Hinologia

Hinologia Adventista em Defesa da Trindade: Uma Análise da Pessoa do Espírito Santo

por: Eleazar Domini

Introdução

Há uma série de indivíduos atualmente que se julgam “portadores de uma nova luz”, luz esta que Deus teria dado a eles apenas. Por não possuírem formação teológica, orgulham-se de terem “muito” conhecimento em detrimento daqueles que estudaram, foram capacitados e chamados por Deus para exercerem o ministério pastoral. Não que Deus dependa de uma capacitação teológica para falar a Seus filhos, mas Ele usa de maneira especial aqueles a quem chamou para serem líderes de Seu povo aqui neste mundo.

Entre estes dissidentes, encontra-se um grupo resumido, que é contra a doutrina Bíblica da Trindade. Fundamentam boa parte de suas ideias nos pressupostos de que os pioneiros Adventistas não concordavam com esta doutrina e que a IASD se corrompeu anos mais tarde ao incorporar em seu corpo doutrinário o assunto da Trindade. Entre os argumentos usados para sustentar esta fantasia, destaca-se a Hinologia Adventista e as supostas adulterações que a IASD teria feito ao longo dos anos nas letras dos hinos.

Como é de se esperar de um grupo que defende os ideais do dragão, as armas utilizadas só poderiam vir dele: engano e mentira. Ao tentarem impor a premissa que estão defendendo, deixam de pesquisar a fundo o assunto e citam apenas o que lhes agrada, não sendo fiéis à realidade.

Entrando No Assunto

Tendo vista o que foi apresentado acima, o presente estudo mostrará como era a compreensão dos pioneiros sobre a Trindade analisando-se a Hinologia Adventista. O estudo será feito numa ordem temporal crescente, fazendo-se uma análise desde os primeiros hinários Adventistas. A primeira análise será no Hymns and Tunes for Those Who Keep the Commandments of God and the Faith of Jesus feito no ano de 1876 (o primeiro hinário com representações musicais). Seguindo-se a este hinário, será feito um estudo no Hymns and Tunes, feito em 1886 por Edson White e Franklin Belden. Depois será analisado Christ in Song produzido na virada do séc. XIX para o séc. XX (mais precisamente no ano de 1900) e, também hinários produzidos no século XX. Análise também contemplará hinários produzidos nos EUA e os produzidos aqui no Brasil.

Para melhor elucidar o assunto em questão a “Enciclopédia da Memória Adventista no Brasil: História dos Hinários Adventistas”, por Jetro de Oliveira, cita:

A segunda geração de pioneiros Adventistas, notavelmente, Edson White (filho de Ellen G. White) e seu primo Frank Belden, acrescentaram variedade, se não qualidade à hinologia Adventista. Edson White foi o primeiro a aprender como imprimir caracteres musicais para os hinários. Ele publicou um número de hinários de temperança e Escola Sabatina à vezes colaborando com Belden. Ambos eram compositores, e vários hinos de Belden ainda permanecem na hinologia Adventista. Desde 1886, três volumes dominaram a hinologia adventista. O primeiro foi Hymns and Tunes. Oficialmente intitulado The Seventh-day Adventist Hymn and Tune Book for Use in Divine Worship (O hinário ASD Para Uso no Culto Divino), a coleção foi compilada entre 1884 e 1886 por uma comissão especial da Associação Geral da IASD.

Na virada do século, F. E. Belden publicou Christ in Song. Este hinário substituiu o Hymns and Tunes, e permaneceu como o mais popular entre os Adventistas até 1941, quando foi publicado o atual Church Hymnal. [1]

1. Hinário Hymns and Tunes for Those Who Keep the Commandments of God and the Faith of Jesus (Hinos e Melodias para Aqueles Que Guardam os Mandamentos de Deus e a Fé de Jesus), feito em 1876 nos EUA.

a) Índice dos Assuntos

Note que entre os assuntos propostos para serem cantados, há uma sessão específica dedicada à pessoa do Espírito Santo (os hinos que vão do 117 ao 123).

b) Holy Spirit

O primeiro hino (número 163) foi preservado no hinário de 1886. A letra traduzida tem esta profunda mensagem:

“Vem, Santo Espírito, vem,
Nossas mentes da servidão libertar;
Então nós conheceremos e louvaremos
e amaremos, o Pai, o Filho, e a Ti“.

O segundo hino (número 164) ainda é mais profundo e possui uma verdade que tem sido diabolicamente atacada atualmente. Sua letra traduzida é:

Vem, Espírito Santo, hóspede celeste,
E faça tua mansão em meu peito
Dissipa as minhas dúvidas, controle meus medos,
E cura a angústia da minha alma.
TU ÉS DEUS de amor e paz divina,
Oh, faça tua luz brilhar dentro de mim!
PERDOE MEUS PECADOS, remova minha culpa,
E envie os sinais de teu amor.

Claramente a letra do hino chama o Espírito Santo de Deus. E ainda evidencia pedindo para que Ele perdoe os pecados. Em Lucas 5:21 é dito que apenas Deus pode perdoar pecados.

c) Old Hundred

Este hino (167) em louvor ao Espírito Santo, também foi preservado e aparece no hinário Hymns and Tunes (1886), bem como no Christ in Song (1900). A diferença é que no hinário Christ in Song, não consta a terceira estrofe. Este hino será comentado mais adiante quando for feita a análise do Christ in Song. É válido ao leitor, entretanto, atentar para a quarta estrofe deste belíssimo hino que diz:

Espírito Santo,TODODIVINO,
mora dentro deste meu coração,
Derruba cada ídolo entronizado,
reina supremo, e reina sozinho.

Como se pode notar até agora, a visão dos pioneiros quanto à Trindade não era tão fechada quanto tem se pintado pelos dissidentes atualmente. Os hinos (desde o primeiro hinário), já evidenciavam este fato.

2. Hymns And Tunes (Hinos e Melodias), feito em 1886 nos EUA.

a) Hino nº 151

A letra deste hino demonstra que a visão dos pioneiros não mudou após uma década. Desde o hinário de 1876 para este de 1886, nota-se que na liturgia musical, o assunto da Trindade estava sempre presente, era um tema sempre contemplado. A tradução segue-se abaixo:

“Vem, Espírito Santo, vem,
Nossas mentes da servidão libertar;
Então nós conheceremos e louvaremos
e amaremos, o Pai, Filho, e Ti”.

b) Hino nº 480

Este é mais um hino em que claramente se nota o louvor as Três pessoas da Divindade celeste. Note o início de cada uma das estrofes na tradução abaixo:

Cantemos o amor eterno,
Tal como na ação do Pai…
Cantemos o maravilhoso amor do Filho
Como ele deixou os domínios do alto…
Cantemos, também, o amor do Espírito;
Com nossos teimosos corações ele peleja…”

c) Hino nº 1134

Não é de admirar, mais uma vez “os Três Dignitários do Céu” são louvados e exaltados pelos pioneiros. A letra desse hino belíssimo, na terceira estrofe diz:

“Mas, de fato, Jeová se dignará
Aqui habitará, não como um convidado temporário.
Aqui nosso grande Redentor reinará,
E aqui o Espírito Santo repousará.”

Além desses hinos mencionados acima, dezenas de outros no hinário de 1886 são orações ao Pai, mas também ao Filho e ao Espírito Santo. Para concluir a análise do Hymns and Tunes, apresentar-se-á o Hino 256 (que também aparece no hinário Christ in Song) cantado desde 1886 ao abrir muitos cultos na igreja adventista.

d) Hino de nº 256

Segue-se abaixo a tradução:

“Louve a Deus de quem todas as benção fluem;
Louvem-no todas as criaturas aqui em baixo;
Louvem-no no alto vós hostes celestiais;
Louvem o Pai, o Filho e o Espírito Santo!”

Como se pôde observar nas análises feitas nos hinos dos hinários datados de 1876 e 1886, a visão dos pioneiros quanto a Trindade não era de repúdio ou completa rejeição. Entretanto, rejeitavam a visão católica [2] acerca da Trindade. Uma visão em muito semelhante ao pensamento do monarquianismo modalístico, como bem apresentou Joseph Bates: “Com respeito à Trindade, concluí que me era impossível crer que o Senhor Jesus Cristo, o Filho do Pai, era também o Deus Todo-Poderoso, o Pai, um e o mesmo ser.”[3]

No ano de 1900, como já referido, Franklin Belden, revisou o hinário e produziu o que ficou conhecido como Christ in Song. Seguem-se abaixo os hinos trinitários usados pela IASD desde 1900 até 1941. Ellen White ainda usufruiu dos belíssimos hinos deste hinário por quinze anos de sua vida.

3. Hinário Christ in Song (Cristo em Cânticos) feito em 1900 nos EUA.

a) Divisões Gerais

Observe que dentro das divisões gerais do hinário existem seções de hinos em louvor ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Melhor ainda é que dentro destas mesmas divisões gerais encontra-se: “Praise to the Trinity”, (Louvor à Trindade), como se segue na imagem abaixo:

Ora, se o próprio filho de Ellen White juntamente com seu primo Franklin Belden, fizeram o primeiro hinário, e em seguida o Christ in Song (que foi apenas melhorado com revisões em alguns hinos e inseridos outros, possuindo também as representações musicais), feito pelo próprio Frank Belden, por que não houve confusão na igreja da época por causa disso? Por que não houve um reboliço com o que os dissidentes dizem ser tão grande heresia? Ellen White ainda era viva e cantou dez anos com o primeiro hinário analisado neste artigo feito em 1876, cantou 14 anos com o segundo hinário e 15 anos com este (ao todo trinta e nove anos louvando a Trindade Celeste). Sendo pessoas tão próximas a si (filho e sobrinho) seria natural que ela os repreendesse como o fez com outras diversas pessoas que erraram. Mas isto não aconteceu. Ao contrário, ela cantava os hinos. Apoiava a liturgia da igreja na época.

A seguir podem-se ver os hinos que eram cantados pelos pioneiros com o hinário Christ in Song.

b) He Speaks Within (Ele fala interiormente)

Alguns se levantam questionando acerca do trono do Espírito Santo: “Como ele é Deus, se a Bíblia não fala de seu trono?”, perguntam. Esse questionamento exige o seguinte entendimento: só é Deus se possui trono. Como a Bíblia não cita o trono do Espírito Santo, logo Ele não é Deus. Uma premissa no mínimo infantil. Este assunto, entretanto, não era dificuldade para os pioneiros que cantavam as estrofes do hino acima, afirmando: “O Espírito tem Seu trono; em cada coração que achar lugar, e espera somente ser conhecido.” O trono do Espírito Santo era no coração deles. Este sempre deve ser o lugar onde o trono do Espírito Santo deve estar.

c) Light Divine (Luz Divina)

Tradução:

Espírito Santo, luz divina, brilha sobre este meu coração,
Lança fora as sombras da noite.

Espírito Santo, poder divino, purifica este meu coração culpado;
Tão pecaminoso, sem controle, realiza domínio sobre minha alma.

Espírito Santo, TODO DIVINO, mora dentro deste meu coração,
Derruba cada ídolo entronizado, reina supremo, e reina sozinho.

Que hino profundo! Que belíssimo louvor a Deus! Com uma letra tão inspiradora e profunda, surge uma pergunta um tanto retória: O que é DIVINO? Algo ou alguém divino não pode ser confundido com celeste. Os anjos são criaturas de Deus, são celestiais, pois habitam os céus. Entretanto, não são divinos. De acordo com o dicionário eletrônico Houaiss [4], divino é:

  1. Relativo a ou proveniente de Deus ou de um ou mais deuses.
  2. Concernente às coisas divinas; sagrado.
  3. Semelhante a Deus ou aos deuses, ou assim considerado.
  4. Superior ao padrão mais encontradiço; perfeito, maravilhoso, sublime.

Analisando a letra do hino que diz: “Espírito Santo, TODO DIVINO,” e comparando com a definição do que é divino pelo dicionário, como não entender que o Espírito Santo é Deus em sua essência?

d) Fill me Now (Enche-me agora)

Mais uma letra de hino poderosa: “Bendito, DIVINO, ETERNO Espírito, enche-me com amor, e enche-me agora.”

Com uma letra assim, mais uma vez se faz necessário uma definição do que é eterno. Eterno é diferente de infinito. Infinito é algo que não tem fim. No entanto, o dicionário Houaiss [5] define eterno como:

  1. Fora do tempo, sem início ou fim.

Nota-se que o Espírito Santo além de divino, era louvado pelos pioneiros da IASD como um ser ETERNO, característica inerente apenas a Deidade.

e) Praise Ye the Father (Louvai ao Pai)

A terceira estrofe desse belíssimo hino diz:

“Louvai ao Espírito, Consolador de Israel,
Enviado do Pai e do Filho para nos abençoar;
louvai ao Pai, Filho e ao Espírito Santo,
LOUVAI AOS TRÊS ETERNOS.”

Que belíssima compreensão tinham os pioneiros acerca da Trindade. Que profundo entendimento possuíam acerca desse assunto e do Espírito Santo.

f) Old Hundred

Como este hino já foi comentado, não se faz necessário falar muito acerca do mesmo. Sua importância consiste em que ele esteve presente em todos os hinários da IASD desde o que foi publicado em 1876. Apenas relembrando, sua tradução segue abaixo:

“Louve a Deus de quem todas as bençãos fluem;
Louvem-no todas as criaturas aqui em baixo;
Louvem-no no alto vós hostes celestiais;
Louvem o Pai, Filho e o Espírito Santo!”

A abordagem feita até o presente momento, já clarifica de tal maneira o assunto que poderia dar-se por encerrado. Entretanto, os combatentes da Trindade, também criticaram a IASD aqui no Brasil. Dizem eles que os hinários mais antigos em português, não possuíam o assunto da Trindade, que este tema foi introduzido apenas no atual Hinário Adventista. Para desmascarar esta grande mentira, este artigo prossegue na análise dos hinários brasileiros. O primeiro Hinário a ser analisado é o Hinário Adventista, o segundo hinário feito no Brasil. O primeiro foi o Cantae ao Senhor, criado em 1914. Ele teve quatro edições, sendo a última delas no ano de 1928. No ano de 1933, foi lançado o Hinário Adventista, que será contemplado a seguir.

4. Hinário Adventista de 1933 feito no Brasil

a) Adoração

Este hino de louvor, ainda cantado na IASD (número 581 do atual hinário), aparece com a mesma letra, apenas a palavra “Benfeitor” foi substituída pela palavra “Criador”, não possuindo nenhuma outra modificação. Como se vê no hino acima, a visão Adventista acerca da Trindade não foi imposta na década de 1980, como querem alguns. Ela apenas foi ratificada, redigida. Apenas foi confirmado algo que já se pregava e cantava nos hinos.

b) Onipotente Rei

Este hino é também mais uma prova de que a IASD já possuía conhecimento sobre a Trindade e que não foi algo imposto de vinte ou trinta anos para cá. Deus sempre conduziu Seu povo ao longo da história e deu a ele luz sobre Suas verdades.

A seguir, uma análise no hinário Cantai ao Senhor feito em 1963. Este hinário, naturalmente, como os demais anteriores, contem hinos que falam sobre a Trindade e Divindade do Espírito Santo. Como já foram apresentados diversos hinos em vários hinários anteriormente, este artigo findará analisando apenas um hino do Cantai ao Senhor, o hino 163.

a) Consolador

Note o final da segunda estrofe desse hino em louvor ao Espírito Santo. Ali diz: “Consolador, Deus de paz e de amor.” Não é necessário apresentar mais hinos. A verdade já foi exposta e contemplada de maneira clara. Apenas não pode enxergar aqueles cujas mentes estão obscurecidas pelos erros, enganos e emboto de Satanás.

Conclusão

O presente artigo objetivou responder ao grupo resumido de dissidentes que não crêem na Trindade, analisando-se de forma cronológica e crescente a Hinologia Adventista do Sétimo Dia. O consenso geral, por parte dos tais dissidentes, de que os pioneiros em sua inteireza eram antitrinitarianos, não corresponde à realidade dos fatos. Como foi apresentado, de maneira a não deixar dúvidas, o tema da Trindade esteve presente na Hinologia Adventista desde seus primórdios, atravessou gerações e chegou a atualidade. Pessoas de iminência dentro do corpo de pioneiros da igreja como Edson White (filho da senhora White) e seu primo Franklim Belden, prepararam hinários como o que foi publicado em 1886 (Hymns and Tunes) e o de 1900 (Christ in Song). Hinários estes que continham vívidas letras trinitarianas e até menção a própria Trindade (como foi bem apresentado nas divisões gerais do Hinário Christ in Song, feito por Belden). É importante salientar que nenhum desses hinários foi de particular posicionamento, mas todos obtiveram o aval do comitê da Associação Geral, dando assim, uma seriedade ao assunto que ora foi discutido. Veja nas ilustrações abaixo:

a) Hinário de 1876

b) Hinário de 1886

Percebe-se que não houve falhas, não houve pessoas mal intencionadas, afinal de contas, o hinário foi avaliado pela própria Associação Geral.

Além do mais, a própria senhora White fez uso destes hinários e cantou com eles por cerca de 39 anos. Foram 39 anos louvando a Trindade, tal como foi visto nas letras apresentadas neste artigo, sendo que nos últimos 15 anos de sua vida ela usou o Christ in Song que permaneceu até 1941. Um hinário que até fala o nome Trindade (“Praise to the Trinity”) em suas divisões gerais, e não houve nenhum conflito por isso na época. Não houve repreensão alguma por parte da senhora White a seu sobrinho, por ter incluído nas divisões gerais “louvor a Trindade”.

Portanto, conclui-se que o assunto da Trindade não era de todo rejeitado pelo corpo de pioneiros da IASD, mas gozava de ampla aceitação, e isto é evidenciado pela Hinologia e suas claras referências a este tema.


Notas

[1]https://musicaeadoracao.com.br/37225/enciclopedia-da-memoria-adventista-no-brasil-historia-dos-hinarios-adventistas/

[2] – Para melhor elucidação deste assunto, leia o livro Trindade, CasaPublicadora Brasileira.

[3] – Bates, Joseph. The Autobiography of Elder Joseph Bates. BattleCreek, MI: Seventh-day Adventist Publishing Association, 1868; reimpresso em Nashville: Southern Pub. Assn.,1970.

[4] – Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa, versão 2.0a – Abril de 2007.

[5] – Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa, versão 2.0a – Abril de 2007.


Fonte: https://www.adventistastrinitarianos.blogspot.com

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