A Música Significa Muita Coisa

por: Frances S. Wood [1]

Disse Longfellow: “Mostre-me um lar em que habite a música, e mostrar-lhe-ei um lar, feliz, tranqüilo e alegre”. Na verdade, é difícil imaginar que existam lares sem música.

Não havia músicos em minha casa, e o único instrumento era o velho órgão de pedal, na sala de visitas, ou o fonógrafo na casa da vovó. Mas os cânticos que entoávamos ajudavam a trazer felicidade e harmonia em nosso lar. Depois, adquirimos um piano, e nas noites de sexta-feira e aos sábados à tarde a música significava muita coisa para nós. As horas de culto não pareciam estar completas sem algum hino. O dia sempre se tornava melhor com a inspiração da música acompanhada de orações de dedicação a Deus.

Como educadora, recomendo que demos aos jovens a oportunidade de aprender música. Eles e o mundo têm necessidade deste aspecto da vida.

A maioria dos grupos étnicos dedica grande atenção à música. Acha-se inextricavelmente ligada aos momentos que compõem a existência. Na América do Norte, são produzidos anualmente mais de 750.000 instrumentos musicais, e cerca de 50.000 orquestras sinfônicas e regionais tocam em cidades e vilas daquela parte do mundo. Mais de 100.000 bandas, orquestras e conjuntos corais de colégios e escolas dão aos jovens a oportunidade de desenvolver os seus talentos, e mais de 10 milhões de pessoas estão aprendendo música.

Nem Sempre é Deleitável

Não se deve pensar, porém, que a música sempre traga prazer. Não é assim. As horas em que as mães têm de ouvir exercícios de piano, clarinete, violoncelo etc., quase podem levá-las ao desespero. “Suportar” esses períodos de exercício requer muita imaginação e paciência.

Mas a participação na arte musical ajuda aos jovens a apreciá-la mais tarde. Nestes dias de tensão, quando a vida freqüentemente parece ser enfadonha, é bom olvidar a si mesmo e dar ao corpo e à mente a oportunidade de esquecer as tensões e ansiedades, e receber novas forças. A música pode habilitar a pessoa a fazer isto.

A música também tem sido útil para disciplinar crianças. Sons brandos e suaves servem para acalmar e provocam o sono; melodias agradáveis e animadas trazem contentamento.

Declara a Sra. Rute Mathews, no livro You Need Music (“A Música é Necessária”): “Quando as crianças sabem cantar ou tocar, obtêm duplo benefício, porque isso se torna um meio de expressão individual. Não nos preocupamos tanto com o que as crianças farão pela música, como com o que a música pode efetuar em seu favor. A criança que encontra prazer na música não praticará ações perversas. A menina que toca piano não será uma batedora de carteira; o menino que sabe manejar o arco do violino não apertará o gatilho de uma arma de fogo”.

A música tem desempenhado uma parte importante na vida de pessoas famosas e diligentes. Einstein, o grande cientista, tocava violino. O Senador Eduardo Brooks, de Masachusetts, acredita que os estudantes que desprezam a música perdem uma dimensão inteira da experiência humana.

Outro senador crê firmemente que a educação deve incluir a habilidade musical. “Se considerarmos que a educação é o desenvolvimento do homem total – a total personalidade humana – creio que a música deve fazer parte da experiência educacional” – declarou. “Nela se encontra o maior vínculo de comunicação de toda a humanidade, unindo idade a idade e pessoa a pessoa”.

A deputada Margarida Heckler, exímia pianista, descobriu que uma forma de fortalecer os laços que unem a família consiste em cantar junto ao piano numa hora musical do lar. Eis suas palavras: “Cada um de nós enfrenta dificuldades e períodos de ansiedade e tensão. Verifiquei que uma das maneiras para conseguir dissipar a tensão e suscitar tranqüila disposição de espírito era através do ato de desfrutar boa música. Caso não houvesse criado ou descoberto esse equilíbrio em minha própria vida, eu não me encontraria onde estou”.

Aprendendo a Apreciar a Música.

O astronauta Walter Schirra, que estudou um instrumento musical durante oito anos, julga que o estudo da música ajuda os jovens a adquirir o senso de ritmo e tonalidade, habilitando-os mais tarde a apreciar a música, mesmo que não se tornem músicos.

O Dr. Lee DuBridge, presidente do Instituto de Tecnologia da Califórnia, escreveu: “Partilho a opinião de muitos matemáticos e cientistas, de que existe estreita relação entre a matemática, a ciência e a música. A harmonia da Natureza e as harmonias da música transmitem mensagens para nós. (…) A música é uma preciosa herança cultural que cada pessoa deve ter .privilégio de compreender e desfrutar”.

Até para a maioria dos leigos, a música não é um passatempo, mas um meio de vida, uma parte da personalidade. Quem se empenha nalguma atividade musical, quer seja tocar um instrumento, participar dos cânticos na igreja, ou simplesmente ouvir os sons musicais, pode aprende a amar, respeitar e apreciar a música como uma arte. Para essa pessoa, a vida sempre será interessante.

Embora eu não seja musicista, estudei e ouvi suficiente música em minha família para saber que ela é uma grandiosa linguagem. Influencia nossa vida espiritual, nossa vida interior. Reflete nossa tranqüilidade, agitação, vivacidade, desalento, vitalidade ou debilidade – todas as modificações que ocorrem no recôndito da alma – de modo mais direto e peculiar do que qualquer outro meio de comunicação humano.

A música deveria ajudar-nos a ser mais amigáveis e manifestar mais profunda compreensão. Foi instituída originalmente para servir a um santo propósito: “Erguer os pensamentos àquilo que é puro, nobre e elevador, e despertar n’alma devoção e gratidão para com Deus” (Ellen White, Mensagens aos Jovens, p. 293).

Na infância e juventude, freqüentei uma pequena igreja situada numa zona rural, onde raramente eram apresentadas variações musicais. Às vezes sorríamos quando Titia Elisa puxava o “r” ao cantar um hino especial, mas sabíamos que ela acreditava nas palavras que lhe saíam dos lábios. Quase tínhamos a impressão de estar contemplando a face de Deus quando vovô Galbraith pedia que cantássemos o seu hino predileto: “Face a Face”. As mensagens desses cânticos gravaram-se indelevelmente em nossa memória, no suave processo do aprendizado espiritual.

A aspiração que temos, de estar entre os remidos, cujo coração vibrará com a mais profunda dedicação quando Jesus nos revelar as excelsas riquezas da redenção, logo se cumprirá. Todos poderemos participar da música do Céu, se nos prepararmos agora devidamente para esse sublime acontecimento.


Nota:

[1]Agradecemos à Loide Simon por esta contribuição ao Música Sacra e Adoração.


Fonte: Revista Adventista. Junho de 1971, pp.18-9.