A Trombeta Fora de Tom
por: Ministério Luzes da Alvorada
A música é algo muito interessante, porém, tem suas complexidades. Lembro-me de uma pessoa que conheci, que estava começando a estudar trompete. Ele estava estudando à sua própria maneira. Embora houvessem bons resultados, lembro-me de que, vez ou outra, acabava discutindo com alguns amigos por causa das notas musicais do trompete.
O fato é que o trompete não tem a mesma afinação de outros instrumentos, como o piano. Quando tocamos uma nota dó no trompete, para termos o som correspondente, teremos que tocar o si bemol no piano. Não, não é defeito de fabricação. O trompete é assim mesmo. Sua afinação é um tom abaixo do piano, do violino, da flauta e da maioria dos demais instrumentos. Existem outros instrumentos com outras afinações ainda, ou seja, cujas notas estão em altura diferente em relação ao piano.
Aquele amigo havia formulado sua própria teoria para o instrumento: ele chamava dó ao ré do trompete, ré ao mi, e assim por diante. E não adiantava outra pessoa dizer que o dó era dó, mas o som era diferente, que ele logo começava a apresentar sua “tese” musical. Felizmente, o som que saía do instrumento, quando ele estava tocando, era bonito.
De fato, a própria partitura, ou a música escrita, para trompete é diferente de outra, equivalente, escrita para violino, por exemplo. Para que um trompete e um violino possam tocar em uníssono, ou seja, obtendo sons semelhantes, é preciso partituras diferentes. Embora estranho, à primeira vista, é assim que o trompete funciona. Se eles tocassem com a mesma partitura, o trompete estaria fora de tom; sairia tudo errado.
A Bíblia também fala de uma trombeta tocando fora de tom: “Ora, até as coisas inanimadas, que emitem som, seja flauta, seja cítara, se não formarem sons distintos, como se conhecerá o que se toca na flauta ou na cítara? Porque, se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha?” I Coríntios 14:7 e 8. O texto prossegue: “Assim também vós, se com a língua não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz? porque estareis como que falando ao ar. Que fazer, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento.” Versos 9 e 15. Aqui existe uma lição a ser aprendida: Seja falando, cantando, tocando instrumentos musicais ou fazendo qualquer outra coisa, se não o fizermos com o entendimento poderemos obtiver resultados indesejáveis e sermos como uma trombeta tocando fora de tom.
Falando a respeito das apresentações musicais que temos na igreja, não podemos negar que algumas delas podem chegam a ser tão lastimáveis ao ponto de podermos compará-las, não a uma trombeta, mas a um berrante de vaqueiro fora de tom.
Para chegarmos a tal desastre, no entanto, não dependemos apenas de má qualidade musical. Muitos fatores podem contribuir para que o resultado seja desagradável aos olhos e ouvidos de adoradores sinceros e abominável ao nosso Pai do Céu.
Já que mencionamos qualidade, vejamos o que está escrito a respeito dos sacrifícios oferecidos pelo povo de Israel: “O cego, ou quebrado, ou aleijado, ou que tiver úlceras, ou sarna, ou impigens, estes não oferecereis ao SENHOR, nem deles poreis oferta queimada ao SENHOR sobre o altar.” Levítico 22:22. “Mas se nele houver algum defeito, como se for coxo, ou cego, ou tiver qualquer outra deformidade, não o sacrificarás ao SENHOR teu DEUS.” Deuteronômio 15:21.
Fazendo uma aplicação dessas orientações para a igreja dos nossos dias, imaginem como DEUS deve se sentir quando alguém se dirige à frente para uma apresentação musical, mas, por precaução, começa pedindo desculpas, pois sabe que a qualidade não vai ser o que deveria. O pior é que costumam dizer “Desculpem pelas falhas, mas é para louvar a DEUS.” Que tragédia! Oferecer ao SENHOR algo tão horrível que é preciso pedir desculpas antes de começar. Não é sem motivo que DEUS disse: “Pois quando ofereceis em sacrifício um animal cego, isso não é mau? E quando ofereceis o coxo ou o doente, isso não é mau? Ora apresenta-o ao teu governador; terá ele agrado em ti? ou aceitará ele a tua pessoa? diz o SENHOR dos Exércitos.” Malaquias 1:8.
A pena inspirada nos diz: “A música pode ser uma grande força para o bem; não fazemos, entretanto, o máximo com esse ramo de culto. O canto é feito em geral por impulso ou para atender a casos especiais, e outras vezes deixam-se os cantores ir errando, e a música perde o devido efeito no espírito dos presentes. A música deve ter beleza, emoção e poder. Ergam-se as vozes em hinos de louvor e devoção. Chamai em vosso auxílio, se possível, a música instrumental, e deixai ascender a DEUS a gloriosa harmonia, em oferta aceitável.” Testemunhos Seletos, vol. 1, pág. 457 – Manual da Igreja, pág. 72.
“Vi que todos devem cantar com o espírito e com o entendimento também. DEUS não se agrada de algaravia e dissonância. O correto é sempre mais grato que o errado. E quanto mais perto o povo de DEUS puder aproximar-se do canto correto, harmonioso, tanto mais é Ele glorificado, a igreja beneficiada, e os incrédulos favoravelmente impressionados.” – Testimonies, vol. 1, pág. 146.
Todos devemos louvar a DEUS. No entanto, quanto maior for a nossa responsabilidade nessa área, maior a necessidade de preparo. A Bíblia diz que “Quenanias, chefe dos levitas, estava encarregado dos cânticos e os dirigia, porque era entendido;” I Crônicas 15:22.
Embora, quando possível, deva-se procurar pessoas com aptidão para as atividades musicais da igreja, especialmente no que diz respeito à liderança, todos os que participam dos louvores deveriam se esforçar por aprender mais, buscando a perfeição. De fato, é desejo de DEUS que todos se esforcem por aprender e aperfeiçoar o talento do canto: “Tomem todos tempo para cultivar a voz, de maneira que o louvor de DEUS seja entoado em tons claros, suaves, sem asperezas e estridências que ofendam ao ouvido. A aptidão de cantar é dom de DEUS; seja ele usado para glória Sua.” Evangelismo, pág. 505 (grifo nosso).
“Deve haver muito mais interesse na cultura da voz do que é agora em geral manifestado.” “Aquele que nos outorgou todos os dons que nos habilitam a ser cooperadores de DEUS, espera que Seus servos cultivem a voz, de modo a poderem falar e cantar de maneira que todos entendam.” Evangelismo, pág. 504 e 505.
A pena inspirada vai mais além, afirmando que os anjos gostam de cantar conosco, quando fazemos o nosso melhor: “Palavra alguma pode exprimir devidamente a profunda bênção do verdadeiro culto. Quando os seres humanos cantam com o espírito e o entendimento, os músicos celestiais tomam o tom e unem-se ao cântico de ações de graças.” Evangelismo, pág. 504.
Muitos são os fatores que devemos levar em conta ao apresentarmos os nossos louvores. Não basta ter boa vontade; é preciso fazer o que é certo, do jeito certo. Pode parecer incrível, mas a maioria dos nossos irmãos não sabe que a Igreja Adventista do Sétimo Dia tem uma posição oficial definida sobre a música, votada pela Conferência Geral há mais de trinta anos atrás, no Concílio Outonal de 1972. Esse documento é conhecido como: “Filosofia Adventista de Música”. Nele encontramos várias orientações, algumas das quais veremos a seguir:
“Os jovens tendem a identificar-se intimamente com a música jovem contemporânea.
“O desejo de alcançar a juventude com o evangelho de Cristo onde ela se encontra, leva, às vezes ao emprego de estilos musicais questionáveis. Em todos estes estilos, o elemento que traz maiores problemas é o ritmo, ou ‘batida’.
“De todos os elementos musicais é o ritmo que provoca a mais forte reação física. Os maiores êxitos de Satanás são freqüentemente obtidos pelo seu apelo à natureza física. …
“Além do problema do ritmo, há outros fatores que afetam as qualidades espirituais da música:
“Tratamento Vocal – O estilo estridente comum ao “rock”, o estilo insinuante, sentimental, cheio de sopros ao jeito dos solistas de boate e outras distorções da voz humana devem ser terminantemente evitados.
“Tratamento da Harmonia – Deve-se evitar música saturada com acordes de 7a, 9a, 11a, e 13a, bem como outras sonoridades extravagantes. Estes acordes, quando usados com restrição, produzem beleza, mas usados em excesso desviam a atenção do conteúdo espiritual do texto.
“Apresentação Pessoal – Não deve ter lugar nas apresentações qualquer coisa que chame indevidamente a atenção para o cantor ou executante, como movimento excessivo e afetado do corpo, ou traje inadequado.
“Volume de Som – Deve-se ter muito cuidado em evitar excessiva amplificação do som, quer instrumental, quer vocal. O volume do som deve ser adequado às necessidades espirituais dos que apresentam a linguagem musical, bem como dos que a recebem. Deve-se selecionar cuidadosamente os instrumentos cujo som deverá ser amplificado.
“Apresentação – Toda apresentação de música sacra deve ter o objetivo supremo de exaltar o Criador, em lugar de exaltar o músico ou prover entretenimento.” Filosofia Adventista de Música – Conferência Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Concílio Outonal de 1972.
Analisemos melhor alguns desses pontos:
“Tratamento Vocal – O estilo estridente comum ao ‘rock’, o estilo insinuante, sentimental, cheio de sopros ao jeito dos solistas de boate e outras distorções da voz humana devem ser terminantemente evitados.” Filosofia Adventista de Música, Conferência Geral – IASD, 1972.
O referido documento diz ainda que “a música deve estar bem de acordo com o alcance de voz do cantor e sua capacidade, e ser apresentada ao SENHOR sem exibição de virtuosidade vocal. A comunicação da verdade deve ser o objetivo supremo.” – Idem.
Você já assistiu a alguma apresentação musical na qual se sentisse mal e com vontade de sair correndo do local? Observem o que Ellen G. White escreveu: “A música forma uma parte do culto de DEUS nas cortes do alto. Devemos esforçar-nos em nossos cânticos de louvor, por aproximar-nos o mais possível da harmonia dos coros celestes. Tenho ficado muitas vezes penalizada ao ouvir vozes não educadas, elevadas ao máximo diapasão, guinchando positivamente as palavras sagradas de algum hino de louvor. Quão impróprias essas vozes agudas, estridentes, para o solene e jubiloso culto de DEUS! Desejo tapar os ouvidos, ou fugir do lugar, e regozijo-me ao findar o penoso exercício.” – Signs of the Times, 22 de junho de 1882 – Evangelismo, págs. 507 e 508.
“Pode-se fazer grande aperfeiçoamento no canto. Pensam alguns que, quanto mais alto cantarem, tanto mais música fazem; barulho, porém, não é música, O bom canto é como a melodia dos pássaros – dominado e melodioso.
“Tenho ouvido em algumas de nossas igrejas solos que eram de todo inadequados ao culto da casa do SENHOR. As notas longamente puxadas e os sons peculiares, comuns no canto de óperas, não agradam aos anjos. Eles se deleitam em ouvir os simples cantos de louvor entoados em tom natural. Os cânticos em que cada palavra é pronunciada claramente, em tom harmonioso, eis os que eles se unem a nós em cantar. Eles tomam o estribilho entoado de coração com o espírito e o entendimento. – Manuscrito 91, 1903 – Evangelismo, pág. 510.
“Notas longamente puxadas”, como diz o texto, e cantar a plenos pulmões podem ser sinônimos de barulho em maior quantidade, em vez de ser música de melhor qualidade. Seria muito bom se alguns dos nosso cantores levassem isso em consideração antes de tentarem exibir sua capacidade, esticando as notas e a voz, como se quisessem imitar os cantores do mundo e, muitas vezes, se exporem ao ridículo por tentarem fazer algo que a própria voz não permitiria.
Falando do que temos visto, muitas vezes, em apresentações musicais, o Pastor e Professor Dario P. Araújo escreveu em seu livro, “Música, Adventismo e Eternidade” que “o que está acontecendo é uma tolerância plácida ao ouvirmos cantores com microfone na mão, em sons amplificados de sintatizadores, ‘play-backs’, guitarras e baterias na marcação de ritmos balanceados que pedem movimento, e vozes meio assopradas, ou com pigarrinho, quase entoando com voltinhas e garganteios, em síncopes e descompassos as palavras de alguma mensagem musical ‘sacra’, com expressões faciais, sorrizinhos e trejeitos copiados dos grandes ídolos do momento para ‘comunicar melhor’…” – Música Adventismo e Eternidade, pág. 59.
O Pastor Rubens Lessa, no editorial da Revista Adventista de janeiro de 1998, escreveu o seguinte: “Alguns de nossos ‘cantores’ emitem um som rouquenho, com voz dengosa, para chamar a atenção dos fãs. É imitação barata. Outros, poderiam ser chamados de surfistas da voz: fazem curvinhas para cima, para baixo, para um lado e para o outro. Deus não aceita o louvor dos que brincam nessa onda, por mais que digam ‘amém’ no final de suas apresentações.” Revista Adventista, janeiro de 1998.
“Volume de Som – Deve-se ter muito cuidado em evitar excessiva amplificação do som, quer instrumental, quer vocal. O volume do som deve ser adequado às necessidades espirituais dos que apresentam a linguagem musical, bem como dos que a recebem. Deve-se selecionar cuidadosamente os instrumentos cujo som deverá ser amplificado.” – Filosofia Adventista de Música, Conferência Geral – IASD, 1972.
Gritaria ou aparelhagem de som com volume alto não são sinônimos de qualidade. Ellen G. White escreveu: “Não é o canto alto que é necessário, porém entonações claras, a pronúncia correta, a dicção distinta… que o louvor de DEUS seja entoado em tons claros, suaves, sem asperezas e estridências que ofendam ao ouvido.” – Evangelismo pág. 505.
São especialmente impressionantes as palavras do próximo texto da pena inspirada. Embora escritas naquela época, são muito mais significativas para nós do que talvez o foram então: “Aparelhamento faustoso, ótimo canto e música instrumental na igreja não convidam o coro angélico a cantar também. À vista de DEUS estas coisas são como os galhos da figueira infrutífera, que só mostrava folhas pretensiosas. CRISTO espera fruto, princípios de bondade, simpatia e amor. Estes são os princípios do Céu, e quando se revelam na vida de seres humanos, podemos saber que CRISTO, a esperança da glória, está formado em nós. Pode uma congregação ser a mais pobre da Terra, sem música nem ostentação exterior, mas se ela possuir esses princípios, os membros poderão cantar, pois a alegria de CRISTO está em sua alma, e esse canto podem eles dedicar como oferenda a DEUS.” Manuscrito 123, 1899. – Evangelismo, págs. 511 e 512.
Em seu editorial, anteriormente mencionado, o Pastor Rubens Lessa escreveu ainda: “Alguns conjuntos vocais cantam tão alto que quase explodem os tímpanos dos ouvintes. Não se deve abusar do avanço da tecnologia. O controle do som deve ser feito por pessoas que tenham autocontrole, e não por gente destituída de reverência.” Revista Adventista, janeiro de 1998
Voltando ao texto da Filosofia Adventista de Música, lemos: “Apresentação – Toda apresentação de música sacra deve ter o objetivo supremo de exaltar o Criador, em lugar de exaltar o músico ou prover entretenimento.” – Filosofia Adventista de Música, Conferência Geral – IASD, 1972.
O referido documento diz ainda que a música apropriada para o evangelismo deve “ser simples e melódica, apresentada sem o realce da exibição pessoal.” – Idem.
“O talento musical encoraja freqüentemente orgulho e desejo de exibição e os cantores pouco pensam em louvar a DEUS. Em vez de levá-los a lembrar-se de DEUS, leva-os a esquecê-Lo com freqüência. – Ellen White, Carta 6a, 1890.
“Exibição não é religião nem santificação… A mais aprazível oferta aos olhos de DEUS, é um coração humilhado pela abnegação, pelo tomar da cruz e seguir a JESUS. – Review and Herald, 14 de novembro de 1899. – Evangelismo, pág. 510.
Creio que muitos de nós temos tristes lembranças de ocasiões lamentáveis nas quais, literalmente, os aplausos tomaram o lugar da reverência. Em reuniões de louvor e adoração nas quais existem aplausos nunca faltam demônios, pois, o pioneiro da exaltação própria foi Lúcifer. Esses aplausos agradam os incautos e orgulhosos, são um laço para os inexperientes, escândalo para os sinceros, tristeza para os anjos e abominação para DEUS. Nossas reuniões nunca deveriam ser contaminados com tais atos de irreverência, ainda que alguns afirmem que são demonstrações de louvor.
Ellen G. White escreveu: “Peço-vos que estudeis de novo a cruz de Cristo. Se todos os orgulhosos e vangloriosos cujo coração anseia aplauso dos homens e distinção acima de seus companheiros pudessem estimar devidamente o valor da mais exaltada glória terrena em comparação com o valor do Filho de Deus – rejeitado, desprezado, cuspido por aqueles mesmos a quem viera salvar – quão insignificantes pareceriam todas as honras que o homem mortal pudesse conferir!…
“Vigiar e controlar o próprio eu, dar preeminência a JESUS e manter o próprio eu fora de vista requer constante, diligente e atento esforço.” Testimonies, vol. 4, págs. 374-376. – Exaltai-O, pág. 241.
“Um grande defeito no caráter de Saul era seu amor à aprovação. Esta característica tivera uma influência preponderante em suas ações e pensamentos; tudo se assinalava pelo seu desejo de louvor e exaltação própria. Sua norma para o que era reto e aquilo que o não era, consistia no baixo padrão do aplauso popular. A pessoa que vive para agradar aos homens, e não procura primeiramente a aprovação de Deus, não está livre de perigo.” Patriarcas e Profetas, pág. 650.
Já observaram o que acontece quando são anunciados programas especiais de música? Se é um “Sé da Silva” vindo de sei lá onde, muitos preferem tirar a tarde de sábado para dormir ou passear. Mas, se é um grande “astro” ou “estrela” da “MPA”, a “Música Popular Adventista”, chegam até a organizar caravanas para que ninguém perca o “espetáculo”. Muitas vezes o irmão “Sé da Silva”, ou o conjunto “Sem Nome” da “Vila Sei Lá Onde”, cantam boas músicas, colocando todo o coração no que estão fazendo. Mas, como “não são ninguém”, talvez somente os anjos se importem realmente de estarem presentes e cantarem juntos.
Já no caso dos nossos grandes artistas, porque são famosos, têm vários CDs gravados, podem fazer qualquer “barbaridade” na frente que está tudo bem; eles são os tais! Em muitos casos, quando termina o exibicionismo, poucas palavras do barulho a que se chamou música podem ser lembradas. Não faltam, no entanto, aqueles que elogiam e pedem autógrafos, enquanto os demônios cantam vitória por mais um ponto que marcaram. Estamos procurando boas músicas e verdadeiro louvor a DEUS ou estamos correndo atrás de celebridades?
O exibicionismo leva à carência de poder divino em nossas programações e apresentações, o que leva muitas pessoas a buscarem uma compensação para isso lançando mão de recursos que aumentam a ostentação. Ellen G. White advertiu, certa vez, a um pastor que estava seguindo por esse caminho e disse que se ele “desse ouvidos ao conselho de seus irmãos, e não corresse da maneira por que o faz no esforço de obter grandes congregações, exerceria mais influência para bem, e sua obra teria efeito mais benéfico. Ele deve cortar de suas reuniões tudo quanto tenha semelhança com exibições teatrais; pois tais aparências exteriores não dão nenhuma força à mensagem que ele anuncia. Quando o SENHOR puder cooperar com ele, sua obra não precisará ser feita de modo tão dispendioso. Ele não necessitará então fazer tantas despesas em anúncios de suas reuniões. Não porá tanta confiança no programa musical. Esta parte de seu serviço é realizada mais à maneira de um concerto teatral, do que de um serviço de canto em uma reunião religiosa.” Carta 49, 1902 – Evangelismo, pág. 501.
“A forma e a cerimônia não constituem o reino de DEUS. As cerimônias tornam-se numerosas e extravagantes, quando se perdem os princípios vitais do reino de DEUS. Mas não é forma e cerimônia o que CRISTO requer. Ele almeja receber de Sua vinha frutos de santificação e altruísmo, atos de bondade, misericórdia e verdade.” – Evangelismo, pág. 511.
A Filosofia Adventista de Música, votada pela Conferência Geral também recomenda “fugir de exibições teatrais e com ostentação.
“Nenhum jota ou til de qualquer coisa teatral deve aparecer em nossa obra. A causa de Deus deve ter molde sagrado e celestial. Não permitais que haja qualquer coisa de natureza teatral, pois isto prejudicaria a santidade da obra.” – Evangelismo, págs. 137 e 138; Review and Herald – 30 de novembro de 1900.” – Filosofia Adventista de Música, Conferência Geral – IASD, 1972.
Já que estamos falando de coisas impróprias, que diremos dos gestos extravagantes que muitos fazem quando estão cantando?
Ellen G. White, certa vez, escreveu a alguém: “Movimentos corporais são de pouco proveito. Tudo o que está ligado, de alguma forma, com o serviço religioso deve ser digno, solene e impressivo. DEUS não se agrada quando ministros que professam ser representantes de CRISTO, representam-No tão mal como se fossem arremessar o corpo em atitudes de representação, gesticulando de modo indigno e vulgar, apresentando movimentos grosseiros e reles. Tudo isso diverte e despertará a curiosidade daqueles que desejam ver coisas estranhas, empolgantes e bizarras, mas não elevará a mente e o coração daqueles que as testemunham.
“Pode-se dizer o mesmo do canto. Assumis atitudes não dignas. Pondes todo o volume e potência de voz que podeis. Abafais os acordes mais suaves e as notas de vozes mais harmoniosas que a vossa. Esse movimento corporal e a voz alta e estridente não faz harmonia àqueles que ouvem na Terra e aos que ouvem no Céu. Este canto é deficiente e não aceitável a DEUS como melodia suave, doce e perfeita. Não há tais exibições entre os anjos como as que tenho visto algumas vezes em nossos cultos. O coro dos anjos não apresenta notas estridentes e gesticulações. Seu canto não irrita o ouvido. É suave e melodioso e flui sem o esforço que eu tenho presenciado. Não é forçado e estridente exigindo exercícios físicos.
“O irmão S não se dá conta de quantos se divertem e repudiam isso. Alguns não conseguem reprimir pensamentos não muito sagrados e sentimentos de leviandade ao ver os movimentos grosseiros durante o canto… A exibição e contorções do corpo, a aparência desagradável da melodia forçada pareciam tão fora de lugar para a casa de DEUS, tão cômicas, que as solenes impressões produzidas nas mentes foram removidas. Os pensamentos daqueles que crêem na verdade não permanecem tão elevados como antes do canto. …”
“Imaginai-vos no coro de anjos, levantando vossos ombros, enfatizando as palavras, movimentando vosso corpo e dando volume máximo a vossa voz. Que espécie de concerto e harmonia haveria com tal exibição diante dos anjos?”
“Vossa voz tem soado na igreja tão alta, tão estridente, acompanhada ou realçada por vossas gesticulações de modo algum elegantes, que os acordes mais suaves e harmoniosos e a música mais semelhante à angelical não podem ser ouvidos. Tendes cantado mais para os homens do que para DEUS.” – Manuscrito 5, 1874.
Falando sobre isso o documento votado pela Conferência Geral diz que “não deve ter lugar nas apresentações qualquer coisa que chame indevidamente a atenção para o cantor ou executante, como movimento excessivo e afetado do corpo, ou traje inadequado.” – Filosofia Adventista de Música, Conferência Geral – IASD, 1972.
Sobre essa última expressão: “traje inadequado”, muita coisa poderia ser dita, mas vamos nos ater a apenas algumas considerações. Sem dúvida, tanto os homens quanto as mulheres podem ser irreverentes nesse aspecto, mas as irmãs estão sob um risco maior de cometer sérios deslizes.
Ao falarmos nisso nos vem à memória um pequeno trecho do Espírito de Profecia, encontrado no livro Eventos Finais, página 249, onde se diz que “a voz da trombeta dá mais uma vez o sonido certo: ‘Eis que venho como vem o ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para não andar nu, e não se veja a sua vergonha.’ Apocalipse 16:15.” Embora este texto não tenha sido escrito com essa finalidade, o mesmo não deixa de servir, neste momento, com um alerta para muitas de nossas irmãs que estão necessitando mudar alguma coisa em seu vestuário, para que “não seja manifesta a vergonha da tua nudez”. Apocalipse 3:18. Esse texto não deveria ser interpretado literalmente, mas…
Muito sobre isso já foi falado e pregado muitas vezes, desde muito tempo atrás, mas o problema costuma reaparecer, ou, em certos casos, nunca desaparece. Será que nossa atitude não é também uma agressão à consciência de outras pessoas ou uma afronta ao nosso SALVADOR? Será que já pensamos no fato de que o estamos agredindo, esbofeteando e crucificando outra vez quando o desonramos por nossa conduta?
Se usar certas roupas na igreja é coisa vergonhosa (para não dizer que um cristão deve ser diferente do mundo em qualquer lugar), que diremos sobre usá-las para se apresentar na frente, cantando?
Falando a respeito das pessoas que tomam parte nas apresentações musicais da igreja, o Manual da Igreja diz, à pág. 73, que elas devem “em sua aparência pessoal e em sua maneira de vestir, conformar-se com as normas da igreja, dando um exemplo de modéstia e decoro. Pessoas de consagração duvidosa ou de caráter questionável, ou que não se vistam convenientemente, não devem ter permissão para participar das atividades musicais dos cultos.” Manual da Igreja, pág. 73.
Surge aqui a pergunta: Como devem ser as nossas apresentações musicais? Ellen G. White responde em poucas palavras: “A melodia do canto, derramando-se dos corações num tom de voz claro e distinto, representa um dos instrumentos divinos na conversão de almas. Todo o serviço deve ser efetuado com solenidade e reverência, como se fora feito na presença pessoal de DEUS mesmo.” – Testemunhos Seletos, vol. 2, pág. 195.
“Com solenidade e reverência, como se fora feito na presença pessoal de DEUS mesmo.” A trombeta do testemunho cristão não pode estar fora de tom: Não há lugar para a irreverência, para a falta de preparo, para músicas impróprias, para volume de som inadequado, vestuário inadequado, exibicionismo e exaltação dos cantores, expressões vocais e físicas impróprias ou qualquer outra coisa que estaria fora de lugar na presença pessoal de DEUS.
Também não há lugar para o emocionalismo: “Outros ainda vão ao extremo oposto, pondo mais força nas emoções religiosas, e manifestando intenso zelo nas ocasiões especiais. Sua religião parece ser mais da natureza de um estimulante do que uma permanente fé em CRISTO.
“Os verdadeiros pastores conhecem o valor da obra interior do ESPÍRITO SANTO sobre o coração humano. Satisfazem-se com a simplicidade nos cultos. Em vez de dar valor ao canto popular, volvem sua atenção principalmente para o estudo da Palavra, e dão de coração louvor a DEUS. Acima do adorno exterior, consideram o interior, o ornamento de um espírito manso e quieto. Na sua boca não se acha engano.” Manuscrito 21, 1891. – Evangelismo, pág. 502.
Mais alguns conselhos sábios da pena inspirada: “Um pastor não deve designar hinos para serem cantados, enquanto não estiver certificado de que os mesmos são familiares aos que cantam. Uma pessoa capaz deve ser indicada para dirigir esse serviço, sendo seu dever verificar que se escolham hinos que possam ser entoados com o espírito e com o entendimento também.
“O canto é uma parte do culto de DEUS, porém na maneira estropiada por que é muitas vezes conduzido, não é nenhum crédito para a verdade, nenhuma honra para DEUS. Deve haver sistema e ordem nisto, da mesma maneira que em qualquer outra parte da obra do SENHOR. Organizai um grupo dos melhores cantores, cuja voz possa guiar a congregação, e depois todos quantos queiram se unam com eles. Os que cantam devem esforçar-se para cantar em harmonia; devem dedicar algum tempo a ensaiar, de modo a empregarem esse talento para glória de DEUS.” Review and Herald, 24 de julho de 1883. – Evangelismo, pág. 506.
Podemos inserir aqui a orientação do apóstolo Paulo: “Tudo, porém, seja feito com decência e ordem.” I Coríntios 14:40.
O texto do Espírito de Profecia que acabamos de ler vai mais além e diz que “não se deve deixar, porém, que o canto distraia a mente das horas de devoção. Se alguma coisa deve ser negligenciada, seja então o canto.” Review and Herald, 24 de julho de 1883. – Evangelismo, pág. 506.
Tais palavras nos levam a analisar a impropriedade das ocasiões em que alguém está cantando, talvez baixinho, após um apelo, enquanto outra está dirigindo a oração. O conselho é: “Se alguma coisa deve ser negligenciada, seja então o canto.” (idem). Se a música instrumental usada em ocasiões semelhantes, em momentos de oração, puder distrair a mente, devemos aplicar a mesma regra. A música durante a oração pode aparentar ser algo belo, comovente, apelativo, porém a orientação divina é para que nada “distraia a mente” quando esta se aproxima de DEUS em oração.
“Todas as coisas são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas são lícitas, mas nem todas as coisas edificam.” I Coríntios 10:23. Você não deve permitir que a trombeta do seu testemunho dê sonido incerto “… nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça.” Romanos 14:21.
As trombetas de Gideão e seu 300 companheiros não deram sonido incerto, nem as de Josué, ao redor de Jericó. Quando nos colocamos inteiramente nas mãos de DEUS, hoje, como no passado, Ele se manifesta de maneira gloriosa.
Somos colocados como atalaias, como vigias sobre a torre, guardando a cidade espiritual que se prepara para a volta do Rei JESUS. Devemos saber a hora e a maneira correta de tocar a trombeta, de dar o alerta, de avisar o povo de algum perigo iminente. “Tocar-se-á a trombeta na cidade, sem que o povo se estremeça?” Amós 3:6. Por isso chega até nós a ordem divina: “Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a tua voz como a trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão, e à casa de Jacó os seus pecados.” Isaías 58:1.
Seu dever é, por sua voz e pelo ser testemunho, dar o aviso certo, da maneira certa, não importando se os ouvidos estarão abertos ou os corações endurecidos. O que virá depois a DEUS pertence, mas devemos fazer a nossa parte. Quem não der a devida atenção ao testemunho dado de maneira correta terá que responder por sua própria decisão. “Ele ouviu o som da trombeta, e não se deu por avisado; o seu sangue será sobre ele. Se, porém, se desse por avisado, salvaria a sua vida. Mas se, quando o atalaia vir que vem a espada, não tocar a trombeta, e não for avisado o povo, e vier a espada e levar alguma pessoa dentre eles, este tal foi levado na sua iniqüidade, mas o seu sangue eu o requererei da mão do atalaia.” Ezequiel 33:5 e 6.
“Gostaria de poder conduzir-lhes a mente para a glória futura e gravar sobre cada uma o grande sacrifício que teve de ser feito para redimir a raça humana. Se irão apreciar essa glória, depende de vocês.
“A cada um Deus concedeu talentos, e se negligenciarmos cultivá-los, falharemos e perderemos a vida eterna. Fez-se por nós tudo o que podia ser feito para enobrecer-nos, e se por nossa parte fracassamos, terá sido em vão o sacrifício no que tange ao nosso caso. Seremos nós pesados na balança e achados em falta? Ou estaremos com a multidão vestida de branco? Isso dependerá do rumo de nossos atos. Se nos encontramos na oficina de Deus, Ele nos embelezará e polirá, e estaremos habilitados para as mansões celestes.” – CRISTO Triunfante, pág. 65.
A trombeta do nosso testemunho deve dar o sonido certo, pois, só assim chegaremos com alegria àquele dia glorioso, quando soará a última trombeta. “E Ele enviará os seus anjos com grande clangor de trombeta, os quais lhe ajuntarão os escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus.” S. Mateus 24:31. “As nuvens começam a enrolar-se como um pergaminho e eis ali o brilhante e claro sinal do Filho do homem. Os filhos de DEUS sabem o que essa nuvem significa. Ouvem-se sons musicais… soará a última trombeta, e toda a Terra, dos cumes das mais altas montanhas aos mais baixos recantos das minas mais profundas, a ouvirá. Os justos mortos ouvirão o som da última trombeta e sairão de suas sepulturas, para ser revestidos da imortalidade e encontrar-se com o seu SENHOR”. – Eventos Finais, pág. 276 e 278.
Estamos nos preparando para esse dia? Nossos louvores estão ajudando às pessoas que os assistem a se prepararem também? DEUS não pode aceitar um serviço de louvor e adoração prestado de forma negligente, descuidada ou não nos diria, como disse a Abraão: “anda em minha presença e sê perfeito”. Gênesis 17:1. Não podemos entrar na presença de DEUS para agradarmos a nós mesmos, muito menos ao “velho homem”.
Temos hoje a oportunidade de nos preparando para aquele lugar de suprema perfeição que JESUS preparou para os Seus filhos fiéis. A partir de hoje, quando pensarmos em louvor, pensemos sempre no melhor: Melhor em conteúdo, pois nem toda música é adequada; melhor em qualidade, não negligenciando o preparo, com muita dedicação; melhor em consagração, pois o louvor deve vir de um coração sincero; melhor em sua forma, pois é necessário que JESUS apareça e não o cantor; melhor no testemunho, de maneira que haja louvores a DEUS e não comentários lamentáveis vindo dos lábios daqueles que assistiram; melhor em tudo, para que JESUS seja tudo em todos.
Aqui, por mais que nos esforcemos, nunca conseguiremos erguer um louvor realmente perfeito. Que diremos então se não nos esforçarmos? Em breve, porém, estaremos com o nosso SALVADOR naquele país, nas terras além do rio, num lugar onde tudo é prefeito. Então, e só então, poderemos presenciar e participar do que seja, realmente, um louvor perfeito.