(Falsas) Estratégias de Crescimento para a Igreja

Cavalos de Tróia – Parte 3

por: Samuel Koranteng Pipim, PhD

Cavalos de Tróia: Avivamentos Falsificados, Igreja Emergente, e Movimentos Nova Espiritualidade

Parte 3: Pós Modernismo e a Igreja Emergente

Introdução. Em algum lugar entre 40-50 anos atrás, uma mudança fundamental ocorreu no modo como as pessoas pensam acerca da realidade. E com esta mudança de realidade, a igreja tem sido grandemente impactada na maneira como vê a si mesma e sua missão no mundo. Os estudiosos referem-se a esta mudança sísmica como Pós-Modernismo. E a Igreja Emergente é uma tentativa por parte de alguns cristãos para responder a esta nova realidade.

Nossa apresentação sobre “Pós-Modernismo e a Igreja Emergente” é um pouco mais difícil de explicar. Mas é essencial para entendermos os fundamentos desta nova cosmovisão. A fundação de um edifício é mais importante que a própria estrutura ou mobiliário – carpetes, pintura, móveis, etc. Deixe-me explicar:

Desconhecimento Geral. Alguns de nós estão cientes de que existem algumas práticas estranhas e ensinamentos bizarros insinuando-se na igreja – novas formas de oração, a sinistra ioga e as práticas místicas, o retorno às antigas práticas da igreja medieval, estilos de adoração e música, etc., etc. Mas não temos ideia do que está realmente por trás disto. Estamos simplesmente paranóicos sobre o que estamos vendo acontecer.

Por outro lado, muitos membros da igreja … vêem tudo como muito bom: novos estilos de adoração, novas abordagens musicais, novas abordagens para o crescimento da igreja, novos tipos de liderança na igreja, novo estilo de vida (alternativo), etc. Em alguns casos, mesmo quando pensam que essas inovações estão erradas, acreditam que terminarão por si mesmas.

Mudanças Estruturais, Não Cosméticas. O verdadeiro problema é muitos membros da igreja ou não tem tempo, ou são demasiado preguiçosos, para escavar os fundamentos de questões. Assim, tendemos a adotar abordagens da Bíblia cuja estrutura visível apela para nós, e nos esquecermos que, se adotarmos uma teologia / prática que outros construíram sem testar os fundamentos, fazemos isso por nossa conta e risco.

Muito frequentemente, em vez de remendar as fissuras na fundação, mais atenção é dada à pintura das paredes que estão desmoronando com cores novas e brilhantes, ao rearranjo da mobília da casa, em mudar os tapetes e cortinas, na instalação de modernos dispositivos tecnológicos para tornar a casa mais confortável e mais “amigável”. Os perigos deste tipo de resposta são como aqueles descritos na parábola de Jesus sobre o homem que construiu sua casa sobre a areia: “Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela caiu. E foi grande a sua queda” (Mateus 7:27 NVI).

O que precisamos fazer é ir além das alterações cosméticas – o equivalente teológico a carpetes, pintura, mobiliário, e aparatos tecnológicos. Precisamos cavar através da sujeira até os alicerces (aquilo a que os estudiosos chamam de suposições ou pressupostos) e descobrir, como fizeram os talentosos arquitetos da teologia cristã / adventista, as rachaduras que resultaram e que têm lentamente quebrado partes do alicerce.

Temos de chegar até às raízes, e não simplesmente arrancar as folhas. Isto é o que eu quero fazer na apresentação de hoje sobre “O Pós-Modernismo e a Igreja Emergente.” Vamos tentar chegar na raiz ou no alicerce.

Apesar da complexidade do assunto, vou tentar torná-lo simples. Mas caso vocês se percam no caminho, gostaria de lembrá-los do seguintes pensamentos chave do pós-modernismo.

Pensamentos Chave:

Os dois conceitos-chave que definem o pós-modernismo são:

1. “Não Existem Absolutos Morais

  • “Não existe certo ou errado”
  • “A moral é relativa”

2. “Não Existem Absolutos”

  • “Não existe verdade absoluta”
  • “A verdade é relativa”

Em outras palavras, quando as pessoas perguntam: “O que é o pós-modernismo?” você pode simplesmente explicar que é uma cosmovisão – uma forma de pensamento – que diz: “Não existem absolutos morais” e “Não existem verdades absolutas.”

A primeira declaração tem a ver com a ética ou moral. A segunda refere-se a verdade ou ensinamentos / doutrinas. Estes dois pilares do pós-modernismo são os cavalos de Tróia que alguns procuram arrastar para dentro da igreja.

Hoje, estaremos vendo como nossa cultura contemporânea pós-moderna tem procurado cortar a perna ética da santidade bíblica. Também discutiremos que a ausência de valores morais absolutos (sem uma base objetiva de certo ou errado), reflete um problema muito maior – a saber, a perda da verdade objetiva.

Em minha opinião, a Igreja Emergente (que é uma tentativa por parte de alguns cristãos em responder aos desafios do pós-modernismo) começa por relativizar a verdade (doutrinas / ensinos). Mas não demorará muito, ela também relativizará a moral (ética). E quando a ética se separada da santidade bíblica, o resultado [é o caos.]

Cavalo de Tróia no Dicionário Urbano

Ontem falamos sobre o conceito de cavalos de Tróia na informática, através do qual um software malicioso é instalado no computador de outra pessoa sem o seu consentimento. Uma vez que um cavalo de Tróia tenha se instalado no sistema do computador alvo, é possível para um hacker acessá-lo remotamente e realizar operações indesejáveis.

Mas você também sabe que existe um cavalo de Tróia ou um Troiano que passou a simbolizar o estilo de vida imoral e a permissividade de hoje? Segundo o Dicionário Urbano, um cavalo de Tróia ou Troiano se refere a ato sexual desvirtuado, no qual o homem faz um pequeno furo na ponta do preservativo antes da relação sexual. As mulheres que acreditam que seus namorados as estão enganando fazem isso e assim, se estiverem, eles engravidam a outra mulher.

As pessoas podem pensar que estão tendo sexo seguro com seus preservativos, mas na realidade não é seguro de forma alguma. Os resultados são: gravidez indesejada, DST (doenças sexualmente transmissíveis, HIV-AIDS, etc. Ironicamente, há mesmo um preservativo chamado Troiano, que tem uma história fascinante (1):

O uso que o dicionário urbano faz do termo “cavalo de Tróia” para se referir a um ato sexual desvirtuado com pessoas que buscam prazer sem suspeitar do perigo, e a venda de preservativos Troianos, são ambos símbolos apropriados dos perigos do estilo de vida imoral e da permissividade de hoje.

No reino da moralidade e da verdade, existe um cavalo de Tróia. Como vou mostrar na apresentação de hoje, as noções de que “não existem absolutos morais” e que “não existem absolutos” são os dois pilares da nossa cultura pós-moderna. A primeira declaração tem a ver com ética ou moral. A segunda refere-se à verdade ou ensinamentos / doutrinas. E são para essas que o movimento da igreja emergente está nos levando.

Entendendo o Pós-Modernismo

É reconhecido, de maneira geral, que vivemos em um mundo pós-moderno. Mas o que isso significa? O que é pós-modernismo, e como o pós-modernismo percebe a moral (ética) e verdade (doutrinas / ensinos)?

Para entender o pós-moderno, devemos primeiro entender o moderno e o pré-moderno. Estes dois termos são descrições da maneira de pensar em diferentes eras da história ocidental.

1. Premoderno – refere-se à história do mundo ocidental até o Iluminismo do século 18. Nesse período, praticamente todos acreditavam no sobrenatural. Eles acreditavam em Deus (ou deuses), e sustentavam que a vida neste mundo devia sua existência e significado a um mundo espiritual além dos sentidos.

Quer fossem culturas pagãs mitológicas ou o líderes do pensamento grego clássico, ou do cristianismo, todos acreditavam em algum tipo de Deus (ou deuses). Mesmo gigantes intelectuais como Platão e Aristóteles, que rejeitavam a cosmovisão mitológica, acreditavam em alguns ideais transcendentes universais. Aristóteles, por exemplo, traçou todas as causas até uma Causa Primeira, a qual existe por si mesma, sem causa.

Por mais de 1.000 anos, a civilização ocidental acreditou nisso. Fossem pagãos, filósofos clássicos ou cristãos, todos acreditavam em um Deus (deuses), que era a causa de ideias universais transcendentes acerca da verdade e da moralidade. Esta foi a era pré moderna.

2. Era Moderna – Veio então a era moderna, por volta de 1700. Este foi o período onde a crença no sobrenatural foi seriamente comprometida, se não totalmente negada. Este foi o tempo do progresso científico, onde a ciência procurou explicar tudo com base na razão humana.

Inicialmente, a era do Iluminismo não começou questionando a existência de Deus. Afirmava Sua existência, mas argumentava que não havia necessidade real para que Deus se envolvesse com sua criação. Com o tempo, a divindade também foi colocada de lado. E com isto a era moderna deu lugar a uma mentalidade que questionava quaisquer ensinamentos ou práticas com base em uma crença em Deus ou no sobrenatural. Qualquer coisa que não possa ser provada ou explicada com base em causas naturais não pode ser verdade.

Nesta base, as alegações da religião e do cristianismo foram rejeitadas como falsas – se não puderem ser estabelecidas com base na ciência ou na razão humana. Por exemplo, a divindade de Cristo, a inspiração da Bíblia, a existência de satanás, anjos, etc. Eles acreditavam na existência da verdade e da moralidade, mas apenas as verdades e a moralidade que pudessem ser estabelecidas empiricamente.

3. Era pós-moderna – Tudo isto mudou em algum momento entre 1960 e 1990, quando uma nova cosmovisão surgiu, a qual questionava a existência da verdade e da moralidade. (2) Alguns vêem o modernismo terminando com a contracultura dos anos 1960, quando os jovens começaram a questionar os frutos da civilização moderna. Os protestos estudantis contra a guerra do Vietnã, e as revoltas estudantis em Paris e de outras universidades na Europa, vieram para assinalar a mudança. Outros vêem a queda de Berlim em 1991 como o ponto final do modernismo.

Independentemente do momento em que começou a era pós-moderna, a verdade é que até o final do século 20 a civilização ocidental tinha entrado em outra fase – uma fase que contesta a visão essencial do modernismo – e do pré modernismo.

Devemos distinguir entre o adjetivo pós-moderno, referindo-se a um período de tempo, e o substantivo pós-modernismo, que se refere a uma ideologia ou cosmovisão distinta. Se a era moderna terminou, somos todos pós-modernos, apesar de rejeitarmos os princípios do pós-modernismo.

De acordo com os pós-modernistas, o problema fundamental com o modernismo do Iluminismo é a sua crença de que existe uma coisa tal como verdade objetiva. Os pós-modernistas discordam veementemente [deste conceito].

Definição do Pós-Modernismo

Em 1994, o então presidente da República Checa e renomado dramaturgo Václav Havel fez uma descrição do mundo pós-moderno como um “onde tudo é possível e quase nada é certo.(3)

Josh McDowell e Bob Hostetler oferecem a seguinte definição do pós-modernismo:

“Uma cosmovisão caracterizada pela crença de que a verdade não existe em nenhum sentido objetivo, mas é criada e não descoberta.” … A verdade é “criada pela cultura específica e só existe nessa cultura. Portanto, qualquer sistema ou declaração que tenta transmitir uma verdade é um jogo de poder, um esforço para dominar outras culturas.” (4)

Na introdução do seu Tratado sobre Doze Luzes, Robert Struble, Jr. afirma:

“A cosmovisão pós-moderna rejeita todas as formas de absolutismo das eras do passado, especialmente a fé e a moral judaico-cristã; além disso os pós-modernistas idolatram absolutamente sua nova trindade secular de Tolerância, Diversidade e Escolha.(5)

Em seu livro Tempos Pós-Modernos: Um Guia Cristão ao Pensamento e Cultura Contemporâneos (1994), Gene Edwart Veith, Jr., reitor da Escola de Artes e Ciências e Professor Associado de Inglês da Universidade de Concórdia, no Wisconsin, descreve o pós-modernismo como uma cosmovisão que é incompatível com o cristianismo. Nessa cosmovisão,

O intelecto é substituído pela vontade. A razão é substituída pela emoção. A moralidade é substituída pelo relativismo. A própria realidade torna-se uma construção social.

Princípios Fundamentais do Pós-Modernismo. Vamos agora olhar brevemente os pilares fundamentais do pós-modernismo – ou seja:

1. “Não Existem Valores Morais Absolutos”

  • “Não existe certo ou errado”
  • “A moralidade é relativa”

2. “Não Existem Verdades Absolutas”

  • “Não existe verdade absoluta”
  • “A verdade é relativa”

Estes dois pilares têm a ver com ética e moralidade e com verdade / doutrinas. Vamos examinar brevemente cada um deles.

Ética / Moralidade em um Mundo Pós-Moderno

A. “Não Existem Valores Morais Absolutos”

(“Não existe certo ou errado” ou “A moralidade é relativa”)

Crise de Ética Atual. Não há dúvida de que enfrentamos atualmente uma crise ética. A crise não consiste na violação flagrante dos padrões de comportamento moralmente aceitos (todas as eras tiveram a sua quota disto). Em vez disso, a crise ética de hoje tem a ver com o fato de que “pela primeira vez, pelo menos em uma escala maciça, existe a própria possibilidade de que tais padrões [morais] tenham sido postos em questionamento e, com isso, todas as distinções essenciais entre o certo e o errado”.(6)

Em outras palavras, a crise ética de hoje decorre do fato de que, ao contrário de épocas anteriores, quando as pessoas sabiam o que era certo e errado, mas optavam por praticar o errado, em nossa época as pessoas não tem certeza da existência de absolutos morais universais para definir o que é certo e o que é errado. Vivemos em uma cultura do relativismo moral.

Embora as pessoas sempre tenham cometido pecados, elas pelo menos reconheciam estes como pecados. Há um século atrás, uma pessoa poderia ter cometido adultério em flagrante desafio a Deus e ao homem, mas teria admitido que o que estava fazendo era um pecado. O que temos hoje não é apenas um comportamento imoral, mas uma perda de critérios morais. Isso é verdade mesmo na igreja. Enfrentamos não apenas um colapso moral, mas um colapso de significado. “Não existem verdades absolutas.” (7)

Por que a Crise de Ética Atual?

Uma série de fatores contribuíram para a incerteza de hoje sobre os absolutos morais:

1. O Surgimento do Naturalismo no século 18. A cosmovisão naturalista ensina que o universo e todos os fenômenos nele existentes são o produto de leis naturais, tempo e oportunidade. Nesta cosmovisão essencialmente não há espaço para um Ser divino que prescreva absolutos morais (de acordo com a ética do utilitarismo, o nazismo, o marxismo, etc.).

2.A Teoria da Evolução no século 19. Tomando como ponto de partida a teoria naturalista da evolução, o mundo de hoje limita muito, se não nega totalmente a existência de realidades sobrenaturais – Deus, Satanás, anjos – e milagres. Acredita que a humanidade é inerentemente boa e capaz de melhorar, bastando-lhe apenas ter oportunidade – mais tempo evolutivo. A única coisa que é imutável e inalterável em todo o mundo são as leis físicas da natureza, e não a lei moral de Deus, a lei dos Dez Mandamentos.

Assim, “a descoberta de Darwin sobre o princípio da evolução fez soar o sino da morte dos valores religiosos e morais. Ele removeu a terra sob os pés da religião tradicional” (8), jogando assim em dúvida a própria ideia de absolutos morais que governassem as vidas humanas.

3. A Teoria da Relatividade em 1920. A descoberta da lei da relatividade na física, a teoria de que não existem medidas absolutas de distância e tempo, foi confundida a nível popular com o relativismo das ideias e da moralidade. O historiador Paul Johnson escreve: “No início da década de 1920 a crença começou a circular, pela primeira vez em nível popular, de que não havia mais quaisquer absolutos: de tempo e espaço, do bem e do mal, do conhecimento, acima de tudo de valor. Equivocadamente, mas talvez inevitavelmente, a relatividade se confundiu com relativismo.” (9)

4. A Influência do Humanismo Secular nos anos 1930 e 40. A popularização das ideias do humanismo secular, especialmente através das instituições de ensino, tem sido fundamental na divulgação da cosmovisão e da moralidade naturalista da Associação Humanista, conforme estabelecido nos “Manifestos Humanistas” de 1933 e 1973 desta associação.

Por exemplo, o terceiro princípio do manifesto de 1973 afirma que os valores morais não derivam de Deus, mas da experiência humana. Para os humanistas seculares, “a ética é autônoma e situacional.” (10) A implicação desta declaração pode ser ilustrada chamando a atenção para a declaração do Manifesto Humanista II sobre a sexualidade humana. No princípio seis encontra-se o seguinte:

“Na área da sexualidade, acreditamos que atitudes intolerantes, frequentemente cultivadas pelas religiões e culturas ortodoxas puritanas, reprimem indevidamente a conduta sexual. O direito ao controle da natalidade, aborto e divórcio devem ser reconhecidos. Embora não aprovemos as formas de expressão sexual que exploram e denigrem, não queremos proibir, por lei ou sanção social, comportamentos sexuais consensuais entre adultos. As muitas variedades de exploração da sexualidade em si não devem ser consideradas “más”. Sem apoiar a permissividade sem sentido ou a promiscuidade desenfreada, uma sociedade civilizada deveria ser tolerante. Exceto quando estiverem prejudicando o outro, ou obrigando-os a fazerem isto, os indivíduos devem ser autorizados a expressar as suas predileções sexuais e perseguir os estilos de vida como desejam…” (11)

Não se pode subestimar o impacto do humanismo secular, dado ao fato de os apoiadores e observadores dos Manifesto Humanista incluírem nomes conhecidos tais como John Dewey (o pai da educação moderna), Sakharov Andrey (da Academia Soviética de Ciências), Joseph Fletcher (o pai da ética situacional), Betty Friedan (da Organização Nacional de Mulheres), B.F. Skinner (professor de psicologia de Harvard, defensor chave da teoria do behaviorismo) e uma longa lista de mestres de diversas faculdades e universidades e presidentes.

5. O Impacto da Ética Situacional em 1960. O situacionismo ou ética situacional sustenta que a única moral absoluta é o “amor”. Ao decidir o que é moralmente certo ou errado em qualquer situação, deve-se perguntar: “qual é a coisa mais amorosa a fazer”.

Joseph Fletcher, o pai da ética situacional e ganhador “Prêmio Humanista do Ano” de 1974 da Associação Humanista, escreve: “Tudo depende da situação… Em algumas situações o amor entre solteiros poderia ser infinitamente mais moral do que desamor entre casados. Mentir pode ser mais cristão do que dizer a verdade. Roubar poderia ser melhor do que respeitar a propriedade privada. Nenhuma ação é certa ou errada em si mesma. Depende se ela fere ou ajuda as pessoas, se ela serve ou não ao propósito do amor – entendendo-se o amor como uma preocupação pessoal – naquela situação”. (12)

6. Os Ensinamentos do Behaviorismo e da Sociobiologia nos anos 60 e 70. No passado, acreditava-se que os seres humanos tivessem liberdade de escolha ou de auto-determinação, e assim eles podiam ser responsabilizados por suas ações. No entanto, como resultado dos ensinamentos do behaviorismo e da sociobiologia, existe uma visão predominante hoje, que atitudes e ações que no passado eram atribuídas à escolha humana ou ao livre-arbítrio são agora em grande parte devido à influência dos aspectos culturais, sociais, psicológicos e fatores genéticos.

Uma implicação inconfundível do impacto do behaviorismo e da sociobiologia é o modo em que certas frases tornarem-se correntes – frases tais como “não é minha culpa…” ou “eu não tive escolha…” etc. Não é surpreendente que tenha se tornado muito na moda que as pessoas transfiram a responsabilidade de si e coloquem a culpa no ambiente, na criação, nos pais, nos governos ou na própria igreja. Às vezes até mesmo o “diabo” é culpado (“o diabo me fez fazer isso”), e alguns cristãos respondem que “foi o Espírito quem me levou a fazer isso.” Na opinião de muitos, as ações morais dos seres humanos são todas dependentes de seu ambiente, das circunstâncias, ou código genético.

7. A Popularização do Culto ao Eu desde os anos 1970. Uma característica importante da cultura de hoje é a deificação de si mesmo. Com uma incerteza quanto à existência de realidades sobrenaturais e até mesmo a existência de um Deus transcendente, o “Eu” tem sido exaltado como o novo deus para muitas pessoas. (13) Por conseguinte, o ser humano é visto como capaz de estabelecer suas próprias normas morais, uma receita certa para o relativismo na vida ética.

O crédito para essa idolatria moderna vai não só para a difusão da filosofia da Nova Era e da cosmovisão pós-moderna, mas também para a antropologia da teologia liberal. Palavras como “auto-descoberta”, “auto-afirmação”, “auto-estima”, “auto-realização”, “auto-expressão,” e “auto-aceitação” podem refletir esse estado de espírito. John Shelby Spong, bispo Episcopal aposentado de Newark, oferece uma expressão liberal dessa cosmovisão, quando descarta a visão bíblica do mundo como “precientífica”. Ele escreve em seu best-seller de 1991: “Nós procuramos e encontramos significado e divindade, nem sempre tanto em um Deus externo, mas nas profundezas da nossa humanidade, no entanto, é divindade. Chegamos à aurora da compreensão de que Deus não pode estar separado de nós, mas sim dentro de nós.” (14)

8. Dominância do Relativismo Moral na Cultura Contemporânea. Como resultado de tais teorias éticas como situacionismo, generalismo, antinomismo, etc. “Não me julgue”, “Não julguem” e o mito da “tolerância”. Dentro da cristandade, visões diferentes sobre os absolutos morais. Hierarquização conflitante, absolutismo ou piramidalismo, o absolutismo desqualificado.

Todas essas coisas levantam as seguintes questões: As leis morais de Deus são Dez Sugestões ou Dez Mandamentos? Mentir, roubar, matar, transgredir o sábado, cometer adultério, ou desobedecer a Deus podem ter justificativa?

9.A Rejeição dos Dez Mandamentos por Alguns Cristãos. Entre os cristãos há uma crescente convicção de que as Escrituras inspiradas não fornecem claramente normas morais identificáveis para a conduta das vidas humanas. Alguns cristãos evangélicos podem inadvertidamente ter contribuído para esta incerteza sobre os absolutos morais universais quando, em sua tentativa de negar a validade do sábado do sétimo dia, são forçados a ensinar que todos os Dez Mandamentos não são válidos para os crentes.

10. Sincretismo Religioso Pós 11 de Setembro. Uma busca por alguma ética global. Iniciado em 1993, com o Parlamento da Conferência das Religiões em Chicago. 6500 delegados presentes.

Implicações de todos esses pontos. Como resultado dos fatores acima (e, talvez, muitos mais), hoje muitos acreditam que “não existem valores morais absolutos”. Para eles, “Não existe certo ou errado”. “A moralidade é relativa”.

A ausência de valores morais absolutos (falta de base objetiva de certo ou errado), contudo, reflete um problema muito maior – ou seja, a perda da verdade objetiva – o segundo princípio do pós-modernismo.

Verdade / Doutrinas em um Mundo Pós-Moderno

B. “Não Existem Verdades Absolutas”

(“Não existe verdade absoluta” ou “A verdade é relativa”)

Juntamente com a crise da ética, também existe uma crise sobre a verdade. Já mudamos de uma visão que diz: “Não existem absolutos morais” para uma que diz: “Não existem coisas absolutas.” De “Não existe moralidade” para “Não existe verdade absoluta.” De “a moralidade é relativa” para “A verdade é relativa”

Na primeira declaração tem a ver com ética ou moral. A segunda refere-se a verdade ou ensinamentos / doutrinas. Deixe-me explicar isso:

É difícil proclamar o perdão dos pecados para pessoas que acreditam que, uma vez que a moralidade é relativa, não possuem pecados a serem perdoados. É difícil testemunhar a verdade a pessoas que acreditam que a verdade é relativa (“Jesus funciona para você; cristais funcionam para mim”).

Em 1991 (ano em que o muro de Berlim veio abaixo), uma pesquisa esclarecedora revelou que entre dois terços e três quartos dos americanos acreditam que a verdade é relativa. Especificamente, 66% dos americanos acreditam que “não existe tal coisa como verdade absoluta”. Entre os jovens adultos, o percentual é ainda maior: 72% das pessoas entre 18 e 25 não acredita que existem absolutos. (15)

Vamos pensar sobre as implicações. Primeiro, essa pesquisa foi realizada há quase 20 anos. Os jovens que estavam naquele momento entre 18-25 estão agora com 38-45 anos. Eles hoje são professores, mestres, jornalistas, advogados, médicos, políticos, pastores, etc. Seus filhos agora estão com cerca de 20 anos de idade e estão na faculdade. E assim, por todas as vidas destas crianças, elas foram ensinadas que “não existe tal coisa como verdade absoluta.” A verdade é relativa.

O que George Barna achou “mais desanimador” a respeito dos resultados da pesquisa foi que a maioria dos cristãos americanos também acreditam que a verdade é relativa:

“Mesmo a maioria dos cristãos nascidos de novo (53%) e adultos associados a igrejas evangélicas (53%) concordam com o sentimento [“não existe tal coisa como verdade absoluta”]. Inesperadamente, entre os grupos de pessoas mais ardentemente favoráveis a este ponto de vista são os protestantes [liberais] (73%).” (16)

Então, não são apenas os não-cristãos que acreditam que a verdade é relativa. Mesmo os cristãos compartilham da mesma opinião que “não existe verdade absoluta.”

Novamente, vamos analisar isso um pouco mais. Descrer na verdade é auto-contraditório. Crer em algo significa que este algo é verdadeiro. Assim, quando uma pessoa diz, “eu acredito que não existe verdade absoluta”, essa afirmação é intrinsecamente um disparate sem sentido. A própria afirmação – “não existe verdade absoluta” – é uma verdade absoluta. E se essa afirmação é verdadeira, então ela em si mesma não é verdade.

E, no entanto, muitos não pensam seriamente nas implicações do que estão dizendo. Ou as pessoas são ignorantes ou simplesmente estão confusas. Mas essa é precisamente outra marca do pós-modernismo: Acreditar em ideias mutuamente inconsistentes:

Implicações

1. Inconsistência. No pós-modernismo,

– Você pode ser um cristão e não acreditar que Jesus é o Filho de Deus.

– Você pode acreditar em Cristo e Buda, ao mesmo tempo.

– Você pode ser um protestante e não acreditar que a Bíblia é a regra inspirada e confiável da fé.

– Você pode ser um adventista e não acreditar em uma segunda vinda literal, visível e audível.

– Você pode ser um adventista do sétimo dia e não acreditar que Deus criou o mundo em seis dias e descansou no sétimo; daí adventista do sétimo dia. Hoje, é possível afirmar ser um bom adventista e acreditar na evolução naturalista

2. Pluralismo de Crenças. Enquanto os modernistas argumentavam de diversas maneiras que o cristianismo não era verdade, dificilmente ouvimos esta objeção atualmente. As críticas comuns hoje em dia são que: “Os cristãos acham que possuem a única verdade.” As reivindicações do Cristianismo não são negadas; elas são rejeitadas porque pretendem ser verdadeiras. Aqueles que acreditam que “não existem absolutos” descartarão aqueles que rejeitam o relativismo como sendo “intolerantes”, como uma tentativa de forçar suas crenças sobre outras pessoas.

3. Hermenêutica da Suspeita. Nenhum texto histórico (por exemplo, a Bíblia) pode ser absolutamente verdadeiro. Devemos nos aproximar do texto, não para descobrir o que ele significa objetivamente, mas para desmascarar o que está escondido. Chamamos isso de “hermenêutica da suspeita.”

A hermenêutica da suspeita vê cada texto como uma criação política, normalmente concebida para funcionar como uma propaganda do status quo. Exemplos:

– A Bíblia vs. os Evangelhos Gnósticos,

– Os “Textos Perdidos da Bíblia” e O Código Da Vinci

Não acredite em qualquer texto. Em vez disso, “interrogue o texto” para descobrir a sua agenda política ou sexual oculta. Por exemplo, não devemos aceitar humildemente, mas em vez disso devemos interrogar:

– A Bíblia,

– Os escritos de E.G. White,

– Etc.

4. Revisionismo na História (Desconstrucionismo). Como não existe nenhuma verdade objetiva, a história não é um registro de fatos objetivos. Eles são simplesmente os pontos de vista de quem os escreveu para alcançar seus objetivos políticos. No mínimo, de acordo com os pós-modernistas, os chamados fatos da história são, ao contrário, “uma série de metáforas.”

Uma vez que não existe nenhuma verdade objetiva, a história deve ser re-escrita de acordo com as necessidades de um grupo específico: a história Eurocêntrica, história Afrocêntrica, história feminista, história de gays e lésbicas, etc. …

5. Educação e Busca da Verdade. Uma vez que todas as reivindicações de verdade são suspeitas é preciso “desconstruir” tudo aquilo que pretende ser verdade. Supõe-se que as universidades deveriam ser dedicados ao cultivo de verdade. Agora, uma vez que a verdade não existe mais, qual é a finalidade da busca do conhecimento intelectual? Muito simples: Temos de redefinir todo o sistema de ensino.

No passado íamos à universidade para buscar a verdade. No mundo pós-moderno de hoje, não é mais “o que é verdadeiro”, mas “o que funciona.”

6. Religião ou Desejo? No passado – tanto na era moderna quanto na e pré-moderna – a religião envolvia um conjunto de crenças sobre o que é real.

– Existe um Deus ou não há Deus

– Jesus foi o Filho encarnado de Deus ou Ele era apenas mais um ser humano

– Os milagres aconteceram ou não aconteceram

– Existe um lugar como o céu ou o inferno, ou eles não existem

– O Dia do Senhor é ou não é o Sábado do sétimo dia

– Etc.

– Etc.

E nós discordamos e lutamos entre nós. Hoje, porém, em nosso mundo pós-moderno, a religião não é vista como um conjunto de crenças sobre o que é real e o que não é. Pelo contrário, a religião é vista como uma preferência, uma escolha. Acreditamos naquilo que gostamos. Acreditamos no que queremos acreditar. Como Gene Edward Veith resumiu melhor:

“Escute o modo como as pessoas discutem religião. “Eu gosto muito dessa igreja”, dirão. A concordância com essa igreja ou a crença em seus ensinos dificilmente aparece na discussão. As pessoas discutem dogmas de fé nos mesmos termos. “Eu realmente gosto da passagem da Bíblia que diz: ‘Deus é amor.'” Bastante fé e amém. Há muito no cristianismo a ser apreciado – o amor de Deus por nós, Cristo ter carregado nossos pecados, Sua graça e ajuda.

“Mas aí nós começamos a ouvir sobre o que a pessoa não gosta. “Eu não gosto da ideia de inferno.” … A questão não é se gostamos da ideia, mas se existe tal lugar. (pp. 193-194).

Em suma, religião não é mais uma questão do que é verdadeiro, mas o que eu gosto e o que eu quero. (Isso explica por que as seitas estão atraindo muitas pessoas inteligentes. Aqueles que são muito sofisticados para acreditar nos relatos simples do Evangelho estão abraçando todos os tipos de ensinos estranhos, simplesmente porque gostam deles.). Gostar de alguma coisa e querer que seja verdade são os únicos critérios para a crença.

7. Moralidade ou Desejo. Para os pós-modernistas, moralidade, como a religião, é uma questão de desejo. O que eu quero e o que eu escolho não somente é verdade (para mim), mas é correto (para mim). E uma vez que pessoas diferentes querem e desejam coisas diferentes, isso significa que a verdade e a moral são relativas.

Ainda mais, “Eu tenho o direito aos meus desejos.” Por outro lado, “ninguém tem o direito” de criticar os meus desejos e minhas escolhas. Os pós-modernistas parecem sentir que têm o direito de não serem criticados por aquilo que estão fazendo. Querem não apenas licença mas aprovação.

Por exemplo, o egoísmo, a promiscuidade imprudente e a realização de desejos sexuais, os diferentes tipos de expressões sexuais são direitos que ninguém pode criticar – por mais grosseiros que possam ser.

8. Pecado. A tolerância é a virtude cardeal. O maior pecado no pós-modernismo é uma falta de tolerância – ser “intolerante”, “ter a mente estreita”, “pensar que você tem a única verdade”, e “tentar forçar seus valores aos outros”.

9. Deus, Deuses e Religiões Planejadas. As pessoas concebem seu próprio deus(es) e planejam suas próprias religiões. A este respeito, a nossa cultura contemporânea não é sem deus. Pelo contrário, ela está preenchida com muitos deuses.

O Modernismo tentou livrar o mundo da religião. No entanto o pós-modernismo gera muitos outros deuses novos. Sem qualquer constrangimento pela objetividade, razão, moral, etc., essas novas religiões se inspiram em ramos do paganismo mais antigo e primitivo. Pessoas escolhem e apanham vários aspectos de religiões diferentes, de acordo com o que eles “gostam”.

O pós-modernismo, em sua rejeição à verdade objetiva, tem claras afinidades com o hinduísmo e o budismo, que ensinam que o mundo externo é apenas uma ilusão concebida pela mente humana e que o eu é deus.

Em outras palavras, os cristãos de hoje se encontram exatamente na posição dos antigos israelitas e da Igreja primitiva – ter de manter a sua fé em meio a vizinhos pagãos hostis. Eles enfrentam as mesmas ameaças e tentações para seguir as práticas, valores e crenças dos vizinhos pagãos.

30 “Guarda-te, que não te enlaces seguindo-as, depois que forem destruídas diante de ti; e que não perguntes acerca dos seus deuses, dizendo: Assim como serviram estas nações os seus deuses, do mesmo modo também farei eu.” 31Assim não farás ao SENHOR teu Deus; porque tudo o que é abominável ao SENHOR, e que ele odeia, fizeram eles a seus deuses; pois até seus filhos e suas filhas queimaram no fogo aos seus deuses.” 32 “Tudo o que eu te ordeno, observarás para fazer; nada lhe acrescentarás nem diminuirás.” (Deuteronômio 12:30-32).

10. Espiritualidade Sem Verdade. Modernistas não acreditavam que a Bíblia é verdadeira. Os pós-modernistas acabaram por completo com a categoria da verdade. Ao fazer isso, eles abriram uma caixa de Pandora da Nova Era religiosa, sincretismo e caos moral.

O pós-modernismo considera que não existe verdade objetiva, que os valores morais são relativos, e que a realidade é construída socialmente por um conjunto de diversas comunidades. Estas crenças definitivamente excluem a religião, como o modernismo tendia a fazer. Mas as religiões e as teologias que eles promovem são muito diferentes, tanto da ortodoxia bíblica quando do modernismo.

O Desafio do Pós-Modernismo

Uma sociedade pode existir por muito tempo sem moral ou verdade? Sociedades que são divididas contra si mesmas e fragmentadas em facções (ideologias), sem qualquer quadro de referência coerente são, por definição, instáveis.

O pós-modernismo está dividindo nossas sociedades. E isso é perigoso.

Sir Arnold Joseph Toynbee (14 de abril de 1889 – 22 de outubro de 1975) foi um historiador britânico que escreveu uma análise em doze volumes da ascensão e queda das civilizações. Ele argumenta que as sociedades de bem-sucedidas têm algum tipo de consenso religioso. Quando esse consenso é perdido, novos objetos de culto se apressam em preencher o vácuo espiritual. De acordo com Toynbee, quando uma sociedade perde a sua fé transcendente, se volta para três alternativas, as quais ele francamente chama de “idolatrias”:

1. Nacionalismo

2. Ecumenismo

3. Tecnicismo

1. Nacionalismo – “Comunidade Paroquial Deificada” Quando uma fé transcendente universal é perdida, dá lugar à “comunidade paroquial deificada”. Neste modelo, cada pequeno grupo considera-se divino. Ela idolatra si e todos os estranhos são inimigos. Exemplos:

– A ascensão do Nacionalismo Renascentista depois que o consenso medieval ruiu.

– O Fascismo de Mussolini e o Nacional Socialismo de Hitler.

Nas sociedades pós-modernas de hoje vemos como novos nacionalismos estão surgindo, cada um atacando as gargantas dos outros. A perda de um consenso democrático nos Estados Unidos tem levado a políticas raciais, grupos militantes de interesse – aborto, feminismo, direitos gays, etc., com hostilidade em relação uns aos outros.

2. Ecumenismo -“Império Ecumênico Deificado” Quando há uma perda de um consenso religioso transcendente, a comunidade idolatra a “unidade” ao mesmo tempo que acomoda uma grande diversidade. Por exemplo:

– Quando Roma perdeu sua religião ancestral localizada e se transformou em um vasto império, instituiu o culto imperador. O Império Romano divinizado era “ecumênico”, ou seja, uma Roma mundial tolerava pessoas de todas as religiões, desde que César fosse adorado como Deus. Os cristãos que não poderiam fazer isso eram condenados à morte.

– Toynbee vê algo similar no antigo Egito, Suméria, Pérsia, o Império Otomano, as dinastias imperiais da China, e mesmo nas armadilhas do império mundial britânico.

Na sociedade pós-moderna de hoje também estamos vendo uma nova realidade emergente – o culto da unidade, o que acabará por resultar na perda da liberdade.

– As negociações sobre a “unidade global” pelos ambientalistas, os teólogos da Nova Era, os gurus de negócios, astros do rock, etc.

– A economia global

– De maneira preocupante, vemos um movimento ecumênico para unir todas as religiões. O “movimento ecumênico” que foi construído durante a era Modernista (por teólogos liberais) tentou unir todas as igrejas através da obliteração de suas crenças distintivas.

Note-se que o culto à unidade inevitavelmente resulta em uma perda de liberdade. A individualidade, por definição, deve ser suprimida, se deve haver a união. Isto já aconteceu antes – durante a igreja primitiva, a igreja medieval, a era comunista. E pode acontecer novamente em nosso tempo, mesmo na América protestante.

3. Tecnicismo – “Idolatria do Técnico Invencível” Uma terceira alternativa para a perda de uma fé religiosa transcendente é o endeusamento dos técnicos: A tecnologia assume as funções da religião. Os atributos divinos de onisciência e onipotência, são atribuídos à tecnologia e aqueles que a dominam. Neste cenário, os técnicos que inventam a tecnologia formarão um novo sacerdócio, com conhecimento inacessível aos leigos – aos quais a tecnologia será tão incompreensível quanto a magia.

Técnicos tornam-se os novos sacerdotes. “Alguns dos nossos sacerdotes especialistas são chamados de psiquiatras, outros psicólogos, sociólogos ou estatísticos. O deus que eles servem não fala de justiça ou bondade ou misericórdia ou graça. O deus deles fala da eficiência, precisão, objetividade. E é por isso que conceitos como pecado e mal desaparecem na Tecnópolis. Eles vêm de um universo moral que é irrelevante para a teologia da perícia. E assim os sacerdotes da Tecnópolis chamam ao pecado de “desvio social”, que é um conceito estatístico, e AL mal de “psicopatologia”, mal que é conceito médico. O pecado e o mal desaparecem porque não podem ser medidos e objetivados, e portanto não podem ser tratados por especialistas.”(Neil Postman) (17)

Neste tipo de cultura, não avaliamos em termos de certo e errado, mas circulando um número em uma escala de dez pontos. Pessoas, sentimentos, ideias, valores todos devem ser quantificados. Estamos na era das estatísticas -pesquisas de opinião, testes padronizados e “instrumentos de avaliação” – que pretendem medir tudo, desde a qualidade do nosso trabalho à nossa condição psicológica.

Símbolos tradicionais, como os da religião, não são repudiados; ao contrário, são banalizados. Estatísticas reduzem as crenças a opiniões e padrões morais a preferências pessoais. A Palavra de Deus tem sido convenientemente ignorada como a base de todas as doutrinas e práticas.

E onde a Igreja Emergente entra em tudo isto?

A Igreja Emergente

A Igreja Emergente (por vezes referida como Movimento Emergente) é um movimento cristão do final do século 20 e início do 21, que atravessa uma série de fronteiras teológicas: os participantes podem ser descritos como evangélicos, pós-evangélicos, liberais, pós-liberais, carismáticos, neo-carismáticos e pós-carismáticos. Os participantes procuram viver sua fé no que acreditam ser uma sociedade “pós-moderna”.

Os defensores deste movimento chamam isto de “conversação”, para enfatizar sua natureza focada em desenvolvimento e descentralizada, a sua vasta gama de pontos de vista e seu compromisso com o diálogo. O que as pessoas envolvidas nestas conversas concordam, de maneira geral, é a sua desilusão com a igreja organizada e institucional e seu apoio para a desconstrução da adoração cristã moderna, o evangelismo moderno e a natureza da comunidade cristã moderna.

As igrejas emergentes podem ser encontradas em todo o globo, principalmente na América do Norte, Europa Ocidental, Austrália, Nova Zelândia e África. Alguns frequentam igrejas locais independentes ou igrejas em casas, rotuladas como “emergentes”, enquanto outros adoram nas denominações cristãs tradicionais.

A igreja emergente busca uma abordagem pós-cristianismo à sua forma de ser como igreja e sua missão através de: renunciar a abordagens imperialistas com relação à linguagem e à imposição cultural; fazer “reivindicações da verdade” com humildade e respeito; superar a dicotomia público/privado; mudar a igreja do centro para as margens; mudar de um lugar de privilégio na sociedade para uma voz entre muitas; fazer uma transição do controle para o testemunho; da manutenção para a missão e de uma instituição para um movimento.

Espiritualidade criativa e redescoberta

Isso pode envolver tudo, desde o estilo expressivo, neo-carismático de culto e do uso da música contemporânea e filmes até costumes litúrgicos mais antigos e expressões ecléticas de espiritualidade, com o objetivo de fazer com que a reunião da igreja reflita os gostos da comunidade local.

Os praticantes da igreja emergentes estão felizes em tomar elementos de adoração de uma ampla variedade de tradições históricas, incluindo as tradições da Igreja Católica, de igrejas Anglicanas, de igrejas Ortodoxas, e do cristianismo Celta. A partir dessas e de outras tradições religiosas os grupos das igrejas emergentes tomam, adaptam e misturam diversas práticas históricas da igreja, incluindo liturgia, rosários, ícones, direção espiritual, o labirinto, e lectio divina. A Igreja Emergente às vezes também é chamada de igreja do “Futuro Antigo”.

Uma das forças sociais fundamentais nos países ocidentais pós-industriais, é o surgimento de novas/velhas formas de misticismo. Este aumento na espiritualidade parece ser impulsionado pelos efeitos do consumismo, da globalização e os avanços na tecnologia da informação. Portanto, a Igreja Emergente está operando em um novo contexto da espiritualidade pós-moderna, como uma nova forma de misticismo. Este capitaliza sobre as mudanças sociais, partindo da situação em que a maioria era considerada materialista/ateu (uma posição moderna), para o fato de que muitas pessoas agora acreditam e estão à procura de algo mais espiritual (visão pós-moderna). Isto tem sido caracterizado como uma grande mudança, da religião para a espiritualidade.

Assim, no novo mundo de “turismo espiritual”, o Movimento da Igreja Emergente está procurando apoiar, de forma missionária, as pessoas a deixarem de ser turistas espirituais para se tornaram peregrinos cristãos. Muitos estão recorrendo a antigos recursos cristãos recontextualizados na contemporaneidade, como a contemplação e as formas contemplativas de oração, adoração multissensoriais simbólicas, narração de histórias e muitos outros. Isto tem exigido mais uma vez uma mudança de foco, uma vez que a maioria das pessoas sem igreja e fora de alguma igreja estão buscando “algo que funciona”, ao invés de algo que seja “verdadeiro”.

Desafios Colocados pela Igreja Emergente ao Adventismo

Não há dúvida de que a teologia e a cosmovisão emergente estão agora sendo promovidas ativamente em certas áreas da igreja. … Há algumas grandes preocupações que devemos levantar acerca de pós-modernismo

1. A forma de adoração e a prática da espiritualidade

– Livros e artigos sendo publicados

– Novas formas de oração

– Formação espiritual, nova palavra de ordem para a espiritualidade contemplativa

2. Sua visão da Doutrina

– As doutrinas não são importantes

– Abordagem não-dogmática

– Desconstruir o sistema moderno de modo que uma nova realidade possa surgir

– Em todas as doutrinas, eles perguntam: É uma questão de salvação? (NOTA: Cada verdade da Bíblia é ponto de salvação.)

– Ridicularizam o antigo zelo e devoção.

– Zombam da história adventista.

3. A sua visão acerca do estilo de vida

– Questões acerca do estilo de vida são dispensáveis

– Não podemos ser críticos

– Evangelho da tolerância

4. Sua visão das Missões

– Missões são um diálogo, uma conversa – não uma proclamação

– O evangelismo é missional (encarnação); em vez de uma mentalidade de fortaleza, nós nos infiltramos e transformamos.

– Evangelismo não é mensurável; leva anos (portanto, milhões de dólares gastos em experiências de técnicas falsas de implantação de igrejas)

– O foco está nos que estão sem igreja

– O Reino de Deus é maior do que qualquer denominação e religião (portanto não há necessidade de enfatizar o ensino da igreja “remanescente”). …

Proclamando a Moralidade e a Verdade

Na área da moralidade e da verdade, existe um cavalo de Tróia: noções do pós-modernismo, de que “não existem absolutos morais” e que “não existem absolutos” são enganosos cavalos de Tróia construídos pelo pai da mentira. A primeira declaração lida com ética ou moral. A segunda refere-se à verdade ou ensinamentos / doutrinas. E são para estes conceitos que o movimento da igreja emergente está conduzindo.

A negação da moral e da verdade é um sinal importante dos últimos dias. Já notaram como passamos do relativismo no estilo de vida (ética) para a doutrina? Cf. II Pedro 3:3-7:

3 Sabendo primeiro isto, que nos últimos dias virão escarnecedores, andando segundo as suas próprias concupiscências, 4 e dizendo: “Onde está a promessa da sua vinda? porque desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação.” 5 Eles voluntariamente ignoram isto, que pela palavra de Deus já desde a antiguidade existiram os céus, e a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste. 6 Pelas quais coisas pereceu o mundo de então, coberto com as águas do dilúvio. 7 Mas os céus e a terra que agora existem pela mesma palavra se reservam como tesouro, e se guardam para o fogo, até o dia do juízo, e da perdição dos homens ímpios.

– Momento oportuno para proclamar a verdade

– Apocalipse 14:12 – os que guardam os mandamentos de Deus (Ética) e da fé de Jesus (Doutrina)


Notas:

(1) Veja o artigo da revista Slate por Brendan I. Koerner, “The Other Trojan War: What’s the Best-selling Condom in America?”; http://www.slate.com/id/2150552. Posted Friday, Sept. 29, 2006, at 12:32 PM ET. (voltar)

(2) As razões para o fim do modernismo não são sem sentido: o progresso científico parece ir de mãos dadas com um aumento da poluição e do crime. Enquanto a Internet é um dos maiores avanços na história do mundo, é também a base para um grande aumento no estresse relacionado ao trabalho e novas formas de dependência. A Primeira Guerra Mundial, a Segunda Guerra Mundial, o Holocausto e outros genocídios, as armas de destruição em massa e o terrorismo combinam-se para derrubar a confiança nos modernistas científicos. Uma nova geração proclama o deus do modernismo secular como sendo sendo um falso deus. A humanidade está se afastando da verdade da ciência para buscar a verdade em outras direções. (voltar)

(3) Vaclav Havel, “The Need for Transcendence in the Postmodern World,” speech in Independence Hall, Philadelphia, July 4, 1994. (voltar)

(4) Josh McDowell & Bob Hostetler, The New Tolerance (Carol Stream IL: Tyndale House, 1998), p. 208. (voltar)

(5) Robert Struble, Jr., Treatise on Twelve Lights: To Restore America the Beautiful under God and the Written Constitution, “Introduction.” (voltar)

(6) Will Herberg, “What is the Moral Crisis of Our Time?” Intercollegiate Review (Fall 1986):9 (voltar)

(7) Gene Edward Veith, Jr., Postmodern Times: A Christian Guide to Contemporary Thought and Culture (Wheaton, IL: Crossway Books, 1994), p. 18. (voltar)

(8) The Humanist (September-October, 1964):151. (voltar)

(9) Paul Johnson, Modern Times: The World from the Twenties to the Eighties (New York: Harper and Row, 1983), 4. (voltar)

(10) O terceiro princípio do manifesto de 1973 diz: “Nós afirmamos que os valores morais têm sua fonte na experiência humana. A ética é autônoma e situacional, não necessitando de qualquer sanção teológica ou ideológica. A ética deriva de necessidades e interesses humanos. Negar isto distorce toda a base da vida. A vida humana tem sentido porque criamos e desenvolvemos nosso futuro. A felicidade e a realização criativa das necessidades e desejos humanos, individualmente e em apreciação compartilhada, são temas contínuos do humanismo. Nós nos esforçamos por uma vida boa, aqui e agora. O objetivo é perseguir o enriquecimento da vida apesar das forças aviltantes da vulgarização, comercialização, burocratização e desumanização “. Veja Paul Kurtz, ed., Humanist Manifestos I and II (Buffalo, NY: Prometheus Books, 1973), 17. Humanist Manifesto I apareceu primeiramente em The New Humanist 6/3 (Maio/Junho de 1933), e Humanist Manifesto II apareceu pela primeira vez em The Humanist 33/5 (Setembro/Outubro de 1973). (voltar)

(11) Kurtz, Humanist Manifesto I and II, 18. (voltar)

(12) Joseph Fletcher, Moral Responsibility-Situation Ethics at Work (Philadelphia, PA: Westminster Press, 1967), 34. (voltar)

(13) Allan Bloom, descreve a essência do “eu” desta maneira: “misterioso, inefável, indefinível, criativo, conhecido apenas pelos seus atos; em resumo, como Deus, de quem é uma imagem ímpia. Acima de tudo, é individual, único, sou eu, não algum homem genérico distante ou um homem-em-si-mesmo.” (Bloom, The Closing of the American Mind [New York: Simon & Schuster, 1987], 173). (voltar)

(14) John Shelby Spong, Rescuing the Bible from Fundamentalism: A Bishop Rethinks the Meaning of Scripture (New York: HarperSanFrancisco, 1991), 33. (voltar)

(15) George Barna, What Americans Believe: An Annual Survey of Values and Religious Views in the United States (Ventura, CA: Regal Books, 1991), 83-85. (voltar)

(16) Barna, What Americans Believe, pp. 36-37; cf. pp. 292-294. (voltar)

(17) Neil Postman, Technopoly: The Surrender of Culture to Technology (New York: Vintage Books, 1993), p. 58. (voltar)


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Fonte: Clique aqui para ter acesso ao material completo em inglês, publicado originalmente em http://www.drpipim.org

Traduzido por Levi de Paula Tavares em março de 2011

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