por: Alfredo Aeschlimann [1]
1. A Alma Humana Tem Sede de Deus
É indubitável que toda pessoa normal no âmbito intelectual, moral e espiritual sabe ou sente que o ser humano não deve sua existência ao acaso. Sabe e sente que existe um Ser superior, Criador de todas as coisas. Ao mesmo tempo, essas pessoas se sentem atraídas; consciente ou inconscientemente, para esse Ser superior que lhes inspira reverência, amor e o desejo de prestar-Lhe adoração.
Esses sentimentos inatos ao ser humano foram belamente expressos por Davi no Salmo 42. “Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por Ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: quando irei e me verei perante a face de Deus?”.
Todo verdadeiro cristão participa dos sentimentos expressados pelo salmista e se une a ele quando disse: “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor”. Iremos à casa de Deus para prestar-Lhe culto e adoração.
Falando certo dia com a samaritana, Jesus lhe disse: “Vem a hora, e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. (…) Deus é espírito; e importa que os Seus adoradores O adorem em espírito e em verdade”. (S. João 4:23 e 24). Não é suficiente ir à casa de Deus, adorar a Deus e prestar-Lhe culto; é necessário que essa adoração e culto sejam oferecidos a Deus e sejam aceitos por Ele como a oferta de Abel, e não rejeitados como a de Caim.
2. Que é um Ato de Culto e Adoração?
Para poder adorar a Deus em espírito e em verdade é necessário ter clara ideia do que é um culto. O culto pode ser particular, familiar ou público. Quando é realizado com o devido espírito e em forma correta, o culto é uma entrevista com Deus. Quando não é particular ou familiar, geralmente constitui um serviço ou reunião de um grupo de cristãos celebrado num lugar destinado para isso, como uma capela, um templo, etc.
O Dicionário da Bíblia de W.W. Rand, ao explicar o que é o culto declara o seguinte: “Reverência suprema que só é devida a Deus. Inclui adoração, louvor, ações de graça, confissão do pecado, imploração de graça e a consideração da vontade divina”.
O Dicionário Bíblico Adventista faz o seguinte comentário sobre a palavra “culto”: “A atitude de humildade, reverência, honra, devoção e adoração que caracteriza apropriadamente a relação dos seres criados com seu Criador, especialmente em Sua presença”.
Resumindo, podemos dizer que um ato de culto é uma reunião dedicada à adoração e ao louvor a Deus mediante o canto e testemunhos pessoais dos fiéis. É uma ocasião para falar com Deus por meio da oração e de ouvir a Deus pela exposição de Sua Palavra e pelas impressões do Espírito Santo. É uma oportunidade de estar em comunhão com Deus e dos fiéis entre si. É um meio para promover o crescimento espiritual.
3. A Importância do Culto
O que foi exposto nos pontos anteriores é suficiente para compreendermos a grande importância que a adoração e o culto têm para os filhos de Deus.
A importância do culto se baseia em nossa grande necessidade. O ser humano precisa estar em comunhão com o seu Criador; precisa abrir o coração a Deus em oração. Precisa ouvir a voz de Deus pela exposição da Palavra. O cristão necessita do companheirismo de Cristo, O qual disse: “Onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, ali estou no meio deles”. (Mateus 18:20).
É importante que dediquemos todos os dias algum tempo para o culto pessoal e particular. E necessário dedicar também de manhã e à tarde algum tempo ao culto familiar. É mister ir à casa de Deus e participar no culto coletivo ou público. Ao estudar a Bíblia e os escritos de Ellen G. White[2], torna-se claro que estas três espécies de culto são importantes e necessárias para o crescimento espiritual, embora neste trabalho, por falta de espaço, façamos principalmente alusão ao culto público.
Como cristãos devemos dar tanta importância aos cultos que consideremos um privilégio e, de certo modo, também um dever ir à casa de Deus para adorá-Lo. Por isso disse Davi: “Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do Senhor que nos criou. Ele é o nosso Deus, e nós povo do Seu pasto e ovelhas da Sua mão”. (Salmo 95:6 e 7). Por isso Deus disse por boca de Joel: “Tocai a trombeta em Sião, proclamai um santo jejum, proclamai uma assembléia solene. Congregai o povo, santificai a congregação”. (Joel 2:15 e 16). Por isso Sofonias acrescenta: “Concentra-te e examina-te. (…) Buscai o Senhor vós todos os mansos da Terra”. (Sofonias 2:1 e 3).
Do mesmo modo que uma brasa que está só se apaga, também o cristão que não assiste aos cultos da igreja se esfria e acaba se apagando espiritualmente. Por isso o apóstolo Paulo aconselha: “Não abandonemos a nossa própria congregação, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações; e tanto mais quanto vedes que o dia se aproxima”. (Hebreus 10:25).
4. Os Aspectos Físicos e sua Relação como Culto
Ao considerar a dignificação do culto não podemos passar por alto certos aspectos físicos que favorecem ou desfavorecem os serviços de adoração. O tabernáculo no deserto era simples, mas belo. O Templo de Salomão é considerado por muitos como uma das sete maravilhas do mundo antigo.
Tendo em conta a importância dos cultos, devemos instalar nossos templos e capelas em lugares tranqüilos, respeitáveis e, se possível, bonitos. Nossas casas de culto podem ser simples, mas devem ser bem acabadas e bem cuidadas. Devem ser pintadas de cores apropriadas. O mobiliário, como o púlpito, os bancos e as cadeiras, deve estar em boas condições. Sempre deve haver ordem e escrupuloso asseio em tudo.
É necessário prestar atenção às salas auxiliares, à sala pastoral, ao batistério, aos jardins, aos pátios e também aos serviços higiênicos. Deve haver utensílios adequados para os serviços especiais, como batismos, Ceia do Senhor e Cerimônia da Humildade. Os adornos devem ser bem feitos e a tempo. Tudo que se relaciona com a casa de Deus, tem que ver direta ou indiretamente com os cultos e por isso é necessário prestar-lhe cuidadosa atenção.
“Para a alma crente e humilde, a casa de Deus na Terra é como que a porta do Céu. Os cânticos de louvor, a oração, a palavra ministrada pelos embaixadores do Senhor, são os meios que Deus proveu para preparar um povo para a assembléia lá do alto, para aquela reunião sublime à qual coisa nenhuma que contamine poderá ser admitida”. – Testemunhos Seletos, vol. 2, pág. 193.
“Felizes os que possuem um santuário, luxuoso ou modesto, seja no meio de uma cidade ou entre as cavernas das montanhas, no humilde aposento particular ou nalgum deserto. Se for esse o melhor lugar que lhes é dado arranjar para esse fim, Deus o santificará pela Sua presença e será santidade ao Senhor dos exércitos[3]“. – Idem, pág. 194.
5. Algumas Regras Básicas do Culto
O culto a Deus sempre teve suas regras de ordem e reverência. Desde o princípio houve instruções sobre o culto em volta dos altares. Durante a dispensação levítica havia instruções acerca da construção do tabernáculo. Havia regras a respeito do sacerdócio e dos diversos serviços e sacrifícios. “Deus deu a Seu povo na antiguidade regras precisas e exatas sobre ordem”. – Idem, pág. 198.
Era necessário levar a sério as regras do culto levítico. Nem todos podiam fazer todas as coisas. Nem todos podiam entrar em qualquer parte do santuário nem tomar nas mãos qualquer objeto do santuário. A transgressão das regras do culto era punida severamente, como é evidente nos seguintes casos: Nadabe e Abiú, que morreram no santuário; Coré, Datã, Abirã e seu grupo, que foram tragados pela terra; a tragédia de Bete-Semes e a triste sorte de Uzá.
Hoje em dia o culto e a adoração também devem ter suas regras que é necessário observar se queremos a aprovação e as bênçãos de Deus. “Não conviria lermos as instruções que Deus mesmo Se dignou dar aos antigos hebreus para que nós, que temos a verdade gloriosa irradiando sobre nós, os imitemos em sua reverência para com a casa de Deus?”. – Ibidem.
“Devem existir aí regulamentos quanto ao tempo, lugar e maneira do culto. Nada do que é sagrado, nada do que está ligado ao culto divino, deve ser tratado com negligência ou indiferença”. – Idem, pág. 193. Por falta de espaço, mencionaremos somente duas regras básicas que devem reger todo culto de adoração: Ordem e Reverência.
Deve haver ordem: A instrução de Paulo é clara: “Tudo seja feito com decência e ordem”. (I Coríntios 14:40). Declara a serva do Senhor: “Os que receberam a unção do Céu, em todos os seus esforços acoroçoarão [estimularão, encorajarão[4]] a ordem, a disciplina e unidade de ação, e então os anjos de Deus poderão cooperar com eles. Mas nunca, jamais estes mensageiros celestes sancionarão a irregularidade, a desorganização e a desordem”. – Testemunhos Para Ministros, pág. 28.
Em muitos de nossos cultos é necessário melhorar o planejamento, a programação, a organização, a disciplina e a ordem.
Deve haver reverência: Nossos cultos são um encontro com Deus e os santos anjos. O Senhor está presente na pessoa de Seu representante, o Espírito Santo. Com quanta reverência e santo temor deveríamos ir à presença de Deus! Lemos em Habacuque 2:20: “O Senhor está no Seu santo templo; cale-se diante dEle toda a Terra”. Além disso, o sábio Salomão faz a seguinte recomendação: “Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus; chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos”. (Eclesiastes 5:1). Ao ir adorar na casa de Deus devemos lembrar-nos do que Deus disse a Moisés junto à sarça ardente: “Tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa”. (Êxodo 3:5).
Notemos algumas declarações do Espírito de Profecia acerca da reverência na casa de Deus e nos cultos:
“Todo o serviço deve ser efetuado com solenidade e reverência. (…) [Algumas vezes] são os moços e as moças que revelam tão pouco respeito pela casa de Deus, que se entretêm a conversar durante a pregação. (…) É um fato deplorável que a reverência pela casa de Deus esteja quase extinta. As coisas e lugares sagrados já se não discernem; as coisas santas e elevadas não são apreciadas. (…) Quase todos precisam ser ensinados como se portar na casa de oração. Os pais devem não só ensinar, como exortar os filhos a entrarem no santuário divino com seriedade e reverência. (…) [As crianças] são muitas vezes encontradas em grupos, afastadas dos pais que deviam tomar conta delas; e embora se encontrem na presença de Deus, cujos olhos sobre elas repousam, põem-se a cochichar e a rir, portando-se inconvenientemente, e mostrando-se desrespeitosas e desatentas. (…) Por causa de sua irreverência na atitude, no traje, e comportamento, e sua falta de verdadeiro espírito de devoção, Deus muitas vezes tem afastado Seu rosto dos que se achavam reunidos para o culto”. – Testemunhos Seletos, vol. 2, págs. 195-201.
6. Os Dirigentes e Participantes do Culto
Quem são os dirigentes dos cultos? São os pastores e pregadores; os anciãos, diáconos, os diretores de Atividades Leigas, Escola Sabatina, Sociedade MV [atual J.A.] e toda pessoa que sobe à plataforma para desempenhar alguma parte de um culto.
É lamentável que muitas vezes a atitude e a conduta dos dirigentes do culto diminuem a reverência e a dignidade dos serviços de adoração. Deve-se cuidar com toda a seriedade para que a apresentação pessoal dos que dirigem alguma parte de um culto seja correta em todo o sentido. Isto se aplica aos pastores, aos oficiais de igreja e, talvez de modo especial, às moças e senhoras que sobem ao estrado e se apresentam diante da congregação. Um culto não é uma ocasião para exibir as modas mundanas inventadas pelo inimigo de Deus.
A atuação dos que dirigem um culto sempre deve ser repassada de dignidade. Eles devem sentar-se corretamente, evitar movimentos desnecessários, falar somente o que for necessário e não se exceder no uso de suas atribuições. Devem cuidar de que todo o culto esteja rodeado de uma atmosfera de reverência, solenidade e santidade. Devem cuidar também de que os membros de suas famílias dêem um bom exemplo.
Os dirigentes de culto têm igualmente o dever de ensinar toda a congregação a adorar em espírito e em verdade. Deve-se ensinar aos participantes a necessidade de se prepararem para os cultos. Essa preparação deve ser material ou exterior e, sobretudo, espiritual ou interior. Também se deve ensinar a pontualidade na assistência aos cultos e a atitude correta ao entrar na casa de Deus. Não olvidar de ensinar que para que haja verdadeiro culto deve haver fervorosa participação de todos os adoradores.
“Quando os crentes penetram na casa de culto, devem guardar a devida compostura e tomar silenciosamente seu lugar. (…) Se faltam alguns minutos para o começo do culto, os crentes devem entregar-se à devoção e meditação silenciosa, elevando a alma em oração a Deus para que o culto se tome para eles uma bênção especial. (…) O ministro deve entrar na casa de oração com uma compostura digna e solene. Chegado ao púlpito, deve inclinar-se em silenciosa oração e pedir fervorosamente a assistência de Deus. (…) Ao ser aberta a reunião com oração, cada qual deve ajoelhar-se na presença do Altíssimo e elevar o coração a Deus em silenciosa devoção. (…) Quando a Palavra é exposta, deveis lembrar-vos, irmãos, de que é a voz de Deus que vos está falando por meio de Seu servo. Escutai com atenção”. – Idem, págs. 194 e 195.
7. Os Elementos Essenciais do Culto
Os elementos essenciais ou partes principais de um culto são geralmente quatro e às vezes cinco: O Louvor, a Oração, as Ofertas, a Exposição da Palavra e, muitas vezes, a Resposta da Congregação, ou seja, Testemunhos. Faremos um breve comentário destes elementos.
O Louvor: É nosso privilégio tributar louvor a nosso Deus. Os meios de louvar são principalmente o canto e a música. O órgão é o instrumento mais apropriado para a igreja. O piano também é aceitável, mas devemos ter cuidado com o uso de outras espécies de instrumentos, especialmente aqueles que se relacionam com a música mundana, superficial, rítmica e até sensual, que está tão em voga em nossos dias. A pessoa que toca o instrumento deve aprender a acompanhar e não necessariamente a dirigir o canto da congregação.
Acerca do canto, cumpre mencionar que sempre devem ser escolhidos hinos adequados à ocasião e ao assunto que será apresentado no culto. O culto não é uma aula de canto, por isso devem ser escolhidos hinos conhecidos pela maioria dos adoradores[5]. É mister, no entanto, ensiná-los a cantar com entendimento, sentimento e reverência, em harmonia com o que disse Paulo: “Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente”. (I Coríntios 14:15). Se houver diretores de música e de canto, estes devem ser pessoas que realmente o saibam dirigir, pois do contrário é melhor não tê-los. Se os houver, devem estar a serviço do pregador.
Para os cultos, o canto congregacional é o mais indicado. Por outro lado, reconhecemos que um bom coral pode proporcionar uma boa contribuição para o culto se atua em consulta com o pregador, se ocupa seu lugar na hora indicada e se não ocasiona perda de tempo. Cumpre ter cuidado com o que se chama às vezes de “cantos especiais”. Esses cantos devem ser adequados ao assunto apresentado pelo pregador, e os cantores devem ser pessoas de reconhecida consagração, que tenham um porte pessoal de acordo com as normas da igreja e que cantem a glória de Deus e benefício espiritual da congregação.
“Quando os seres humanos cantam com o espírito e o entendimento, os músicos celestiais apanham a harmonia, e unem-se ao cântico de ações de graças. Deus espera que Seus servos cultivem sua voz, de modo que possam falar e cantar de maneira compreensível a todos. Não é o cantar forte que é necessário, mas a entoação clara, a pronúncia correta, e a perfeita enunciação. Que todos dediquem tempo para cultivar a voz, de maneira que o louvor de Deus seja entoado em tons claros e brandos, não com asperezas que ofendam ao ouvido”. – Obreiros Evangélicos, pág. 357.
A Oração: Parte importantíssima do culto é a oração. De preferência, a oração deve ser feita de joelhos. Davi se achava inspirado quando disse: “Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do Senhor que nos criou”. (Salmo 95.6). A pessoa que profere a oração deve ser cuidadosamente escolhida. A oração deve ser adequada à ocasião. Não deve incluir assuntos pessoais, nem constituir uma prédica a Deus ou à congregação. A oração pública, em geral, deve ser curta e proferida em voz alta para que todos possam ouvi-la e unir-se-lhe em espírito. Assim como Cristo ensinou Seus discípulos a orar, convém que o pastor ensine a seus colaboradores como devem ser as orações no culto público.
Notemos os seguintes comentários da pena inspirada sobre as orações nos cultos: “Que os ministros e todos os que fazem oração pública aprendam a fazê-lo de maneira que Deus seja glorificado, e os ouvintes abençoados”.- Obreiros Evangélicos, pág. 89.
“A oração feita em público deve ser breve, e ir diretamente ao ponto. Deus não requer que tomemos fastidioso o período de culto, mediante longas petições. Há muitas orações enfadonhas, que parecem mais uma preleção feita ao Senhor, do que o apresentar-Lhe um pedido. (…) Não se exigem orações verbosas, com caráter de sermão, e que são fora de lugar em público. Uma oração breve, feita com fervor e fé, abrandará o coração dos ouvintes”.- Idem, págs. 175-179.
“Tenho visto que a confusão desagrada ao Senhor, e que deve haver ordem no orar e também no cantar. Não devemos chegar à casa de Deus para orar por nossa família, a menos que um profundo sentimento a isto nos induza, enquanto o Espírito de Deus a está convencendo. Quando na casa de Deus, devemos orar por uma bênção presente, e esperar que Ele nos ouça e atenda às petições”. – Testemunhos Seletos, vol. 1, págs. 44 e 45. Uma de nossas petições deveria ser: “Senhor, ensina-nos a orar”.
As Ofertas: O momento em que entregamos nossos dízimos e ofertas a Deus também constitui uma parte integrante do culto. Desde o princípio, o ato de dar, oferecer e sacrificar tem estado relacionado com o culto. Em Israel, as ofertas ou sacrifícios eram muitas vezes o próprio centro dos serviços de adoração.
Devolver a Deus algo do que Ele nos tem dado é ou deve ser também uma parte do culto na atualidade. Constitui uma expressão tangível de nosso amor e gratidão a Deus. Ao prover meios para a pregação do evangelho demonstramos que temos interesse na salvação de outros. O que Davi disse em seus dias também se destina a nós no tempo presente: “Tributai ao Senhor a glória devida ao Seu nome; trazei oferendas, e entrai nos Seus átrios. Adorai ao Senhor na beleza de Sua santidade”. (Salmo 96:8 e 9).
Não devemos olvidar, porém, que esta parte do culto deve ser efetuada com ordem, reverência e solenidade. Não deve haver delongas nem perda de tempo. Deve haver pessoas suficientes para recolher as ofertas, e todas devem estar vestidas de modo apropriado. Nas igrejas grandes, é melhor fazer a oração antes de recolher as ofertas, e nas Igrejas pequenas, depois.
A Exposição da Palavra: A parte central do culto é a exposição da Palavra de Deus. Aquele que a expõe é e deve ser considerado um porta-voz de Deus, e a mensagem apresentada deve ser aceita como uma mensagem do Senhor. Toda exposição da Palavra, todo sermão pregado num culto, deve ser uma mensagem de Deus que supre alguma necessidade humana.
O pastor ou a pessoa encarregada de fazer a exposição da Palavra deve sempre preparar cabalmente sua mensagem por meio da oração, do estudo e da meditação. Seria uma falta grave apresentar-se perante a grei sem haver preparado devidamente o tema a ser apresentado. Muitas vezes Deus é desonrado e o culto perde grande parte de sua solenidade, dignidade e eficácia devido a sermões mal preparados e mal apresentados. É necessário melhorar consideravelmente este aspecto do culto.
Notemos algumas declarações da pena inspirada sobre a exposição da Palavra nos cultos: “Sejam os discursos curtos, espirituais e elevados. Saiba cada homem que vai ao púlpito que tem anjos do Céu em seu auditório”. – Testemunhos Para Ministros, págs. 337 e 338. “Falai pouco. Vossos discursos geralmente têm o dobro do que deviam ter”. – Idem, pág. 311. “Falai pouco, e criareis o interesse de ouvir muitas vezes”. – Idem, pág. 258.
Acima de tudo, a exposição da Palavra deve caracterizar-se pela solenidade e reverência. Disse a serva do Senhor: “Tenho ouvido alguns ministros falarem acerca da vida e ensinos de Cristo de maneira comum. (…) Os ministros não se devem habituar a relatar anedotas inoportunas em conexão com seus sermões. (…) A narração de anedotas ou incidentes que produzem hilaridade, ou um pensamento leve no espírito dos ouvintes, é severamente censurável. A verdade deve ser revestida de linguagem casta e digna”. – Obreiros Evangélicos, págs. 165 e 168.
A Resposta da Congregação (Testemunhos): A serva do Senhor menciona outro elemento do culto ao qual estamos dando muito pouca atenção. É a resposta dos fiéis à mensagem apresentada; dar oportunidade para testemunhos. Lemos:
“Aquele que é designado para dirigir cultos aos sábados, deve estudar a maneira de interessar os ouvintes nas verdades da Palavra. Não convém que faça sempre tão longos discursos que não haja oportunidade para os presentes confessarem a Cristo. O sermão deve ser, freqüentemente, breve, a fim de o povo exprimir seu reconhecimento para com Deus. Ofertas de gratidão glorificam o nome do Senhor. Em cada assembléia dos santos, ‘anjos de Deus escutam o louvor rendido a Jeová em testemunhos, canto e oração’”.
“A reunião de oração e testemunhos, deve ser um período de especial auxílio e animação. Todos devem sentir que é um privilégio tomar parte nela. Que todos os que confessam a Cristo tenham alguma coisa para dizer na reunião de testemunhos. Estes devem ser curtos, e de molde a servir de auxílio aos outros”. – Obreiros Evangélicos, pág. 171.
8. Problemas que Atentam Contra a Dignidade e a Eficácia do Culto
De modo sucinto mencionaremos alguns problemas ou práticas que temos observado e que, em nossa opinião, atentam contra a dignidade e a eficácia dos cultos. Felizmente, há igrejas nas quais os cultos são quase “modelos”, mas em muitos lugares há uma ou várias das faltas referidas a seguir:
Falta de Assistência e Pontualidade: A falta de assistência ocorre especialmente na Escola Sabatina, na reunião de oração, nas reuniões evangelísticas e em menor grau no Culto Divino, aos sábados. Algo parecido se pode dizer da falta de pontualidade, com a agravante de que muitas vezes as pessoas responsáveis pelos cultos também não são pontuais, começando as reuniões com cinco a dez minutos de atraso.
Irreverência: Este é provavelmente um dos maiores problemas, e se manifesta nas seguintes formas: Há os que permanecem do lado de fora, conversando durante o culto. Há conversas e cochichos dentro do templo. Alguns lêem, ou adotam uma atitude de indiferença. Um dos problemas mais sérios é a desordem das crianças que não são controladas pelos pais.
Atrasos para começar: Estes atrasos, especialmente no culto do sábado, são às vezes ocasionados porque os pormenores do programa não foram preparados a tempo, porque as pessoas que devem acompanhar o pregador não estão prontas e, amiúde, porque o coral demora cinco a dez minutos para se apresentar, causando ansiedade, nervosismo e até impaciência.
Aparência Pessoal Inconveniente: Às vezes sobem à plataforma pessoas com aspecto pessoal impróprio, que distrai a atenção e desvia as mentes. Alguns se apresentam com vestimentas, feitio e cores inadequados ao púlpito; com estilos de cabelo, tanto nos homens como nas mulheres, completamente exagerados, e, às vezes, algumas moças e senhoras vão à frente com vestidos demasiado curtos e berrantes.
Excesso de Anúncios: Este é um sério problema em muitas igrejas. Com freqüência, gasta-se precioso tempo para fazer uma série de anúncios desnecessários, de pouca importância, demasiado longos, inoportunos ou malfeitos.
Excesso de Preliminares: Outro sério problema são os numerosos preliminares no Culto Divino, aos sábados. Por preliminares, entendemos entre outras coisas o seguinte: Longos anúncios já mencionados, cartas de transferência e/ou exclusão de membros, dedicação de crianças, longas apresentações de visitantes, promoções diversas, demasiado tempo para recolher os dízimos e as ofertas, etc. Há igrejas que incluem no programa do Culto Divino os chamados “Dez Minutos Missionários”, que às vezes se prolongam bastante. Temos estado em reuniões nas quais pregador só pôde começar o seu sermão quando já haviam decorrido 20, 30, 40 e até 50 minutos após o início do culto.
Música e Cânticos que não são Apropriados: Outro fator que incide consideravelmente sobre a eficácia dos cultos é a música e o canto. Muitas vezes, os hinos cantados não se harmonizam com o assunto do sermão, nem no começo nem no fim. Outro tanto se dá com os hinos apresentados pelo coral e principalmente com os chamados “cânticos especiais”. O pregador não é consultado, e, como resultado, esses cânticos não preparam a congregação para o sermão, nem reforçam a mensagem apresentada. Antes distraem ou afastam a mente do assunto do sermão. Este problema se agrava quando há pessoas na plataforma que cantam com um traje pessoal questionável.
Os Sermões em Si: Contribuem para a ineficácia e para a diminuição da dignidade dos cultos os sermões mal escolhidos, mal preparados, pobremente pregados e irreverentes pela inclusão de anedotas e ilustrações frívolas ou chistosas [ou xistosa, engraçada…]. Quando os sermões são demasiado longos, o problema se agrava, pois tal espécie de sermão cansa o pregador, os ouvintes e os anjos.
As Orações Públicas: Embora pareça raro, muitas vezes as orações proferidas não ajudam o culto a ser o que deve. Às vezes não se escolhe a pessoa adequada para orar. As orações são longas, inadequadas e se assemelham a discursos. “Abrangem toda uma série de necessidades que não têm relação com o momento ou com as precisões do povo”. Testemunhos Seletos, vol. 2, pág. 61. São tediosas e formais.
Comentários no Final da Reunião: Às vezes, depois do sermão, são feitos comentários ou anúncios, ou é recolhida uma oferta. Tudo isso tende a apagar as impressões produzidas pela mensagem e pelo Espírito Santo.
Atividades Depois do Culto: Toda atividade realizada imediatamente após o culto tende a diminuir ou a obliterar o efeito produzido, embora essas atividades sejam boas em si, como por exemplo: reuniões de alguma comissão, classes batismais, ensaios do coral ou cânticos especiais, e via de regra, mesmo grupos de oração, a menos que se ore por um assunto especial mencionado no sermão.
Testemunhos Muito Longos: “Outro problema nos cultos de oração às vezes tem que ver com os testemunhos muito longos e fora de lugar. Os que são confiados e sempre, prontos a falar, tomam a liberdade de sacrificar o testemunho dos tímidos e retraídos. Os mais superficiais têm, geralmente, mais a dizer”. – Idem vol. 1, pág. 457.
Esta lista de problemas que atentam contra a dignidade e a eficácia dos cultos não é limitativa, mas apenas exemplificativa.
9. O Programa do Culto
Reiteradas vezes temos chegado à conclusão de que para haver um culto digno, reverente e eficaz, o melhor é ter um programa simples e livre de ritualismo. A seguir daremos um programa com essas características:
1) Prelúdio do piano, órgão ou coral.
2) Entram os dirigentes do culto e se prostram em oração silenciosa.
3) A congregação canta a doxologia (em pé).
4) O pregador faz uma breve invocação (não uma longa oração).
5) São recolhidos os dízimos e as ofertas, orando antes ou depois.
6) Canta-se o hino de abertura.
7) Leitura bíblica relacionada com o assunto do sermão.
8) Oração pastoral, implorando a bênção sobre o culto, os ouvintes e o pregador.
9) Hino, coral ou hino especial adequado ao assunto do sermão.
10) Sermão, não muito longo.
11) Hino final relacionado com o assunto.
12) Bênção final (não uma longa oração).
Presume-se que os minutos missionários, as promoções, os anúncios, a dedicação de crianças, etc., tenham sido efetuados antes de iniciar-se o Culto Divino; na Escola Sabatina, ao terminar a Escola Sabatina ou no breve intervalo antes de começar o Culto Divino.
Conclusão e Recomendações
É evidente que, como dirigentes, pastores, oficiais de igreja e membros em geral, temos muito que aprender e bastante que corrigir para que nossos cultos se desenvolvam em tudo para glória de Deus e para edificação espiritual da grei. Temos de estudar e meditar muito para aprender a adorar a Deus “em espírito e em verdade”, como apraz ao Senhor. Em conclusão, faremos algumas recomendações a serem consideradas pelas pessoas envolvidas:
1. Recomendamos que em lugares e ocasiões apropriados se estude a lista de problemas mencionados na seção 8 deste trabalho e que se dêem os passos necessários para corrigir o que não está certo em nossos cultos, com base nas instruções da Bíblia, dos Testemunhos e das normas de nossa Igreja.
2. Recomendamos que nossos pastores e igrejas adotem um programa simples, especialmente para o culto do sábado, desligando-o dos preliminares mencionados como um dos problemas e dedicando-o inteiramente ao louvor, à oração, ao estudo da Palavra e, ocasionalmente, à resposta da congregação em forma de breves testemunhos.
3. Para efetuar o que foi declarado no ponto anterior, recomendamos que a dedicação de crianças seja incluída no programa da Escola Sabatina, que os minutos missionários ocorram após a Escola Sabatina, que as promoções sejam feitas durante os minutos missionários e que se imprimam os anúncios num boletim da igreja ou sejam apresentados antes do início do Culto Divino.
4. Recomendamos que com renovada seriedade se preste atenção a tudo que se relaciona com a reverência. Que periodicamente se fale sobre este tema, a fim de instruir os membros sobre um assunto tão vital. Sejam tomadas medidas decisivas para ensinar reverência, às crianças, controlando seu comportamento na igreja, pedindo que os pais es ponham seus filhinhos a seu lado e que não lhes permitam sentar-se em grupos sem controle.
5. Recomendamos que um conjunto apropriado de pessoas estude a atitude correta durante a oração nos cultos, tomando como base o trabalho sobre este tema preparado pelo Pastor Edner Corbier, do Seminário Adventista do Haiti[6], e que depois se dê a instrução adequada aos pastores e às igrejas, pelos canais apropriados.
6. Recomendamos que se dê a devida consideração às instruções do Espírito de Profecia acerca da extensão dos sermões e ao conselho de que mesmo no culto do sábado os irmãos tenham de vez em quando a oportunidade de dar breves testemunhos. Recomendamos também que se retome à prática de deixar mais tempo nas reuniões de oração para a oração e os testemunhos pessoais.
7. Recomendamos que quando são feitos os projetos de nossos templos e capelas sejam levados em conta todos os fatores que incidem sobre a possibilidade de celebrar cultos agradáveis e reverentes e que se retome ao plano de ter duas plataformas, sendo a principal utilizada exclusivamente para a pregação da Palavra e que os demais serviços, como a Escola Sabatina, a Sociedade de Jovens, etc., sejam dirigidos da segunda plataforma.
8. Recomendamos que em nossos colégios e seminários se dê mais instrução teórica e prática, principalmente aos estudantes de Teologia, sobre como dirigir os cultos e os diversos serviços e ritos da igreja, e que em nossos colégios se siga um programa de culto geralmente aceito pelos campos aos quais serve o colégio.
9. Recomendamos também que nos concílios ministeriais e nas reuniões de obreiros seja dada mais instrução sobre a forma de programar e dirigir os cultos e os diversos serviços e ritos da igreja.
10. Recomendamos que sejam escolhidas com sumo cuidado as pessoas que acompanham o pregador ao púlpito ou que de algum modo tomam parte no programa. Elas devem ser conhecidas por sua fidelidade e consagração, respeitar as normas da igreja e ser cuidadosas em sua apresentação pessoal.
11. Recomendamos que se tenha em mente que o canto e a música constituem uma parte integrante do culto, devendo, portanto, harmonizar-se com a mensagem da ocasião. Que os cânticos apresentados pelo coral ou outros grupos ou pessoas sejam levados ao conhecimento do pregador da hora e que toda música ou cântico que não contribua para alcançar o propósito da reunião, seja excluído do programa desse culto em particular.
12. Recomendamos que, além do sugerido no ponto 5 destas recomendações, as pessoas correspondentes sejam instruídas quanto à maneira de fazer as diversas orações no culto, de acordo com a Palavra de Deus e o Espírito de Profecia. Que a invocação seja simplesmente o que significa essa palavra. Que a oração sobre os dízimos e as ofertas se limite a dar graças pelas dádivas de Deus e a pedir a bênção sobre o que é devolvido ao Senhor.
Que a oração pastoral (a principal) seja dedicada a pedir uma bênção geral Sobre a congregação e uma bênção especial para o pregador, e a presença do Espírito Santo.
13. Recomendamos que se adore a Deus em espírito e em verdade, e que tudo seja feito com decência e ordem.
Notas dos Editores:
[1] Agradecemos à Loide Simon por essa contribuição ao Música Sacra e Adoração.
[2] Observamos que, no presente artigo, toda referência a algum livro (exceto os bíblicos) são de autoria de Ellen G. White. Quaisquer erros de citações ou incoerências nestas citações, são de responsabilidade do autor.
[3] É importante destacar que Ellen G. White, neste trecho citado pelo autor do artigo, não está apenas se referindo à função estética do templo ou do local de adoração, mas sim à própria intenção e sentimento do adorador. É como se o adorador estivesse reproduzindo as palavras do salmista no Salmo 84:10: “Porque vale mais um dia nos teus átrios do que em outra parte mil. Preferiria estar à porta da casa do meu Deus, a habitar nas tendas da perversidade”.
[4] Todas as palavras escritas entre [colchetes] são de autoria dos editores do Música Sacra e Adoração (com a intenção ora de esclarecer algum ponto obscuro, ora de acrescentar informações úteis ao leitor).
[5] Notamos que o autor está se referindo ao principal culto do contexto Adventista do Sétimo Dia, que é o do Sábado pela manhã (o que pode variar em outras denominações). Em horários apropriados, fora do horário do culto, ou em outros cultos, como os cultos jovens, de domingo à noite ou mesmo nos das quartas-feiras, é enormemente aconselhável que a congregação aprenda novos hinos e novos cânticos.
[6] Não conseguimos encontrar o trabalho do Pastor Edner Corbier, citado pelo autor. Agradeceríamos a ajuda de um leitor que tenha esse conhecimento.
Fonte: Revista O Ministério. Março/Abril de 1980, pp. 11-18.