunidade de termos boas músicas que se baseiem prioritariamente nos quatro elementos descritos acima, então teremos canções que causem um tremendo impacto na sociedade em que vivemos. Iremos trazer a realidade os elementos da adoração que as pessoas necessitam para ter uma “oportunidade única” com o Deus que fez todas as coisas, inclusive nossa música.

Musicalidade é importante, mas buscar ter um ministério musical baseado nesses elementos da vida cristã (Verdade, Comunhão, Serviço e Oração), é ter a certeza absoluta que conseguirá compor, ministrar e executar músicas que contenham unção & música, ADORAÇÃO & ARTE.


Fonte: Publicado originalmente em http://www.gospelmusiccafe.com.br/seminario07.asp


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